“Tenho 30 anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena.”
"É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais ou ouvidas de outras mulheres e homens negros. Com uma escrita ágil e visceral, denuncia com lucidez – e sem as armadilhas do discurso do ódio – nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas. Quando me descobri negra fala com sutileza e firmeza de um processo de descoberta inicialmente doloroso e depois libertador. Bianca Santana, através da experiência de si, consegue desvelar um processo contínuo de rompimento de imposições sobre a negritude, de desconstrução de muros colocados à força que impedem um olhar positivo sobre si. Caminhos que aos poucos revelam novas camadas, de um ser resinificado. Considero este livro um presente, é algo para se ter sempre às mãos e ir sendo revisitado. Bianca, ao falar de si, fala de nós." Djamila Ribeiro, pesquisadora na área de filosofia política, feminista e colunista da Carta Capital.
Diretora-executiva da Casa Sueli Carneiro. Militante da UNEafro Brasil, movimento que compõe a Coalizão Negra Por Direitos. Colunista de ECOA-UOL e da revista Gama.
Doutora em ciência da informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com uma tese sobre memória e escrita de mulheres negras. Mestra em educação também pela USP.
Autora de Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, 2021) e de Quando me descobri negra (SESI-SP, 2015).
Organizadora das coletâneas Inovação Ancestral de Mulheres Negras: táticas e políticas do cotidiano ( Oralituras, 2019), Vozes Insurgentes de Mulheres Negras: do século XVIII à primeira década do século XXI (Mazza Edições/ Fundação Rosa Luxemburgo, 2019), e Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas (Edufba/Casa de Cultura Digital, 2012).
Colaboradora da revista Cult.
Escritora convidada na Feira do Livro de Frankfurt em 2018 e na Feira do Livro de Buenos Aires em 2019. Uma das curadoras do Festival Literário de Iguape em 2019 e 2020.
É associada da SOF – Sempreviva Organização Feminista e compõe os conselhos da Artigo 19, dos institutos Marielle Franco e Vladimir Herzog.
Foi professora da Faculdade Cásper Líbero e da pós-graduação em jornalismo multimídia na Faap.
Um livro curtinho de memórias/crônicas/relatos dividido em três partes: "O que vivi", "O que ouvi" e "O que pari", onde Bianca conta sua experiência como mulher que se descobre negra e percebe que todo o racismo nem sempre é explícito. Uma leitura delicada e com pancadas que aparecem quando você menos espera. Além do conteúdo, a forma também é incrível, com ilustrações do Mateu Velasco.
Esse livro é tão curtinho, mas me deixou tão abalada. Bianca fala de sua experiência de uma forma que acabou me tocando e me deixou bastante reflexiva (eu tô até agora pensando e repensando minha vida). Foi uma leitura maravilhosa e o livro tá lindíssimo!!!
"Tenho 30 anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena." A frase que cito, que é também citada na sinopse, foi o que me fez ter vontade de ler esse livro. A sugestão de que a autora não teve consciência de sua negritude durante boa parte da vida é uma experiência com a qual eu me identifico e sobre qual eu vejo muito poucas pessoas falando. A cultura brasileira tem, entre suas características negativas, um racismo capaz de negar que pessoas de famílias miscigenadas são negras, assim como nega que a sociedade trata as pessoas de forma diferente em função do quanto a pele é escura e nega que exista um padrão de beleza aceitável e desejado para obtenção de afetos e oportunidades. Questões como essas são o que geram alguns dos relatos que esse livro contém, de pessoas que se dão conta do quanto é doloroso ser visto alguém inferior, menos capaz ou indigno de certas coisas; do quanto é brutal a violência que busca por certos corpos; e do quanto esses corpos são vistos como disponíveis para certos usos para em seguida serem descartados, como se não fossem os corpos de pessoas que vivem, sentem, pensam, amam e sofrem. Os relatos com os quais eu mais me identifiquei foram os que falam sobre alisamento de cabelos. Por muito tempo, eu alisei o meu, até conseguir ver como meus cachos podiam ser bonitos e o volume deles não precisava ser escondido do mundo. Mas todas as outras histórias, vividas ou não pela autora, são poderosas e me despertaram sentimentos intensos. Eu esperava encontrar um relato longo sobre o processo de descoberta da autora enquanto pessoa negra, então fiquei um tanto desapontada ao encontrar diversas historias com temas diferentes. Apesar disso, gostei muito do livro. Embora a edição seja bem bonita, talvez a fonte branca sobre páginas pretas não tenha sido a melhor escolha: no início do livro, havia trechos com falhas de impressão do texto, tornando difícil compreender algumas palavras em que faltava uma ou outra letra.
É um livro MUITO BONITO. As ilustrações são muito bonitas. A Bianca foi muito feliz na escrita. É um livro cuja leitura eu recomendo e indico também que leia junto, o Pequeno Manual Antirracista, da Djamila Ribeiro. Leiam os dois.
A obra de Bianca Santana é um mergulho profundo e comovente nas águas turbulentas do racismo brasileiro. "Quando me descobri negra" não é apenas um relato pessoal, mas uma poderosa declaração de existência, um grito de resistência que reverbera em cada página. A autora nos conduz por um labirinto de memórias, sentimentos e reflexões, desvelando a complexidade de sua trajetória de autoconhecimento.
Com uma prosa delicada e incisiva, Santana tece uma narrativa que equilibra a dureza da realidade com a beleza da redescoberta. Os trechos autobiográficos se entrelaçam com a história recente do país, revelando como o racismo permeia as estruturas sociais, desde o bairro de classe média até a desigualdade salarial no trabalho. A autora não hesita em expor as feridas do preconceito, mas o faz com uma sensibilidade que nos permite vislumbrar a força da resiliência.
A frase que abre o livro — "Tenho trinta anos, mas sou negra há dez" — é um portal para um universo de transformações. A autora narra sua passagem de "morena" para negra com uma honestidade visceral, revelando o processo de letramento racial que a levou a abraçar sua ancestralidade e a se reconhecer como parte de um coletivo. A obra é um hino à negritude, uma celebração da beleza dos cabelos crespos, dos turbantes vibrantes e dos traços que nos conectam aos nossos antepassados.
"Quando me descobri negra" é um livro que pulsa vida, que nos confronta com a urgência da luta antirracista. A autora nos convida a repensar nossas próprias identidades e a reconhecer o papel que cada um de nós pode desempenhar na construção de um futuro mais igualitário. Com referências a Neusa Santos Souza e Chimamanda Ngozi Adichie, Santana se junta a um coro de vozes que clamam por justiça e igualdade.
Esta obra transcende o tempo e o espaço, tornando-se um clássico contemporâneo que já faz parte da formação do que sonhamos para um novo projeto de nação. É um livro para ser lido, relido e compartilhado, uma obra que nos inspira a seguir em frente na luta por um mundo onde a cor da pele não seja motivo de discriminação, mas sim de orgulho e celebração.
Este libro cortito llegó a mis manos gracias a mi profesora de portugués, a la que le voy a agradecer siempre. Desde que nos leyó la sinopsis en clase, sabía que tenía que ser el primer libro que leyera enteramente en este idioma, y no me arrepiento, sino todo lo contrario: se lo voy a recomendar a cada persona que tenga la oportunidad de leerlo. Las ilustraciones y la estética del libro son maravillosas, solo superadas por la fuerza de cada uno de los relatos, que cayeron sobre mí con un peso increíble, que me hicieron reflexionar y hasta llorar. Me atrapó desde el inicio y no lo pude soltar hasta terminarlo. Excepcional para poder introducirse en la temática del racismo en Brasil desde una perspectiva más empática, comprenderlo y combatirlo.
devorei esse livro. entre choros e reconhecimentos, me vi em muitas linhas. voltei a minha infância. fiquei triste. na verdade, eu não fiquei, existe uma tristeza em mim, que existirá pra sempre. posso esconder no fundo dos meus pensamentos cada micro agressão sofrida, mas elas deixam marcas. o processo de reconhecer essas dores é doloroso. mas é libertador. posso garantir. como a própria Bianca diz: "apesar de ser seu nome na capa, este livro é de todas as pessoas". esse livro é meu. e esse livro precisa ser, especialmente, de pessoas brancas que querem de fato, ser antirracistas. que esse livro provoque afeto e inspire na construção da justiça e igualdade. que livro! que ilustrações!
Crescendo no Brasil, acabamos nos acostumando com o “status quo”, e essa realidade no Brasil é uma realidade abertamente racista. Não sou racista, e na verdade sou abertamente educado e consciente das dificuldades de ser negro no Brasil, devido à minha infância com uma pessoa negra muito próxima de mim: minha babá desde bebê. Isso, junto com os valores incutidos em mim pelos meus pais, me obrigaram a entender melhor e a lutar contra a realidade racista do Brasil. Mas mesmo com este livro explorando essas questões de racismo aberto, a parte mais impactante dele é quando menciona o racismo clandestino, ou o que não aparece imediatamente. Isso para mim é o que diferencia este livro de outros sobre o mesmo assunto, ele mostra um lado oculto e silencioso do racismo, e que nós, brasileiros brancos, mesmo os instruídos e antirracistas, temos dificuldade de compreender. Esse livro realmente me conectou com Santana e criou uma grande empatia por ela, e ainda maior empatia pelos negros no Brasil, e me motivou a lutar contra o racismo embutido tanto quanto o aberto. Não posso recomendar este livro o suficiente.
Relatos de acontecimentos diários da vida de uma mulher preta que imersa em uma vivencia social diferente, não se identificou como negra desde nova. Vejo como um processo “comum” para com pessoas pretas que tem alguns privilégios na sociedade brasileira, consegui me ver totalmente nesses relatos e assim como ela, só me reconheci como mulher preta muitos anos depois. Totalmente necessário esse debate, todos temos lutas e processos diferenciados.
O livro reune contos da própria autora e de amigos sobre experiências vividas. E mais alguns que ela criou a partir desses relatos.
Minha expectativa ao ler a introdução foi a de que ela compartilharia também alguns insights com as pessoas para que o cenário melhore, mas isso não rolou....
Um livro muito lindo - e muito triste. As histórias são curtas mas impactantes. O texto é uma delícia de ler e as ilustrações são belíssimas. É um livro para ler e reler, reler, reler... Recomendo a todos!
Um livro curto e simples, mas extremamente poderoso. Por meio de relatos breves de situações cotidianas, Bianca Santana denuncia o racismo entranhado na nossa sociedade. Um livro que denuncia e ainda assim mantém a leveza. Todos deveriam ler!
O livro é pequeno, de poucas páginas mas em cada uma delas um nó na garganta. São relatos da rotina de mulheres negras que parecem contar a minha própria história.
Bianca Santana mostra os racismos velados existentes no Brasil em suas histórias, em histórias de outras pessoas e em criadas por ela mesma. Um livro excepcional e cativante.
É um livro de história pessoal e crônicas. Muito bom, acho essencial a leitura. O quanto a nossa sociedade patriarcal tenta apagar a história e embranquecer as pessoas ?
Com certeza o melhor livro que li em 2023, até o momento!!! Apesar dele sugerir uma leitura rápida e simples, devido ao seu tamanho, as reflexões são enormes!! Bianca Santana utiliza de relatos para denunciar situações de racismo, algumas nem um pouco velado. Outras, que nós já vivenciamos com outras pessoas ou em primeira pessoa!! Ou até que realizamos.... Aqui percebe-se o quão enraizado o preconceito está! Mesmo sendo relatos curtos, o peso das atitudes pesam e, se o leitor permitir, abre para pensamentos profundos e que podem resultar nas mudanças, tão necessárias, para a sociedade brasileira! Como professora de história, com certeza vou utilizar, de alguns contos, em sala de aula! E você? Ficou interessado? Ou,se já leu, quais as suas impressões? Esse livro não poderia resumir melhor a proposta desse perfil, iluminar pensamentos através da literatura! Então, vamos iluminar! #relatos #escritorasnegras #iluminar #livros #books #negros #combateaoracismo
É um livro lindo, triste em vários momentos. Bianca Santana compartilha sua experiência no processo de se descobrir negra, já que não se entendia como tal quando era criança/adolescente. É um caminho doloroso e, a cada microagressão que ela relatava, doía em mim. Gostei muito da escrita de Santana e das ilustrações do Mateu Velasco, a leitura valeu muito.
A crônica é um espaço do qual o escritor pode se valer não apenas para falar de assuntos miúdos do cotidiano, mas também para expressar testemunhos de vida, em diálogo ativo com algumas das principais discussões contemporâneas. Como o Brasil é um país, miseravelmente, marcado pelo racismo, é natural que este seja também um tema trabalhado pelo cronista, com base em sua própria experiência.
Considerando a dimensão do problema do racismo no Brasil, é até surpreendente que ainda não sejam tão conhecidas (e celebradas) as crônicas que reagem a esse cenário. Deve-se ter em conta, porém, que, por mais democrático que o gênero da crônica seja, ele ainda é majoritariamente branco e masculino, não porque faltem cronistas mulheres e negras, mas porque não recebem o espaço que merecem.
Diante dessa realidade, deve-se comemorar quando uma escritora como Bianca Santana consegue se fazer ouvir por meio da crônica, com textos bem construídos, potentes, altamente confessionais, que não apenas testemunham sua experiência como vítima do racismo, mas fomentam nos leitores negros a valorização de si e as melhores maneiras de reagir ao preconceito cotidiano da sociedade.
“Quando me descobri negra” (SESI-SP, 2015) é uma admirável seleção de crônicas, todas de linguagem simples e acessível, em que Bianca Santana narra situações bastante comuns às vítimas de racismo no país, ao mesmo tempo em que indica como conseguiu enfrentar esse cenário hostil, assumindo e valorizando aquilo que a sociedade preconceituosa entendia como defeito ou algo que devia ser corrigido.
É um livro importante e socialmente relevante, no sentido de que muitos leitores vão ler e se identificar, passando a lidar melhor com suas características pessoais. Tudo isso é feito com muita sensibilidade, pois o objetivo de sua escrita é provocar afeto e inspirar a construir, no cotidiano, a justiça e a igualdade. Ela também se vale de pequenos contos e ficções, vincados à realidade e altamente verossímeis.
Por meio dele, admira-se a força de uma mulher que se tornou uma das primeiras negras a estudar em Coimbra, e que se conecta a todas as outras mulheres negras por meio do turbante. É livro que evidencia as potencialidades da crônica, que, por ter certo compromisso com a realidade, mesmo na ficção, pode agir diretamente no cotidiano das pessoas, levando-os à transformação pessoal. Admirável.