O livro conta a história do PS (e como o Sócrates não é fruto do acaso). A fluidez do financiamento, os compadrios e os favores estão no ADN deste partido. É certo que o livro é a visão do seu autor, mas se apenas metade for verdade, ou mesmo um quarto, qualquer ideia romântica em volta do PS e da sua criação desaparece.
A leitura do livro é mto dura e complexa. Há mtos nomes e datas, muitos pequenos recados que não consigo acompanhar – por falta de tempo, paciência e por o tempo não ser o meu. Ainda assim, o livro lê-se mto bem.
A história é simples de contar:
1. O PS conseguiu um nicho de financiamento e de posicionamento internacional. Após o 25A (e mesmo antes) o PS conseguia financiar-se com o apoio de alguns países / partidos socialistas e com o apoio americano – o nicho vinha do facto de estar disposto a trazer uma visão americana para o espaço socialista europeu. Para o lado europeu, havia a autoridade de se ter lutado contra a ditadura, o comunismo e de não ter deixado que um canto da europa caísse para um qq lado extremista. Basicamente o PS e Soares faziam a ponte entre duas visões do mundo.
Num dos seus muitos livros de memória, Cavaco Silva conta que Soares queria intermediar o conflito israel -arabe. Dizendo o antigo primeiro ministro que era apenas vaidade de Soares e excesso de ego. Ao ler o livro de Rui Mateus creio q Soares poderia ter mesmo desempenhado esse papel – Soares e o PS estavam neste vértice entre duas visões do mundo e com quadros competentes. Soares e o PS conseguiram ser recebidos em todos os países do mundo e mediaram conflitos internacionais de pequena escala.
Claro que havia ali tb mta camaradagem do Rui Mateus e os diferentes players europeus e americanos e percebe-se bem que o seu autor sabia mexer-se na internacional socialista. O autor jogava o jogo com extrema competência, misturando relações pessoais, profissionais e de amizade. Mário Soares e o PS conseguiram tb esse papel por mérito, capacidade, vaidade e necessidade.
Esse fortíssimo apoio financeiro era feito via fundações associadas a esses países políticos, directamente pelos diferentes partidos, empresas do regime dos outros países, serviços secretos, etc. Valia tudo.
O autor conta essas histórias como absolutamente normais, banais até. Nota-se até por vezes uma certa candura com que apresenta uma teia de tráfego de influências.
2. À medida que o tempo foi passando houve e necessidade de diversificar as fontes de financiamento e de desenvolver um plano de controlo da comunicação social que garantisse maior exposição do PS.
A criação dessa empresa assentava em investimento via as fundações associadas ao PS (que por sua vez era ou tinham sido financiadas pelos esquemas indicados acima), por empresas herdadas do antigo regime e por outras coisas manhosas. Mas tal não era suficiente para satisfazer a ambição. Era preciso mais e mais dinheiro.
O autor não explica porque, mas o processo de criar o grupo empresarial associado ao PS acabou por cair.
3. Com a queda desse projecto há necessidade de repartir os despojos e satisfazer os investidores informais. Um deles tinha querido comprar o acesso e o resultado para o aeroporto de Macau. Tendo perdido o concurso público queria ser ressarcido do suborno / “investimento” que tinha realizado.
Esta é a parte da história que o autor quer contar (os celebres faxes de macau e de Carlos Melenacia), mas que a mim me diz pouco. Tem, no entanto, alguns detalhes picantes.
4. O paralelismo com o socrates & cia é mais do que evidente. Mais recentemente o Armando Vara queria fazer uma fundação PS (fundação prevenção e segurança). O controlo da CS foi um desejo tentado do gov Socrates. Há mais traços em comum. O que retenho é que o esquema de amizades e de captura do regime está lá – desde o início.
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No final o que fica do livro é a ambição desmedida de Mário Soares, e do PS, e a sua visão tentacular de captura do regime. É evidente a sua coragem sempre racional e de baixo risco. Nada do que vemos agora e que vimos nos últimos anos é por acaso.
Indispensable reading if you're about to understand the Nordic (Swedish and Norwegian) connection to the Portuguese Socialism of the 1970's and beyond.
Livro amaldiçoado (i.e., "esgotado" em tudo o que é loja, mas facilmente encontrável online ou em qualquer alfarrabista) e de autor em parte incerta, facilmente se percebe o porquê.
Apresenta os primórdios do PS desde antes da sua fundação, como foi crescendo com financiamentos de origem duvidosa, os surpreendentes papéis desempenhados por Mário Soares (tanto positivos, de certa forma, e negativos), e de todos mitos criados em redor deste desde então.
Rui Mateus assume assim as suas responsabilidades, demonstrando claramente o que agora é amplamente conhecido que em Portugal: "para além da ausência de regras que permitam, pela via individual, o acesso do cidadão à actividade política, não existem regras idóneas de financiamento dos partidos nem de transparência para os políticos (...) tudo se faz às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos governantes e dos seus magistrados se tratasse de algo suspeito, de algo subversivo".
Livro escrito por um dos co-fundadores do PS. Descreve como na política (neste caso no partido socialista) ocorrem os financiamentos, tráfego de influências e corrupção. Mostra um lado do Dr. Mário Soares que nada abona a seu favor. É relatado o famoso caso Emaudio (ou fax de macau) assim como os jogos de poder que definiram Portugal do pós 25 de abril.
Os governos do nosso descontentamento. A meio. Vaidade de Mário Soares; inépcia, cinismo e calculismo na escolha de colaboradores. Relações com Angola. Engajamento c/ I.S.
Fora das opiniões politicas que possamos ter, a realidade é que o livro é mal escrito, com má ligação dos capítulos e tratando de assuntos diversos num só período. Estranha-se sendo o autor uma pessoa que teve formação universitária na Suécia. A parte dos financiamentos e apoios ao PS no período de 1974 a 1976 já era conhecida, e a mesmo teve referências em livros sobre Miterrand, Harold Wilson, Willy Brandt. O período histórico era o de confronto Leste - Oeste no solo Europeu, a que se juntava o interesse na colónia Portuguesa mais interessante, Angola, por via das suas riquezas minerais e potencialidades agrícolas. Este é o período do escândalo Lockheed, dos escândalos de petróleo, diamantes e armas em África, e algo falha no livro. O autor poderia ter sistematizado em quadros, os valores por origem e ano, que permitiria uma melhor análise em paralelo com a história Portuguesa, Europeia e Sul Americana. Interessante a parte final, ao indicar que Silvio Berlusconi, Rupert Murdoch e Robert Maxwell tentaram todos possuir canais de televisão em Portugal. Seria motivo para mais detalhe por parte do autor e sua análise do terem desistido, seria interessante um comentário aos escolhidos e porquê.