Gayvota

by Guilherme de Melo

Quase sempre quem escreve e opina sobre a homossexualidade (psicólogos, psiquiatras, sociólogos e por aí fora) pertence ao mundo heterossexual. Desta vez, com a frontalidade e o desassombro que de há muito se reconhecem em Guilherme de Melo, é um homossexual assumido a fazê-lo. Sem falsos (i)mo-ralismos, mas desmontando mitos, dissecando comportamentos, fustigando hipocrisias. Um estudo (ou um depoimento, uma conversa, uma narrativa, chame-lhe o leitor o que melhor lhe parecer) que vai deliciar uns, irritar outros — e, sobretudo, provocar polémica e agitar as águas

Genres: LGBT, Queer

200 pages, Paperback

First published January 1, 2002

About the author

Guilherme José de Melo (Lourenço Marques, 20 de Janeiro de 1931) é um jornalista, escritor e poeta português, autor de numerosas obras de ficção e não-ficção.
Iniciou a sua carreira de jornalista em Moçambique. Casou com uma mulher, mas pediu a anulação do casamento por sentir que não podia viver senão como homossexual, condição que assumiu corajosamente num meio preconceituoso. Em Outubro de 1974, na sequência de acontecimentos políticos que conduziriam à independência da até então província ultramarina portuguesa de Moçambique, mudou-se para Lisboa, indo trabalhar para o Diário de Notícias. Algumas das suas obras tratam de temas da vivência homossexual, destacando-se A Sombra dos Dias (1981), com carácter autobiográfico.
Bibliografia
A Estranha Aventura: contos (1961)
Moçambique Norte - Guerra e Paz (1969)
Menino Candulo, Senhor Comandante (1974)
A Sombra dos Dias (1981)
Ainda Havia Sol (1984)
Moçambique Dez Anos Depois: Reportagem (1985)
O que Houver de Morrer (1989)
Os Leões Não Dormem Esta Noite (1989)
Raízes do Ódio (1990)
Como um Rio sem Pontes (1992)
As Vidas de Elisa Antunes (1997)
O Homem que Odiava a Chuva e outras estórias perversas (1999)
A Porta do Lado (2001)
Gayvota: um olhar (por dentro) da homossexualidade (2002)
Crónicas de Bons Costumes (2004)

Reviews

[Ana-Cristina Santos · Rating 3 out of 5]

Um testemunho incontornável de um pioneiro da visibilidade gay em Portugal. Ressalva importante: trata-se de um livro-desabafo que deve ser contextualulizado enquanto fruto do seu tempo, e não como fonte de conhecimento científico (são vários ps excertos de puro senso comum marcados por desconhecimento e preconceito misógino e transfóbico, à luz do que hoje sabemos).

[Jorgevalentim · Rating 5 out of 5]

Estou investigando a produção ficcional homoerótica portuguesa, pós-1974, e confesso que, a par das generalizações, por conta exatamente das diferenças de gerações, este ensaio de Guilherme de Melo - exatamente, ouso afirmar que se trata de um ensaio, em virtude das reflexões e das interrogações que ele instiga no leitor - tem o mérito de usar meio termo no momento de pensar a condição homossexual. Há momentos deliciosos nos seus relato, ou quem esquecerá a sua frontal resposta a um oficial português, quando este negada a homossexualidade nos batalhões portugueses por conta de sua vigilância acirrada no dia a dia: "Sabe, senhor coronel? O problema não era o dia a dia, era o noite a noite..." Mais instigante, impossível. Vale a pena a leitura.

[Moureco · Rating 3 out of 5]

Esta é uma crónica sob a forma de livro. Relato datado mas interessante, reflectindo a vivência, opiniões, preconceitos e estereótipos do autor. Alguma da realidade narrava é hoje muito distinta, outra é muito semelhante. É hilariante a descrição da conversa do autor com um amigo, numa esplanada de Lisboa, ambos recordando os seus tempos de juventude, em Lourenço Marques. Outra frase que me ficou na retina é [parafraseando] que ao rafeiro medroso e encolhido todos atiram pedras, ao pastor alemão de orelhas no ar e focinho espetado todos têm respeito. Gostei, q.b..

[Paula · Rating 2 out of 5]

O livro seria mais interessante se o autor não optasse por fazer tantas generalizações de comportamentos, sobretudo quando fala de bissexualidade (da qual tem uma ideia errada), de como as lésbicas se comportam vs os gays ou dos prides e das marchas do orgulho lgbt. Entende-se que o autor 'é de outro tempo' e o próprio livro já tem uma década, mas no entanto os reparos obrigatoriamente mantêm-se. Sobretudo quando o livro pretende ser um olhar de dentro.