Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro
Com sua rara capacidade de explicar temas filosóficos para o leitor comum, Marcia Tiburi alcançou o sucesso de público e de crítica como uma filósofa pop. E nesses tempos de nervos à flor da pele e agressivos embates políticos, Marcia traz em Como conversar com um fascista um propósito filosófico-político: pensar com os leitores sobre questões da cultura política experimentada diariamente, de um modo aberto, sem cair no jargão acadêmico. O argumento principal é como pensar em um método, ou uma postura, para contrapor o discurso de ódio, seus reflexos na sociedade brasileira e repercussão nas redes sociais. A filósofa propõe o diálogo como forma de resistência e analisa notícias recentes e acontecimentos do mundo político para mostrar mais uma vez que é possível falar sobre temas complexos de maneira que todos compreendam.
Com apresentação de Rubens Casara e prefácio de Jean Wyllys, o livro traz ensaios inéditos e alguns já publicados na revista Cult, combinando a profundidade e a sofisticação intelectuais presentes na medida certa na obra de Marcia Tiburi.
Márcia Angelita Tiburi (Vacaria, 6 de abril de 1970) é uma artista plástica, professora de Filosofia e escritora brasileira.
Graduada em filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1990), e em artes plásticas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996); mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) com ênfase em Filosofia Contemporânea. Seus principais temas são ética, estética e filosofia do conhecimento.
Publicou livros de filosofia, entre eles a antologia As Mulheres e a Filosofia e O Corpo Torturado, além de Uma outra história da razão. Pela editora Escritos, publicou, em co-autoria, Diálogo sobre o Corpo, em 2004, e individualmente Filosofia Cinza - a melancolia e o corpo nas dobras da escrita. Em 2005 publicou Metamorfoses do Conceito e o primeiro romance da série Trilogia Íntima, Magnólia, que foi finalista do Prêmio Jabuti em 2006. No mesmo ano lançou o segundo volume A Mulher de Costas. Escreve também para jornais e revistas especializados, assim como para a grande imprensa. Márcia Tiburi também se apresentava, semanalmente, no programa de televisão Saia Justa, do canal por assinatura GNT. Em 2012 publica o romance Era Meu esse Rosto pela Editora Record e os livros Diálogo/Dança eDiálogo/Fotografia pela editora do SENAC-SP.
É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Um presente pra quem, ao mesmo tempo que se interessa pela história do Brasil, inevitavelmente se indigna com essa onda absurda de conservadorismo que está assolando o país há alguns meses. O livro explica pra gente como podemos (e devemos) trocar ideia com os famigerados bolsomitos sem revirarmos os olhos 3 vezes por segundo.
4 estrelas porque achei que faltou um final legal, alguma moral ou conclusão tirada disso tudo, mas recomendo a leitura.
A proposta do livro, como a autora coloca, é interessante: pensar questões culturais e políticas para um público amplo em linguagem acessível, escapando do engessamento da forma acadêmica. Me lembrou, nesse sentido, o "Sobre a Tirania", do Timothy Snyder, que li ano passado. Não um livro de filosofia, mas um manual de guerrilha. Gosto da Marcia Tiburi e acho que há alguns bons momentos, especialmente quando ela fala sobre a criação e reprodução de afetos nas redes sociais.
No entanto a execução do projeto deixa um pouco a desejar, por duas razões:
1) o texto flutua demais, linguisticamente falando, em qualidade e dificuldade. Há desde o registro "textão de facebook" ao abuso de jargão acadêmico, às vezes dentro do mesmo artigo. 2) o ponto do livro se perde. Há textos demais, cobrindo assuntos demais, muitas vezes tratados de forma superficial.
Formalmente falando, um livro menor e mais bem editado seria mais útil para os tempos em que vivemos.
"O que chamo de fascista é um tipo psicopolítico bastante comum. Sua característica é ser politicamente pobre. O empobrecimento do qual ele é portador se deu pela perda da dimensão do diálogo. O diálogo se torna impossível quando se perde a dimensão do outro. O fascista não consegue relacionar-se com outras dimensões que ultrapassem as verdades absolutas nas quais ele firmou seu modo de ser."
O fascista clássico é difícil de ser definido nos antigos moldes políticos "esquerda ou direita". Ele é um sujeito híbrido. Meio barro, meio tijolo. E Márcia Tiburi aposta nessa ideia (de inicio). Não importa em que lado do espectro político você está, somos todos fascistas em potencial. Porém essa máxima se perde no meio do livro. Fiquei com a impressão de que, quando ela escrevia sobre o fascista, estava mirando no sujeito tosco, paranoico, medroso, politicamente burro etc... de direita. Quando bem sabemos que o sujeito tosco, paranoico, medroso, politicamente burro etc...também existe de igual modo na esquerda.
Minha percepção é que tanto lá, quanto cá existem fascistas - basta abrir uma rede social qualquer para constatar isso de forma quase que instantânea.
Adorei ler! Infelizmente depois de o terminar tenho ainda menos vontade de conversar com um fascista, precisamos de muita energia e vontade para continuar a bater com a cabeça contra a parede.
Senti porém falta de um final/posfácio que conectasse um pouco as partes integrantes. Senti também falta de alguma consistência entre o tom académico e o tom mais conversational virado para o público em geral.
O livro traz conceitos interessantes e ótimas análises sobre autoritarismo, capitalismo e fascismo. Não gosto do capítulo repleto de ironias, é quase um texto do Olavo de Carvalho 💀 jogado ali no meio. Por fim, não responde a pergunta da capa: é pelo afeto que se dá esse diálogo, afinal?
Para mim existem hoje no Brasil dois tipos de intelectuais: os que se refugiam na vida acadêmica brilhante e maquiam sua forma de ganhar a vida de diplomacia (muitos deles precisam ser imparciais pois suas ideias, geralmente associadas com os livros/ palestras de auto ajuda que vendem, precisam ser consumidos por um todo) e os intelectuais que militam, que produzem e abordam temas tão necessários ao real que querem elevar o pensamento de uma massa a outro patamar, a um degrau mais perto da "verdade".
Este livro me surpreendeu porque eu o comprei pensando que encontraria fórmulas para desencorajar qualquer discurso absoluto e autoritário que fosse feito a mim, ao que sou como pessoa e a minha dignidade. Quanto engano... Ao invés disso pude reconhecer o fascista que há em mim e a leitura tornou-se mais um exercício da subjetivação que faço do outro enquanto experiência do meu self. Acho brilhante quando o objetivo próprio ou ideia pre concebida do objeto acaba por tornar-se te-inventada, diferente, surpreendente. Com um linguajar acessível e descontraído, considero este um dos livros mais necessários para este tempo em que vivemos!
É tarefa importante examinar o fenômeno do fascismo contemporâneo. O livro é descolado da perspectiva histórica e esquadrinha o comportamento psicossocial do neofascista (expressão minha). Chama a atenção a onda de ódio que se espraia nas redes sociais em diferentes matizes ideológicas - da direita à esquerda, do ateu ao cristão (e aí o meu interesse maior, por tratar-se da minha área de pesquisa em Teologia). São pessoas travestidas de arautos da moralidade e da verdade, e que não escamoteiam seu ódio, repulsa e completa falta de alteridade. Neste viés, Tiburi cumpre bem o papel com ensaios leves e instigantes e bem aplicáveis ao cotidiano. Mas faço críticas: sua leitura dos meios de comunicação ainda é bem superficial (os meios não são monolíticos há tempos) e a demonização ao capitalismo é determinista demais. Um bom livro para quem quer entender reacionários e perceber que, ao contrário do título, ainda não dá pra conversar com eles. Pra dizer a verdade, nem quero.
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Não sei dizer exatamente o que me incomodou nesse livro, mas suspeito de duas coisas: 1) a divisão em 67 capítulos, todos relativamente curtos e vários abordando o mesmo assunto. Portanto, dava para ter organizado capítulos mais densos. A leitura de capítulo curto flui bem, mas quando os temas estão se repetindo fica bem chato. 2) o artigo A arte de escrever para idiotas. Isso me lembra aquele livro do Olavo de Carvalho. Esse tipo de linguajar me parece descer o nível no fundo do poço. Ok que eu sei que o mundo tá cheio de idiotas, porém, como filósofa, se o fosse, tentaria não agredir um possível público leitor de minhas ideias. Não gosto desse tipo de tratamento, parece rusga de rede social, completamente desnecessário.
É um bom livro porque traz várias questões filosóficas sérias de maneira didática, sem ser simplista.
O bom da Márcia Tiburi é que ela é séria e intolerante com o fascismozinho do dia-a-dia, que é tão escroto quanto o racismozinho, machismozinho e o estuprozinho. Mas o livro é meio apressado e oscila demais entre a coragem e o senso comum. Outro problema é que ela só desconstrói o discurso negativo do ódio sem construir uma moral positiva do diálogo. Ser gentil com idiota é a tarefa mais difícil do mundo, mas é a única forma de não nivelar todo mundo por baixo. A diferença é que o que é impossível pro fascista e só muito difícil pras pessoas normais. Mas vale a pena ler como exercício. É a versão séria do "mais amor por favor".
Ó Senhor misericordioso e magnânimo, ouvi o clamor de um filho menor que tão humildemente se apresenta: salvai a filosofia no Brasil impávido colosso, país onde a construção teórica mais sofisticada tem sido a reutilização do termo "fascista". Amém.
Gostei de algumas reflexões concordo com alguns questionamentos e propostas da autora, discordo de outros. É um livro rápido de ler e a análise da autora sobre algumas situações é bem interessante. Porém, senti que alguns temas acabavam meio perdidos e que a proposta inicial do livro se dilui bastante. Acho que esperava um pouco mais. Meu primeiro contato com a Tiburi como autora (meu anterior tinha sido com a candidatura dela a governadora e discordei demais da postura dela, especialmente pelas escolhas de discurso em um debate com o Tarcísio Motta, mas isso não vem ao caso).
A obra é escrita num formato de muitos capítulos curtos ligados uns aos outros, o que faz parecer que estamos lendo um grande blog, postagem por postagem, com temáticas semelhantes.
Márcia Tiburi define o tom do livro já em seu título, desafiando o leitor a se abrir ao diálogo, que segundo ela, seria a arma para lutar contra as injustiças sociais e culturais que nos cercam. A partir disso, a autora faz relações entre as maneiras como nos comunicamos hoje através da internet e como a detenção da fala foi e ainda é um método de dominação cultural.
"Como conversar com um fascista" descreve o que se entende por fascismo numa perspectiva de quem sofre os efeitos do mesmo e nos convida a entendê-lo para que possamos combatê-lo.
Neste livro, você encontrará várias reflexões do cotidiano brasileiro que também podem ser aplicadas em qualquer outro país do mundo. Em seus textos, Marcia Tiburi reflete sobre a formação, mentalidade e comportamento da mente fascista assim como as possíveis maneiras de se dialogar com pessoas providas de tal mente. Ótimo leitura, apesar de que no final do livro, os textos tornaram-se demasiado filosófico (com palavras muito técnicas) pro meu gosto.
O conceito de fascista utilizado pela autora é amplo o bastante para poder abarcar o conteúdo do próprio livro, que estigmatiza e desqualifica as pessoas que enxergam benefícios no sistema capitalista (em especial o MBL) como manipulados por uma série de agentes e, portanto, incapazes de pensar por conta própria. Se basta enxergar ódio nas atitudes de quem você discorda para chamá-lo de fascista, você provavelmente será chamado de fascista em algum momento, ainda que negue odiar.
Adoro as reflexões de Marcia Tiburi, uma pensadora coerente em meio ao mar de negacionistas, coachs e terraplanistas que transborda pelo Brasil. Apesar disso, a execução do livro não foi coerente com sua proposta. Apesar das excelentes conceituações e ótima apresentação do contexto histórico, Tiburi esquece de responder a pergunta apresentada em seu título: como conversar com um fascista, a personificação do ódio. Bom livro para quem busca um bom conceito para o fascista brasileiro.
El título es un engaño. Me hizo esperar un manual para lograr debatir con personas de extrema derecha lo cual me parece súper útil y necesario pero lo que encontré fue un tratado filosófico de por qué las personas con pensamiento autoritario son como son y la amenaza que representan, lo cual puede ser útil para entender pero no para lograr persuadir al otro de que esa forma de ver al mundo no nos ha llevado nunca a nada bueno. Al contrario, desde el principio hasta el fin la autora me dió a entender que nos jodimos, no hay nada que podamos hacer con esa gente, a los que incluso llama de idiotas.
El libro comienza, si mal no recuerdo, con 3 prólogos extremamente largos que dan a entender que el texto NO ES un tratado filosófico y por ende está escrito para que un público amplio lo entienda... Pues, da para ver que los que escribieron los prólogos son filósofos y no tienen la más mínima idea de quién es el "público amplio".
El libro está escrito en decenas de capítulos de unas pocas páginas cada uno, creo que la autora intentó tocar varios temas y relacionarlos con la personalidad autoritaria pero hay unos demasiado jalados por los pelos. Otros son repetitivos, y otros son totalmente coherentes.
Entonces, si quieres leer un tratado filosófico más bien pesimista (¿o realista?) de la personalidad autoritaria, y el disfraz de democracia en la que vivimos, el libro está bien, pero para mí fue hasta aburrido.
É um livro interessante mas não é bem o que esperava, o que por si só não o torna pior mas me deixou um pouco desapontado. Esse livro é feito por um apanhado de pequenos artigos, o que o torna bem agradável de ler pois você não sente que precisa ter tanto tempo em mãos pra chegar no ponto em que a autora quer chegar (em contraposição a um livro desse estilo com capítulos muito grandes).
O que me deixou um pouco desapontado é que muito pouco do livro trata do que propôe o título "como conversar com um fascista". Não me entenda mal porque mesmo tendo muita coisa que no meu entender vai bem além do que eu esperava com o título alguns capítulos são espetaculares e eu diria que são leitura obrigatória mas claro que tem alguns que se arrastam, tanto em tema quanto na forma em que são apresentados.
No final, eu diria que foi mais um casode 3.5 estrelas do que 3. É um bom livro mas dado como começa bem eu esperava mais, mas ainda assim recomendaria a outros, se não na íntegra, pelo menos alguns capítulos.
Embora eu concorde com todo o conteúdo do livro, discordo muito da forma em que ele se apresenta. A sinopse d0 livro diz que é uma obra pra trocar ideias com o leitor comum. Infelizmente não é. Muitas vezes o livro cai no jargão acadêmico. Em algumas partes, parecia que eu estava lendo um texto que algum professor passou na faculdade e seguia lendo por obrigação. O título também passa uma impressão errada pro livro: é pra refletir e pensar. Não é um livro injuntivo, um manual sobre como conversar com os fanáticos da extrema-direita no Brasil. Aliás, esses não são convencidos racionalmente.
Vale a leitura, muito, mas eu acho que esperava outras coisas do livro. O erro talvez tenha sido meu, minha expectativa.
3,5. Primeiro livro que leio de Tiburi, mas já a acompanho há alguns anos, inclusive indo em várias palestras. Gosto muito dela sempre tive curiosidade em ler seus livros, embora já tenho lido textos que ela escreveu em sei blog e na revista Cult. Não dei uma classificação maior, porque achei que em vários pontos o texto ficou de difícil compreensão, uma escrita complexa. Mas ainda assim, ela é muito sensata em suas colocações, como quando ela fala do 'eu' e o 'outro', bem como do discurso e do diálogo (sendo neste ultimo profundamente explorado). Enfim, recomendo a leitura e pretendo ler outros livros dela.
esse livro infelizmente me decepcionou bastante, tinha várias expectativas sobre ele mas infelizmente não consegui me conectar com a linguagem da autora e realmente só fiz uma leitura dinâmica e bem superficial, não absorvi nada. talvez seja pelo meu bloqueio com filósofos, rs, mas também senti que a autora se desviou muito da temática principal, abordando temas que por vezes ficaram muito aleatórios, mantendo tudo em um campo muito afetivo também, quando eu estava esperando uma análise mais objetiva, sei lá. realmente não sei explicar, esse livro não foi pra mim.
Talvez eu tivesse gostado mais do livro se não fossem duas decepções - a primeira é que enquanto a autora é ótima em entrevistas ou palestras, não achei a mesma coisa quando ela escreve. E a segunda é que o título do livro sugere que ele vai conter sugestões de como lidar com esse tipo cada vez mais comum por aí, mas infelizmente, não é o caso. Seria a forma irônica da autora dizer que, infelizmente, não há como conversar com um fascista?
Disfarçado de livro dirigido a qualquer um que queira ter uma compreensão clara do tema, o verdadeiro objetivo dessa obra é impressionar a comunidade filosófica de esquerda (não me entendam mal, me considero de esquerda também). O livro é escrito à moda prolixa dos filósofos contemporâneos pós-Foucault, adotando termos e expressões desnecessariamente complexos. Enfim, temos aqui um exercício diletante de vaidade e narcisismo literário.
Um ótimo tema, abordado parcialmente. A autora - notadamente com viés de esquerda - esquece ou omite intencionalmente, todos os exemplos que poderia utilizar a partir do comportamento dos seus pares (defensores do Lulopetismo), que repetem insistentemente jargões e discursos pré formatados, não cedendo ou minimamente, tentando um diálogo com os (por ela) categorizados como autoritários.
Abordagem superficial, que tenta falar sobre vários aspectos que tangenciam o fascista mas não é capaz de aprofundar no tema que titula o livro. Cheio de malabarismos hermenêuticos e a cada capítulo você sente como uma introdução do que realmente estará por vir no livro, mas você termina frustrado e sem um “outcome” da leitura.
livro pra ler mais de uma vez, pois foi o primeiro do tema que eu leio e, assim, como é bom ser ignorante e na leitura de livros como esse, ver a ignorância em carne pra possibilitar a entrada na sua alma que é o conhecimento. Não sei se faço sentido, tô rendido aos efeitos do mercúrio retrógrado.
“O grande desafio, portanto, maior do que o confronto reducionista entre direita e esquerda, desenvolvimentistas e ecologistas, entre machistas e feministas, parece ser o que envolve os que pensam e os que não pensam.”