O Poder e a Glória

Livro de Graham Greene – Inglaterra – 1940.
Graham Greene escrevia muito. Foi jornalista, contista, resenhista de filmes, ensaísta, autor de peças teatrais e dezenas de romances. É considerado um patrimônio cultural no Reino Unido (os ingleses nunca se conformaram por ele não ter sido laureado com o Nobel de literatura, embora tenha chegado perto em 1967). Como jornalista, fazia longas viagens que nutriam também sua ficção: boa parte de suas tramas acontecem fora do Reino Unido. Não raro, situava seus protagonistas em deslocamento (viagens, fugas, mudanças), ou os concebia como personagens deslocados, mesmo não saindo do lugar. Destrinchar conflitos internos era a especialidade da pena afiada de Graham.
O Poder e a Glória é uma de suas obras mais instigantes. Num cenário árido de uma província no México, em plena revolução anticlerical, um padre foge das forças governamentais. É o último sacerdote remanescente no estado. Os outros foram fuzilados, obrigados a largar a batina ou ir embora. Tão avassaladores quanto a perseguição são os pensamentos que o assolam durante a missão insana que estabeleceu a si mesmo de seguir praticando o sacerdócio nos locais mais recônditos. Pensamentos que questionam a própria fé, a natureza do bem e do mal, seu desempenho como padre e como ser humano. Seus antagonistas, o tenente revolucionário e o mestiço de caninos amarelos, aliam-se a esses pensamentos para encurralá-lo entre o fogo e a frigideira e expor a fragilidade humana em toda sua dimensão.
Greene escreve com precisão econômica, uma escrita que foca principalmente na fluência narrativa. Suas descrições e diálogos são cinematográficos (provavelmente fruto da quantidade de filmes que viu enquanto resenhista) e colocam o leitor no meio da ação, mesmo quando a ação é pura reflexão. No avanço linear da trama, há cortes que lembram as sequências cinematográficas, deixando de lado o que não é essencial. O humor irônico – marca registrada do autor – está ausente em O Poder e a Glória, a não ser no episódio que o padre tenta comprar clandestinamente vinho para seus ofícios e acaba sendo obrigado a bebê-lo junto com o vendedor. Situação que expõe de forma magistralmente sardônica a psicologia do beberrão e a corrupção na roupagem latino-americana.
O cenário árido de O Poder e a Glória de Graham Greene Greene conheceu os cenários de O Poder e a Glória nos meses que esteve no México, em 1938, principalmente ao passar pelo estado de Tabasco, onde o governo anticlerical de Tomás Garrido Canabal havia fechado todas as igrejas e obrigado os padres a abandonarem a batina e a casarem. No ano seguinte, o autor publicou o relato dessa viagem em The Lawless Roads (As Estradas sem Lei) e um ano depois veio à luz O Poder e a Glória. O livro, como boa parte dos romances de Greene, foi adaptado para o cinema: o filme O Fugitivo (EUA, 1947), dirigido por John Ford e estrelado por Henry Fonda. Houve também adaptações para o teatro e para a televisão. O Poder e a Glória figura na lista dos cem romances mais importantes do século XX da revista Time.
Greene não ganhou o Nobel de literatura, mas faturou vários prêmios literários, entre eles o Prêmio Jerusalém, em 1981, outorgado a autores cujas obras abordam temas ligados à liberdade. No Brasil, a edição de 1953 da editora Biblioteca Azul foi traduzida pelo poeta Mario Quintana.


