de sophia, a person of quality, a nísia floresta
um caso muito bizarro é a publicação da obra "direitos das mulheres e injustiça dos homens", de mary wollstonecraft, com seu sobrenome de casada ("mrs. godwin"), em tradução de nísia floresta, 1832.
essa é uma novela! mas, resumindo bem resumido, a nísia achou que estava traduzindo a wollstonecraft - só que não.nísia traduziu a obra a partir da tradução francesa "Les droits des femmes et l'injustice des hommes", que fora lançada em 1826. mas o danado do tradutor francês - césar gardeton - simplesmente tinha copiado (ou reeditado por engano, cof cof) outra tradução de outra obra!essa outra tradução francesa era "la femme n'est pas inférieure à l'homme", publicada em 1750, vertendo um livro chamado "woman not inferior to man", de uma misteriosa "sophia, a person of quality", lançado na inglaterra em 1739.aí é uma confusão: ninguém sabe direito quem era aquela tal sophia, a person of quality - a suposição mais frequente é que se tratava da lady mary wortley montagu - que, por sua vez, já se inspirara amplamente em outra obra, "de l'égalité des deux sèxes", de poulain de la barre (1673). mas que seja. o fato é que "woman not inferior to man" então foi traduzido, e lá ficou. em 1790, wollstonecroft publica sua vindication, e em 1826 o tal gardeton publica em nome dela (ou melhor, como mistress godwin, aliás grafado erroneamente como "mistriss" e assim mantido na edição brasileira) e como tradução sua o livro da sophia que saíra em francês 76 anos antes.a nísia viu aquele exemplar francês, gostou, traduziu e publicou. passaram-se quase dois séculos até se descobrir que, no final das contas, que wollstonecraft que nada!nos últimos 25-30 anos, sobretudo a partir dos estudos da pallares-burke (e vários outros em sua esteira), surgiu o mais amplo leque de interpretações, algumas até meio escalafobéticas, sobre as razões que teriam levado nísia a isso, até que uma dupla de estudiosas - botting e matthews - acabou apontando, em 2014, o "lapso" do tradutor francês césar gardeton. nísia apenas caíra como patinho - e não só ela, provavelmente algumas centenas de milhares de outras pessoas - na falsa atribuição de autoria da obra e da tradução!quem quiser conferir a veracidade- e a envergadura - dessa descoberta de botting e matthews, basta comparar o texto da sophia no original (aqui no link em sua terceira edição, de 1743), na tradução anônima francesa de 1750, na pretensa tradução de gardeton de 1826 e na tradução da nísia de 1832:https://digital.library.lse.ac.uk/objects/lse:huc485foq/read/single#page/6/mode/2uphttps://fr.wikisource.org/w/index.php?title=Fichier:Puisieux_-_La_femme_n%27est_pas_inf%C3%A9rieure_%C3%A0_l%27homme,_1750.djvu&page=10https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k3230031/f17.imagehttps://www.fundacaoulysses.org.br/wp-content/uploads/2016/11/Nisia-Floresta-Completo.pdfem tempo: a tradução francesa anônima do livro da sophia, a person of quality, é usualmente atribuída ao casal philippe-florent e madeleine de puisieux.
Published on August 19, 2020 06:42
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