Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 47
January 23, 2014
“Os portugueses são apreciados em todo o mundo”
O site Emprego pelo Mundo divulga em português ofertas de trabalho em diferentes países. Diogo Lino Ribeiro, fundador, cresceu em Macau e estuda na República Checa. O projecto é seguido por mais de 172 mil pessoas no Facebook e recebe em média um milhão de visitas mensais online.Hélder BejaAs boas ideias às vezes aparecem sem querer. Foi assim com Diogo Lino Ribeiro, jovem de 25 anos que em Fevereiro fundou o site Empregos pelo Mundo (www.empregopelomundo.com). Hoje, o portal recebe largos milhares de visitas todos os dias porque oferece, em português, informação sobre muitos postos de trabalho para aqueles que queiram largar mundo fora.Diogo Lino Ribeiro, que passou parte da infância e adolescência em Macau, olhou para o desemprego jovem em Portugal, leu o sinais que lhe foram trazidos por um projecto familiar e resolveu avançar. Hoje conta com uma equipa de dez pessoas, divulga milhares de ofertas de emprego e, acredita, ajuda pessoas. Mesmo assim, continua os estudos no Instituto de Química de Praga, na República Checa. Não vê grandes melhorias para os portugueses nos próximos tempos.- Como surgiu a ideia de criar o site Emprego pelo Mundo?Diogo Lino Ribeiro – A ideia de criar este grupo de partilha de informações de emprego no estrangeiro e em Portugal, que ganhou visibilidade no Facebook, surgiu a partir de um pedido da minha família, para que colocasse para arrendar, em sites especializados, uma casa localizada em Búzios, no Brasil. Nessa altura, resolvi criar um blogue onde também promovia aquele destino. Inesperadamente, comecei a receber currículos de pessoas que me pediam emprego, pensando que se tratava de um resort ou de uma guest house. Muitos eram jovens que pediam com uma humildade, um desespero e uma vontade de trabalhar que não podiam deixar ninguém indiferente. Como tinha experiência na área da pesquisa, adquirida numa empresa onde trabalhei na República Checa, comecei a publicar no meu blogue oportunidades de emprego. O reconhecimento foi tal que o passo seguinte foi criar o Emprego pelo Mundo.- Dê-nos alguns números do projecto. Quantas visitas recebe o site em média? E quantas ofertas de trabalho já publicou?D.L.R. – O portal Emprego Pelo Mundo recebe em média um milhão de visitas e cerca de três milhões de visualizações por mês. Já publicámos milhares de ofertas de emprego dependendo das empresas e das áreas, publicamos cerca de 30 mil oportunidades por mês. Formamos uma equipa de dez jovens que trabalham segmentos de mercado diferentes. Uns mais vocacionados para as ofertas de trabalho individualizadas, outros em ofertas mais gerais que abarcam várias áreas numa só empresa, normalmente multinacionais. Não conseguimos ter uma estimativa das pessoas que já conseguiram oportunidades através do site, mas até hoje e desde que o site está activo já recebemos milhares de agradecimentos.- Falemos da Ásia. Há muitas ofertas de trabalho para esta zona do globo? É um mercado com potencial para a mão-de-obra lusófona?D.L.R. – Sendo nós portugueses um povo universalista, com uma história de relacionamento pacífico e mesmo amistoso com todos os povos do mundo, e tendo nós também das melhores universidades europeias que têm formado nas últimas décadas jovens comprovadamente talentosos, reconhecidos em todo o mundo, não será descabido pensar que esses jovens muito qualificados poderão ser uma mais valia, em qualquer parte do mundo e aí também. Basta que lhes sejam oferecidos lugares onde possam não só desenvolver as suas capacidades criativas e o seu talento, como também colaborar através da troca de conhecimentos e visões do mundo, favorecendo a criação de soluções inovadoras e permitindo àqueles que neles confiam o acompanhamento eficaz das mudanças num mundo que anda cada vez mais veloz.- Concretamente em relação a Macau, há oportunidades para portugueses que podem ser encontradas através do seu site? Alguns exemplos específicos?D.L.R. – Apresento no meu site um link dedicado completamente a Macau. Como viver e trabalhar aí. Como procurar emprego. Tem sido muito visitado. Como esta crise veio para ficar e há cada vez mais desempregados, os portugueses têm tendência a procurar emprego nos países cujos povos partilharam connosco partes da sua história e que por isso lhes oferecem mais confiança por os julgarem amigos.- Viveu em Macau. Quer recordações guarda desses tempos? Ainda é um lugar que o atraia, também do ponto de vista profissional?D.L.R. – Vivi em Macau dos três aos 14 anos. Cresci em Macau. Passei a minha infância a percorrer as suas ruas, a correr para as suas escolas, a casa na Taipa. Os meus amigos de infância são daí, ou passaram por aí e continuam a estabelecer contactos regulares comigo. Macau faz parte de mim, dos meus sonhos, dos meus desejos, das minhas memórias, do meu ser. Será um lugar onde sempre voltarei… onde espero encontrar sempre símbolos dessas vivências que tive. Ou até personalidades que me tornaram feliz em criança pela amizade que me dedicaram. Por exemplo, o Domingos, ex-motorista do meu pai e meu grande amigo, que fazia comigo o totoloto de Hong Kong em sociedade. Mas não sei se voltarei para trabalhar aí. Por enquanto não faz parte dos meus planos. O meu projecto de vida não se encaminha para ser realizado por esses lados. Porém, como se costuma dizer, ‘o futuro a Deus pertence’.- Considera que, regra geral, os portugueses que trabalham no estrangeiro são apreciados ou nem tanto?D.L.R. – Acho que os portugueses são apreciados em todo o mundo. Como dizia um escritor inglês, “toda a gente gosta dos portugueses com excepção deles próprios”. Os portugueses são um povo bom, tolerante, com capacidade de se entregar a causas. São um povo leal, solidário e com uma capacidade de sofrimento e de resignação emocionantes. Veja o que está a acontecer nesta crise. As reacções dos portugueses e de outros povos são muito distintas. Só um povo muito bom é capaz de suportar com paciência isto e aguentar tanto sofrimento de modo resignado.- Qual é o destino preferencial do português qualificado e sem emprego neste momento?D.L.R. – As preferências dos portugueses são regra geral os países de língua portuguesa. Brasil e Angola têm sido grandes receptores do trabalho dos nossos imigrantes. Mas o maior número de jovens qualificados tem ido para a Europa, com a Alemanha, Noruega, Dinamarca, Inglaterra e Irlanda a aproveitarem esses talentos que Portugal desperdiça neste momento.- Como olha para a situação actual em Portugal?D.L.R. – Portugal vive um período muito crítico da sua história e não se vislumbra uma saída para a crise a curto prazo. Não temos indústria, agricultura, pescas. O comércio tornou-se monopólio de poucos. Sinceramente vejo tudo muito mal.- Acaba por ser também um empreendedor, ao lançar este projecto. O site é já lucrativo para si, que o fundou?D.L.R. – Para já o site paga-se a si próprio, pago o trabalho dos colaboradores e tenho estado a investir o resto. Vamos apresentar muito em breve uma nova versão mais moderna e prática que permitirá a empregadores e candidatos funcionalidades que facilitam o recrutamento.
Published on January 23, 2014 09:52
Encontro marcado na missa de Pangim
Inês Santinhos Gonçalves - Ponto Final, 22 de Janeiro 2014
São “portugueses de Goa”, filhos da terra que nunca saíram do país ou emigrados que regressam religiosamente para férias prolongadas. Encontram-se aos domingos, na Igreja de Pangim, para uma das poucas missas do Estado rezadas em português.Num primeiro contacto com Goa chega-nos logo uma advertência: por aqui já são poucos e antigos os que sabem português. O concani, a língua local, e o inglês são os idiomas francos, a que se junta o hindi (língua nacional da Índia), perfazendo três línguas oficiais. Mas poucos dias bastam na cidade para o português, ainda que “mascavado”, como alguns o chamam, vir ter connosco.Como em tudo, a sorte tem o seu papel. Na Igreja da Imaculada Concepção, conhecida simplesmente como Igreja de Pangim, o português toca o sagrado, todos os domingos pelas 10h30. É esta a hora da missa em língua portuguesa, uma das poucas realizadas em todo o Estado de Goa. Fica a cargo do padre António Xavier, que fala um “português mascavado”, avisam-nos mas antes de entrarmos na capela.Cerca de 30 pessoas assistem à homilia e juntam-se à canção: “Tenho um amigo que me ama, tenho um amigo que me ama, seu nome é Jesus”. Na Imaculada Concepção faz calor e as ventoinhas que pendem do tecto de madeira giram no máximo. “Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo”. Silêncio. As leituras seguem-se, por vezes nítidas ao ouvido habituado a outros sotaques, outras vezes nem tanto.Num Estado em que o número de pessoas a aprender o idioma não chegará a um milhar, cabe aos mais velhos o exercício da língua e são eles que, ao domingo, não perdem a missa do padre Xavier.No átrio da Igreja branco-cal, debaixo de um céu azul brilhante, vemos os fieis saírem aos poucos. Dois dedos de conversa com uma pessoa rapidamente se tornam numa reunião – em poucos minutos estamos rodeados por uma dezena de lusófonos.A missa de domingo funciona como ponto de encontro. “É uma das formas de manter a cultura. Nós, os falantes de língua portuguesa, vamos também para o Clube Vasco da Gama, que é um outro lugar de encontro e lá tomamos bebidas, falamos e cultivamos a língua portuguesa”, conta Messias Pereira.Como muitos goeses lusófonos, Pereira esteve fora da Índia durante a maior parte da sua vida adulta. Estudou “português clássico” em Portugal – orgulhando-se de, por isso, ter o português mais correcto de Goa – mas uma mudança para a Suíça obrigou-o a dominar o alemão. No entanto, manteve sempre “a ligação à terra e à cultura portuguesa”.Agora, passa em Goa a maior parte do tempo, só dispensa a época de monções: “Nós, portugueses de Goa, que estamos espalhados pelo mundo inteiro, temos sempre tendência a voltar à nossa terra. E é uma espécie de pequeno convívio que nós temos, vir aqui à igreja matriz de Pangim”.Também Óscar Monteiro, professor de Português e Economia radicado no Canadá, vai e vem. Viveu em Moçambique, Inglaterra, Portugal, mas regressa sempre a Goa. E agora que as obrigações profissionais o permitem, passa três a cinco meses por ano na cidade-natal. “Nasci cá e gosto disto, gosto de visitar amigos e familiares”, explica. O autor do livro de poesia “Nas asas da palavra” fala de um sentimento de nostalgia e das saudades dos sabores. “Uma coisa que não posso fazer no Canadá é a comida goesa, com os condimentos e assim”, lamenta.Quando está em Goa, Óscar Monteiro dá frequentemente aulas de Português a convite do Instituto Camões. Apesar de o idioma estar longe de gozar da pujança de outros tempos, continua a marcar presença: “A língua portuguesa é ubíqua, está em todo o lado. Há instituições que zelam pela língua, uma delas é a Fundação Oriente, outra é o Instituto Camões, e também o Consulado Português e uma associação de ‘friendship’ da língua portuguesa. A Fundação Oriente e o consulado criaram aulas de português em várias escolas, como língua estrangeira”.
São “portugueses de Goa”, filhos da terra que nunca saíram do país ou emigrados que regressam religiosamente para férias prolongadas. Encontram-se aos domingos, na Igreja de Pangim, para uma das poucas missas do Estado rezadas em português.Num primeiro contacto com Goa chega-nos logo uma advertência: por aqui já são poucos e antigos os que sabem português. O concani, a língua local, e o inglês são os idiomas francos, a que se junta o hindi (língua nacional da Índia), perfazendo três línguas oficiais. Mas poucos dias bastam na cidade para o português, ainda que “mascavado”, como alguns o chamam, vir ter connosco.Como em tudo, a sorte tem o seu papel. Na Igreja da Imaculada Concepção, conhecida simplesmente como Igreja de Pangim, o português toca o sagrado, todos os domingos pelas 10h30. É esta a hora da missa em língua portuguesa, uma das poucas realizadas em todo o Estado de Goa. Fica a cargo do padre António Xavier, que fala um “português mascavado”, avisam-nos mas antes de entrarmos na capela.Cerca de 30 pessoas assistem à homilia e juntam-se à canção: “Tenho um amigo que me ama, tenho um amigo que me ama, seu nome é Jesus”. Na Imaculada Concepção faz calor e as ventoinhas que pendem do tecto de madeira giram no máximo. “Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo”. Silêncio. As leituras seguem-se, por vezes nítidas ao ouvido habituado a outros sotaques, outras vezes nem tanto.Num Estado em que o número de pessoas a aprender o idioma não chegará a um milhar, cabe aos mais velhos o exercício da língua e são eles que, ao domingo, não perdem a missa do padre Xavier.No átrio da Igreja branco-cal, debaixo de um céu azul brilhante, vemos os fieis saírem aos poucos. Dois dedos de conversa com uma pessoa rapidamente se tornam numa reunião – em poucos minutos estamos rodeados por uma dezena de lusófonos.A missa de domingo funciona como ponto de encontro. “É uma das formas de manter a cultura. Nós, os falantes de língua portuguesa, vamos também para o Clube Vasco da Gama, que é um outro lugar de encontro e lá tomamos bebidas, falamos e cultivamos a língua portuguesa”, conta Messias Pereira.Como muitos goeses lusófonos, Pereira esteve fora da Índia durante a maior parte da sua vida adulta. Estudou “português clássico” em Portugal – orgulhando-se de, por isso, ter o português mais correcto de Goa – mas uma mudança para a Suíça obrigou-o a dominar o alemão. No entanto, manteve sempre “a ligação à terra e à cultura portuguesa”.Agora, passa em Goa a maior parte do tempo, só dispensa a época de monções: “Nós, portugueses de Goa, que estamos espalhados pelo mundo inteiro, temos sempre tendência a voltar à nossa terra. E é uma espécie de pequeno convívio que nós temos, vir aqui à igreja matriz de Pangim”.Também Óscar Monteiro, professor de Português e Economia radicado no Canadá, vai e vem. Viveu em Moçambique, Inglaterra, Portugal, mas regressa sempre a Goa. E agora que as obrigações profissionais o permitem, passa três a cinco meses por ano na cidade-natal. “Nasci cá e gosto disto, gosto de visitar amigos e familiares”, explica. O autor do livro de poesia “Nas asas da palavra” fala de um sentimento de nostalgia e das saudades dos sabores. “Uma coisa que não posso fazer no Canadá é a comida goesa, com os condimentos e assim”, lamenta.Quando está em Goa, Óscar Monteiro dá frequentemente aulas de Português a convite do Instituto Camões. Apesar de o idioma estar longe de gozar da pujança de outros tempos, continua a marcar presença: “A língua portuguesa é ubíqua, está em todo o lado. Há instituições que zelam pela língua, uma delas é a Fundação Oriente, outra é o Instituto Camões, e também o Consulado Português e uma associação de ‘friendship’ da língua portuguesa. A Fundação Oriente e o consulado criaram aulas de português em várias escolas, como língua estrangeira”.
Published on January 23, 2014 09:44
Sri Lanka longe da CPLP
Entre os participantes dos Jogos da Lusofonia, aquele que aparenta ser mais distante da realidade lusófona é o Sri Lanka, onde o português não é língua oficial, existindo apenas um crioulo, ou o “Indo-português do Sri Lanka”, falado por uma minoria. De acordo com o um jornalista da VFM Radio, a emissora pública do país, a entrada na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como membro observador, não tem sido discutida, pelo menos na esfera pública.No entanto, quando questionado sobre se o Sri Lanka se sente parte do mundo lusófono, Supun Hettiarachchi responde sem hesitação: “Claro”. O jornalista lembra a passagem dos portugueses pelo país, entre 1506 e 1658, liderados por Francisco de Almeida, época em que dominaram o território e levaram a cabo campanhas de evangelização.Além da herança edificada, ficaram desse tempo apelidos como Almeida da Silva ou Salgado, e também palavras do quotidiano. “Dizemos ‘almari’ para armário, ‘spiritale’ para hospital, são palavras que vêm do português”, explica Hettiarachchi.Apesar deste legado, e de um sentimento de pertença ao que se chama a lusofonia, a integração na CPLP, como membro observador, não tem estado em discussão. “Não faço ideia, nunca ouvi falar disso. Nunca ouvi essa discussão nos meios de comunicação, na minha rádio nunca passámos [notícias]”, conta o jornalista, que nunca visitou nenhum país de expressão portuguesa.A sua presença como jornalista nos Jogos é justificada, em parte, pela vontade de promover o desporto cingalês. “A maioria das pessoas conhece o Sri Lanka como um país jogador de críquete, temos de publicitar outros desportos”, explica. Hettiarachchi lembra as medalha de prata e bronze que o país já conquistou no torneio por equipas do ténis de mesa feminino e masculino, respectivamente.O jornalista espera mais distinções: “Temos uma equipa de atletismo forte. Temos de dar essas notícias aos cingaleses. Por isso, o meu editor pediu-me para vir, já que sou jornalista de desporto na rádio”.Aos 24 anos, Hettiarachchi faz um balanço positivo da evolução do jornalismo no Sri Lanka. “Se precisarmos de saber algo de um ministro ou de outro dirigente, podemos ligar-lhes directamente. Temos liberdade e algumas infra-estruturas”, garante. I.S.G.
Published on January 23, 2014 09:29
Artur Lopes recusa falar inglês nos Jogos da Lusofonia, em Goa
JANEIRO 22, 2014
O chefe de missão de Portugal, Artur Lopes, recusou dar entrevistas aos jornais indianos, exigindo que lhe falassem em português. Pelo menos dois jornalistas queixaram-se do sucedido. No início da semana, Lopes lançou duras críticas à organização dos Jogos da Lusofonia e ao facto de o português não ser o idioma-rei. Oficialmente estão a ser utilizadas três línguas: o português, o inglês e o concani. No entanto, a comunicação com o staff da organização, maioritariamente indiano, é sempre feita em inglês.Ajit John, repórter para do jornal The Goan, tentou abordar Artur Lopes na segunda-feira, para uma pequena entrevista. “Ele disse-me ‘Isto são os Jogos da Lusofonia, a língua dos Jogos é o português, tem de falar comigo em português. Se o fizer falo consigo’. Depois virou as costas e foi-se embora”, descreve. O jornalista assegura ter recebido uma resposta semelhante do presidente do comité olímpico português, José Manuel Constantino.O mesmo aconteceu com o jornalista Mihir Vasavda, do Indian Express, que tentou falar com Lopes durante a cerimónia de abertura para recolher algumas declarações sobre a delegação portuguesa e a importância dos Jogos da Lusofonia. “Abordei-o em inglês e ele começou a falar comigo em português, durante uns dois minutos. Notava-se que estava chateado mas eu não sabia porquê”, conta. A resposta que Lopes lhe deu, depois, em inglês foi semelhante à que deu a Ajit John: “Isto são os Jogos da Lusofonia, só falo em português, peça ao seu jornal para mandar alguém que saiba falar em português”.A reacção causou espanto a Mihir Vasavda, que trabalha para um jornal nacional indiano. “Disse-lhe que o país não fala todo português, os portugueses só estiveram em Goa mas ele respondeu-me apenas ‘O problema não é meu, só vou falar português’”, relata o jornalista.A surpresa é partilhada por Ajit John: “Está no nosso país e o português não é uma língua comummente falada aqui. É estar a pedir sarilhos”.Contactado pelo PONTO FINAL, Artur Lopes começou por responder apenas: “Como é que se chamam os Jogos? Pronto, tenho dito”. Confirmando que não quis falar em inglês com os jornalistas, o chefe de missão da delegação portuguesa salientou que a lusofonia “tem que ver com tradição, história e cultura”. “Não podemos estar nuns Jogos da Lusofonia como se estivéssemos nos Jogos da Commonwealth. Foi por isto que Portugal lutou pela lusofonia”, explicou.No domingo, num jantar organizado pela delegação portuguesa – onde também estava presente o secretário de Estado do Desporto e Juventude, Emídio Guerreiro – Artur Lopes manifestou o seu desagrado com a questão da língua. “Sendo que se tratam dos Jogos da Lusofonia não entendemos que a primeira língua a falar-se não seja o português, com uma tradução para inglês. Aqui é o inglês e às vezes tem tradução para português. Bati o pé, acho mal, não estou nada satisfeito, isso é bastante negativo”, disse aos jornalistas. I.S.G.
Published on January 23, 2014 09:17
Goa abre as portas à Lusofonia
por Inês Santinhos Gonçalves - Ponto Final, 20 de Janeiro 2014
Os Jogos da Lusofonia 2014 arrancaram este fim-de-semana, com Macau em alta representação – a delegação do território é a segunda maior, apenas ultrapassada pela de Goa, orgulhosa anfitriã. Na cerimónia de abertura, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, deixou elogios e manifestou satisfação por ver “o sonho de Goa concretizado”. Espera medalhas no wushu e no judo, mas teme os resultados dos desportos colectivos.
A 3ª edição dos Jogos da Lusofonia deu o pontapé de saída no sábado, em Goa, com uma cerimónia em grande estilo. Apesar das críticas à organização do evento, o estádio Fatorda, remodelado para os Jogos, esteve lotado e nas bancadas não faltou entusiasmo. A delegação de Macau entrou em sexto lugar no recinto, com uma comitiva largamente superior à maioria – mas ainda assim inferior à de Goa. Nas bancadas, de bandeira com a flor de lótus na mão, estavam personalidades conhecidas do território, como o secretário Cheong U e o presidente do Instituto do Desporto, José Tavares.
A chegada ao estádio Fatorda confirmou as suspeitas de desorganização que vinham a ser levantadas nos meses antecedentes ao evento. Às portas de Margão, onde o estádio está localizado, o trânsito já se revelava entupido e o acesso às portas de entrada teve de ser feito a pé, com os veículos privados a serem obrigados a ficar a mais de 500 metros de distância. Em torno do estádio ainda muita terra batida, pó, e falta de sinalização. Alguma confusão e estruturas de suporte deficitárias foram compensadas pelo staff solícito e simpático, do qual fazem parte cerca de dois mil voluntários.
Apesar de um entusiasmo moderado nas ruas, o estádio encheu as bancadas com cerca de 19 mil espectadores, que não pouparam nas palmas e nos assobios. A cerimónia arrancou, como não poderia deixar de ser, com fogo-de-artifício e música. Portugal foi a primeira das 12 equipas a entrar no recinto e Macau avançou em sexto lugar, com delegação, a segunda maior dos Jogos, a fazer-se notar. Nada, no entanto, comparável, à comitiva goesa, com 200 atletas, que recebeu uma ovação redobrada.
Ausentes estiveram a delegação do Brasil e da Guiné Equatorial, cujos atletas chegarão apenas nos próximos dias. O galo Jojo, a mascote dos Jogos, circulou pela arena, enquanto as equipas eram apresentadas em três línguas: português, inglês e concani, a língua franca de Goa.
Keshav Chandra, presidente-executivo do comité organizador dos Jogos da Lusofonia, fez um discurso, em português, sobre a importância de “mostrar ao mundo o desempenho, responsabilidade, profissionalismo e amor ao desporto” dos atletas em competição. “É a vossa oportunidade de fazer a diferença”, lançou aos cerca de 800 desportistas. E piscou o olho à questão da organização: “Estou feliz por partilhar convosco infra-estruturas de nível internacional”.
Para o secretário de Macau para os Assuntos Sociais e Cultura, há elogios a fazer, apesar de admitir fragilidades: “Sabemos que houve um pouco de dificuldade, até adiaram a data, mas o importante é que conseguiram resolver os problemas para ter o sonho de Goa concretizado. Não é nada fácil. Gostaria de dar os parabéns à organização de Goa”.
Cheong U, que no intervalo se juntou a alguns convidados ilustres para provar especialidades indianas como chamuças e quiches vegetarianas, lembrou que os Jogos da Lusofonia têm para Macau “um significado muito especial”. A realização da primeira edição implicou um largo investimento “para a criação de uma rede de equipamento e espaços desportivos de modo a atingir o nível, pelo menos, regional”.
Para o secretário, esse investimento teve frutos para o desporto na RAEM, com uma renovada cooperação comas associações locais para incentivar o chamado “desporto para todos”. “O Governo presta subsídio às escolas para abrirem o equipamento desportivo à população. Está a resultar bem”, defendeu. O Executivo continua também a trabalhar para resolver a falta de instalações desportivas, garantiu Cheong U. E deu um exemplo: “Uma notícia boa é que vai começar a funcionar já o novo campo [desportivo] da universidade da Taipa, com um campo de futebol, pista de atletismo e um pavilhão desportivo. Segundo a informação que a universidade transmitiu, vão tentar abri-lo, não só para a universidade mas também para população”.
Quanto ao desporto de competição, onde Macau tem ainda muito pouca expressão, o secretário é menos optimista. “Sabemos que não podemos investir em tudo. Temos de estabelecer uma estratégia adaptada a Macau. A natação, o wushu e o judo são modalidades que estão a começar a elevar o nível. Mas quanto à bola grande, o futebol e o basquetebol, é muito difícil”, admitiu.
Apesar das dificuldades, Cheong U está confiante que Macau conquistará medalhas no wushu e no judo. No entanto, “o mais importante”, diz, “é a oportunidade de os atletas terem um momento para mostrarem todo o esforço, [resultado] de tanto tempo de prática” e também a oportunidade “para fazerem amizade com os atletas de outros países”.
A geração que se segue
O optimismo de José Tavares era ainda superior ao de Cheong U. O presidente do Instituto do Desporto acredita que a prestação de Macau vai ser “muito melhor que na edição passada”, já que Macau veio para Goa “com uma comitiva em força”. “Penso que vamos ter mais medalhas. Penso que no wushu vamos levar quase as medalhas todas”, afirmou. A convicção não é abalada pelo facto de a equipa ser toda nova – de tal modo que não foi possível destacar um nome mais forte: “Posso garantir que têm capacidade de arrancar muitas medalhas. É a hora exacta de dar uma oportunidade para se estrearem nestas competições. O nosso campeão vai ter de se retirar, já tem 27 ou 28 anos”.
Tavares não ignora “uma certa desorganização” e admite a falta de espaço para treinos [ver entrevista na página ao lado], mas assegura que os atletas de Macau treinaram em casa de modo a compensar a falta de oportunidade em Goa. “Viemos mesmo à hora para não termos a preocupação dos treinos”, apontou.
“Penso que a desorganização tem que ver com o pouco espaço de tempo que tiveram para limar as arestas. Quando vim cá em Abril isto estava um caos e ninguém acreditava que podia receber os Jogos. Mas eu sabia que iam conseguir”, manifestou o dirigente. Apesar disso, “vê-se um grande empenhamento por parte da organização em todos os aspectos”, o que merece elogio, na opinião de Tavares.
Portugal prejudicado
Elogios foram também deixados pelo secretário de Estado do Desporto e Juventude português, Emídio Guerreiro. “Há um grande investimento, uma presença enorme nas ruas da cidade. Ao contrário do que podia ter transparecido, com os problemas do adiamento dos jogos, nota-se aqui um grande compromisso do Governo de Goa na realização destes jogos”, comentou. Guerreiro salientou as várias infra-estruturas erguidas especialmente para os Jogos – dois estádios totalmente renovados e quatro construídos de raiz. “Há muitas infra-estruturas novas, algumas ainda estão em fase de acabamento mas sente-se uma presença dos Jogos na cidade, o que é bastante positivo”, apontou.
Ainda assim, o atraso na realização do certame, que inicialmente se iria realizar em Novembro de 2013, prejudicou significativamente a participação portuguesa: “Não trazemos muitas das equipas que costumamos trazer. É evidente que esta mudança de calendário prejudicou a possibilidade de algumas equipas e alguns atletas estarem presentes. Mas temos uma boa representação e estamos expectantes que vamos vencer bastantes medalhas.
Guerreiro alertou ainda para a importância de uma calendarização cuidada: “Acho que para o futuro é preciso pensar em acomodar isto melhor com a própria realização dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Há uma confluência que penso que não é positiva do ponto de vista da coordenação e qualidade desportiva”.
Os Jogos da Lusofonia 2014 arrancaram este fim-de-semana, com Macau em alta representação – a delegação do território é a segunda maior, apenas ultrapassada pela de Goa, orgulhosa anfitriã. Na cerimónia de abertura, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, deixou elogios e manifestou satisfação por ver “o sonho de Goa concretizado”. Espera medalhas no wushu e no judo, mas teme os resultados dos desportos colectivos. A 3ª edição dos Jogos da Lusofonia deu o pontapé de saída no sábado, em Goa, com uma cerimónia em grande estilo. Apesar das críticas à organização do evento, o estádio Fatorda, remodelado para os Jogos, esteve lotado e nas bancadas não faltou entusiasmo. A delegação de Macau entrou em sexto lugar no recinto, com uma comitiva largamente superior à maioria – mas ainda assim inferior à de Goa. Nas bancadas, de bandeira com a flor de lótus na mão, estavam personalidades conhecidas do território, como o secretário Cheong U e o presidente do Instituto do Desporto, José Tavares.
A chegada ao estádio Fatorda confirmou as suspeitas de desorganização que vinham a ser levantadas nos meses antecedentes ao evento. Às portas de Margão, onde o estádio está localizado, o trânsito já se revelava entupido e o acesso às portas de entrada teve de ser feito a pé, com os veículos privados a serem obrigados a ficar a mais de 500 metros de distância. Em torno do estádio ainda muita terra batida, pó, e falta de sinalização. Alguma confusão e estruturas de suporte deficitárias foram compensadas pelo staff solícito e simpático, do qual fazem parte cerca de dois mil voluntários.
Apesar de um entusiasmo moderado nas ruas, o estádio encheu as bancadas com cerca de 19 mil espectadores, que não pouparam nas palmas e nos assobios. A cerimónia arrancou, como não poderia deixar de ser, com fogo-de-artifício e música. Portugal foi a primeira das 12 equipas a entrar no recinto e Macau avançou em sexto lugar, com delegação, a segunda maior dos Jogos, a fazer-se notar. Nada, no entanto, comparável, à comitiva goesa, com 200 atletas, que recebeu uma ovação redobrada.
Ausentes estiveram a delegação do Brasil e da Guiné Equatorial, cujos atletas chegarão apenas nos próximos dias. O galo Jojo, a mascote dos Jogos, circulou pela arena, enquanto as equipas eram apresentadas em três línguas: português, inglês e concani, a língua franca de Goa.
Keshav Chandra, presidente-executivo do comité organizador dos Jogos da Lusofonia, fez um discurso, em português, sobre a importância de “mostrar ao mundo o desempenho, responsabilidade, profissionalismo e amor ao desporto” dos atletas em competição. “É a vossa oportunidade de fazer a diferença”, lançou aos cerca de 800 desportistas. E piscou o olho à questão da organização: “Estou feliz por partilhar convosco infra-estruturas de nível internacional”.
Para o secretário de Macau para os Assuntos Sociais e Cultura, há elogios a fazer, apesar de admitir fragilidades: “Sabemos que houve um pouco de dificuldade, até adiaram a data, mas o importante é que conseguiram resolver os problemas para ter o sonho de Goa concretizado. Não é nada fácil. Gostaria de dar os parabéns à organização de Goa”.
Cheong U, que no intervalo se juntou a alguns convidados ilustres para provar especialidades indianas como chamuças e quiches vegetarianas, lembrou que os Jogos da Lusofonia têm para Macau “um significado muito especial”. A realização da primeira edição implicou um largo investimento “para a criação de uma rede de equipamento e espaços desportivos de modo a atingir o nível, pelo menos, regional”.
Para o secretário, esse investimento teve frutos para o desporto na RAEM, com uma renovada cooperação comas associações locais para incentivar o chamado “desporto para todos”. “O Governo presta subsídio às escolas para abrirem o equipamento desportivo à população. Está a resultar bem”, defendeu. O Executivo continua também a trabalhar para resolver a falta de instalações desportivas, garantiu Cheong U. E deu um exemplo: “Uma notícia boa é que vai começar a funcionar já o novo campo [desportivo] da universidade da Taipa, com um campo de futebol, pista de atletismo e um pavilhão desportivo. Segundo a informação que a universidade transmitiu, vão tentar abri-lo, não só para a universidade mas também para população”.
Quanto ao desporto de competição, onde Macau tem ainda muito pouca expressão, o secretário é menos optimista. “Sabemos que não podemos investir em tudo. Temos de estabelecer uma estratégia adaptada a Macau. A natação, o wushu e o judo são modalidades que estão a começar a elevar o nível. Mas quanto à bola grande, o futebol e o basquetebol, é muito difícil”, admitiu.
Apesar das dificuldades, Cheong U está confiante que Macau conquistará medalhas no wushu e no judo. No entanto, “o mais importante”, diz, “é a oportunidade de os atletas terem um momento para mostrarem todo o esforço, [resultado] de tanto tempo de prática” e também a oportunidade “para fazerem amizade com os atletas de outros países”.
A geração que se segue
O optimismo de José Tavares era ainda superior ao de Cheong U. O presidente do Instituto do Desporto acredita que a prestação de Macau vai ser “muito melhor que na edição passada”, já que Macau veio para Goa “com uma comitiva em força”. “Penso que vamos ter mais medalhas. Penso que no wushu vamos levar quase as medalhas todas”, afirmou. A convicção não é abalada pelo facto de a equipa ser toda nova – de tal modo que não foi possível destacar um nome mais forte: “Posso garantir que têm capacidade de arrancar muitas medalhas. É a hora exacta de dar uma oportunidade para se estrearem nestas competições. O nosso campeão vai ter de se retirar, já tem 27 ou 28 anos”.
Tavares não ignora “uma certa desorganização” e admite a falta de espaço para treinos [ver entrevista na página ao lado], mas assegura que os atletas de Macau treinaram em casa de modo a compensar a falta de oportunidade em Goa. “Viemos mesmo à hora para não termos a preocupação dos treinos”, apontou.
“Penso que a desorganização tem que ver com o pouco espaço de tempo que tiveram para limar as arestas. Quando vim cá em Abril isto estava um caos e ninguém acreditava que podia receber os Jogos. Mas eu sabia que iam conseguir”, manifestou o dirigente. Apesar disso, “vê-se um grande empenhamento por parte da organização em todos os aspectos”, o que merece elogio, na opinião de Tavares.
Portugal prejudicado
Elogios foram também deixados pelo secretário de Estado do Desporto e Juventude português, Emídio Guerreiro. “Há um grande investimento, uma presença enorme nas ruas da cidade. Ao contrário do que podia ter transparecido, com os problemas do adiamento dos jogos, nota-se aqui um grande compromisso do Governo de Goa na realização destes jogos”, comentou. Guerreiro salientou as várias infra-estruturas erguidas especialmente para os Jogos – dois estádios totalmente renovados e quatro construídos de raiz. “Há muitas infra-estruturas novas, algumas ainda estão em fase de acabamento mas sente-se uma presença dos Jogos na cidade, o que é bastante positivo”, apontou.
Ainda assim, o atraso na realização do certame, que inicialmente se iria realizar em Novembro de 2013, prejudicou significativamente a participação portuguesa: “Não trazemos muitas das equipas que costumamos trazer. É evidente que esta mudança de calendário prejudicou a possibilidade de algumas equipas e alguns atletas estarem presentes. Mas temos uma boa representação e estamos expectantes que vamos vencer bastantes medalhas.
Guerreiro alertou ainda para a importância de uma calendarização cuidada: “Acho que para o futuro é preciso pensar em acomodar isto melhor com a própria realização dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Há uma confluência que penso que não é positiva do ponto de vista da coordenação e qualidade desportiva”.
Published on January 23, 2014 09:07
January 22, 2014
Saramago deixa de ser publicado pela Caminho
por Ricardo Simões Ferreira - DN
A Editorial Caminho informou hoje que não chegou a acordo com as herdeiras de José Saramago, para continuar a publicar a obra do Nobel da Literatura, e a família procura agora nova editora, adiantou à Lusa fonte da Fundação.
"As herdeiras de José Saramago e a Editorial Caminho informam que não foi possível chegar a acordo sobre as condições contratuais que permitiriam continuar a publicar, nesta editora, a obra do escritor", lê-se no comunicado assinado pelas herdeiras do escritor, a viúva, Pilar del Rio, e a filha, Violante Saramago Matos, e ainda por Tiago Morais Sarmento e Zeferino Coelho, da Editorial Caminho.
"Cessa por isso, nesta data, a parceria iniciada há 35 anos, com a publicação de 'A Noite' (1979)", remata o comunicado enviado à agência Lusa.
Em declarações à Lusa, fonte da Fundação, falando em nome das duas herdeiras do escritor, garantiu que a obra do José Saramago "não vai ficar sem editor em Portugal": "Estamos à procura de uma nova editora", acrescentou.
José Saramago, falecido em junho de 2010 na ilha espanhola de Lanzarote, publicou praticamente toda a sua obra na Editorial Caminho, incluindo "Memorial do Convento" e "O ano da morte de Ricardo Reis", que fazem parte dos programas curriculares do ensino secundário, e o romance "Claraboia", editado em 2011.
A Editorial Caminho informou hoje que não chegou a acordo com as herdeiras de José Saramago, para continuar a publicar a obra do Nobel da Literatura, e a família procura agora nova editora, adiantou à Lusa fonte da Fundação. "As herdeiras de José Saramago e a Editorial Caminho informam que não foi possível chegar a acordo sobre as condições contratuais que permitiriam continuar a publicar, nesta editora, a obra do escritor", lê-se no comunicado assinado pelas herdeiras do escritor, a viúva, Pilar del Rio, e a filha, Violante Saramago Matos, e ainda por Tiago Morais Sarmento e Zeferino Coelho, da Editorial Caminho.
"Cessa por isso, nesta data, a parceria iniciada há 35 anos, com a publicação de 'A Noite' (1979)", remata o comunicado enviado à agência Lusa.
Em declarações à Lusa, fonte da Fundação, falando em nome das duas herdeiras do escritor, garantiu que a obra do José Saramago "não vai ficar sem editor em Portugal": "Estamos à procura de uma nova editora", acrescentou.
José Saramago, falecido em junho de 2010 na ilha espanhola de Lanzarote, publicou praticamente toda a sua obra na Editorial Caminho, incluindo "Memorial do Convento" e "O ano da morte de Ricardo Reis", que fazem parte dos programas curriculares do ensino secundário, e o romance "Claraboia", editado em 2011.
Published on January 22, 2014 18:19
Miró/BPN - Mais um atentado ao património pelos vendilhões do país
Depois de Miró, outras obras do BPN estão a ser inventariadas para serem vendidas
CLÁUDIA CARVALHO Parlamento vota esta sexta-feira resoluções do PS e do PCP que pedem que o leilão seja suspenso. PS pede ainda que se inicie com "urgência" processo de inventariação e classificação das obras mas cancelar o leilão não é uma hipótese para a maioria.
Além dos 85 trabalhos de Juan Miró (1893-1983), que vão a leilão em Londres nos dias 4 e 5 de Fevereiro, o Estado português vai vender também outras obras de arte herdadas do Banco Português de Negócios (BPN).
As obras estão neste momento a ser inventariadas para “oportunamente ser lançado um procedimento de alienação”. A informação foi dada ao PÚBLICO por Francisco Nogueira Leite, presidente da Parvalorem, sociedade criada no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN. Nogueira Leite não esclareceu, no entanto, que obras são estas.
Esta semana na Comissão de Educação, Ciência e Cultura a dúvida já tinha sido levantada pelos deputados da oposição, que esta sexta-feira levam a votação na Assembleia da República duas resoluções, do PS e do PCP, a pedir a suspensão do leilão das 85 obras de arte do pintor espanhol, com o argumento de que representa uma mais-valia para o país. O PÚBLICO apurou, no entanto, que a maioria PSD/CDS votará contra estas resoluções, não estando sequer a ser estudada a hipótese de o leilão da Christie’s vir a ser anulado.
O deputado do PCP Miguel Tiago e a deputada do PS Inês de Medeiros dirigiram críticas duras à opção do Governo de vender esta colecção, temendo que no futuro outras obras nas mãos do Estado desde a nacionalização do BPN pudessem seguir o mesmo caminho. Obras essas que não se sabe ao certo quais são, como apontou Inês de Medeiros, criticando a falta de registos sobre este assunto.
Questionado pelo PÚBLICO, sobre que outras obras existem na mesma situação que estas de Miró, Nogueira Leite limitou-se a responder que o “restante espólio encontra-se a ser inventariado”.
“Eles têm outras obras, algumas serão melhores e mais interessantes do que outras, mas não sei ao certo que obras são essas”, diz ao PÚBLICO Pedro Lapa, director do Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e que chegou a ser desafiado por José Oliveira Costa quando ainda estava na direcção do Museu do Chiado para organizar uma exposição de Miró. A exposição nunca chegou a acontecer porque “as coisas no BPN complicaram-se”. Mas o curador lembra-se de quando o banqueiro frequentava as galerias e as exposições. “Ele gostava de arte, sei que comprava mas não sei se a título pessoal ou se para o banco”, continua Lapa, para quem estas obras que agora estão a ser inventariadas “serão muito boas mas não tão importantes como Miró”.
“Joan Miró é um dos maiores artistas do século XX”, destaca o director do Museu Colecção Berardo, lembrando que o interesse do mercado da arte nos trabalhos do catalão “é imenso”. “Neste momento os mercados tradicionais não estão afectados por esta crise e temos ainda a entrada de outros coleccionadores que vêm do Médio Oriente, da China e da Rússia”, explica Pedro Lapa, destacando “o poder de compra arrasador” e “o interesse óbvio em integrar nas suas colecções estes nomes imprescindíveis para o panorama da arte moderna do século XX como é o caso de Miró”.
É por isso que diz que é de lamentar a decisão de vender estas obras que deviam ser, segundo Pedro Lapa, integradas em colecções do Estado e ser mostradas ao público. Mas o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, já fez saber que esta “não é uma prioridade”. “Há uma ausência de uma política patrimonial estruturada relativamente à contemporaneidade, à arte moderna”, acusa o director artístico, notando a “ausência de uma reflexão estruturada sobre o que é que se quer fazer, que colecções, como é que se constitui património e de que forma é que se organiza e se mostra esse património”.
PS pede classificação de Miró
É por isso que anteontem Gabriela Canavilhas, deputada do PS, enviou um requerimento à directora-geral do Património Cultural, Isabel Cordeiro, com conhecimento para Barreto Xavier e para a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que tem estado à frente deste processo, a pedir que se inicie “com urgência” o processo de inventariação e classificação destas 85 obras de Miró, com as quais o Estado espera arrecadar cerca de 35 milhões de euros. O objectivo, como a própria explicou ao PÚBLICO, é que se consiga proteger as obras, evitando o leilão.
No requerimento, o grupo parlamentar do PS lembra que de acordo com a Lei de Bases do Património Cultural o Estado tem “responsabilidades inequívocas na salvaguarda e valorização do património cultural”, defendendo que a partir do momento em que o Estado herdou a colecção, todas as obras de arte passaram a ser património público. “Mostra-se incontestável a necessidade de proceder a abertura do procedimento administrativo conducente a inventariação e eventual classificação do fundo Miró”, lê-se no requerimento.
“Tudo depende do que a diretora da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) decidir fazer”, diz a deputada socialista, que exige que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) clarifique a sua posição em relação a este assunto. “Se se der seguimento ao requerimento, o leilão tem de ser cancelado porque os bens em processo de inventariação e classificação, mesmo que não venham a ser classificados, não podem ser alienados até o processo ficar concluído”, explica Canavilhas, para quem se isto não acontecer é sinal de que se está a “contornar a lei e a afirmar publicamente que se pretende deixar alienar bens públicos sem sequer os inventariar”.
A assessora de Isabel Cordeiro disse que o requerimento do PS ainda não deu entrada na DGPC. O PÚBLICO questionou ainda a SEC e o Ministério das Finanças, mas até ao fecho da edição não obteve quaisquer respostas. Para os partidos de oposição é de lamentar também que estas obras nunca tenham sido expostas. Na comissão de terça-feira o tema gerou contestação com Inês Teotónio Pereira, deputada do CDS, a explicar que “se estas obras nunca foram mostradas não foi por uma opção política mas sim por uma impossibilidade jurídica”. Impossibilidade essa que, segundo Francisco Nogueira Leite, se deve ao facto de só em Dezembro de 2012 ter sido “juridicamente assumida a titularidade das obras”. “Não foi possível equacionar a realização de uma exposição pública pois não faria sentido o Estado expor obras que não eram da sua propriedade plena”, explicou ao PÚBLICO o presidente da Parvalorem.
Covões quis fazer exposição
Antes disso, Álvaro Covões, o director da promotora Everything is New, quis fazer uma exposição com as obras de Miró mas a ideia acabou por ficar adiada quando ao lançar o desafio ao então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, este lhe pediu primeiro apoio para produzir a exposição de Joana Vasconcelos.
“É uma coincidência, acabámos por estar envolvidos na exposição da Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda e na do Museu do Prado no Museu de Arte Antiga porque no princípio de tudo pensámos em fazer uma exposição com os quadros do Miró”, conta o promotor, responsável por financiar em grande parte as exposições da Ajuda e do MNAA, lembrando que foi em Julho de 2012 quando ouviu a intenção de vender a colecção que teve a ideia de primeiro mostrar as obras ao público. “Disse ao secretário de Estado da altura que era engraçadíssimo fazer uma exposição com aquilo que estava fechado num cofre, ele disse que era fantástico mas que antes precisava de alguém que o ajudasse a viabilizar a exposição da Joana Vasconcelos”, explica Covões, lamentando que em Portugal “as pessoas acordem tarde para os acontecimentos”.
“O anúncio da venda já tem um tempo, eu tentei reagir na altura mas pelos vistos fui o único, agora em cima do leilão é mais difícil”, continua o promotor, lamentando também a venda das obras. “Eu preferia que o Estado ficasse com a colecção, não me importo de pagar mais um euro de impostos para que se possa ficar com este património.”
CLÁUDIA CARVALHO Parlamento vota esta sexta-feira resoluções do PS e do PCP que pedem que o leilão seja suspenso. PS pede ainda que se inicie com "urgência" processo de inventariação e classificação das obras mas cancelar o leilão não é uma hipótese para a maioria.
Além dos 85 trabalhos de Juan Miró (1893-1983), que vão a leilão em Londres nos dias 4 e 5 de Fevereiro, o Estado português vai vender também outras obras de arte herdadas do Banco Português de Negócios (BPN).As obras estão neste momento a ser inventariadas para “oportunamente ser lançado um procedimento de alienação”. A informação foi dada ao PÚBLICO por Francisco Nogueira Leite, presidente da Parvalorem, sociedade criada no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN. Nogueira Leite não esclareceu, no entanto, que obras são estas.
Esta semana na Comissão de Educação, Ciência e Cultura a dúvida já tinha sido levantada pelos deputados da oposição, que esta sexta-feira levam a votação na Assembleia da República duas resoluções, do PS e do PCP, a pedir a suspensão do leilão das 85 obras de arte do pintor espanhol, com o argumento de que representa uma mais-valia para o país. O PÚBLICO apurou, no entanto, que a maioria PSD/CDS votará contra estas resoluções, não estando sequer a ser estudada a hipótese de o leilão da Christie’s vir a ser anulado.
O deputado do PCP Miguel Tiago e a deputada do PS Inês de Medeiros dirigiram críticas duras à opção do Governo de vender esta colecção, temendo que no futuro outras obras nas mãos do Estado desde a nacionalização do BPN pudessem seguir o mesmo caminho. Obras essas que não se sabe ao certo quais são, como apontou Inês de Medeiros, criticando a falta de registos sobre este assunto.
Questionado pelo PÚBLICO, sobre que outras obras existem na mesma situação que estas de Miró, Nogueira Leite limitou-se a responder que o “restante espólio encontra-se a ser inventariado”.
“Eles têm outras obras, algumas serão melhores e mais interessantes do que outras, mas não sei ao certo que obras são essas”, diz ao PÚBLICO Pedro Lapa, director do Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e que chegou a ser desafiado por José Oliveira Costa quando ainda estava na direcção do Museu do Chiado para organizar uma exposição de Miró. A exposição nunca chegou a acontecer porque “as coisas no BPN complicaram-se”. Mas o curador lembra-se de quando o banqueiro frequentava as galerias e as exposições. “Ele gostava de arte, sei que comprava mas não sei se a título pessoal ou se para o banco”, continua Lapa, para quem estas obras que agora estão a ser inventariadas “serão muito boas mas não tão importantes como Miró”.
“Joan Miró é um dos maiores artistas do século XX”, destaca o director do Museu Colecção Berardo, lembrando que o interesse do mercado da arte nos trabalhos do catalão “é imenso”. “Neste momento os mercados tradicionais não estão afectados por esta crise e temos ainda a entrada de outros coleccionadores que vêm do Médio Oriente, da China e da Rússia”, explica Pedro Lapa, destacando “o poder de compra arrasador” e “o interesse óbvio em integrar nas suas colecções estes nomes imprescindíveis para o panorama da arte moderna do século XX como é o caso de Miró”.
É por isso que diz que é de lamentar a decisão de vender estas obras que deviam ser, segundo Pedro Lapa, integradas em colecções do Estado e ser mostradas ao público. Mas o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, já fez saber que esta “não é uma prioridade”. “Há uma ausência de uma política patrimonial estruturada relativamente à contemporaneidade, à arte moderna”, acusa o director artístico, notando a “ausência de uma reflexão estruturada sobre o que é que se quer fazer, que colecções, como é que se constitui património e de que forma é que se organiza e se mostra esse património”.
PS pede classificação de Miró
É por isso que anteontem Gabriela Canavilhas, deputada do PS, enviou um requerimento à directora-geral do Património Cultural, Isabel Cordeiro, com conhecimento para Barreto Xavier e para a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que tem estado à frente deste processo, a pedir que se inicie “com urgência” o processo de inventariação e classificação destas 85 obras de Miró, com as quais o Estado espera arrecadar cerca de 35 milhões de euros. O objectivo, como a própria explicou ao PÚBLICO, é que se consiga proteger as obras, evitando o leilão.
No requerimento, o grupo parlamentar do PS lembra que de acordo com a Lei de Bases do Património Cultural o Estado tem “responsabilidades inequívocas na salvaguarda e valorização do património cultural”, defendendo que a partir do momento em que o Estado herdou a colecção, todas as obras de arte passaram a ser património público. “Mostra-se incontestável a necessidade de proceder a abertura do procedimento administrativo conducente a inventariação e eventual classificação do fundo Miró”, lê-se no requerimento.
“Tudo depende do que a diretora da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) decidir fazer”, diz a deputada socialista, que exige que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) clarifique a sua posição em relação a este assunto. “Se se der seguimento ao requerimento, o leilão tem de ser cancelado porque os bens em processo de inventariação e classificação, mesmo que não venham a ser classificados, não podem ser alienados até o processo ficar concluído”, explica Canavilhas, para quem se isto não acontecer é sinal de que se está a “contornar a lei e a afirmar publicamente que se pretende deixar alienar bens públicos sem sequer os inventariar”.
A assessora de Isabel Cordeiro disse que o requerimento do PS ainda não deu entrada na DGPC. O PÚBLICO questionou ainda a SEC e o Ministério das Finanças, mas até ao fecho da edição não obteve quaisquer respostas. Para os partidos de oposição é de lamentar também que estas obras nunca tenham sido expostas. Na comissão de terça-feira o tema gerou contestação com Inês Teotónio Pereira, deputada do CDS, a explicar que “se estas obras nunca foram mostradas não foi por uma opção política mas sim por uma impossibilidade jurídica”. Impossibilidade essa que, segundo Francisco Nogueira Leite, se deve ao facto de só em Dezembro de 2012 ter sido “juridicamente assumida a titularidade das obras”. “Não foi possível equacionar a realização de uma exposição pública pois não faria sentido o Estado expor obras que não eram da sua propriedade plena”, explicou ao PÚBLICO o presidente da Parvalorem.
Covões quis fazer exposição
Antes disso, Álvaro Covões, o director da promotora Everything is New, quis fazer uma exposição com as obras de Miró mas a ideia acabou por ficar adiada quando ao lançar o desafio ao então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, este lhe pediu primeiro apoio para produzir a exposição de Joana Vasconcelos.
“É uma coincidência, acabámos por estar envolvidos na exposição da Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda e na do Museu do Prado no Museu de Arte Antiga porque no princípio de tudo pensámos em fazer uma exposição com os quadros do Miró”, conta o promotor, responsável por financiar em grande parte as exposições da Ajuda e do MNAA, lembrando que foi em Julho de 2012 quando ouviu a intenção de vender a colecção que teve a ideia de primeiro mostrar as obras ao público. “Disse ao secretário de Estado da altura que era engraçadíssimo fazer uma exposição com aquilo que estava fechado num cofre, ele disse que era fantástico mas que antes precisava de alguém que o ajudasse a viabilizar a exposição da Joana Vasconcelos”, explica Covões, lamentando que em Portugal “as pessoas acordem tarde para os acontecimentos”.
“O anúncio da venda já tem um tempo, eu tentei reagir na altura mas pelos vistos fui o único, agora em cima do leilão é mais difícil”, continua o promotor, lamentando também a venda das obras. “Eu preferia que o Estado ficasse com a colecção, não me importo de pagar mais um euro de impostos para que se possa ficar com este património.”
Published on January 22, 2014 17:49
Miró e o último escândalo do BPN
DN - Opinião - por Gabriela Canavilhas, deputada do Grupo Parlamentar do PSA colecção de arte que foi do Banco Português de Negócios (BPN) e que incluiu um fundo constituído por 85 obras do pintor surrealista Joan Miró - um dos nomes maiores da História da Arte Ocidental - passou, finalmente, para a propriedade do Estado após concluído o processo de privatização do BPN, sendo actualmente, portanto, património público de todos os portugueses.
"Activos extravagantes", assim se referia Miguel Cadilhe à colecção de arte do banco a que presidiu no final de 2008, activos que pretendia transformar em "dinheiro fresco", tal como fez saber em entrevistas dadas à comunicação social. Mas o problema era, na altura e até muito recentemente, a efectiva titularidade/propriedade das obras de arte.
Só em novembro de 2011, com a venda do BPN ao Banco BIC, se determinou finalmente quais os activos que transitariam para a posse do Estado. E mesmo assim, o complicado processo de identificação dos bens, das imparidades, das dívidas, bem como da definição do que pertencia ao Grupo SLN/Galilei ou ao Grupo BPN, e ainda do apuramento da titularidade de 104 sociedades offshores dentro do perímetro do BPN, todas estas questões arrastaram o assunto da propriedade jurídica da coleção de arte até ao início de 2013.
Em março de 2012 dá-se a última transação de activos para as empresas públicas criadas para absorver os chamados "activos tóxicos" do BPN, entre elas a Parvalorem, que recebeu 17 quadros de Miró. As remanescentes 68 obras de Miró, registadas como propriedade de 4 offshores pertencentes à Marazion detida pela Galilei/SLN, passaram finalmente para o Estado em dezembro de 2012, após demoradas negociações.
Conclusão, a única herança positiva de todo este inclassificável dossier BPN - do qual o mínimo que se pode dizer é que o erário público acabou a custear os lucros privados de uns quantos cidadãos pertencentes ao inner circle de um certo poder - o único benefício dizia eu, foi ter caído do céu, nos braços do Estado, uma colecção de 85 obras de Joan Miró, algo que Portugal nunca imaginou algum dia poder almejar.
E que faz o Estado? Congratula-se com esta colecção e junta-a ao espólio dos museus portugueses, como o Museu do Chiado ou o Museu do Surrealismo em Famalicão? Transforma-a numa atracção turística de qualidade que nos aproxima de Nova Iorque, Paris, Madrid ou Barcelona com a oferta privilegiada de obras de Miró que ajudarão investigadores, curiosos, turistas, especialistas e público anónimo a compreender os caminhos da arte no século XX? Não. Decide vender em leilão internacional, antes sequer de mandatar a Direcção do Património Cultural para a inventariar e avaliar, e sem nunca a mostrar ao público português, num processo inédito de total opacidade que roça a clandestinidade deliberada.
Em Portugal não existe nenhum acervo de Miró ou de outro pintor deste período com magnitude e grandeza que se lhe compare, quer em valor artístico, quer em valor patrimonial. Infelizmente, da sua dupla dimensão material e imaterial, o governo apenas lhe reconhece o valor patrimonial, ignorando por completo o seu maior valor - aquele que perdura para além dos "mercados" e que continuará a perdurar muito depois de se ter apagado da memória e da História o rasto da passagem destes governantes (e dos seus ajudantes) pelo nosso triste país.
Se Portugal vender a colecção, será aberto um precedente nunca antes visto: obras de arte, públicas, serão vendidas por decisão de contabilistas tecnocratas, sem que tenha havido qualquer avaliação técnica e artística sobre o valor cultural que representam para o País! Nem em Detroit, cidade em bancarrota, as intenções do gestor da dívida pública de vender parte da coleção do Detroit Institute of Arts Museum foram bem-sucedidas - o procurador-geral do Estado do Michigan, Bill Schuette, proibiu a sua venda e o Senado começou a preparar legislação que dará garantias jurídicas a esta decisão.
Por cá, o secretário de Estado da Cultura exibe a sua irrelevância confirmando a falta de prioridade das artes neste governo e o primeiro-ministro, junto com o ex-administrador da Tecnoforma, actual presidente da Parvalorem, esquecem-se que, enquanto gestores da coisa pública, são meros "governantes de turno", não são donos, são apenas cuidadores temporários de algo que é dos portugueses de hoje e que deveria continuar a ser dos portugueses de amanhã.
Published on January 22, 2014 17:35
January 21, 2014
O caso da biblioteca que o conde inglês roubou ao bispo do Algarve

Matéria de Luís Miguel Queirós publicada no site do jornal Público :Numa concorrida assembleia geral, a Associação Faro 1540 aprovou por unanimidade, no dia 17 de Dezembro, a decisão de pedir à Universidade de Oxford que devolva a importante colecção de incunábulos que pertenceu ao bispo do Algarve D. Fernando Martins Mascarenhas, saqueada do Paço Episcopal, em 1596, pelo aristocrata e corsário inglês Robert Devereux, 2.º conde de Essex.Criada em 2009 e vocacionada para a defesa do ambiente e do património, a Faro 1540 (o nome evoca a data de elevação a cidade da actual capital algarvia) enviou já a sua petição à Universidade de Oxford – a cuja biblioteca, a Bodleian Library, Devereux doou os livros pilhados –, e também ao Governo britânico e ao Palácio de Buckingham, residência oficial da rainha em Londres.Além de pedir a devolução da biblioteca do bispo – cerca de 90 volumes –, a associação solicita ainda o regresso do único exemplar conhecido daquela que será a mais antiga obra impressa em Portugal: uma versão hebraica do Pentateuco (compilação dos primeiros cinco livros da Bíblia) impressa em Faro, no ano de 1487, pelo tipógrafo judeu Samuel Gacon. O dito exemplar está hoje na British Library, a biblioteca nacional do Reino Unido, e Bruno Lage, presidente da associação farense, admite que o volume possa ter integrado o saque do conde de Essex, ainda que reconheça não existirem provas que confirmem essa hipótese. “Foi quase de certeza pilhado nessa época, mas não se pode afirmar que estava no espólio do bispo”, disse ao PÚBLICO o responsável da Faro 1540, observando que este exemplar do Pentateuco “tem um valor simbólico muito elevado para Faro, mas é apenas mais um livro para os ingleses”.A petição, que a associação também fez chegar ao secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, à Câmara Municipal de Faro e ao actual bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, termina com um voto de confiança nas instituições inglesas: “Estamos certos de que as autoridades britânicas saberão reconhecer a justiça da nossa pretensão e que farão justiça a um país amigo (onde vigora entre os dois países a mais antiga aliança diplomática do mundo) e a uma cidade que se orgulha da sua história milenar e do seu contributo para a cultura portuguesa e europeia.”Se se vier a provar que o optimismo da Faro 1540 foi precipitado e os livros continuarem onde têm estado ao longo dos últimos 400 anos, a petição, divulgada na imprensa local e nacional, terá servido pelo menos para chamar a atenção dos farenses para a história da sua cidade. “Depois de aparecerem as notícias, percebemos que muita gente, em Faro, desconhecia este episódio”, diz Bruno Lage.As armas do bispo
Nem as autoridades portuguesas nem as inglesas responderam até agora à associação algarvia. A Secretaria de Estado da Cultura confirmou ao PÚBLICO a recepção do documento, mas adianta apenas que este será “oportunamente analisado”. Já a Universidade de Oxford não esclarece se recebeu a petição e limita-se a informar que “não fará, neste momento, qualquer declaração ou comentário”.De resto, mesmo que considerasse o assunto passível de ponderação, não seria muito provável que pudesse desde já responder positivamente ao pedido da Faro 1540, uma vez que este não foi, por enquanto, assumido pelo Estado português, e não é sequer claro a que concreta instituição deveria a universidade entregar os livros, caso admitisse devolvê-los.O PÚBLICO pediu também à Bodleian Library uma relação dos livros que pertenceram indubitavelmente à biblioteca do bispo D. Fernando Martins Mascarenhas, mas não recebeu ainda resposta a esta solicitação. Note-se que a petição não inventaria os títulos em causa, adiantando apenas que a colecção é “constituída por 65 títulos (num total de 91 volumes)”. Bruno Lage adianta ainda a informação de que 43 desses títulos seriam obras de carácter teológico – oito dos quais relativos a S. Tomás de Aquino – e 18 teriam natureza jurídica.Num extenso artigo dedicado ao episódio do saque da biblioteca do bispo do Algarve, Peter Kingdon Booker, um inglês residente em Portugal que se tem dedicado ao estudo e divulgação da história algarvia, adianta que, além destes 65 títulos, que ostentam as armas do bispo gravadas a ouro, a biblioteca de Oxford possui ainda um outro livro e um manuscrito que apresentam dedicatórias a D. Fernando Martins Mascarenhas. Também estes foram doados por Essex ao seu amigo Thomas Bodley, que estava então a refundar a biblioteca da universidade inglesa, pelo que não há grandes dúvidas de que terão sido pilhados na mesma ocasião.O texto de Booker, publicado no site da Algarve History Association, chama ainda a atenção para o facto de não ser certo que estes livros constituam a totalidade dos que Essex trouxe de Faro, quer porque o conde pode ter conservado alguns, quer porque a biblioteca do bispo pode não ter sido o único local da cidade onde Devereux pilhou livros.E antes de atacar Faro, em Julho de 1596, Devereux já saqueara a cidade espanhola de Cádis, de onde igualmente trouxera alguns livros que depois ofereceu a Thomas Bodley. Booker precisa que a doação do aventureiro inglês à Bodleian Library totalizou 176 títulos, correspondentes a 215 volumes.Se as armas do bispo garantem a proveniência das obras que as exibem, a ausência delas não assegura que não tenham sido igualmente pilhadas do Paço Episcopal. Algumas poderiam ter pertencido, sugere Bruno Lage, ao predecessor de D. Fernando Mascarenhas, o bispo D. Jerónimo Osório.O ataque a Faro
Quando se dá o ataque do conde de Essex, Faro era cidade há pouco mais de meio século, por foral de D. João III, e só em 1577 recebera a sede do bispado algarvio, até então localizada em Silves. E Portugal estava submetido desde 1580 ao monarca castelhano, o que recomenda que se avalie este episódio no contexto do conflito entre Inglaterra e Espanha, que tivera um momento marcante em 1588 com a derrota da chamada Armada Invencível de Filipe II, e que iria prolongar-se pelos primeiros anos do século XVII.O que não invalida o facto de Essex, como Devereux era conhecido em Inglaterra, ser mais um corsário, um aventureiro, do que propriamente um oficial devotado ao cumprimento escrupuloso das ordens da rainha. Espécie deplayboy quinhentista, foi durante muito tempo o favorito de Isabel I e, embora esta tivesse mais 34 anos do que ele, os historiadores acreditam que terá sido também seu amante.Indisciplinado por natureza, a rainha tratava-o com indulgência, mas Essex irritou-a ao casar-se sem a sua bênção, e voltou a irritá-la quando assinou, sem autorização, uma trégua com o líder da sublevação irlandesa. A gota de água foi a tentativa de golpe de Estado que o conde liderou em 1601, tentando tomar Londres. O facto de em tempos lhe ter dado o seu coração, não impediu Isabel de lhe reclamar a cabeça: Robert Devereux foi a última pessoa a ser decapitada na torre de Londres.E tendo em conta que só em 1600, um ano antes de perder literalmente a cabeça, doou a Thomas Bodley os livros que roubara no Algarve, foi uma sorte que a valiosa colecção do bispo acabasse na biblioteca de Oxford. Se Essex tivesse esperado um pouco mais, não se sabe que destino poderia ter tido o espólio de um aristocrata caído em desgraça e executado.Juntamente com o conde de Nottingham, Devereux liderou as tropas que desembarcaram perto de Faro, na barra então chamada Ferrobilhas, no dia 23 de Julho de 1596. Os ingleses dirigiram-se à cidade, que encontraram mal defendida, já que boa parte da guarnição fora enviada a reforçar as defesas de Lagos. Depois de ter conseguido um valiosíssimo saque em Cádis, que atacara no início desse mesmo mês de Julho, Essex ficou deveras desapontado com a pouca riqueza que encontrou em Faro, e terá sido por isso que, irritado, mandou atear uma série de fogos, que destruíram igrejas e conventos e deixaram a cidade em muito mau estado.Um “triste incidente que mancha a memória das boas relações que Portugal mantém com a Inglaterra desde a assinatura do Tratado de Windsor” em 1386, lê-se na petição enviada às instituições britânicas pela Faro 1540. E a própria Bodleian Library, num conjunto de documentos nos quais apresenta a sua colecção de incunábulos, refere o assalto a Faro como um “ataque corsário” (“buccaneering raid”). E diz expressamente que Essex “saqueou” (“looted”) a biblioteca do bispo.Caso a Universidade de Oxford se venha a sentir obrigada a responder a esta petição, é improvável que tente defender a legitimidade das acções do conde de Essex à luz do conflito anglo-espanhol. Mas há vários argumentos que pode esgrimir em favor da conservação dos livros em Oxford, e o texto de Peter Kingdon Booker já adianta alguns deles.
Booker conta que conheceu em 2007 uma inglesa, a quem trata apenas pelo nome próprio Dorothy, que já então andava a tentar convencer a Bodleian Library a devolver os livros saqueados por Essex em Faro. Dorothy cedeu a Booker as cartas que recebeu de um responsável da biblioteca de Oxford, nas quais este defende que a devolução generalizada de peças como estas levaria a que as bibliotecas e museus em todo o mundo entrassem num período de tumulto.Lembrando que os séculos XVI e XVII assistiram a grandes convulsões políticas, o bibliotecário, cujo nome Booker não cita, recorda que algumas das obras da biblioteca original de Oxford estão hoje em São Petersburgo ou em Roma. E conclui (na transcrição de Booker): “Se virmos estes volumes como parte de uma vasta colecção europeia, não pode ter importância em que zona da Europa estão, desde que sejam bem preservados, que a sua localização seja conhecida e que estejam disponíveis para consulta.” É claro que, estando assegurado que os livros disporiam de idênticas condições em Faro, se poderia observar que o mesmo argumento, na sua indiferença por comezinhas questões de propriedade, deveria levar os responsáveis pela Bodleian Library a considerar que não havia nenhum motivo importante para os manter em Oxford.Embora a biblioteca não pareça ter disponível no seu site uma lista dos livros provenientes da colecção do bispo, a consulta dos catálogos de incunábulos permite ir encontrando alguns, como uma compilação de obras de Guilelmus Alvernus – ou seja, o teólogo e filósofo escolástico Guillaume d’Auvergne (c.1180-1249), bispo de Paris –, cuja “encadernação do século XVI” tem gravadas, reza a respectiva descrição, “as armas de Fernando Martins Mascarenhas, bispo de Faro, às quais foi sobreposto, em ambas as capas, o brasão da Bodleian Library”. Outro exemplo é o das Visiones de Cataldus Parisius Siculus, um humanista siciliano que viveu e ensinou em Portugal a partir dos finais do século XV. O livro foi impresso em Lisboa, em 1500, pelo impressor e tradutor Valentim Fernandes, natural da Morávia. Chegado a Portugal em 1495, Fernandes, editor do livro de Marco Polo e correspondente de Albrecht Dürer, foi uma das figuras mais importantes dos primórdios do livro impresso em Portugal.Para lá da relevância da obra, este é um caso interessante por se tratar de um volume que não exibe as armas do bispo, mas que, mesmo assim, os próprios bibliotecários de Oxford admitem que possa ter-lhe pertencido. Os registos de doações indicam que a Bodleian terá recebido dois exemplares deste livro, mas apenas um chegou ao presente. E não se sabe se o que se conserva foi comprado com o auxílio de uma mecenas, Alice Chamberlain, ou se é “o exemplar de Fernando Martins Mascarenhas, bispo de Faro, doado por Robert Devereux”.Publicado por Eduardo Coelho em Autores e Livros
Published on January 21, 2014 04:47
Maria João Pires - No Silêncio de uma Nota
Maria João Pires está nomeada para os Grammy Award. Nunca nenhum português ganhou aquele que é o mais prestigiado prémio internacional da música. Vamos ver dia 26 de Janeiro, em Los Angeles, se a melhor intérprete mundial é portuguesa.
Veja aqui o documentário que a Panavideo realizou para a RTP2 sobre aquela que é considerada uma das melhores pianistas da atualidade a nível mundial.
Maria João Pires começou a tocar aos 3 anos, interpretando de memória peças que ouvia a sua irmã mais velha tocar. Aos 5 anos deu o seu primeiro concerto com obras de Bach e Mozart e aos 16 concluiu o curso de piano no Conservatório com nota 20 valores. Isto foi apenas o início de um percurso que a levou até à Alemanha, que a fez conquistar vários prémios e que a tornou numa das maiores intérpretes da atualidade.
Mas Maria João Pires não é de todo uma pianista convencional. Paralelamente à sua performance nas maiores salas de espetáculo mundiais, Maria João Pires conduz um trator, amassa pão e cultiva a sua ligação a Terra.
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Published on January 21, 2014 04:09
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