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264 pages, Paperback
Expected publication February 3, 2026
“Avanzamos para retroceder, y por eso avanzamos otra vez.”
O livro que mais me emocionou nos últimos tempos. Já é um dos favoritos do ano. Afinal, articular na margem entre ficção e realidade temas como memória pessoal e social, migração, os desafios arquivísticos da preservação da memória coletiva, o amor, a identidade, a crise socioambiental, ecocídio, e o entrelaçamento entre passado, presente e futuro de uma família fronteiriça — tudo isso em uma mesma obra, com muito respeito e carinho — não é pouca coisa.
Que ritmo desafiador e prazeroso de escrita. Literatura ativista de qualidade, sem forçação de barra. Dá pra ver o comprometimento da autora com sua pesquisa e seus ideais. Nenhum dado é descartado, é o testemunho.
Me conectei profundamente com as reflexões: essa sede por respostas, as longas conversas imaginárias que escorrem pela cabeça, a curiosidade incessante pelas cartografias subterrâneas. Sede de reparação. Ver como qualquer história humana é capaz de dizer tanto por estar inserida em tantas outras, como emulamos histórias perdidas.
E preciso dizer: que vocabulário riquíssimo! Agora também quero encontrar um dicionário antigo pra me inspirar. E se você gosta de referências, a autora traz várias citações e estabelece diálogos com autores que eu até então não conhecia: Gaston Gordillo, James Scott, Tarfia Faizullah, Jalal Toufic, José Revueltas, Glória Anzaldúa, Solmaz Sharif. Uma referência extra: The Afterlife of Cotton.
A autora recorre a uma “escrita geológica” para desenterrar camadas de história, lembranças e catástrofes inscritas na paisagem de povoados mexicanos. Mostra como os ideais e fracassos humanos — especialmente aqueles ligados a grandes projetos de impacto territorial e controle da natureza — deixam marcas duradouras que moldam o presente: algodão, carvão, fracking. O camponês, o indígena e o migrante.
Aprendemos a ler os "desastres insuperáveis" como aqueles que retiram as tradições. É um livro que também nos convida a ler o território como um palimpsesto: um solo onde o passado, com seus sonhos e desilusões, ainda pulsa nas ruínas (ou melhor dizendo, nos cascalhos) dos territórios infinitos que carregamos dentro de nós.
Na inércia febril que nos leva ao violento futuro, o movimento em direção ao passado é o que precisamos pra lembrar que o nosso solo e o nosso povo também precisam de respiro, da contemplação, pra que as pragas do progresso a qualquer custo não nos deixem inférteis ou prontos para a próxima exploração.
“Essa chegada, que é antes um regresso, desliza ao longo da linha de fronteira com o mesmo movimento do ponto atrás na costura. Avançamos para retroceder, e é por isso que avançamos outra vez.”
“Re-escrever, que é ressuscitar.”
“Melhor que abaixem a voz.
Guardem um pouco de silêncio.
Prossigam com muito cuidado.
Às vezes, um livro é uma forma de regresso: uma re-familiarização e um reparo,
A conversa que é retomada depois de anos de sigilo.
Algo está prestes a romper o horizonte. O céu.”
“Transitar é um verbo que requer outros. Pode-se caminhar em qualquer lugar, sozinho ou acompanhado, pela casa ou pelos campos. Mas para transitar é estritamente necessária aquela via pública onde recaem os olhares dos outros. Suas presenças. Sua aprovação ou desaprovação.”
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