Considerado o mais importante cronista literário brasileiro, Rubem Braga redimensionou o lugar da crônica no país. Sua sensibilidade era imensa, capaz de transformar a mais simples observação numa escrita perturbadora, cheia de lirismo, frescor e estilo único.
Rubem Braga deixou, em 62 anos de atividade profissional, a impressionante marca de 15 mil textos. Foi pensando nisso que a Autêntica convidou os autores André Seffrin, Bernardo Buarque de Hollanda e Carlos Didier para selecionar e organizar crônicas até agora inéditas em livro. O resultado são três volumes saborosos com textos sobre artes plásticas, política e música, reunidos numa caixa. Cada um traz cerca de 100 crônicas, além de posfácios escritos pelos organizadores, com comentários sobre a vida e a obra do escritor capixaba, e textos de orelhas de Miguel Sanches Neto (artes plásticas), Milton Hatoum (política) e Aldir Blanc (música).
Numa seleção que só faz comprovar o talento, a atualidade dos temas, a visão criativa de Rubem Braga, estes três volumes confirmam o que os críticos não se cansam de repetir: a verdade é que ninguém escreveu crônica como Rubem Braga.
Rubem Braga was a notable Brazilian. He was born in Cachoeiro de Itapemirim city, state of Espírito Santo, on January 12, 1913 and is one of the few writers to attain recognition among the Brazilian literary establishment by solely penning crônicas (periodical Brazilian short stories published in newspapers) throughout his career.
Braga was raised in his hometown, but at an early age was sent to the city of Niterói by his parents, to live with relatives. He attended law school in Rio de Janeiro, but graduated in Minas Gerais, in the year of 1932, after having acted as a field reporter in the Diários Associados for the Revolta Constitucionalista.
He was a correspondent in Italy for the Brazilian newspaper Diário Carioca during World War II. He subsequently returned to Brazil, taking definitive residence in Rio de Janeiro. Braga was arrested several times by the Nationalist military government of the time.
His first book O Conde e o Passarinho was published in 1936, when he was 22. He is one of few Brazilian writers to get recognition by writing short stories. Braga founded, together with Fernando Sabino and Otto Lara Resende, the book publisher Editora Sabiá.
As a journalist, Braga was a reporter, writer and editor for newspapers and magazines from Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais and Bahia. In 1953 he was nominated the Brazilian "Chefe do Escritório Comercial" in Chile, due to his frindship with president Café Filho. In 1961 he was appointed as Brazilian embassor to Morocco by president Jânio Quadros. During his last years of life he worked for TV Globo. Braga died on December 19, 1990.
“Tudo continua o mesmo, e na mesma, isto é, tudo vai piorando, porque está provado historicamente quando o chefe de governo deixa ficar como está para ver como é que fica, tudo fica mesmo daquele jeito. Otto: não tenha pressa em voltar.”
“[...] Esse homem forte e cordial, eu sabia que ele tinha problemas, eu ouvira falar de suas desordens de vida e de sentimento. Mas isso todo mundo tem, que dirá um homem que era artista e boêmio. Sua morte chocou-me porque eu tinha uma distraída confiança em sua energia e em sua capacidade de luta; julgava-o capaz de raivas e arrebatamentos, nunca de um gesto de desespero. E esse meu engano me dói; sempre nos sentimos (e na realidade somos) um tanto culpados, quando alguém perto de nós se abandona à morte. [...] Somos desatentos às criaturas que comem e bebem em nossa mesa, e apertam nossa mão; não vemos, não sentimos o que está perto de nós; como poderemos pedir aos outros misericórdia e ternura? [...]”
[“Partida”, 5 de setembro de 1954, Rubem Braga: Os moços cantam & outras crônicas sobre Música], organizado por Carlos Didier
Conhecer uma pessoa que se suicidou foi uma das minhas experiências mais tristes de vida. Demorei alguns meses para sair do estado de choque, me perguntava o que leva uma pessoa a planejar a tirar a própria vida? Seria um estado de desespero incontrolável ou de coragem absurda para tal ato? Por isso, essa crônica mexeu muito comigo quando a li. Ela traduz perfeitamente todos os sentimentos que vivi naquela época.