Um Conto de Natal
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Read between December 22 - December 26, 2024
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O frio dentro dele lhe congelava as rugas, mordia seu nariz pontudo, murchava suas bochechas, enrijecia seu passo; deixava seus olhos vermelhos e seus lábios, azuis, e falava claramente em sua voz rascante.
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Abrir seu caminho pelas tumultuadas trilhas da vida, alertando qualquer solidariedade humana para manter distância, era para Scrooge o que os entendidos chamam de “maravilha”.
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— Estou — disse Scrooge. — Feliz Natal! Que direito você tem de ser feliz? Que motivo você tem para ser feliz? Você é bastante pobre. — Ora, vamos — rebateu o sobrinho, animado. — Que direito você tem de ser emburrado? Que motivo tem para ser amargo? Você é bastante rico.
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uma época de gentileza, de perdão, de caridade, de alegria; a única época que eu conheço, no longo calendário do ano, em que homens e mulheres parecem ao mesmo tempo consentir em abrir livremente seu coração fechado e pensar nas pessoas abaixo deles como se fossem todos passageiros na mesma jornada rumo à sepultura, não uma raça distinta de criaturas destinada a outros fins. E portanto, tio, embora o Natal nunca tenha colocado um tostão no meu bolso, creio que ele tenha sido bom para mim, e que será bom para mim; e por isso eu digo: Deus abençoe o Natal!
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— Por que duvida de seus sentidos? — Porque — respondeu Scrooge — eles são afetados por qualquer pequeno detalhe.
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— É exigido de todo homem — respondeu o Fantasma — que o espírito dentro dele caminhe junto a seus semelhantes e que viaje por toda parte; se um espírito não fizer isso em vida, será fadado a fazê-lo após a morte. Ele é condenado a vagar pelo mundo… ai de mim!… e contemplar aquilo que não pode partilhar, mas que poderia ter partilhado na terra e transformado em felicidade!
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— Eu uso a corrente que criei em vida — respondeu o Fantasma. — Montei-a elo a elo, metro por metro. Enrolei-me nela por livre e espontânea vontade, e por livre e espontânea vontade a trajei. É um comportamento desconhecido para você? Scrooge tremeu mais e mais. — Ou será que conhece — persistiu o Fantasma — o peso e comprimento dos fortes grilhões que você mesmo carrega?
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Cativo, preso e duplamente aferrado — lamentou o espírito —, ignorante de que um sem-fim de trabalhos para esta terra, feitos por criaturas mortais, há de se prolongar pela eternidade, antes que se desenvolva plenamente todo o bem do qual ela é suscetível!
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Ignorante de que nenhuma porção de arrependimento poderia compensar por toda uma vida de oportunidades perdidas!
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A humanidade era meu negócio. O bem-estar geral era meu negócio. Caridade, compaixão, tolerância e benevolência eram meu negócio. As atividades do meu ofício eram apenas uma gota d’água no amplo oceano dos meus negócios!
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Por que andei pela multidão de meus semelhantes com os olhos abaixados, sem jamais erguê-los para aquela Estrela abençoada que levou os Reis Magos a uma humilde morada? Não havia residências humildes para onde sua luz poderia ter me guiado?
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A aflição de todos eles se devia, claramente, ao fato de que desejavam interferir, para o bem, nos assuntos humanos, mas haviam perdido esse poder para sempre.
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pensou, e pensou, e pensou sem cessar, e não conseguiu chegar a conclusão alguma. Quanto mais pensava, mais perplexo ficava, e, quanto mais tentava não pensar, mais pensava.
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Eles estavam tão próximos quanto você e eu agora, e eu estou presente em espírito, bem colado a você.
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Você já deseja apagar, com mãos vulgares, a luz que forneço? Já não basta que seja você um daqueles cujas paixões criaram este capuz e me obrigam a atravessar uma infinitude de anos com ele afundado em minha cabeça?
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Por que tanta alegria ao vê-los? Por que seus olhos frios se iluminaram e seu coração deu um salto quando eles passaram? Por que ele se encheu de felicidade quando os escutou desejar um feliz Natal uns aos outros, ao se separarem em encruzilhadas e saídas, para suas respectivas casas? O que era o feliz Natal para Scrooge?
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Scrooge sentou-se em um banco e chorou ao ver seu pobre eu esquecido, tal como costumava ser.
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Sempre uma criatura delicada, a quem bastaria um sopro para ferir — disse o Fantasma. — Mas tinha um grande coração!
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— Ela morreu mulher — disse o Fantasma — e teve, creio eu, filhos. — Um filho — respondeu Scrooge. — É verdade — disse o Fantasma. — Seu sobrinho!
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Digamos que o poder dele reside nas palavras e nos olhares, em coisas tão sutis e insignificantes que é impossível juntá-las e contá-las; e aí? A felicidade que ele dá é tão grande que poderia custar uma fortuna.
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Outro ídolo me substituiu; e, se ele é capaz de lhe dar alegria e consolo nos tempos que virão, como eu teria tentado fazer, não tenho motivo para lamentar. — Que Ídolo a substituiu? — perguntou ele. — Um de ouro.
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— Você tem medo demais do mundo — respondeu ela, com delicadeza. — Todas as suas outras esperanças se fundiram na única de jamais ser submetido a sua sórdida repulsa. Vi suas aspirações mais nobres desaparecerem uma a uma, até que você fosse tomado pela paixão máxima do Lucro.
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Aquela que prometeu felicidade quando éramos um só coração se enche de tristeza agora que somos dois.
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Em suma, confesso que eu gostaria de ter um mínimo de liberdade infantil e ao mesmo tempo ser homem o bastante para compreender seu valor.
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E quando Scrooge pensou que uma criatura como aquela, tão graciosa e cheia de potencial, poderia tê-lo chamado de pai e ser uma primavera no esmaecido inverno de sua vida, sua visão ficou deveras turva.
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pois é sempre a pessoa alheia à situação que sabe o que deveria ser feito e que sem sombra de dúvida o faria
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Não havia nada muito alegre no clima ou na cidade. No entanto, havia uma alegria no ar que talvez nem o verão mais límpido e o sol mais luminoso conseguissem espalhar.
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Há, nesta sua terra, algumas pessoas — respondeu o Espírito — que alegam nos conhecer e realizam seus atos de emoção, orgulho, malícia, ódio, inveja, intolerância e egoísmo em nosso nome, mas que são tão estranhas a nós, e a todos os nossos, que é como se nunca tivessem vivido. Lembre-se disso e atribua suas ações a elas, não a nós.
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No caminho de volta, ele me contou que queria que as pessoas o vissem na igreja, por ele ser aleijado, e talvez elas se contentassem de lembrar, no Natal, quem fez com que mendigos coxos andassem e cegos enxergassem.
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E aí? Se ele há de morrer, é melhor ir logo e diminuir o excedente populacional. Scrooge baixou a cabeça ao ouvir suas próprias palavras repetidas pelo Espírito e foi tomado de penitência e dor.
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Você decidirá quem há de viver, quem há de morrer? Pode ser que, aos olhos do Céu, você seja mais imprestável e menos digno de viver do que milhões como o filho desse homem pobre. Ó, Deus, eis um inseto na folha querendo arbitrar sobre o excesso de vida entre seus irmãos famintos na poeira!
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Foi uma grande surpresa para Scrooge, enquanto ouvia as lamúrias do vento e pensava na solenidade de transpor a escuridão solitária sobre um abismo desconhecido, cujas profundezas eram segredos tão insondáveis quanto a morte — foi uma grande surpresa para Scrooge, assim distraído, ouvir o som de uma risada vigorosa.
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É um acerto justo, equilibrado e nobre o fato de que, ainda que doenças e pesares se disseminem, não há nada no mundo tão irresistivelmente contagioso como risos e bom humor.
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São da Humanidade — disse o Espírito, baixando o olhar para elas. — E elas se agarram a mim, em súplica de seus pais. O menino é Ignorância. A menina é Carência. Cuidado com ambos e em todos os níveis, mas, acima de tudo, cuidado com o menino, pois na testa dele vejo que está escrito Ruína, a menos que a escrita seja apagada.
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Ó, fria, fria, rígida, terrível Morte, montai vosso altar aqui, ornai-o com todos os terrores que comandais, pois é este vosso domínio! Mas da cabeça amada, reverenciada e honrada não podereis fazer um fio de cabelo servir a vosso propósito de pavor, nem tornar odioso um detalhe sequer. Não porque a mão seja pesada e caia ao ser solta. Não porque o coração e o pulso sejam inertes, mas porque a mão foi aberta, generosa e verdadeira, o coração, valente, afetuoso e terno, e o pulso, humano. Atacai, Sombra, atacai! E vereis que da ferida emergirão as boas ações dele, para semear no mundo vida ...more
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A trajetória de um homem prenuncia certo fim, ao qual, caso se persevere no rumo, ela há de conduzir — disse Scrooge. — Mas, se for abandonada a trajetória, o fim mudará. Garanta que é assim com o que você me mostra!
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Vou honrar o Natal com o coração e tentarei celebrá-lo durante todo o ano. Vou viver no Passado, no Presente e no Futuro. Os Espíritos de todos os Três trabalharão dentro de mim. Não abandonarei as lições que eles ensinam. Ah, diga que poderei apagar as letras desta lápide!
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Ele nunca havia imaginado que qualquer caminhada — ou qualquer coisa — poderia lhe proporcionar tanta felicidade.
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Houve quem desse risada ao ver a transformação dele, mas ele deixou rirem e não lhes deu confiança, pois era sábio o bastante para entender que não havia nada de bom no planeta que, ao acontecer, não despertasse gargalhadas de algumas pessoas. E, ciente de que essas pessoas eram mesmo cegas, ele pensava que era até melhor que seus olhos se apertassem com as risadas, pois assim a mazela podia assumir formas mais agradáveis. Seu próprio coração ria, e isso já lhe bastava.
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Ebenezer Scrooge: além do som duro e seco do nome bíblico Ebenezer, o sobrenome Scrooge remete às palavras scourge (“flagelo”, “açoite”) e scrouge (um verbo obsoleto sinônimo de “apertar”, “espremer”), ambas referências explícitas ao caráter hostil e avaro do protagonista.
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Bob Cratchit: “Bob” é uma gíria que significa “um xelim”, subdivisão da libra esterlina. Em certo momento, o próprio Dickens brinca com esse duplo sentido, dizendo que o personagem recebia “apenas quinze cópias de seu nome” por semana. Tomando em conjunto com o sobrenome, que alude à expressão scratch it (“raspar”) e à ideia de trabalhar muito por pouco dinheiro, é difícil imaginar nome mais perfeito para esse indivíduo pobre e honrado.
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Sr. Fezziwig: este é menos explícito, porém igualmente sugestivo. Seu nome evoca a imagem de um sujeito bonachão e rico (com sua wig, ou peruca), uma bela imagem pa...
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Dickens construía tão bem seus personagens que o nome deles se tornou sinônimo de suas características particulares, ou o nome era uma dessas características que compunham a descrição?
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O equilíbrio das relações é sempre precário, as emoções estão afloradas e as pessoas parecem muitas vezes compreender a vida como um longo desafio pela sobrevivência. O que muda entre elas é a quantidade de esforço que cada uma terá que gastar para se equilibrar no mundo.
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O Natal, assim, cumpre seu papel de derreter o mais duro dos corações, fazendo a caridade e o perdão tomarem conta das relações entre as pessoas. A mensagem de Dickens é bastante clara e ele não se furta a assumir a voz cristã, sem ambiguidades, abençoando a todos, inclusive nós leitores.
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Como não são personalidades fechadas, os espíritos permitem inúmeras interpretações. É possível enxergar neles uma espécie de manifestação da própria inconsciência de Scrooge, pressionada pela presença constante da morte. Essa interpretação fica reforçada pelo fato de que eles aparecem no momento da vigília, quando o sono ainda não se tornou tão forte, mas a consciência já baixou a guarda.
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não há outra orientação possível depois do futuro, só a redenção.
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Dessa forma, Dickens consegue gerar no leitor o mesmo tipo de transmissão que o Natal realiza a todos os que decidem refletir sobre seu significado. Uma forma de comunhão se estabelece.
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A ideia inicial de Dickens era escrever um panfleto sobre as condições dos miseráveis na Inglaterra, de modo a fazer um apelo enérgico para as camadas sociais mais elevadas, no sentido de despertar nelas a caridade no período natalino.
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As dificuldades da família de Frances Dickens foram espelhadas, na novela, na ceia natalina dos Cratchit; e a vulnerabilidade de seu sobrinho Harry, no Pequeno Tim — que, diferentemente de sua contraparte real, sobrevive no livro.
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