Rogerio Lopes’s Reviews > Interview with the Vampire > Status Update

A cena final entre Madeleine e Claudia é provavelmente uma das mais tristes que Rice escreveu. Louis cresce muito como personagem após esses eventos, a conversa dele com Armand é de um peso imenso em relação a toda a passividade dele até então.

É particularmente interessante como Rice contrapõe o conhecimento de Armand da quase impossibilidade de suportar a imortalidade com a visão (por ele mesmo admitida) "utópica" de Louis de que um profundo amor pela beleza e pelo engenho humano podem tornar a imortalidade suportável.

Louis é um personagem a um só tempo complexo e irritante, é inegável que as questões que Rice discute por meio dele são pertinentes e profundas, mas sua eterna amargura e insatisfação são um tanto tediosas bem como sua incapacidade de perceber por vezes o óbvio.

Na conversa entre Armand e Louis, Rice toca na ferida da nossa necessidade de crença e no fato de que entrar no campo da descrença é ter de assumir a máxima responsabilidade por cada mísero minuto em que vivemos, é entender que a vida se torna o bem mais precioso e único que temos.

Rice tem uma habilidade de contrapor cenas e evidenciar dinâmicas contrastantes incrível. Se na "encenação" no Teatro dos Vampiros temos uma vontade sendo manipulada e subjugada na entrega voluntária de um dos "serviçais" de Armand temos o exato oposto.

Provavelmente um dos pontos mais irritantes do Louis enquanto personagem é sua mania de "se fazer de sonso" e não enxergar obviedades de tão centrado que está na própria autopiedade.

É interessante como nessa segunda parte ao mesmo tempo que Rice se aproxima das histórias tradicionais de vampiro ela também impõe um distanciamento. Fica nítido que os seus vampiros são outra coisa, uma recriação do mito com outros objetivos.

Algo que se torna bastante perceptível na leitura no original e consequente redução da velocidade de leitura é o cuidado de Rice na escolha de suas palavras. Ela constrói imagens belíssimas e impõe força dramática até em coisas que poderiam parecer banais como a cor do oceano e do céu.

É curioso pensar o quanto Rice a partir de determinado ponto da história começa a forçar os limites do leitor. Fico me perguntando como e se a atual geração de leitores sensíveis e com certa dificuldade em interpretar textos consegue lidar com esse livro.

Um adulto ou um jovem adulto aprisionado num corpo infantil, quando você realmente começa a pensar o quão horrível poderia ser essa experiência você começa a vislumbrar o peso do que Rice escreveu.