Eu sou um apaixonado por Portugal, mas não um apaixonado cego. Gerrit Komrij
Um Almoço de Negócios em Sintra é um sublime livro que nos mostra a visão do autor Gerrit Komrij sobre Portugal e sobre os portugueses. Será a nossa portuguesíssima realidade a matéria deste Almoço de Negócios? Pode dizer-se que sim, se soubermos que factos, situações e personagens levam também um banho de ficção. Tendo escolhido Portugal como o país para viver, esta marcante figura da vida intelectual neerlandesa mergulha nas nossas vidas, desmascarando as nossas virtudes e defeitos aos olhos de um estrangeiro que tudo estranha. E deixa-se, depois, como o Balzac das Cenas da Vida Privada, assaltar pela doçura de alguém que se apaixonou pela terra e pela sua gente. Narrativa híbrida, Um Almoço de Negócios em Sintra é um misto de ficção, crónica e memória e mostra-nos o olhar satírico, enternecedor e humano do autor, numa linguagem mordaz, natural, brilhantemente vertida para o português por Fernando Venâncio, linguista e autor de Assim Nasceu Uma Língua.
O livro, no seu pequeno tamanho, agiganta-se a cada novo capítulo. Raquel Ochoa
Portugal e os portugueses são vistos através de uma lente irónica e divertida [em que a] ironia é sempre compensada com a ternura. José Luís Peixoto
Gerrit Jan Komrij was a Dutch poet, novelist, translator, critic, polemic journalist and playwright. He rose to prominence in the early 1970s writing poetry that sharply contrasted with the free-form poetry of his contemporaries. He acquired a reputation for his prose in the late 1970s, writing acerbic essays and columns often critical of writers, television programs, and politicians. As a literary critic and especially as an anthologist he had a formative influence on Dutch literature: his 1979 anthology of Dutch poetry of the 19th and 20th centuries reformed the canon, and was followed by anthologies of Dutch poetry of the 17th and 18th centuries, of Afrikaans poetry, and of children's poetry. Those anthologies and a steady stream of prose and poetry publications solidified his reputation as one of the country's leading writers and critics; he was awarded the highest literary awards including the P. C. Hooft Award (1993), and from 2000 to 2004 he was the Dutch Dichter des Vaderlands (Poet Laureate). Komrij died in 2012 at age 68.
"O que aí fiz, claro, é uma caricatura de ambos os países. Haverá sempre mais portugueses insensíveis, e eu recordo vagamente uma mão-cheia de holandeses de coração na mão."
Gerrit Kmorij, holandês radicado em Portugal, faz neste livro um retrato bastante fiel das idiossincrasias do nosso país. País que tanto criticamos, mas Aqui d'El rei se vem alguém de fora fazer a mesma crítica que nós. De prazos e orçamentos que nunca são cumpridos, a um poder local corrupto, temos toda uma amálgama de situações que, embora inacreditáveis, são o pão nosso de cada dia neste país.
"Impossível não se apossar de nós, de quando em quando, a impressão de termos a ver com um país que brinca aos paises, com um país que faz de conta que é uma nação verdadeira, adulta. É exactamente com esse fosso teatral que se terá, em qualquer aspecto da vida quotidiana, de contar. Eu sou um apaixonado por Portugal, mas não sou um apaixonado cego."
Um retrato de Portugal e dos portugueses escrito nos anos 90 que nos faz duvidar se não aprendemos nada, ao mesmo tempo que, como portugueses, nos vangloriarmos de já sermos como somos há tanto tempo. Cheio de humor, eis os escritos de um holandês que viveu em Portugal e sabe bem o que a casa gasta.
"Dirigimo-nos ao ritual que, do meio-dia às quatro, se apodera de Portugal inteiro. O almoço de negócios."
"Depositamos o nosso futuro nas mãos de Deus, o qual, como se sabe, foi inventado propositadamente para a salvação de Portugal"
"Por felicidade, nunca um homem será feliz" "Pela primeira vez nesse dia, o mestre de obras trabalhava. Com os molares" "Não importa aos portugueses se alguém escuta. Interessa é tagarelar"
Um retrato de Portugal e dos portugueses pelos olhos de um holandês. Livro de 1999 que continua atual naquilo que é a essência de ser portuguesa, um povo cheio de virtudes. Não é um livro de fácil leitura, mas quando conseguimos rir de nós próprios tem momentos sublimes de humor.
Vou directo ao assunto: não gostei do livro. E antes que comecem a puxar pelas forquilhas e as tochas, ao mesmo tempo que soltam as acusações de “és mais um desses portugueses que não sabem rir-se de si próprio”, posso desde já deixar claro que não é nada disso. Posso não ter gostado do livro, mas há, de facto, algumas citações que são até bastante deliciosas, como, por exemplo, na página 52, “A relação dos portugueses com a natureza deve estar profundamente marcada pelo facto de tê-la a arder.”
Não, o problema não é saber rir-me de mim ou da nossa sociedade, antes pelo contrário. Na verdade, são três problemas. Começa pelo conceito do livro em si e o estilo de escrita (dois problemas, estão a seguir?). Sendo este o primeiro livro que li do Gerrit Komrij, não fiquei propriamente com muita vontade de ler mais (bom, alguns dos livros são de poesia, e, admito, não é bem o meu estilo literário. Vá. A sério. Guardem as forquilhas). Uma escrita muito floreada, indo a lugar nenhum, em que demora imenso tempo para explicar coisas simples, que não carecem de tanto espaço. Há mesmo uma crónica ou outra em que, sinceramente, não entendi o que o autor pretendia. Em poucas palavras, sinceramente não me revi nem no estilo de escrita deste livro, nem na sua estrutura em crónicas biográficas das experiências pelas que Komrij passou pelo facto de ter decidido viver em Portugal. Longe de ser uma narrativa, pelo menos foi assim que o livro me foi apresentado, ele não é mais do que uma série de crónicas, desconexas, em que o autor dispara em direções diferentes, tanto a satirizar alguns aspectos funcionais sociedade portuguesa, alguns neerlandeses (não se esqueçam que agora não são holandeses) e ele próprio. Não digo que não houve um ou outro texto que achei interessante ou divertido, mas, em geral, desiludiu-me.
Finalmente, acho que o livro envelheceu mal. Este livro foi escrito na década de 90 (finais de 90?) do século passado, e acho que há mesmo um texto da década anterior. Se é verdade que o livro satiriza a sociedade de então, fico com a ideia de que muito do que é satirizado não faz sentido atualmente. Obviamente, que podemos ler este livro como um espelho do passado, mas confesso que esperava um livro mais centrado na idiossincrasia de ser português, e não tanto nos procedimentos, porque esses mudam com os tempos.
Gerrit Komrij viveu em Portugal a partir de meados dos anos 80 e neste “Um almoço…” deixa-nos a visão de um holandês a viver em Trás-os-Montes (não tenho a certeza, mas creio que os textos são relativos a esse primeiro período). Os textos são alguns hilariantes, outros dolorosos de tão atuais. Alguns mais datados, mas profundamente familiares (sobretudo, creio, para quem, como eu, também na década de 80 vivia no interior norte do país), outros menos datados e igualmente familiares, apesar de forma menos divertida.
Diz-nos ele: “Impossível não se apossar de nós, de quando em quando, a impressão de termos que ver com um país que brinca aos países, com um país que faz de conta que é uma nação verdadeira, adulta. É exatamente com esse fosso teatral que se terá, em qualquer aspecto da vida quotidiana, de contar. Eu sou um apaixonado por Portugal, mas não um apaixonado cego.”
O olhar de um escritor holandês sobre Portugal, visto da sua aldeia no país profundo (o título pode ser enganador, Sintra não passa do primeiro capítulo). Estamos nos anos 80 e 90, muitas observações são já anacrónicas, mas divertidas e mordazes, e uma lembrança do Portugal do fim do século passado.
Um retrato de Portugal e dos portugueses por um escritor holandês que vive em Portugal. Um olhar de fora, frontal e crítico, com uma pitada de humor; um pequeno prazer de leitura e reflexão. So peca pela tradução arcaica.
Ietwat ouderwets aandoende verhalen over de emigratie van de schrijver naar Portugal. Ik las het terwijl ik in sintra was en dat gaf het toch een extra dimensie.