Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 46
January 28, 2014
A "tradição" das praxes universitárias.
Não acredito que jovens generosos e bem formados possam sentir prazer em humilhar outros moços mais novos, inseguros e mais fracos, em privado ou ainda menos em público.
O dux e os demais praxistas encarnam aquilo que há de pior na nossa sociedade - o poder bruto do mais forte ( o governante, o patrão, o dono) sobre o mais fraco ou menos privilegiado (o cidadão, o trabalhador, o escravo). Começa na Escola ou Universidade e continua vida fora nas empresas, nas fábricas, nos escritórios, etc. É de facto uma "tradição", no pior e mais repugnante sentido da palavra: entre aquele que pisa e humilha e o que é pisado e humilhado.
Não se pode falar de "integração" (é prostituir uma palavra nobre) nos casos destas praxes, das quais tantos alunos se têm queixado e muitíssimos mais calam e sofrem, desistindo mesmo da universidade.
Integrar é receber com amizade, com respeito com igualdade, com festa sem humilhação, sem cenas degradantes ou repugnantes, sem insultos.
O contrário é covardia, ignorância e baixeza moral, é pura indignidade, o oposto ao que deve ser uma Universidade e do que se espera dos seus professores e estudantes.
Assim, como se pode defender o indefensável?
Deana Barroqueiro

Meco: praxes na Lusófona eram violentasTVI mostra mais documentos que comprovam violência das praxes da Lusófona
A investigação da TVI encontrou documentos que comprovam a violência das praxes da Lusófona. De acordo com os documentos, houve alunos que desistiram do conselho da praxe, alegando esgotamento nervoso e indisponibilidade em fazerem mais sacrifícios. É o que refere um relatório datado de novembro de 2013, ou seja de pouco mais de um mês antes da tragédia do Meco, que fala na desistência de alunos da Lusófona nas praxes académicas.
Ao descontentamento e desconforto entre alunos, patente no relatório, o Conselho Oficial da Praxe Académica (COPA) responde com ameaças aos alunos, alegando que a permanência no curso podia ficar comprometida. Os documentos comprovam que a pressão exercida por parte do COPA, a alunos das praxes, é cada vez maior. A TVI sabe que, nos últimos meses de 2013, o COPA queixava-se de não conseguir angariar mais alunos das praxes e mostrava preocupação por isso mesmo. Tudo isso é evidente em vários relatórios e emails trocados entre o «dux», neste caso João Gouveia, o único sobrevivente da tragédia do Meco, e representantes de vários cursos.
Os documentos a que a TVI teve acesso são todos assinados com nome de código. Todos os relatórios, emails e mensagens de telemóvel são codificados dessa forma.
Os «pastranos» são todos os alunos que estão vinculados à praxe académica com duas matrículas na Universidade Lusófona. Na base da hierarquia estão as «bestas» e «caloiros», seguem-se os «pastranos», «doutores», «veteranos», o «dux» e finalmente o «honoris-dux». Todos os que morreram no Meco eram, na hierarquia das praxes, «doutores», cada um representava um curso. Só o «dux», neste caso João Gouveia, o único sobrevivente, não podia ser praxado.
O vídeo da Reportagem:http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade...
O dux e os demais praxistas encarnam aquilo que há de pior na nossa sociedade - o poder bruto do mais forte ( o governante, o patrão, o dono) sobre o mais fraco ou menos privilegiado (o cidadão, o trabalhador, o escravo). Começa na Escola ou Universidade e continua vida fora nas empresas, nas fábricas, nos escritórios, etc. É de facto uma "tradição", no pior e mais repugnante sentido da palavra: entre aquele que pisa e humilha e o que é pisado e humilhado.
Não se pode falar de "integração" (é prostituir uma palavra nobre) nos casos destas praxes, das quais tantos alunos se têm queixado e muitíssimos mais calam e sofrem, desistindo mesmo da universidade.
Integrar é receber com amizade, com respeito com igualdade, com festa sem humilhação, sem cenas degradantes ou repugnantes, sem insultos.
O contrário é covardia, ignorância e baixeza moral, é pura indignidade, o oposto ao que deve ser uma Universidade e do que se espera dos seus professores e estudantes.
Assim, como se pode defender o indefensável?
Deana Barroqueiro

Meco: praxes na Lusófona eram violentasTVI mostra mais documentos que comprovam violência das praxes da Lusófona
A investigação da TVI encontrou documentos que comprovam a violência das praxes da Lusófona. De acordo com os documentos, houve alunos que desistiram do conselho da praxe, alegando esgotamento nervoso e indisponibilidade em fazerem mais sacrifícios. É o que refere um relatório datado de novembro de 2013, ou seja de pouco mais de um mês antes da tragédia do Meco, que fala na desistência de alunos da Lusófona nas praxes académicas.
Ao descontentamento e desconforto entre alunos, patente no relatório, o Conselho Oficial da Praxe Académica (COPA) responde com ameaças aos alunos, alegando que a permanência no curso podia ficar comprometida. Os documentos comprovam que a pressão exercida por parte do COPA, a alunos das praxes, é cada vez maior. A TVI sabe que, nos últimos meses de 2013, o COPA queixava-se de não conseguir angariar mais alunos das praxes e mostrava preocupação por isso mesmo. Tudo isso é evidente em vários relatórios e emails trocados entre o «dux», neste caso João Gouveia, o único sobrevivente da tragédia do Meco, e representantes de vários cursos.
Os documentos a que a TVI teve acesso são todos assinados com nome de código. Todos os relatórios, emails e mensagens de telemóvel são codificados dessa forma.
Os «pastranos» são todos os alunos que estão vinculados à praxe académica com duas matrículas na Universidade Lusófona. Na base da hierarquia estão as «bestas» e «caloiros», seguem-se os «pastranos», «doutores», «veteranos», o «dux» e finalmente o «honoris-dux». Todos os que morreram no Meco eram, na hierarquia das praxes, «doutores», cada um representava um curso. Só o «dux», neste caso João Gouveia, o único sobrevivente, não podia ser praxado.
O vídeo da Reportagem:http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade...
Published on January 28, 2014 11:57
Vote for the best European destination - European Best Destinations
Há 2 destinos portugueses nomeados - Porto e Madeira. Podem votar até 12 de Fevereiro, para ajudar o nosso Turismo.

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Published on January 28, 2014 08:01
January 27, 2014
Mulheres inspiradoras
LUX WOMAN Fevereiro 2014: Sinto-me muito lisonjeada por ser considerada uma Mulher inspiradora! Muito obrigada, Isabel Canha e Maria Serina, pelo convite para o TEDxBelémWomen! E foi um privilégio estar com as seis companheiras, essas sim, verdadeiramente inspiradoras!
Published on January 27, 2014 17:50
January 25, 2014
No país da ciência, Crato seria Aziz
Editorial do Público, 25/01/2014
Com menos investimento diminuem os resultados. Dizer o contrário não resolve o problema
A comparação pode parecer exagerada, mas ao ouvir as declarações de Nuno Crato no Parlamento a propósito da situação da ciência é quase impossível não pensar numa das situações mais caricatas da história mundial recente: Tareq Aziz, vice de Saddam, a garantir ao mundo que o regime iraquiano estava intocável e de boa saúde quando já toda a gente sabia (e via, em directo) os bombardeamentos americanos sobre Bagdad.
Na ciência, o que se passou ontem foi, de certo modo, similar. Enquanto no debate público se avolumam vozes contra os cortes, umas mais agressivas e outras mais cautelosas, e na Universidade de Lisboa uma conferência organizada pela Fundação Manuel dos Santos juntava mais um punhado de vozes críticas ao coro de descontentes, o ministro da Educação e Ciência garantia no Parlamento que o Governo quer ciência “de grande qualidade”, que “o Governo não desinvestiu na ciência e continua a apostar na formação avançada” e que há um “programa de retenção dos melhores dos nossos cientistas e dos melhores investigadores internacionais.”
Tareq Aziz, se fosse português e a ciência fosse um país, não diria melhor. A diferença, aqui, é que seria ele próprio a comandar os bombardeiros e a dar ordem de bombardeamento. Porque proceder como procede o Governo nesta área, desinvestindo claramente e sugerindo que isso é investir ainda mais, equivale a dizer que estamos mais ricos estando mais pobres, porque aprendemos a viver com a nossa pobreza.
Não. Se o Governo quer, na verdade, sujeitar a ciência aos cortes anunciados, que afirme isso mesmo e não disfarce com piedosas intenções. Quem aguentou coisas tão graves também aguentará essa. Esqueça, nesse caso, é “a retenção dos melhores” e a “ciência de grande qualidade”, pois não basta desejá-la para ela acontecer. Se o investimento diminuir, os resultados também diminuirão. Dizer o contrário é, como fez Tareq Aziz, iludir sem nenhum proveito.
Com menos investimento diminuem os resultados. Dizer o contrário não resolve o problema
A comparação pode parecer exagerada, mas ao ouvir as declarações de Nuno Crato no Parlamento a propósito da situação da ciência é quase impossível não pensar numa das situações mais caricatas da história mundial recente: Tareq Aziz, vice de Saddam, a garantir ao mundo que o regime iraquiano estava intocável e de boa saúde quando já toda a gente sabia (e via, em directo) os bombardeamentos americanos sobre Bagdad. Na ciência, o que se passou ontem foi, de certo modo, similar. Enquanto no debate público se avolumam vozes contra os cortes, umas mais agressivas e outras mais cautelosas, e na Universidade de Lisboa uma conferência organizada pela Fundação Manuel dos Santos juntava mais um punhado de vozes críticas ao coro de descontentes, o ministro da Educação e Ciência garantia no Parlamento que o Governo quer ciência “de grande qualidade”, que “o Governo não desinvestiu na ciência e continua a apostar na formação avançada” e que há um “programa de retenção dos melhores dos nossos cientistas e dos melhores investigadores internacionais.”
Tareq Aziz, se fosse português e a ciência fosse um país, não diria melhor. A diferença, aqui, é que seria ele próprio a comandar os bombardeiros e a dar ordem de bombardeamento. Porque proceder como procede o Governo nesta área, desinvestindo claramente e sugerindo que isso é investir ainda mais, equivale a dizer que estamos mais ricos estando mais pobres, porque aprendemos a viver com a nossa pobreza.
Não. Se o Governo quer, na verdade, sujeitar a ciência aos cortes anunciados, que afirme isso mesmo e não disfarce com piedosas intenções. Quem aguentou coisas tão graves também aguentará essa. Esqueça, nesse caso, é “a retenção dos melhores” e a “ciência de grande qualidade”, pois não basta desejá-la para ela acontecer. Se o investimento diminuir, os resultados também diminuirão. Dizer o contrário é, como fez Tareq Aziz, iludir sem nenhum proveito.
Published on January 25, 2014 10:34
Falar de ciência, cultura e inovação com cortes em pano de fundo
ANA GERSCHENFELD, Público 25/01/2014
Durante uma conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em Lisboa, intervenientes criticaram os recentes cortes no financiamento do sistema científico nacional.
“Não houve por aí um sítio onde o número de estudantes de doutoramento caiu 40%?” A pergunta, irónica, veio do biólogo britânico Paul Nurse, prémio Nobel da Medicina e presidente da Royal Society, durante a palestra, intitulada “Fazer funcionar a ciência”, que proferiu na sexta-feira na Universidade de Lisboa (UL).
Recorde-se que, como se soube há dias, o número de bolsas de doutoramento atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) sofreu uma queda de 40% em relação ao ano anterior e que o das bolsas de pós-doutoramento diminuiu 65%.
Nurse não foi o primeiro nem o último a referir-se directa e duramente, ao longo de uma conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel do Santos (FFMS) sobre o tema “ciência, cultura e inovação”, aos recentes cortes do financiamento público da ciência em Portugal.
Logo no início, enquanto dava as boas-vindas aos intervenientes perante uma sala cheia, o reitor da UL, António Cruz Serra, evocou durante alguns minutos “o enorme ataque às universidades e o desinvestimento na ciência”, achando que “as circunstâncias exigiam que fizesse este discurso”. Também o sociólogo António Barreto, presidente da FFMS, argumentou na sua curta intervenção que “embora nada nem ninguém escape aos cortes, o que em certo sentido é justo, a austeridade excessiva pode causar mais estragos do que benefícios”.
Mais tarde, Paul Nurse faria notar ainda que “quando se corta do lado das descobertas científicas, rapidamente se perde a inovação a curto prazo”, qualificando quem acredita o contrário de “ingénuo”.
José Brandão de Brito, do Instituto Superior de Economia e Gestão, foi outro orador que não quis deixar de salientar oportuna a realização da conferência num momento em que a ciência “acaba de receber um enorme e violento golpe – talvez o maior desde que recuperámos a democracia em 1974”.
Já à margem do evento, Carlos Salema, que foi presidente da JNICT (antecessora da FCT) entre 1989 e 1992, disse ao PÚBLICO que o que está a acontecer é “sobretudo uma alteração profunda” de uma situação que já existia, mas que está agora a ser feita “com pouco cuidado”. “Claro que não concordo!”, exclamou. “Passar de mil bolsas [de doutouramento] para 300!”.
Graça Carvalho, ex-ministra da Ciência de Durão Barroso e hoje eurodeputada, mostrou-se mais moderada, mas disse-nos, contudo, que o corte “deveria ter sido mais gradual” e que “em altura de crise faz mais sentido continuar com mais bolsas individuais do que ter tantos cursos doutorais”, fazendo referência às novas bolsas criadas pelo Governo em 2012 e que são atribuídas pelas universidades aos seus candidatos a doutoramento. “É mais barato e [as bolsas individuais] chegam mais depressa às pessoas.”
Elvira Fortunato, da Universidade Nova de Lisboa, desenvolveu há uns anos o primeiro transístor em papel. E a área em que trabalha – engenharia dos materiais – foi considerada pela União Europeia como uma das mais competitivas em Portugal. Porém, também não escapou aos cortes. “Acho que o corte foi muito drástico”, disse-nos. “E foi transversal”, acrescenta – em todas as áreas, de forma indiscriminada. “No ano passado, a área [dos materiais] teve 54 bolsas de doutoramento; este ano foram nove, com a desculpa de que havia os planos [bolsas] doutorais.” Mas essas são ainda menos – apenas seis – o que corresponde a uma quebra de mais de 70%.
Durante uma conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em Lisboa, intervenientes criticaram os recentes cortes no financiamento do sistema científico nacional.
“Não houve por aí um sítio onde o número de estudantes de doutoramento caiu 40%?” A pergunta, irónica, veio do biólogo britânico Paul Nurse, prémio Nobel da Medicina e presidente da Royal Society, durante a palestra, intitulada “Fazer funcionar a ciência”, que proferiu na sexta-feira na Universidade de Lisboa (UL). Recorde-se que, como se soube há dias, o número de bolsas de doutoramento atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) sofreu uma queda de 40% em relação ao ano anterior e que o das bolsas de pós-doutoramento diminuiu 65%.
Nurse não foi o primeiro nem o último a referir-se directa e duramente, ao longo de uma conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel do Santos (FFMS) sobre o tema “ciência, cultura e inovação”, aos recentes cortes do financiamento público da ciência em Portugal.
Logo no início, enquanto dava as boas-vindas aos intervenientes perante uma sala cheia, o reitor da UL, António Cruz Serra, evocou durante alguns minutos “o enorme ataque às universidades e o desinvestimento na ciência”, achando que “as circunstâncias exigiam que fizesse este discurso”. Também o sociólogo António Barreto, presidente da FFMS, argumentou na sua curta intervenção que “embora nada nem ninguém escape aos cortes, o que em certo sentido é justo, a austeridade excessiva pode causar mais estragos do que benefícios”.
Mais tarde, Paul Nurse faria notar ainda que “quando se corta do lado das descobertas científicas, rapidamente se perde a inovação a curto prazo”, qualificando quem acredita o contrário de “ingénuo”.
José Brandão de Brito, do Instituto Superior de Economia e Gestão, foi outro orador que não quis deixar de salientar oportuna a realização da conferência num momento em que a ciência “acaba de receber um enorme e violento golpe – talvez o maior desde que recuperámos a democracia em 1974”.
Já à margem do evento, Carlos Salema, que foi presidente da JNICT (antecessora da FCT) entre 1989 e 1992, disse ao PÚBLICO que o que está a acontecer é “sobretudo uma alteração profunda” de uma situação que já existia, mas que está agora a ser feita “com pouco cuidado”. “Claro que não concordo!”, exclamou. “Passar de mil bolsas [de doutouramento] para 300!”.
Graça Carvalho, ex-ministra da Ciência de Durão Barroso e hoje eurodeputada, mostrou-se mais moderada, mas disse-nos, contudo, que o corte “deveria ter sido mais gradual” e que “em altura de crise faz mais sentido continuar com mais bolsas individuais do que ter tantos cursos doutorais”, fazendo referência às novas bolsas criadas pelo Governo em 2012 e que são atribuídas pelas universidades aos seus candidatos a doutoramento. “É mais barato e [as bolsas individuais] chegam mais depressa às pessoas.”
Elvira Fortunato, da Universidade Nova de Lisboa, desenvolveu há uns anos o primeiro transístor em papel. E a área em que trabalha – engenharia dos materiais – foi considerada pela União Europeia como uma das mais competitivas em Portugal. Porém, também não escapou aos cortes. “Acho que o corte foi muito drástico”, disse-nos. “E foi transversal”, acrescenta – em todas as áreas, de forma indiscriminada. “No ano passado, a área [dos materiais] teve 54 bolsas de doutoramento; este ano foram nove, com a desculpa de que havia os planos [bolsas] doutorais.” Mas essas são ainda menos – apenas seis – o que corresponde a uma quebra de mais de 70%.
Published on January 25, 2014 10:26
January 24, 2014
Educação, ciência e economia: um ministro pouco sábio
Carlos Fiolhais, Público 22/01/2014 - 02:08
O problema de ligação das empresas com a investigação não se resolve com menos ciência, mas sim com mais ciência.
Vários têm sido, no Governo, os candidatos ao título de campeão da asneira. Rui Machete tem-se esforçado, mas, não querendo ficar atrás dessa figura maior do PSD, um político do CDS, António Pires de Lima, ministro da Economia (dividindo a pasta com Paulo Portas), resolveu entrar na competição quando defendeu há meses a introdução nas escolas básicas e secundárias de uma disciplina obrigatória de Empreendedorismo. A ideia não é só dele: é parte da “Estratégia de Fomento Industrial” aprovada em Conselho de Ministros. A escola, pela voz do ministro da Economia e com a aprovação de todo o Governo, tem de estar ao serviço dos negócios.
Ora isto é um disparate. A escola tem de formar para a vida, transmitindo conhecimentos, moldando atitudes e inculcando valores. E a vida está muito longe de se restringir à gestão de empresas. Pires de Lima, no seu mundo Superbock, acha que a escola tem de formar muitos meninos e meninas para alimentar os quadros empresariais. Olha para uma criança do 1.º ciclo e vê nela um gestor em potência. Não lhe interessa se ela vai dominar o Português, a Matemática ou a Física, para as quais as actuais horas lectivas parecem não chegar: tem é de dominar o Empreendedorismo. Não sabemos que disciplina irá ele extinguir para acrescentar a nova. E falta-nos saber que parte do orçamento do seu ministério irá servir para pagar aos professores de Empreendedorismo, quiçá empresários falidos que ambicionam um emprego escolar. Ou saber se vai apelar aos empresários bem-sucedidos para investirem na contratação de docentes para as nossas escolas.
Não contente com esse disparate, o ministro acrescentou outro há dias. Afirmou que não se pode “alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real”. E acrescentou: “Uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo.” Ficámos a saber que não é só a Educação que tem de se orientar para as empresas, também a Ciência tem de o fazer. Percebemos agora a razão dos cortes na ciência, com a redução drástica do número de bolsas: os investigadores não estão virados para o mundo das empresas. Estão a estudar linguística, topologia ou óptica quântica, em vez de se virarem para o fomento da indústria cervejeira. O ministro Pires de Lima vê um doutorando e acha um desperdício ele não estar a desenvolver estudos na área do engarrafamento. Ficamos expectantes quanto às verbas que o Ministério da Economia vai proporcionar à ciência aplicada ou os benefícios fiscais que vai conceder aos empresários que contratem cientistas utilitários.
O ministro da Economia pouco sabe de Educação e de Ciência. E, absorto como tem andado nos seus negócios (tanto das empresas como da política, os dois entre nós muito bem misturados), também sabe pouco da vida real. Se soubesse, saberia, por exemplo, o que recordou há semanas no Porto, numa Conferência sobre Ciência e Economia, o físico espanhol Pedro Echenique. Em 1995, quando se discutia nos Estados Unidos uma diminuição do financiamento público à investigação científica, os CEO de 15 das principais empresas de base científico-tecnológica, como a IBM e a General Electric, subscreveram uma carta aberta pedindo o reforço da ciência fundamental. Queriam que o Congresso continuasse o apoio "a um vibrante programa de investigação universitária com visão de futuro".
Acontece que o futuro costuma chegar pela mão de cientistas inovadores, em geral muito longe da “economia real”. Não faltam exemplos. O laser foi inventado há mais de 50 anos, numa equipa de ciência fundamental (ora cá está: a óptica quântica!) que trabalhava nos Bell Labs. Na altura foi chamado uma invenção à procura de aplicações. Hoje é o que se sabe: está por todo o lado, nos cabos ópticos, nos CD, nas cirurgias, no corte de materiais, nas luzes das discotecas e até nas caixas de supermercados, por onde passam os códigos de barras das cervejas. Com a orientação de Pires de Lima jamais teria havido lasers.
Existe, de facto, em Portugal um problema de ligação das empresas com a investigação. Mas ele não se resolve com a diminuição da investigação fundamental. Não se resolve com menos ciência, mas sim com mais ciência. Precisamos, em particular, que os gestores percebam o valor da ciência, tal como os seus congéneres norte-americanos, e invistam nela, apoiando os programas públicos de ensino avançado e pesquisa, e contratando, com o seu próprio dinheiro, doutores e pós-doutores. Não precisamos de economias na ciência, mas sim de pessoas na economia que apostem na ciência.
Tudo isto é sabido pelo ministro Nuno Crato. Ele não poderá explicar ao seu colega?
Professor universitário, tcarlos@uc.pt
O problema de ligação das empresas com a investigação não se resolve com menos ciência, mas sim com mais ciência.
Vários têm sido, no Governo, os candidatos ao título de campeão da asneira. Rui Machete tem-se esforçado, mas, não querendo ficar atrás dessa figura maior do PSD, um político do CDS, António Pires de Lima, ministro da Economia (dividindo a pasta com Paulo Portas), resolveu entrar na competição quando defendeu há meses a introdução nas escolas básicas e secundárias de uma disciplina obrigatória de Empreendedorismo. A ideia não é só dele: é parte da “Estratégia de Fomento Industrial” aprovada em Conselho de Ministros. A escola, pela voz do ministro da Economia e com a aprovação de todo o Governo, tem de estar ao serviço dos negócios.Ora isto é um disparate. A escola tem de formar para a vida, transmitindo conhecimentos, moldando atitudes e inculcando valores. E a vida está muito longe de se restringir à gestão de empresas. Pires de Lima, no seu mundo Superbock, acha que a escola tem de formar muitos meninos e meninas para alimentar os quadros empresariais. Olha para uma criança do 1.º ciclo e vê nela um gestor em potência. Não lhe interessa se ela vai dominar o Português, a Matemática ou a Física, para as quais as actuais horas lectivas parecem não chegar: tem é de dominar o Empreendedorismo. Não sabemos que disciplina irá ele extinguir para acrescentar a nova. E falta-nos saber que parte do orçamento do seu ministério irá servir para pagar aos professores de Empreendedorismo, quiçá empresários falidos que ambicionam um emprego escolar. Ou saber se vai apelar aos empresários bem-sucedidos para investirem na contratação de docentes para as nossas escolas.
Não contente com esse disparate, o ministro acrescentou outro há dias. Afirmou que não se pode “alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real”. E acrescentou: “Uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo.” Ficámos a saber que não é só a Educação que tem de se orientar para as empresas, também a Ciência tem de o fazer. Percebemos agora a razão dos cortes na ciência, com a redução drástica do número de bolsas: os investigadores não estão virados para o mundo das empresas. Estão a estudar linguística, topologia ou óptica quântica, em vez de se virarem para o fomento da indústria cervejeira. O ministro Pires de Lima vê um doutorando e acha um desperdício ele não estar a desenvolver estudos na área do engarrafamento. Ficamos expectantes quanto às verbas que o Ministério da Economia vai proporcionar à ciência aplicada ou os benefícios fiscais que vai conceder aos empresários que contratem cientistas utilitários.
O ministro da Economia pouco sabe de Educação e de Ciência. E, absorto como tem andado nos seus negócios (tanto das empresas como da política, os dois entre nós muito bem misturados), também sabe pouco da vida real. Se soubesse, saberia, por exemplo, o que recordou há semanas no Porto, numa Conferência sobre Ciência e Economia, o físico espanhol Pedro Echenique. Em 1995, quando se discutia nos Estados Unidos uma diminuição do financiamento público à investigação científica, os CEO de 15 das principais empresas de base científico-tecnológica, como a IBM e a General Electric, subscreveram uma carta aberta pedindo o reforço da ciência fundamental. Queriam que o Congresso continuasse o apoio "a um vibrante programa de investigação universitária com visão de futuro".
Acontece que o futuro costuma chegar pela mão de cientistas inovadores, em geral muito longe da “economia real”. Não faltam exemplos. O laser foi inventado há mais de 50 anos, numa equipa de ciência fundamental (ora cá está: a óptica quântica!) que trabalhava nos Bell Labs. Na altura foi chamado uma invenção à procura de aplicações. Hoje é o que se sabe: está por todo o lado, nos cabos ópticos, nos CD, nas cirurgias, no corte de materiais, nas luzes das discotecas e até nas caixas de supermercados, por onde passam os códigos de barras das cervejas. Com a orientação de Pires de Lima jamais teria havido lasers.
Existe, de facto, em Portugal um problema de ligação das empresas com a investigação. Mas ele não se resolve com a diminuição da investigação fundamental. Não se resolve com menos ciência, mas sim com mais ciência. Precisamos, em particular, que os gestores percebam o valor da ciência, tal como os seus congéneres norte-americanos, e invistam nela, apoiando os programas públicos de ensino avançado e pesquisa, e contratando, com o seu próprio dinheiro, doutores e pós-doutores. Não precisamos de economias na ciência, mas sim de pessoas na economia que apostem na ciência.
Tudo isto é sabido pelo ministro Nuno Crato. Ele não poderá explicar ao seu colega?
Professor universitário, tcarlos@uc.pt
Published on January 24, 2014 17:10
Os golfinhos voltaram ao Tejo ou estão só de passagem?
Marisa Soares Público 24/01/2014 - 09:05
Biólogos vão estudar os vários avistamentos destes cetáceos no rio desde meados do século XIX. Número de observações tem aumentado nos últimos anos e os investigadores querem saber porquê.
De cada vez que alguém vê e fotografa golfinhos a nadar no estuário do Tejo, o telemóvel da bióloga Cristina Brito toca. São os jornalistas a quererem saber se, afinal, os golfinhos estão de regresso ao estuário e, se sim, o que os traz de volta. A resposta sai com dúvidas. “Não sabemos muito bem o que dizer porque não há dados muito concretos e científicos”, admite a investigadora.
Perante esta incerteza, e como os avistamentos destes cetáceos no Tejo se multiplicaram nos últimos anos, os investigadores da empresa Escola de Mar e da Associação para as Ciências do Mar (uma organização sem fins lucrativos que promove a investigação do meio marinho, à qual Cristina Brito preside), decidiram mergulhar na história e procurar respostas. Através do projecto “Conservação e golfinhos no estuário do Tejo: realidade, imaginário ou mito?”, vão tentar perceber se os golfinhos estão a voltar a uma antiga área de residência ou se são visitantes ocasionais numa zona onde há hoje mais comida disponível e melhor qualidade ambiental, em resultado das intervenções ao nível do saneamento na área metropolitana de Lisboa.
“Vamos analisar dados históricos desde meados do século XIX, através dos registos dos naturalistas e das notícias de jornais, para perceber se os golfinhos estão a voltar a um ambiente no qual já viveram ou se estão apenas de passagem”, explica Cristina Brito, que coordena o projecto. Numa segunda fase, serão realizadas saídas de campo para “observações de oportunidade”. “Iremos para o estuário com empresas turísticas e que fazem transporte fluvial”, para tentar observar golfinhos, esclarece esta especialista em mamíferos marinhos. Os pescadores e outros utilizadores do estuário também serão ouvidos neste estudo.
Os avistamentos mais recentes são de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), da sub-espécie residente no estuário do Sado, e de golfinhos-comuns (Delphinus delphis), mais frequentes nas zonas costeiras. "Mas há registo de avistamentos até em Vila Franca de Xira", nota a bióloga. A especialista lembra que o número de avistamentos, que parece mais significativo nos últimos "dois ou três anos", pode estar simplesmente relacionado com uma maior atenção dada pela população e pelos próprios meios de comunicação a esta espécie.
Golfinhos toleram poluição
O objectivo, continua a investigadora, é “compilar os diversos registos [de observações] numa escala temporal e perceber se há um padrão que indique eles estão a voltar”. Se esse regresso se confirmar, depois é preciso saber o motivo: será a melhoria da qualidade da água, motivada pelas obras que permitiram, em Janeiro de 2011, deixar de lançar no rio os esgotos de 120 mil habitantes de Lisboa?
“Não é fácil relacionar directamente uma coisa com a outra”, adverte Cristina Brito. Isto porque os golfinhos não são uma espécie indicadora da qualidade da água – toleram facilmente sítios poluídos, já que acumulam a poluição na gordura corporal. No entanto, nota a bióloga, pode haver uma relação indirecta. “Num ecossistema com melhor qualidade há naturalmente mais peixes, o que atrai mais golfinhos.”
O estudo, que já começou no ano passado e deverá estar concluído no final de 2015, tem o apoio do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa. Mas os investigadores querem também envolver os municípios. As câmaras de Almada e Cascais vão apoiar financeiramente o projecto, as de Alcochete e do Seixal disponibilizam apoio logístico, e outros municípios que fazem fronteira com o maior estuário da Europa Ocidental serão ainda contactados.
A Câmara de Cascais explica que este apoio está inserido num “esforço” que a autarquia está a fazer desde 2008 com vista à caracterização e monitorização da zona costeira, através do programa Aquasig Cascais.
Durante a investigação, serão apresentadas conclusões provisórias em palestras e em actividades de sensibilização ambiental – outro dos objectivos do projecto.
Biólogos vão estudar os vários avistamentos destes cetáceos no rio desde meados do século XIX. Número de observações tem aumentado nos últimos anos e os investigadores querem saber porquê.
De cada vez que alguém vê e fotografa golfinhos a nadar no estuário do Tejo, o telemóvel da bióloga Cristina Brito toca. São os jornalistas a quererem saber se, afinal, os golfinhos estão de regresso ao estuário e, se sim, o que os traz de volta. A resposta sai com dúvidas. “Não sabemos muito bem o que dizer porque não há dados muito concretos e científicos”, admite a investigadora.Perante esta incerteza, e como os avistamentos destes cetáceos no Tejo se multiplicaram nos últimos anos, os investigadores da empresa Escola de Mar e da Associação para as Ciências do Mar (uma organização sem fins lucrativos que promove a investigação do meio marinho, à qual Cristina Brito preside), decidiram mergulhar na história e procurar respostas. Através do projecto “Conservação e golfinhos no estuário do Tejo: realidade, imaginário ou mito?”, vão tentar perceber se os golfinhos estão a voltar a uma antiga área de residência ou se são visitantes ocasionais numa zona onde há hoje mais comida disponível e melhor qualidade ambiental, em resultado das intervenções ao nível do saneamento na área metropolitana de Lisboa.
“Vamos analisar dados históricos desde meados do século XIX, através dos registos dos naturalistas e das notícias de jornais, para perceber se os golfinhos estão a voltar a um ambiente no qual já viveram ou se estão apenas de passagem”, explica Cristina Brito, que coordena o projecto. Numa segunda fase, serão realizadas saídas de campo para “observações de oportunidade”. “Iremos para o estuário com empresas turísticas e que fazem transporte fluvial”, para tentar observar golfinhos, esclarece esta especialista em mamíferos marinhos. Os pescadores e outros utilizadores do estuário também serão ouvidos neste estudo.
Os avistamentos mais recentes são de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), da sub-espécie residente no estuário do Sado, e de golfinhos-comuns (Delphinus delphis), mais frequentes nas zonas costeiras. "Mas há registo de avistamentos até em Vila Franca de Xira", nota a bióloga. A especialista lembra que o número de avistamentos, que parece mais significativo nos últimos "dois ou três anos", pode estar simplesmente relacionado com uma maior atenção dada pela população e pelos próprios meios de comunicação a esta espécie.
Golfinhos toleram poluição
O objectivo, continua a investigadora, é “compilar os diversos registos [de observações] numa escala temporal e perceber se há um padrão que indique eles estão a voltar”. Se esse regresso se confirmar, depois é preciso saber o motivo: será a melhoria da qualidade da água, motivada pelas obras que permitiram, em Janeiro de 2011, deixar de lançar no rio os esgotos de 120 mil habitantes de Lisboa?
“Não é fácil relacionar directamente uma coisa com a outra”, adverte Cristina Brito. Isto porque os golfinhos não são uma espécie indicadora da qualidade da água – toleram facilmente sítios poluídos, já que acumulam a poluição na gordura corporal. No entanto, nota a bióloga, pode haver uma relação indirecta. “Num ecossistema com melhor qualidade há naturalmente mais peixes, o que atrai mais golfinhos.”
O estudo, que já começou no ano passado e deverá estar concluído no final de 2015, tem o apoio do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa. Mas os investigadores querem também envolver os municípios. As câmaras de Almada e Cascais vão apoiar financeiramente o projecto, as de Alcochete e do Seixal disponibilizam apoio logístico, e outros municípios que fazem fronteira com o maior estuário da Europa Ocidental serão ainda contactados.
A Câmara de Cascais explica que este apoio está inserido num “esforço” que a autarquia está a fazer desde 2008 com vista à caracterização e monitorização da zona costeira, através do programa Aquasig Cascais.
Durante a investigação, serão apresentadas conclusões provisórias em palestras e em actividades de sensibilização ambiental – outro dos objectivos do projecto.
Published on January 24, 2014 16:51
Autarquia exige contrapartidas por retirada de fósseis em Porto de Mós
USA e MARISA SOARES 17/01/2014 - 11:16Instituto de Conservação da Natureza e Florestas retirou os vestígios da praia jurássica encontrados numa antiga pedreira, para um estudo mais aprofundado.
A Junta Freguesia de São Bento, concelho de Porto de Mós (distrito de Leiria), onde foram descobertos vestígios de uma praia jurássica, reclama contrapartidas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que autorizou a retirada de fósseis do local."A junta não admite que esvaziem a freguesia do seu património sem que seja criada uma contrapartida válida. Se os fósseis aqui encontrados são importantes e merecem ser estudados e guardados em locais acessíveis aos investigadores, o local de onde são provenientes também deve ser valorizado", lê-se num comunicado emitido pela junta, citado pela Lusa.
Os fósseis foram encontrados há alguns meses numa zona de maciço calcário na antiga Pedreira da Ladeira, naquela freguesia, em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. Perto de 60 fósseis de equinodermes como ouriços-do-mar, estrelas-do-mar e lírios-do-mar, bem como do rasto de ondas e de animais marinhos, que terão cerca de 170 milhões de anos.
O ICNF autorizou a remoção destes fósseis por solicitação do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, justificando a decisão com a necessidade de os salvaguardar da acção humana e meteorológica, dado que podem constituir, do ponto de vista científico, "exemplares-tipo", isto é, exemplares importantes na definição de uma nova espécie ou no "muito melhor" conhecimento das espécies existentes.
Os presidentes da Junta de São Bento e da Câmara de Porto de Mós expressaram "indignação", acusando o instituto de ter agido "à revelia", o que este negou. Desde que a descoberta foi divulgada na comunicação social, o local tem sido visitado por dezenas de pessoas, sobretudo aos fins-de-semana, pelo que os autarcas acreditam que este achado pode ser uma mais-valia para a economia da região.
No comunicado da junta, citado pela Lusa, esta apela a que os locais onde estavam os fósseis sejam "preenchidos por réplicas fiéis aos originais", por "respeito pelo local e pela população". Pede também uma intervenção "para potenciar turisticamente a praia jurássica". A junta sugere, ainda, a melhoria das vias de comunicação e a instalação de sinalética, a criação de circuitos de observação dos fósseis no interior da antiga pedreira e a instalação de painéis explicativos.
Apesar de estar indignada pela forma como decorreu a retirada dos fósseis, a junta de freguesia compreende que os vestígios paleontológicos "merecem o estudo de vários especialistas" e admite mesmo que, "para o estudo ser acreditado, seja necessário recolher os fósseis do local de origem". Contudo, o executivo realça não ser "fácil explicar à população" esta situação, que se agrava porque o "local foi esventrado, deixando um vazio para os observadores e um cenário de destruição", acrescentando temer que "possa contribuir para o aparecimento de comportamentos" que coloquem em risco o património, "nomeadamente através da recolha furtiva de fósseis que ainda permanecem no local".
sta semana, o ICNF assegurou que "há todo o interesse em que as réplicas destes fósseis fiquem disponíveis e expostas num espaço que a câmara considere adequado para o efeito", considerando "igualmente relevante" a promoção de parceria com a câmara e a junta "visando a requalificação e musealização do local, no âmbito de um projecto de conservação, valorização e divulgação deste património paleontológico".
O presidente da junta, Luís Cordeiro, disse à Lusa que espera "quanto antes" a execução deste projecto, para evitar o eventual risco de se perder património, manifestando o desejo de que esta seja uma "prioridade" do ICNF.
Published on January 24, 2014 07:32
A nebulosa e os seus facilitadores
por JOSÉ MANUEL PUREZA, 17 Janeiro 2014
Robert Cox, académico canadiano da área de Relações Internacionais, sugere que a governação global efectivamente existente tem como protagonista uma rede de contornos difusos, envolvendo empresas, governos, fazedores de opinião e operadores institucionais dos mercados mais influentes em cada momento. Cox chama sugestivamente a essa entidade "a nebulosa", pondo assim em destaque a falta de nitidez da sua institucionalidade e dos seus canais de expressão.
A nebulosa produz pensamento, define padrões de política e recruta os melhores quadros para as pôr em prática. Em bom rigor, os governos nacionais são apenas os intérpretes de fim de linha deste modo de governar o mundo. Com uma influência muito mais forte na fabricação de decisões alinhadas por padrões de alcance internacional está esse grupo estranho que dá pelo nome de "facilitadores". Os facilitadores são os intermediários entre a nebulosa e as instâncias locais de decisão. São tipos cinzentos, que se movem discreta e habilmente nos círculos do poder, fazendo um vaivém permanente entre o mundo dos negócios e o mundo da política, que vêm à boca de cena debitar normas de boa governação carregadas de princípios de ética pública ao mesmo tempo que, na sombra dos seus escritórios, preparam diplomas legislativos destinados a favorecer interesse particulares que lhes pagam principescamente para o efeito. Os facilitadores facilitam, claro. Mas facilitam sempre o mesmo e para os mesmos.
A porosidade entre os negócios e a política tem uma escala nacional conhecida, que nem a institucionalização do lobbying nem a fixação de um período de nojo mínimo conseguirá prevenir. As regras formais valem pouco diante de uma realidade informal feita de cumplicidades fundas traduzidas na defesa de interesses privados através de cargos públicos. Os que passam subitamente do governo onde tiveram a tutela de uma área para um operador privado dessa área são apenas o rosto mais obsceno de uma realidade tentacular muito mais complexa. Na verdade, ao exporem-se de modo tão aberto, esses facilitadores complicam a vida aos seus mentores mais do que facilitam.
Na promiscuidade entre a política e os negócios como no futebol, o campeonato português é subalterno. Há uma champions league com o estrelato político e empresarial - e salarial, já agora...- onde pontuam figuras como Mário Draghi - que ziguezagueou entre o Banco de Itália, o Goldman Sachs e o Banco Central Europeu - Peter Sutherland, com um percurso entre o Royal Bank of Scotland, a Comissão Europeia e o Goldman Sachs - ou Robert Zoellick, que transitou de funções de direção do Goldman Sachs para o Banco Mundial, regressando depois ao Goldman Sachs.
Pelos exemplos dados, salta à vista que o banco Goldman Sachs é um clube dessa champions league que é a nebulosa da governação global. Esse "nicho de um poder mundial não eleito" - como certeiramente o designou Viriato Soromenho Marques - faz da governação global a sua especialização de mercado. Uma governação global feita de bolhas especulativas, de cumplicidade com o falseamento de contas públicas, de promiscuidade entre governos e negócios, de manipulação dos mercados cuja liberdade e transparência apregoa. Foi para esse clube que José Luís Arnaut, deputado do PSD, advogado de várias empresas privatizadas por governos que apoiou politicamente, ex-ministro, foi agora recrutado. No futebol, como na facilitação de um relacionamento "agradável e útil" entre o mundo dos negócios e a política, os clubes da champions estão atentos aos campeonatos distritais. E recrutam quem neles sobressai.
Robert Cox, académico canadiano da área de Relações Internacionais, sugere que a governação global efectivamente existente tem como protagonista uma rede de contornos difusos, envolvendo empresas, governos, fazedores de opinião e operadores institucionais dos mercados mais influentes em cada momento. Cox chama sugestivamente a essa entidade "a nebulosa", pondo assim em destaque a falta de nitidez da sua institucionalidade e dos seus canais de expressão.A nebulosa produz pensamento, define padrões de política e recruta os melhores quadros para as pôr em prática. Em bom rigor, os governos nacionais são apenas os intérpretes de fim de linha deste modo de governar o mundo. Com uma influência muito mais forte na fabricação de decisões alinhadas por padrões de alcance internacional está esse grupo estranho que dá pelo nome de "facilitadores". Os facilitadores são os intermediários entre a nebulosa e as instâncias locais de decisão. São tipos cinzentos, que se movem discreta e habilmente nos círculos do poder, fazendo um vaivém permanente entre o mundo dos negócios e o mundo da política, que vêm à boca de cena debitar normas de boa governação carregadas de princípios de ética pública ao mesmo tempo que, na sombra dos seus escritórios, preparam diplomas legislativos destinados a favorecer interesse particulares que lhes pagam principescamente para o efeito. Os facilitadores facilitam, claro. Mas facilitam sempre o mesmo e para os mesmos.
A porosidade entre os negócios e a política tem uma escala nacional conhecida, que nem a institucionalização do lobbying nem a fixação de um período de nojo mínimo conseguirá prevenir. As regras formais valem pouco diante de uma realidade informal feita de cumplicidades fundas traduzidas na defesa de interesses privados através de cargos públicos. Os que passam subitamente do governo onde tiveram a tutela de uma área para um operador privado dessa área são apenas o rosto mais obsceno de uma realidade tentacular muito mais complexa. Na verdade, ao exporem-se de modo tão aberto, esses facilitadores complicam a vida aos seus mentores mais do que facilitam.
Na promiscuidade entre a política e os negócios como no futebol, o campeonato português é subalterno. Há uma champions league com o estrelato político e empresarial - e salarial, já agora...- onde pontuam figuras como Mário Draghi - que ziguezagueou entre o Banco de Itália, o Goldman Sachs e o Banco Central Europeu - Peter Sutherland, com um percurso entre o Royal Bank of Scotland, a Comissão Europeia e o Goldman Sachs - ou Robert Zoellick, que transitou de funções de direção do Goldman Sachs para o Banco Mundial, regressando depois ao Goldman Sachs.
Pelos exemplos dados, salta à vista que o banco Goldman Sachs é um clube dessa champions league que é a nebulosa da governação global. Esse "nicho de um poder mundial não eleito" - como certeiramente o designou Viriato Soromenho Marques - faz da governação global a sua especialização de mercado. Uma governação global feita de bolhas especulativas, de cumplicidade com o falseamento de contas públicas, de promiscuidade entre governos e negócios, de manipulação dos mercados cuja liberdade e transparência apregoa. Foi para esse clube que José Luís Arnaut, deputado do PSD, advogado de várias empresas privatizadas por governos que apoiou politicamente, ex-ministro, foi agora recrutado. No futebol, como na facilitação de um relacionamento "agradável e útil" entre o mundo dos negócios e a política, os clubes da champions estão atentos aos campeonatos distritais. E recrutam quem neles sobressai.
Published on January 24, 2014 04:47
Os anos devastadores do eduquês - outra prova
por GUILHERME VALENTE**, 17 Janeiro 2014

Os portugueses com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade, à justiça e aos valores democráticos. Esta é apenas uma das conclusões do estudo da Universidade Católica e do Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano" (notícia no Público de 15/01/14). E, diz ainda o estudo, também menos felizes.
Foi, como se sabe, o que, infelizmente, previmos, que andámos a dizer há mais de vinte anos. Está escrito nos inúmeros artigos que publiquei, registado no meu livro com um título, Os Anos Devastadores do Eduquês*, expressivamente convergente com os resultados do estudo agora divulgado. Quanto mais tempo na escola que temos tido, pior.
As consequências destes anos de domínio da ideologia e das práticas educativas que tenho designado com a palavra "eduquês" eram já bem visíveis para quem pudesse olhar com espírito livre. Desde logo, em várias manifestações na escola, e, depois, na sociedade, da política à economia, manifestações que cada vez são mais impressionantes.
A solidariedade, o seu sentimento e necessidade, a felicidade, seguramente, só podem assentar nos grandes valores e nas manifestações mais elevadas da cultura, do conhecimento, da religião, do altruísmo, da generosidade humanos. Valores, conhecimento e cultura que, pelo contrário, foram desvalorizados, durante todos estes anos, por esta escola, dita moderna, mas pós-moderna, das "ciências" da educação.
Escola dos "chavões" da "aula como continuação do recreio", do "aprender a aprender", do "aprender sem esforço", das avaliações a fingir, cujos resultados, mesmo assim, esconderam ao País enquanto os deixámos; do "ensino centrado no aluno", que, como demonstrámos, não queria dizer "ao serviço do aluno", como devia querer ser, mas sim "o ensino definido pelo aluno", imagine-se. Escola marcada (até David Justino e José Sócrates, registe-se) pela estigmatização do ensino técnico, escola da grande mentira da "inclusão" - como pode ser isso apregoado, quando se foi vendo logo que as crianças mais desfavorecidas fugiam cada vez mais dela?
Aqueles que, durante todos estes anos, ignorando a prova da realidade, teorizaram e impuseram o ensino que temos tido - um ensino que expulsou ou foi desvalorizando a memória, a história, a grande literatura e com ela o ensino da língua e a expressão do pensamento, a filosofia, o conhecimento que conta; um ensino sem exames, sem exigência, sem emulação, sem a valorização do mérito, sem regras; um ensino permissivo, com os jovens abandonados ao "instinto reptiliano", e mesmo, nalgumas situações, encorajados a manifestá--lo - um ensino que, diziam, e continuam a dizer, tornaria os portugueses mais tolerantes, solidários, participativos e cooperantes, criativos e empreendedores, mentiram ou falharam. Aconteceu o contrário. Não tornou os portugueses mais informados, nem mais cultos, como imediatamente se podia ter percebido, mas também não os tornou mais generosos e solidários. O verdadeiro, interiorizado, reflectido conhecimento é gerador de solidariedade, a ignorância é sua inimiga.
E quanto mais anos neste ensino, pior. Mais instruídos? Mais solidários e empenhados no bem social? Não. Apenas com mais anos na escola errada. Como este estudo da Universidade Católica parece ter já podido verificar. Essa ideologia e essa prática "educativa" roubaram as crianças, deixaram que perdessem os valores tradicionais que transportavam, e que fossem substituídos por uma espécie de lei da selva, que chegou até, de algum modo, a ser valorizada. Violência que tem a expressão mais imediata e visível nas agressões aos professores e entre os alunos, e o seu espaço natural na anomia antieducativa dos hiperestabelecimentos escolares. Violência que cresceu sempre, em número e em grau.
E mesmo que se actuasse já no ensino, num grande movimento nacional que tudo, infelizmente, indica parecer impossível - e ainda que resultados dessa boa mudança logo se manifestassem no ambiente das escolas e no aproveitamento dos alunos, como tenho dito -, a alteração do perfil médio dominante dos portugueses que o tal estudo da Universidade Católica revela, só no longo prazo, como se compreende, se verificaria. E Portugal, entretanto, como se tem visto, irá pagando a factura.
Há de resto muitos outros indicadores desta realidade. Por exemplo, no domínio, determinante, da leitura. A escritora Alice Vieira referiu que há dez anos ia às escolas apresentar e discutir os seus livros com miúdos de 12 anos. Hoje vai à escola apresentar e discutir os mesmos livros... com jovens do 12.º ano!
E é urgente divulgar e pensar uma situação terrível que terá consequências dramáticas para o País: os grandes livros que veiculam o conhecimento universal estão já a deixar de ser publicados em português. Por falta de leitores. De um número mínimo de leitores que viabilize os custos da sua edição.
O que o estudo da Universidade Católica - que é também, curiosamente, uma tese de doutoramento em "ciências" da educação - parece provar é, pois, infelizmente, o que eu sempre disse, e que não era, aliás, difícil de prever.
"Tudo é igual a tudo" é, afinal, a expressão pós-moderna que melhor traduz a ideologia e a pedagogia que também à nossa escola foram impostas durante todos estes anos de devastação. O resultado aí está, documentado agora por um estudo que parece ser insuspeito e merecer, por esta primeira notícia, credibilidade. Mas não era preciso estudo nenhum para o provar, bastaria pensar e, depois, olhar.
Claro que certamente há gente boa e muito boa, como sempre houve e haverá. Tendo havido também bons professores que conseguiram resistir, como sempre aconteceu no passado, há também bons alunos que sobreviveram ao sistema. Instruídos e bem formados... fora dessa escola. Como pode falar-se nas "gerações mais qualificadas que Portugal teve"...
Mas mudar está ao nosso alcance, depende apenas da nossa vontade. O que é preciso primeiro é ver e assumir a verdade.
*Os Anos Devastadores do Eduquês, Lisboa, Presença, 2012
** Editor da Gradiva

Os portugueses com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade, à justiça e aos valores democráticos. Esta é apenas uma das conclusões do estudo da Universidade Católica e do Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano" (notícia no Público de 15/01/14). E, diz ainda o estudo, também menos felizes.
Foi, como se sabe, o que, infelizmente, previmos, que andámos a dizer há mais de vinte anos. Está escrito nos inúmeros artigos que publiquei, registado no meu livro com um título, Os Anos Devastadores do Eduquês*, expressivamente convergente com os resultados do estudo agora divulgado. Quanto mais tempo na escola que temos tido, pior.
As consequências destes anos de domínio da ideologia e das práticas educativas que tenho designado com a palavra "eduquês" eram já bem visíveis para quem pudesse olhar com espírito livre. Desde logo, em várias manifestações na escola, e, depois, na sociedade, da política à economia, manifestações que cada vez são mais impressionantes.
A solidariedade, o seu sentimento e necessidade, a felicidade, seguramente, só podem assentar nos grandes valores e nas manifestações mais elevadas da cultura, do conhecimento, da religião, do altruísmo, da generosidade humanos. Valores, conhecimento e cultura que, pelo contrário, foram desvalorizados, durante todos estes anos, por esta escola, dita moderna, mas pós-moderna, das "ciências" da educação.
Escola dos "chavões" da "aula como continuação do recreio", do "aprender a aprender", do "aprender sem esforço", das avaliações a fingir, cujos resultados, mesmo assim, esconderam ao País enquanto os deixámos; do "ensino centrado no aluno", que, como demonstrámos, não queria dizer "ao serviço do aluno", como devia querer ser, mas sim "o ensino definido pelo aluno", imagine-se. Escola marcada (até David Justino e José Sócrates, registe-se) pela estigmatização do ensino técnico, escola da grande mentira da "inclusão" - como pode ser isso apregoado, quando se foi vendo logo que as crianças mais desfavorecidas fugiam cada vez mais dela?
Aqueles que, durante todos estes anos, ignorando a prova da realidade, teorizaram e impuseram o ensino que temos tido - um ensino que expulsou ou foi desvalorizando a memória, a história, a grande literatura e com ela o ensino da língua e a expressão do pensamento, a filosofia, o conhecimento que conta; um ensino sem exames, sem exigência, sem emulação, sem a valorização do mérito, sem regras; um ensino permissivo, com os jovens abandonados ao "instinto reptiliano", e mesmo, nalgumas situações, encorajados a manifestá--lo - um ensino que, diziam, e continuam a dizer, tornaria os portugueses mais tolerantes, solidários, participativos e cooperantes, criativos e empreendedores, mentiram ou falharam. Aconteceu o contrário. Não tornou os portugueses mais informados, nem mais cultos, como imediatamente se podia ter percebido, mas também não os tornou mais generosos e solidários. O verdadeiro, interiorizado, reflectido conhecimento é gerador de solidariedade, a ignorância é sua inimiga.
E quanto mais anos neste ensino, pior. Mais instruídos? Mais solidários e empenhados no bem social? Não. Apenas com mais anos na escola errada. Como este estudo da Universidade Católica parece ter já podido verificar. Essa ideologia e essa prática "educativa" roubaram as crianças, deixaram que perdessem os valores tradicionais que transportavam, e que fossem substituídos por uma espécie de lei da selva, que chegou até, de algum modo, a ser valorizada. Violência que tem a expressão mais imediata e visível nas agressões aos professores e entre os alunos, e o seu espaço natural na anomia antieducativa dos hiperestabelecimentos escolares. Violência que cresceu sempre, em número e em grau.
E mesmo que se actuasse já no ensino, num grande movimento nacional que tudo, infelizmente, indica parecer impossível - e ainda que resultados dessa boa mudança logo se manifestassem no ambiente das escolas e no aproveitamento dos alunos, como tenho dito -, a alteração do perfil médio dominante dos portugueses que o tal estudo da Universidade Católica revela, só no longo prazo, como se compreende, se verificaria. E Portugal, entretanto, como se tem visto, irá pagando a factura.
Há de resto muitos outros indicadores desta realidade. Por exemplo, no domínio, determinante, da leitura. A escritora Alice Vieira referiu que há dez anos ia às escolas apresentar e discutir os seus livros com miúdos de 12 anos. Hoje vai à escola apresentar e discutir os mesmos livros... com jovens do 12.º ano!
E é urgente divulgar e pensar uma situação terrível que terá consequências dramáticas para o País: os grandes livros que veiculam o conhecimento universal estão já a deixar de ser publicados em português. Por falta de leitores. De um número mínimo de leitores que viabilize os custos da sua edição.
O que o estudo da Universidade Católica - que é também, curiosamente, uma tese de doutoramento em "ciências" da educação - parece provar é, pois, infelizmente, o que eu sempre disse, e que não era, aliás, difícil de prever.
"Tudo é igual a tudo" é, afinal, a expressão pós-moderna que melhor traduz a ideologia e a pedagogia que também à nossa escola foram impostas durante todos estes anos de devastação. O resultado aí está, documentado agora por um estudo que parece ser insuspeito e merecer, por esta primeira notícia, credibilidade. Mas não era preciso estudo nenhum para o provar, bastaria pensar e, depois, olhar.
Claro que certamente há gente boa e muito boa, como sempre houve e haverá. Tendo havido também bons professores que conseguiram resistir, como sempre aconteceu no passado, há também bons alunos que sobreviveram ao sistema. Instruídos e bem formados... fora dessa escola. Como pode falar-se nas "gerações mais qualificadas que Portugal teve"...
Mas mudar está ao nosso alcance, depende apenas da nossa vontade. O que é preciso primeiro é ver e assumir a verdade.
*Os Anos Devastadores do Eduquês, Lisboa, Presença, 2012
** Editor da Gradiva
Published on January 24, 2014 03:38
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