Um Amor
O meu relógio parou em ti. A mesma música a tocar no rádio do carro e a mão que procura uma perna e se fecha contrariada.Abro a janela para que fujas de vez. Escolho outros caminhos, evito bairros inteiros e cafés, bares e supermercados. Comeste metade da cidade e às vezes perco-me a contornar rotundas sem saber para onde ir. Encurralaste-me fora de ti. Foi culpa nossa, de amarmos por todo o lado como se aquilo não coubesse, como se uma vontade parva de tomar espaço e multiplicar por metros os centímetros de paixão.Ali dormimos os dois. As conversas que viravam esquinas e iam de tua casa para todo o lado. Não tenho por onde andar que não te ouça. Os teus dedos quentes por entre os meus aqui, aquela casa, lembras-te? Lembro-me eu. Foi um amor grande para uma cidade tão pequena. Não temos espaço para a indiferença, ou te amo ainda ou devo odiar-te e lutar por cada esplanada, por cada amigo, rua a rua, numa guerrilha de coração preso.Foi culpa nossa, de não amarmos sempre no mesmo lugar como quem corta o cabelo ou compra o pão de cada dia. Agora é tarde, agora dou voltas infinitas às rotundas.Vou emigrar de ti, levo a tua foto e um livro de poemas para olhar e lembrar o mapa do meu país.
(Texto concebido para o concurso Performance Architecture de Guimarães 2012)
Published on April 23, 2012 13:11
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