"É um lugar comum dizer-se que determinada orientação sexual não é uma escolha, porque, se fosse, ninguém escolheria o caminho mais difícil. Foi esse caminho mais difícil que Teófilo teve de percorrer, desde a incompatibilidade com os pais, aos desencontros dentro de si próprio, chegando mesmo a acreditar que alguém lhe tinha trocado a alma...
Rosa Lobato de Faria aborda, desta vez, um tema diferente – o tema da homossexualidade masculina –, num romance que, mantendo embora o tom poético que sempre tem caracterizado as criações da autora, se arrisca por caminhos até aqui pouco explorados na ficção portuguesa."
ROSA LOBATO DE FARIA nasceu em Lisboa, a 20 de Abril de 1932. Estreou-se nas letras com o volume de poemas Os Deuses de Pedra (1983), tendo publicado depois As Pequenas Palavras (1987), Memória do Corpo (1992) e A Gaveta de Baixo (1999). Ficcionista, publicou O Pranto de Lúcifer (1995), Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camila S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (2000, Prémio Máxima de Literatura), A Trança de Inês (2001), O Sétimo Véu (2003), A Flor do Sal (2005), A Alma Trocada (2007), A Estrela de Gonçalo Enes (2007), As Esquinas do Tempo (2008) e Vento Suão (obra póstuma, 2010). Publicou ainda a peça de teatro Sete Anos – Esquemas de um Casamento (2002), vários volumes infanto-juvenis e colaborou nas revistas O Autor, O Mundo Feminino e Máxima. Faleceu em Lisboa, a 2 de Fevereiro de 2010. Foi condecorada pela Presidência da República, a título póstumo, com o Grande-Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, em 2010.
Há uma questão eternamente agrilhoada à nossa existência: "Quem sou eu?". Em desacordo com a resposta do Romeiro, em "Frei Luís de Sousa", acredito que todos desempenhamos um papel fundamental no teatro que é a vida. Resta sabermos qual o nosso Na demanda para alcançar a dita tarefa, somos escudados pela nossa alma, ou almas (caro Pereira), que, em confederação, guiar-nos-ão nesta viagem de autodescoberta, quebrando os ramos no caminho, debelando as criaturas maléficas e curando qualquer rasgão no peito.
Num atitude vanguardista para a data a publicação, sem medos como a reconhecida profissão lho exigia, Rosa Lobato de Faria apresenta a história de um homem, Teófilo de Deus, que , negando duplamente a raiz etimológica do seu nome, corta com um passado esquadrinhado a régua e se entrega aos prazeres da vida, sem se importar com os preconceitos ou as culpas exigidas por uma sociedade tacanha. As dificuldades surgem quando a própria identidade é questionada, conduzindo-o a uma busca desenfreada pelo seu outro eu e por si próprio - a criança que foi e o homem que se tornou, embebido nas memórias do passado.
Com uma linguagem simples e asséptica, sem falinhas mansas nem subterfúgios, a autora vai pincelando magníficas descrições que transportam o leitor, quer queira quer não, para as cenas retratadas, quase dialogando com as personagens, sentido os cheiros dos banquetes, saboreando as iguarias e tocando nas folhagens. E o que dizer do tão bem exemplificado linguarejar alentejano, tão familiar? Em contraste, a história surge repleta de rocambolescas reviravoltas e intrigas, sem intermeios para o leitor respirar, como se a calmaria linguística necessitasse de uma narrativa ígnea, sem travão de mão.
No coador das vivências, estaco nas várias interfases fraccionadas. Desta experiência - uma longa cruzada em busca do eu, entre cheiros de oxalá, miligrã e genciana -, retiro a convicção de que são várias as camadas que nos compõem (não é que o Burro do Shrek tinha razão?) e a tarefa será alcançá-las, aceitá-las e vivenciá-las em pleno. Porque, de facto, no dicionário da vida, a nossa definição não se cinge a uma única palavra - será mais uma rede de palavras, sempre a precisar de remendo, para apanharmos a vida de arrastão.
"Uma coisa é resolver que um facto merece esquecimento. Outra, é esquecer." (pág. 128)
"Cheiravas a feno e não sábias que o coração é um barco no tempo. Quando as aves do verão demandarem o Sul virás devagar, abrir as a porta verde-escura e esperarás em vão pelo frémito do meu corpo. Não voltarei a passar o reboque das azáleas, o muro onde o sol nasce, a chuva, para morrer nos teus braços." (pág. 149)
"(...) a outra palavra que não encontrei, todas as outras que não encontrei, porque se alguma coisa a vida me ensinou, é que não importa encontrar a palavra. Tudo o que vale a pena, entre o mar e a terra, entre a luz e a sombra, entre a vida e a morte, é procurá-la." (pág. 169)
O tema principal neste livro é a homossexualidade, onde a autora tenta alertar que esta condição não é uma escolha, porque se fosse ninguém escolheria o caminho mais difícil . Apesar dos tempos estarem já em mudança de mentalidade ainda há muito caminho a percorrer para serem bem aceites na sociedade atual. Teófilo é um rapaz que procura a resposta a muitas perguntas que pairam na sua mente e chega a pensar que nasceu com a alma trocada. Vê os seus pais a rejeita-lo após a descoberta da sua homossexualidade e encontra na avó Jacinta um amor incondicional para ultrapassar todos os preconceitos. Ter esta escolha sexual não é fácil, requer muita bravura, persistência e muito amor. Há pessoas a se suicidar devido a toda esta pressão social. A sociedade não entende que o importante é estar feliz independentemente das escolhas que cada um faz. Quanto à escrita da autora é muito acessível e é um livro que se lê muito bem, com passagens do Alentejo e memórias de tempos antigos que fez-me lembrar memórias da minha infância. Gostei mais do que esperava.
Confesso que a actriz e dramaturga Rosa Lobato de Faria que conhecia dos meios de comunicação social não me cativava, mas no dia em que li o seu primeiro romance, fiquei rendida às suas palavras! Que escrita tão bonita tem esta autora. Que histórias ricas nos conta. Já li praticamente toda a sua obra publicada, mas faltava-me este “A Alma Trocada”. Que me conseguiu surpreender, já que aborda uma temática actual e demonstra uma mente aberta por parte da autora que, confesso, não esperava.
Já tinha lido A trança da Ines da autora e não me tinha fascinado...não sei se é por já conhecer a escrita da autora, eu consegui gostar muito deste livro. Alma trocada agarrou-me do início ao fim, uma história com o tema polêmico e com uma escrita tão poética!
”Cheiravas a feno e não sabias que o coração é um barco no tempo. Quando as aves do Verão demandarem o Sul virás devagar, abrirás a porta verde-escura e esperarás em vão pelo frémito do meu corpo. Não voltarei a passar o renque das azáleas, o muro onde o sol nasce, a chuva, para morrer nos teus braços.”
Esta obra divide-me. Se por um lado, é de louvar Rosa Lobato de Faria ter escrito este livro numa altura em que a homossexualidade ainda era (mais) taboo, por outro… há várias nuances que um olhar de 2024 não consegue deixar de reprovar. Mas não me quero alongar sobre isso, pois não tenciono demover ninguém de ler este livro, que merece ser lido, quanto mais não seja pela escrita que, em momentos, parece poesia. Continuo sem perceber muito bem a lengalenga da physalis, mas pronto, o importante é procurar as palavras e não encontrá-las. A história deixa a desejar, especialmente após a resolução do mistério principal e pela forma como a personagem principal se comporta.
Numa das minhas últimas investidas de horas pelas livrarias (e que bem que sabem!) um dos livros que comprei foi A Alma Trocada da já saudosa Rosa Lobato de Faria. Li-o no passado fim-de-semana quase de uma só vez. A surpresa foi grande...
Numa prosa quase poética, A Alma Trocada, um dos últimos romances escritos pela autora, conta-nos a história de Teo, um homem homossexual que rejeita a vida de fachada que tudo à sua volta lhe reserva e parte em busca do seu verdadeiro eu, da sua verdadeira identidade e verdade. Entre a dor da sensação de ter a alma trocada ("Um rasgão no peito, uma saudade de mim."), deixada ao abandono da vida, Teo é o resultado da hipocrisia do seu meio familiar, da mentira, da opressão, das imposições da sociedade, do medo e da vergonha... a alma destroçada cuja identidade foi roubada, até pelo próprio. Esta é a história de um homem que um dia começa a perceber que talvez a sua alma seja una e única e que só dessa forma poderá um dia ser feliz e descobrir a sua identidade. E assim, talvez um dia até os seus problemas de estômago desapareçam...
"Todos sabemos que o tempo é o grande mestre e o grande taumaturgo. Arruma as ideias e acalma os corações, cura e ensina. Depende de nós aprendermos a sua lição."
Esta é a história de um homem que, tal como todos os seres humanos, sofre porque ama embora não saiba o que é o amor. Esta é também a história de um homem temeroso, medroso, receoso e indeciso, como tantos outros, que é forçado pela vida a fazer opções e sofrer as suas consequências, que procura a liberdade como condição essencial à sua vida...
"Essa paz desconhecida, completa, apaziguadora. Pela primeira vez na vida, a plenitude."
Teo procura oxálida, xarel, arrabil, miligrã... Teo inventa palavras porque elas são liberdade, aventura e criação, porque não precisa de saber o significado das palavras... basta apenas procurá-las.
"(...)se alguma coisa a vida me ensinou, é que não importa encontrar a palavra. Tudo o que vale a pena, entre o mar e a terra, entre a luz e a sombra, entre a vida e a morte, é procurá-la."
Esta é uma história cheia de sensibilidade, realismo, leveza de espírito, rápida nas palavras, feroz nos sentimentos e que tanto me surpreendeu. Quando questionada sobre a causa do seu livro, Rosa Lobato de Faria afirmou:
"Nunca me passaria pela cabeça escrever um livro para o inserir num género (...) Não há diferença entre este e os outros romances. Gostei daquele homem cheio de fragilidades porque não o deixaram crescer como ele devia ter crescido. É um homem que me é simpático."
Contudo ficou claro que esta história não representa um tratado de e com coisa nenhuma... é apenas isso... a história de um homem igual a todos os outros, que procura a sua identidade como qualquer outro ser humano que um dia percebeu que também podia ser feliz.
"(...) não podemos passar a vida a ser quem não somos e, nessa tentativa, confundirmos as coisas. Quem sou eu afinal? Porque é que sou tão infeliz? Hoje em dia todos sabem que se nasce homossexual como se nasce canhoto. Não é uma escolha. É até um lugar comum dizer-se que, se fosse, ninguém escolheria o caminho mais difícil."
A Alma Trocada comprova, uma vez mais, que existem autores intemporais, autores cujas palavras são mais que o tempo, mais que o espaço, mais que o sonho, mais que a vida. Assim é Rosa Lobato de Faria...
"Toda a gente diz que detesta despedidas. Mas sem aquele abraço, sem aquele beijo, a viagem não teria sido a mesma."
Uma história leve, mas não menos importante por isso, uma vez que aborda assuntos ainda considerados tabu por alguns. Gostei bastante do narrador, também protagonista, embora não concorde com algumas das suas decisões, nem tão pouco com a facilidade com que a classe social mais rica parece recorrentemente resolver os problemas nos romances menos profundos: fugir para outro país e fingir que eles não existem. Gostei bastante da narrativa e da escrita da autora (tirando um outro erro...), fluída e envolvente, foram 170 páginas que souberam, na realidade, a pouco. Algumas partes do livro passam-se no Alentejo onde reina a calma do campo, um constante contraste com a alma do narrador, cujos dilemas são prazerosos de acompanhar. Não fiquei completamente satisfeita com o final, mas, regra geral, recomendo para os dias em que o cérebro pede algo menos exigente.
Tema principal lgbt à parte, senti uma desilusão tremenda com este livro, cujas personagens pareciam ter saído de romances fraquinhos trololó. Só gente rica, só facilidades, ciganos gay a la Heathcliff alentejano, noivas psicopatas, entre outros estereótipos burgueses e afins. E nem a alma trocada estava afinal trocada. E eu sempre à espera que houvesse um plot twist porque sempre é um livro da fantástica Rosa Lobato de Faria. Só que não. paciência.
"É um lugar-comum dizer-se que determinada orientação sexual não é uma escolha, porque, se fosse, ninguém escolheria o caminho mais difícil. Foi esse caminho mais difícil que Teófilo teve de percorrer, desde a incompatibilidade com os pais, aos desencontros dentro de si próprio, chegando mesmo a acreditar que alguém lhe tinha trocado a alma...”
“Alma trocada” é um livro sobre homossexualidade? É, mas podia nem ser… É um livro sobre descobrir e assumir quem somos, sobre aprender a viver reconciliados com a nossa alma, que afinal é nossa e não está trocada. Gostei muito do livro até à página 100…a partir daí, com o mistério resolvido, muda de tom, segue muito apressado e diferente…infelizmente para pior. 3.5*
Foi a minha primeira experiência de leitura da Rosa Lobato de Faria e que bom que foi. Entre Lisboa, o Alentejo e uma breve incursão por Paris, Rosa Lobato Faria constrói um romance em que as vidas de Hugo e Teófilo se entrelaçam de forma inesperada. O ponto de partida é um amor escondido que muda radicalmente o rumo de ambos e que vai revelar segredos, fragilidades e desejos escondidos.
No coração da narrativa estão amores vividos em silêncio, paixões proibidas e preconceitos que pesam sobre as escolhas individuais. A autora coloca frente a frente mundos sociais opostos, expondo desigualdades, discriminação e a violência subtil do preconceito em particular a homofobia, sempre com uma escrita delicada e poética.
Mais do que o mistério em torno das personagens, o que se destaca é a forma como Rosa Lobato Faria nos mostra o que significa viver entre aquilo que se é e aquilo que os outros esperam que sejamos.
“Cheiravas a feno e não sabias que o coração é um barco no tempo. Quando as aves do verão demandarem o Sul virás devagar, abrirás a porta verde-escura e esperarás em vão pelo frémito do meu corpo. Não voltarei a passar o renque da azáleas, o muro onde o sol nasce, a chuva, para morrer nos teus braços. “ É um romance breve mas intenso, que emociona e quando o livro se fecha fica a sensação de uma escrita bela, em que se sente que cada palavra foi escolhida ao pormenor. ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Já li alguns livros da autora mas nunca me arrebataram, e já por várias vezes que tinha ouvido falar bem de Alma Trocada e muito recentemente foi-me sugerido pela Miss Seven, e decidi pegar nele. É uma história sobre a homossexualidade masculina, contada através de Teófilo, que sempre sentiu que a sua alma tinha sido trocada. Um tema forte e pouco explorado na literatura portuguesa foi, para mim, um ponto positivo. No entanto, houve muito que não funcionou comigo. Primeiro, o tom "afectado", "à tia" da autora, usando sempre o tratamento por "você". Para mim, soa-me sempre forçado e pouco natural. Às tantas, a própria história foi perdendo o interesse, sendo que achei o período passado em Paris desnecessário e chato. Outro aspecto que não resultou comigo foram os papéis femininos que, para mim, depreciaram o papel da mulher, e que não fizeram sentido.
*SPOILER* A amiga francesa que passa a noite com Teófilo. A Sara que casa com o amigo gay. E a Raquel que casa com o irmão da companheira de cela. A sério? Para quê? *FIM SPOILER*
No entanto, ainda não desisti da autora e quero ler Pássaros de Seda e Romance de Cordélia.
O trabalho que melhor conheço de Rosa Lobato de Faria deve-se ao facto de esta ser uma pessoa com algum destaque no meio televisivo durante uns bons largos anos: enquanto letrista de algumas das canções vencedoras do festival da canção e como actriz em formatos de tv ao lado do Herman José e Nicolau Breyner. No que toca ao seu trabalho literário, pouco ou nada conhecia mas fiquei agradavelmente surpreendido com este “A Alma Trocada”.
A primeira coisa que me surpreendeu foi a temática abordada nesta obra. Como bem sabemos, o tema da homossexualidade continua a ser um assunto tabu no nosso país e se perguntarmos aos nossos mais próximos que livros conhecem de autores portugueses e que abordem relações emocionais e sexuais entre pessoas do mesmo género, duvido que consigam encher correr todos os dedos de uma mão.
Fiquei também agradavelmente surpreendido com a leveza da escrita com que me deparei. Com parágrafos curtos, onde palavras fluem a bom ritmo e os acontecimentos desenvolvem-se sem grande esforço, temos aqui uma história que se lê sem esforço mas que não deixa de ser envolvente.
Acompanhamos a vida de Teófilo na descoberta da sua homossexualidade, de sentimentos e sensações que ele tenta abafar mas que se mostram mais fortes que a sua própria vontade. A luta para viver aquilo em que se acredita e ser-se aquilo que se é, sem mentiras. Só quem vive uma vida em prol do que os outros acham ser o certo sabe o quão pesado é contrariar a sua própria essência.
Um livro bonito onde a paixão e o amor entre homens não soa a falso. Gostei muito.
Um livro que comprei e comecei sem razão alguma e que me surpreendeu. Simples e com um estilo refrescante, e apesar de alguns momentos não muito bem conseguidos (que me deixaram um bocado com vergonha alheia ou eram demasiado óbvios), muitas reflexões e frases fascinantes. Quero com certeza explorar mais obras da autora, mas nem sei por onde começar.
Li neste livro em 2/3 horas. Eu que nunca daria nada pela escrita de Rosa Lobato de Faria, a cada novo romance que leio, apaixono-me perdidamente. Um livro aparentemente simples mas que é viciante. Uma história comum de um homem que decidiu assumir quem verdadeiramente é depois de muitos anos a reprimir a sua sexualidade. Verdadeiro, tocante e poético.
Fico triste não ter conseguido gostar mais desta obra. Tinha tanto potencial mas a maneira como a história se desenvolveu desiludiu-me muito. A escrita é belíssima e os primeiros capítulos emocionaram-me imenso mas a partir de então a trama tornou-se extremamente banal. Apesar de tudo, gostei de conhecer a Rosa como autora. Acabei por descobrir nela uma sensibilidade que nunca me alcançou no trabalho dela como atriz.
Livro incrível, com uma narrativa fluente e poética que é o carimbo chave de artistas deste teor. Rosa Lobato de Faria, nos idos de 2007, choca a comunidade literária portuguesa ao humanizar a homossexualidade e que chapada de luva branca! Como é tão bom ler livros com uma linguagem tão melódica e poética sem ter de estar agarrado a um dicionário.
1,5* Confesso que tinha vários preconceitos em relação à autora ou potencial do livro, quase todos confirmados, mas apesar de todos os revirares de olhos foi uma leitura fácil e que vale umas quantas gargalhadas - a cena do levantar do coma é de ir à lágrimas de riso, perfeita para ser telenovelada, de resto como todo o romance, saltos no tempos e sequências pouco coerentes incluídos.
Impossível não imaginar a voz de Lobato de Faria no narrador, um homossexual rico de emoções fáceis e superficiais, que compra muitos presentes para os amiguinhos e amiguinhas que se fazem família para vida num virar de página. Os pobres são sempre fiéis e subservientes, sem grandes preocupações próprias - idem para o desgraçado do companheiro do narrador, que existe para o servir e à primeira falha leva com um ano de abandono de castigo. O incesto está vagamente presente, o narrador quase casa com uma rapariga criada pelos seus pais, quase-irmã; mais tarde envolve-se num affair tórrido com o rapaz criado pela avó do narrador (quase-tio), personagem esse que pela origem cigana abre espaço a várias reflexões xenófobas por parte de outros personagens. No fim há ainda espaço para um affair heterossexual, porque não convém morrer sem experimentar tudo, assegura-nos o narrador/Rosa Lobato de Faria.
Não se pense contudo que o romance é "menos autêntico" por ter sido escrito por uma mulher, não é de todo pior do que, por exemplo, "Cidade Proibida" de Eduardo Pitta, com a vantagem de dar mais azo a gargalhadas. Quem não quiser perder umas horas com esta leitura pode sempre esperar pela telenovela da TVI, que me parece inevitável.
PS: Uma nota ainda para a edição, se não estou em erro foi com as obras da Lobato de Faria que as capas da coleção de livros de bolso BIS Leya ganhou cor. Dos muitos livros que tenho dessa coleção esta é sem dúvida a capa mais bonita, inicialmente tinham todos a capa a preto e branco e com ilustrações pouco convincentes, espero que façam o upgrade a todo o já vasto catálogo.
PPS: Ah o título! No início do livro o narrador acha que pode ter tido a alma trocada, seja lá o que isso for. Mas a meio do livro encontra uma explicação racional para um mistério que andava no ar e o assunto morre, sobrevivendo apenas no título, porque afinal já lá estava.
3,4⭐️ Um livro com uma temática de base interessante e pouco explorada na literatura portuguesa; um romance em que a homossexualidade é abordada de forma direta ainda que com um tom marcadamente sensível e poético. A premissa filosófica intrigante, apresentada inicialmente e carregada de potencial para exploração foi, no entanto, convenientemente refutada e sacrificada em prol da trama caótica de acontecimentos que constituiu o enredo, a pouco mais da marca dos 50%. De facto, o enredo mirabolante e rebuscado, qual manta de retalhos de cenas de pelo menos uma dezena de telenovelas, foi uma lâmina de dois gumes, nesta obra. Por um lado, foi extremamente divertido lê-lo e acompanhar cada reviravolta, por outro, tirou bastante peso à mensagem da história, fazendo-a esmorecer progressivamente em interesse e objetividade. Adicionando a isto algumas frases estereotipadas e dissonantes em tom com o resto da obra, um bom número de personagens rasas e mal exploradas, algumas efetivamente desnecessárias e, ainda, um rácio demasiado elevado de descrições de jantares ou almoços para páginas totais do livro, ficamos com uma obra corajosa e divertida, que brilha rápido mas nunca brilha muito.
Veio ter comigo sem que eu estivesse à espera. Por vezes acontece, ando pelos corredores da biblioteca com a minha lista de livros a ler, mas há livros que não estão na lista e me falam, seduzem-me com a lombada a espreitar na estante e eu deixo-me encantar pela contra-capa. Ou não. Neste caso, foi assim mesmo, fiquei encantada com a escrita da Rosa. Eu já lhe conhecia a poesia e passei o livro todo a ouvir a voz dela e os seus trejeitos de tia simpática a ecoarem nas personagens, ri bastante à conta disso. E ela tem uma prosa muito poética, pelo menos nesta obra. Algumas citações que guardei aqui e na memória, afloram-me agora aos lábios... A temática fascina-me, tudo o que tenha a ver com identidades, com a procura do ser, nesse aspeto consegue ser um pouco existencialista. Depois os cheiros, as palavras desconhecidas que se tornaram familiares para mim. Não me chateou nada o absurdo da história, nem achei lamechice, muito pelo contrário, simplesmente adorei a leitura, um pequeno banquete para os sentidos e deleite da alma.
E quando um livro tem um primeiro capítulo de tom poético que te faz pensar "isto deve ser uma seca..." ? E quando entras no segundo capítulo e não paras senão na última página do romance, de tal forma o romance se torna envolvente? Foi o que me aconteceu: lido numa noite, coisa que nenhum livro tinha conseguido fazer por mim recentemente. Achei-o magnífico, mas ainda estou sob a impressão intensa que a escrita de Rosa Lobato Faria me deixou. Talvez se atenue, espero que não. Recomendo vivamente !
Gostei bastante deste pequeno livro que se lê tão rapidamente. Uma história sobre as relações entre as pessoas e família, focando também a homossexualidade masculina. Apesar de interessante, achei-a talvez um pouco simplista. Escrito com grande mestria, alguma comédia (dei umas boas gargalhadas) e sabedoria. Soube a pouco. Passou tudo muito depressa.
Dos livros que li da autora foi o que gostei menos... Gostei da parte da bruxa, da ligação com as coisas e das suas charadas. Continuo a adorar a escrita da autora. Mas só a escrita não faz um livro. O que vale é que é pequeno lê-se em meia dúzia de horas. 2,5*****
Entre esta e aquela leitura, surge-me a vontade de ler mais um livro da Rosa Lobato de Faria. Adoro a sua forma tão portuguesa de nos contar uma história.
A "Alma Trocada" é, como tudo o que já li desta autora, uma história com paixão, drama, comédia e momentos de reflexão.
Não considero que seja um livro sobre homossexualidade, como leio em muitas opiniões, porque a personagem é bem resolvida neste aspeto. Existe ali um enredo em torno de um casamento "encomendado" mas que funcionaria igualmente bem se o protagonista tivesse outra orientação sexual. Assim como toda a sua trajetória. Nada nesta história acontece por causa da orientação sexual.
Não seria este o objetivo da autora? Mostrar que a orientação sexual não define uma pessoa ou uma história?
Através da sublime e poética escrita de Rosa Lobato de Faria, o leitor é convidado a penetrar no peculiar e glamoroso mundo de Teófilo, um jovem escritor que luta para aceitar e assumir a sua homossexualidade. As personagens, todas extremamente bem-construídas e interessantes, atribuem à narrativa um charme particular. Além disso, o facto de Teófilo ser apresentado como um ser-humano complexo e não somente como um homem homossexual contribui imenso para a humanização das pessoas LGBTQ+, algo que, infelizmente, ainda escasseia na arte. Realça-se também a beleza da capa, um maravilhoso arranjo de uma pintura de Henry Scott Tuke. Com ecos de ''Chama-me pelo teu Nome'', este é um livro que encanta desde o sugestivo e encantador título até ao estupendo final.
Queria tanto dar mais estrelas a este livro porque a escrita é deliciosa de se ler e tão fluído, fiquei agarrada desde a primeira página.
No entanto o enredo transforma-se rapidamento numa novela das 7 da tarde. Fiquei desiludida pelas personagens esteriotipadas 2D, pelos preconceitos e pelos comentários borderline xenófobos(?)…
O conceito inicial era tão bonito, tinha potencial.
A escrita é poética, o tema é interessante e as descrições também. O problema é haver 2 enredos, um o da "alma trocada", de Teófilo, que se descobre e se aceita, outro um enredo quase policial que deita por terra a ideia da "alma trocada" e quase a ridiculariza.
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