Nas vinte histórias que compõem este livro, Liliane Prata traça um panorama atual e corajoso das relações – e das tensões – entre mulheres e homens. Privilegiando o ponto de vista feminino e alternando entre momentos de ternura enternecedora e de crueza absoluta, as narrativas sempre surpreendem, em textos urbanos e intensos, ora nervosos, ora líricos, ora repletos de humor. Os personagens vivem os mais diversos conflitos, e neles podemos facilmente reconhecer amigas e amigos, mães e pais, filhas e filhos e até a nós mesmos. As temáticas dos contos são universais e inseridas no contexto urbano brasileiro, e a dificuldade de se relacionar anda lado a lado com o cansaço típico da nossa época, a angústia, a fragilidade psíquica, a dificuldade de ouvir o outro. Crises de ansiedade, depressão, burnout, transtorno alimentar, idas frequentes ao psicólogo e consultas no Google são comuns entre os personagens, que oscilam entre excesso de informação do mundo e falta de conhecimento de si mesmos; entre a raiva e a mágoa e a vontade de viver, amar e receber amor. Ela queria amar, mas estava armada é um fascinante mergulho na pluralidade feminina, um convite ao autoconhecimento e à possibilidade de nos colocar no lugar do outro e entender melhor os sentimentos, os sonhos e os temores que, no fundo, são comuns a todos nós.. Por que ler este livro? O livro retrata com uma precisão admirável as diversas nuances da crise dos afetos entre homem e mulher, provocando reflexões sobre que feminismo as mulheres buscam e como querem se colocar diante do outro nas relações amorosas.. As histórias abordam tanto temas como gaslighting e feminicídio como violências cometidas pelas mulheres enquanto parceiras e mães, estimulando discussões sobre a complexidade das relações para além do binarismo. Questões relacionadas à maternidade estão presentes no livro, e nem sempre correspondem ao mito do amor materno. Liliane tem um canal no Youtube com quase 40 mil inscritos, e a maior parte de seu público é composta por mulheres de 25 a 35 anos que têm o hábito da leitura. Já vendeu mais de 200 mil exemplares com seus livros O diário de Débora 1 e 2, que permaneceram nas listas de mais vendidos por semanas
Nasceu em 20 de outubro de 1980 em Formiga, Minas Gerais, cresceu em Belo Horizonte e atualmente mora em São Paulo com seu marido e filha. É formada em Jornalismo, pela UFMG, e em Filosofia, pela USP. Por oito anos, foi colunista da revista Capricho, na qual trabalhou também como editora assistente por três anos. Atualmente, é editora da revista Claudia. É autora dos livros juvenis O Diário de Débora, O Diário de Débora 2 (Marco Zero) e de O novo mundo de Muriel (Planeta), do chick lit Uma bebida e um amor sem gelo, por favor (Marco Zero), e dos romances adultos À revelia (Letras do Brasil), Três viúvas e Sem rumo (Planeta).
Amei essa leitura. Especialmente porque provoca reflexões interessantes sobre como nos comportamos em relacionamentos amorosos - e em outras áreas da vida também. Me trouxe a sensação de que eu conhecia cada uma daquelas histórias, me trouxe a lembrança de que já vivi algumas daquelas histórias. Me trouxe a percepção de que já vi alguém próximo de mim viver algumas daquelas histórias. São reais, são palpáveis e extremamente bem escritas. “Ela queria amar, mas estava armada” é uma experiência linda, complexa, muito reflexiva e sincera.
Fiquei obcecada pela escrita de Liliane através de seu substack. Quando vi essa capa, achei o título meio óbvio, a capa meio pá, e fui pega pelo cinismo que tanto nos impede de apreciar o bom da vida. O tabefe alto que tomei na cabeça quando comecei a ler tá ressoando até agora.
Liliane não perde em absolutamente nada para Yasmina Reza ou Lucía Berlin. Devorei estes contos tão rápido que senti até um refluxo literário, a sensação que poderia ter saboreado mais, levado um pouco mais de tempo. Fiquei arrotando "//" por muitos dias, eu diria até dias demais.
"Se eu não te amasse tanto, aí, sim, talvez eu conseguisse gostar de você."
Nas horas livres desenho libélulas
Parecia que ela estava dentro do meu cérebro com a minha separação. me senti tão vista que cheguei a ficar constrangida. não é possível dividirmos TANTO a mesma experiência, a mesma sensação, as mesmas neuroses e as mesmas paranoias, o mesmo narcisismo tóxico que só não escondemos de nós mesmas.
"Mal comecei a namorar esse homem que está no banheiro (...) e já o coloquei no lugar de um mapaEu queria descansar nele"-> anotei: queria descansar de mim nele. "(...)terceirizar meu eu, fazer qualquer coisa com meus territórios, exceto ocupá-los"
Aquela é a viúva Camila
Como pode conhecer tanto a pequenez humana? Que alento ser pequena com outras pequenas conscientes de seus tamanhos ou falta de.
"eu suspeitava que nunca o tivessse amado, como alguém que desconfia vagamente da febre por trás de uma testa morna, quase fria"
É muito difícil as relações vingarem hoje em dia
"está indo conhecê-lo por curiosidade, por ser uma dessas pessoas que gostam de seguir o fio das novidades, como se a vida fosse um filme e sempre houvesse à sua espera a possibilidade de um evento maravilhoso que mudará tudo."
Divórcio civilizado
Isso aqui me ASSASSINOU: "ela passou a noite jantando com os amigos e, depois, tomando uma cerveja com um cara que havia conhecido num aplicativo de encontros - longe do leandro, mas usando os sapatos novos."
"deve ser a luz do fim do dia, esse horário é sempre confuso, aumenta a alegria dos outros e diminui a nossa."
stand by me - esse eu gargalhei de nervoso, apenas uma borderline poderia escrever um livro desses.
"eu não suporto o tédio, tenho pavor da mesmice, quero acordar numa quinta-feira e descobrir que é terça, quero morder uma maçã e descobrir que é uma goiaba, quero... Renato? Renato?"
Lavínia
"as lágimas que caíam agora sem tristeza, como o suor de quem corre.""
"Ela ajeitou o cabelo num coque. Gabriel tocando, Luca dormindo, as contas do mês pagas, por que o coração tão acelerado? Aquele coração parecia bater no peito errado, pertencia ao vocalista da banda de rock em frente à pastelaria, não a ela.""
Cheiro de café queimado
Este conto me desestruturou. Todas nós somos capazes de nos ater a uma coisa ou outra porque o abuso nos é familiar. Mas eu me senti tentando me agarrar à memória perdida de ter escrito esse conto, publicado em algum lugar, esquecido, e tendo minha propriedade intelectual violada por Liliane. Não é possível a mesma história, os mesmos signos, a mesma dor. É assim mesmo?
"ele era um marido tranquilo com a ex-mulher, destampou comigo seu ciúme mais enlouquecido. Enlouquecemos juntos."
"Mais uma vez eu saía de uma discussão lamentando a ausência de testemunhas.""
"Falava de nossa futura casa, nossos futuros filhos e nossa futura tranquilidade como um cristão fala de uma terra prometida""
"É diferente, querida. É como se aquele lá fosse um lobo selvagem, e Rodrigo, um cachorrinho irritante, mas perigoso, desses que desfiguram o rosto do dono quando ele tá dormindo sob o efeito de calmantes.""
"Queríamos o impossível, terceirizar a cicatrização dos nossos ferimentos.""
"A insegurança é como se fosse um galho com várias ramificações: o ciúme, a posse, a manipulação, o egoísmo."
"No relacionamento com Rodrigo, eu pensava agora, eu estava me punindo por quem havia sido com Lucas, com todos os outros e também comigo?"
nunca havia lido um livro da autora que inspirou a minha escrita. dela, só tinha a memória de comprar revistas capricho lá pelos meus 13 anos de idade pra poder ler a coluna da liliane prata. era onde eu me encontrava. foi ela a grande responsável por me fazer querer refletir sobre a vida e, como consequência, querer saber mais sobre as relações humanas.
ainda que naquela idade não existisse esse tópico em minha vida, eu já estava estudando o amor e não vivenciando-o. minha vida amorosa mais se parece com um grande ensaio de um show que nunca realmente vai acontecer, e, em parte, é porque simplesmente não quero. já achei que queria, mas era tudo projeção.
isso sempre soa mais dramático do que realmente é: ninguém nunca gostou de mim. viu? parece a história de alguém com pena de si mesmo. como se ausência do amor romântico tivesse tornado a vida menos incrível. a verdade é que a busca por amor, como instrumento de transformação, me tornou miserável, sínico se duvidar. mas isso é agora, quem sabe um dia.
mesmo sem intenção, a gente deixa o amor em aberto, como se mesmo armado, ele fosse dar um jeito. eu só queria, em uma próxima vez, não me encantar pelo mesmo tipo de pessoa: os pré-dispostos a não gostar de mim. é o tipo de crueldade que não quero mais dar o poder de fazerem comigo. mesmo com tudo o que aprendi às custas disso.
a ausência do amor me ensinou mais que sua presença. porque no fundo eu nem queria. queria ser amado como uma validação. como se fosse o fim e não o começo. talvez eu só quisesse um amigo. uma conexão de outro mundo. um pouco de magia, sim. eu não queria o clichê, acho que queria algo que simplesmente não existe.
crescer é sobre viver sua própria história, e não os rabiscos de outra pessoa. por muito tempo achei que queria coisas porque era o natural. mas da mesma forma que tem gente que se encontra no outro, existem outros que se encontram em si mesmos. que não acha beijar tudo isso, ou não gosta de sexo. e isso é tão comum quanto os que gostam, e abrem o coração e amam. é que tem gente que nunca soube o que é o amor romântico mútuo e teve que escrever uma história de amor sobre si mesmo. não é um ensaio. é real.
Confesso que o que me seduziu nesse livro foi a capa. E o título. Era muito eu na época. É muito eu ainda. Todo mundo quer amar e ser amado, mas estamos todos armados com nossas bagagens emocionais. Depois de ter lido outros livros e inclusive ter sido aluna de escrita criativa da autora, resolvi reler esse livro de contos. São 20, em sua maioria sobre o amor moderno. Tem amor hétero, gay, poliamor. Gosto como a escrita da Lili dialoga com o extremamente sério e o muito engraçado. É uma leitura que entretém, diverte, mas também emociona. Concordei com muitas visões de diversas personagens, principalmente a do conto “Cheiro de café queimado” que me fez lembrar muito de um relacionamento meu. É um bom livro também para um homem que realmente procura entender mais sobre a mente feminina. Ou como pensamos o amor.
A sensação é de levar uma rasteira a cada página, sem pausa para tentar se levantar e quando chega ao fim você já nem quer mais tentar se levantar. Um retrato dos relacionamentos do século XXI.
Eita livro delicinha! Daqueles que você reconhece todas as histórias, já passou ou tem amigas que já passaram por essas situações. Lírico, verdadeiro, doloroso e por vezes hilário.