Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 45
February 6, 2014
O Ano Novo Lunar em Pequim
A vida dos outrosponto final, 5 de fevereiro 2014Durante o Ano Novo Lunar, Pequim ficou vazia quando comboios partiram, aviões levantaram voo e carros fizeram-se à estrada. No bairro de Babaoshan, a oeste da cidade, ficaram os migrantes que não puderam viajar.Catarina Domingues, em Pequim
A tabacariaParecem bandos de pardais à solta, os miúdos, a lançar bombinhas à frente da tabacaria do pai. O governo avisou, este ano é para poupar no fogo-de-artifício, e assim poupar o ambiente. Mas os fogos afastam os maus espíritos, e a má sorte, e é tradição. Aqui em Babaoshan, a luta do governo parece inglória. O ar conserva um cheiro acre a enxofre.“As crianças não vivem sem isso, é uma tradição com mais de mil anos, não se pode alterar nem pode desaparecer”, diz Yu Jiangtao, dono da tabacaria Guohua Dukang.E o barulho das pequenas explosões sempre alivia a saudade da aldeia, lá para os subúrbios de Zhoukou, na província de Henan. “Aqui não conhecemos ninguém. Na aldeia, temos o calor da família, as pessoas saem todas à rua para festejar”, explica.Mas negócio é negócio, e Yu tem as prateleiras vermelhas repletas de vinho de arroz e volumes de tabaco. O ano novo é boa altura para despachar as mercadorias. “Agora só regresso a casa para as colheitas de Outono.”A semana de festa não tem sido bem de festa, diz. E nota-se indiferença no tom. “Estou um ano mais velho, acho que é tudo”. Yu até comprou enfeites para a loja, mas já não sabe por onde andam.De que é que sente mais falta? “Dos meus pais, já telefonei a desejar tudo de bom”. E logo os olhos de Yu parecem não querer aguentar. Conta como chegou com a mulher a Pequim há quinze anos. Eram trabalhadores migrantes (são cerca de sete milhões em Pequim) e foi aqui que começou uma nova vida. Tiveram dois filhos e apostaram no tabaco. “É um bom negócio, apesar da proibição de fumar em muitos sítios”.Yu espera a reforma para regressar à terra. A filha, Yu Xiao Xiao, diz que quer ficar em Pequim. E volta a concentrar-se no computador.Os Yu fizeram da tabacaria, casa. Dormem ali atrás de uma cortina e de um pequeno altar, um espaço exíguo, um esconderijo. Yu quer mais dinheiro para o ano do cavalo. “Para a próxima, a festa é na aldeia.”O salão de belezaNinguém está no salão de beleza do supermercado Huapu. Um grande aquário com dois peixes, que se distraem de um lado para o outro, o mais pequeno colado à barbatana do maior. Uma tartaruga tenta trepar as paredes de vidro, mas sem conseguir alcançar a superfície.Ao longe, as três mulheres gritam e riem alto, enquanto aproveitam a hora vaga para cuidar das próprias unhas; cor vermelha, pequenas impressões prateadas, outras douradas, para combinar com a Festa da Primavera.Ninguém daria a Li Yuan Jie trinta anos. Parece uma miúda, pernas finas, e longas, e a felicidade de um novo verniz.Ao longo desta semana, trabalha onze horas por dia. Arranja as mãos e os pés para as festas do Ano Novo Lunar. “Nesta altura faz-se mais dinheiro e na minha terra natal tenho dois filhos para alimentar e contas para pagar”.Li é de Zhengzhou, província de Henan, e vai a casa duas vezes por ano. Foi aí que o marido e os dois filhos – de onze e nove anos – ficaram quando, há sete anos, se aventurou pela grande cidade.Em Pequim, o que interessa é o trabalho, mais nada. Tem amigas, “mas não são bem amigas, são só colegas de trabalho”. A passagem de ano foi sozinha. “Com quem mais? Comprei ‘jiaozi’ (dumplings), fruta fresca, e fiquei presa ao telemóvel a enviar mensagens para a família”.Li ainda espreitou a gala da CCTV, que chega às televisões chinesas desde 1983 e já se tornou numa tradição da noite de ano novo. Mas nem as acrobacias, nem os truques de magia entretiveram a esteticista. “Não gostei do ambiente, pus-me a jogar ao telemóvel.”Agora resta esperar mais um pouco. Quando Li voltar a casa, estão milhões de chineses a regressar a Pequim.A agência funeráriaLiu Bingchen não gosta de carne e só cozinha ‘jiaozi’ vegetarianos. “Na China, na passagem de ano, sejas pobre ou sejas rico, vais comer ‘jiaozi’”. Os dumplings são uma tradição milenar com origem no norte do país. Comem-se entre a última hora do ano e a primeira hora do novo calendário lunar. Uma moeda lá dentro pode significar sorte e fortuna na vida, assegura a tradição.Liu tem 59 anos e diz que não precisa de fortuna, nem de sorte, diz que está contente com o governo, com a pensão que recebe, e com a pequena agência funerária que abriu há doze anos (começava então o ano do cavalo). “Abri o negócio para ter uma ocupação.”Vai passeando de um lado da loja para o outro, passa a tarde a bebericar um chá Longjing, a brincar com duas nozes na mão esquerda. “Faz bem à circulação”, garante. E depois senta-se, e volta ao chá, e dá tempo à caligrafia chinesa. “A caligrafia educa uma pessoa, pode torná-la mais culta, obriga a treinar o cérebro”, explica.Durante a Festa da Primavera, a agência não fechou as portas. Porque a morte também sai à rua num dia assim, de festa. “Alguém tem de fazer este trabalho, eu trato de tudo, compro a roupa, o caixão, vendo dinheiro falso para queimar. No Ocidente é a igreja que faz este serviço, aqui sou eu”, nota Liu, oriundo de Pequim.O ano novo é feliz, porque “fui lançar fogos e depois fui dormir”, mas solitário, “a minha mulher está no céu, os meus filhos já são crescidos e têm a sua vida”.E o que espera do ano do cavalo? “Saúde é o mais importante. Há pessoas que querem enriquecer, mas a verdadeira riqueza está aqui”. E leva o indicador à cabeça.TRADIÇÕES DO ANO NOVO LUNARDança do DragãoTradição antiga, que se tem desenvolvido ao longo dos anos e que é mais comum entre as comunidades rurais da China. Segundo a crença chinesa, a dança atrai prosperidade, sorte e renovação.Fogo-de-artifícioOs chineses lançam fogo-de-artifício e rebentam bombinhas para espantar os maus espíritos. Acredita-se que todos aqueles que o fazem vão ter sorte ao longo do ano.Hong Bao/ Lai SiEnvelopes vermelhos com dinheiro lá dentro. Tradicionalmente é oferecido por adultos aos mais jovens. Acredita-se que o dinheiro vai proteger as crianças dos maus espíritos, trazer saúde e longa vida.Jiaozi (dumplings)Diz-se que os jiaozi foram cozinhados pela primeira vez há 1600 anos e são obrigatórios à mesa dos chineses na noite de passagem de ano. Em certas áreas adiciona-se um pouco de açúcar, o que pode simbolizar uma vida mais doce. Também podem ser colocadas moedas no interior. Quem comer este dumpling, pode contar com fortuna e sorte.LimpezaUns dias antes das celebrações do Ano Novo Lunar, é feita uma limpeza às casas para eliminar as energias velhas e renová-las. A limpeza deve ter início antes do nascer-do-sol e terminar antes do pôr-do-sol.DecoraçãoDepois da limpeza, as casas são decoradas com lanternas vermelhas, desenhos recortados em papel e enfeites à porta de entrada como forma de dar as boas-vindas ao novo ano.FeirasDurante estes dias, feiras vão abrir as portas para vender tudo o que é necessário para o Ano Novo Lunar. Fogo-de-artifício, enfeites, comida e artesanato são alguns dos produtos disponíveis. Os mercados são também palco de actuações e costumam estar decorados com grandes lanternas vermelhas.Shou SuiShou Sui significa ‘ficar acordado até tarde na passagem de ano’. Diz a lenda que um monstro mítico chamado ‘Nian’ (Ano) saía à rua para caçar animais e pessoas. Por ser sensível a ruídos e à cor vermelha, os chineses começaram a decorar as casas de vermelho e a lançar fogo-de-artifício. As pessoas ficam acordadas até tarde para fazer frente ao ‘Nian’.
A tabacariaParecem bandos de pardais à solta, os miúdos, a lançar bombinhas à frente da tabacaria do pai. O governo avisou, este ano é para poupar no fogo-de-artifício, e assim poupar o ambiente. Mas os fogos afastam os maus espíritos, e a má sorte, e é tradição. Aqui em Babaoshan, a luta do governo parece inglória. O ar conserva um cheiro acre a enxofre.“As crianças não vivem sem isso, é uma tradição com mais de mil anos, não se pode alterar nem pode desaparecer”, diz Yu Jiangtao, dono da tabacaria Guohua Dukang.E o barulho das pequenas explosões sempre alivia a saudade da aldeia, lá para os subúrbios de Zhoukou, na província de Henan. “Aqui não conhecemos ninguém. Na aldeia, temos o calor da família, as pessoas saem todas à rua para festejar”, explica.Mas negócio é negócio, e Yu tem as prateleiras vermelhas repletas de vinho de arroz e volumes de tabaco. O ano novo é boa altura para despachar as mercadorias. “Agora só regresso a casa para as colheitas de Outono.”A semana de festa não tem sido bem de festa, diz. E nota-se indiferença no tom. “Estou um ano mais velho, acho que é tudo”. Yu até comprou enfeites para a loja, mas já não sabe por onde andam.De que é que sente mais falta? “Dos meus pais, já telefonei a desejar tudo de bom”. E logo os olhos de Yu parecem não querer aguentar. Conta como chegou com a mulher a Pequim há quinze anos. Eram trabalhadores migrantes (são cerca de sete milhões em Pequim) e foi aqui que começou uma nova vida. Tiveram dois filhos e apostaram no tabaco. “É um bom negócio, apesar da proibição de fumar em muitos sítios”.Yu espera a reforma para regressar à terra. A filha, Yu Xiao Xiao, diz que quer ficar em Pequim. E volta a concentrar-se no computador.Os Yu fizeram da tabacaria, casa. Dormem ali atrás de uma cortina e de um pequeno altar, um espaço exíguo, um esconderijo. Yu quer mais dinheiro para o ano do cavalo. “Para a próxima, a festa é na aldeia.”O salão de belezaNinguém está no salão de beleza do supermercado Huapu. Um grande aquário com dois peixes, que se distraem de um lado para o outro, o mais pequeno colado à barbatana do maior. Uma tartaruga tenta trepar as paredes de vidro, mas sem conseguir alcançar a superfície.Ao longe, as três mulheres gritam e riem alto, enquanto aproveitam a hora vaga para cuidar das próprias unhas; cor vermelha, pequenas impressões prateadas, outras douradas, para combinar com a Festa da Primavera.Ninguém daria a Li Yuan Jie trinta anos. Parece uma miúda, pernas finas, e longas, e a felicidade de um novo verniz.Ao longo desta semana, trabalha onze horas por dia. Arranja as mãos e os pés para as festas do Ano Novo Lunar. “Nesta altura faz-se mais dinheiro e na minha terra natal tenho dois filhos para alimentar e contas para pagar”.Li é de Zhengzhou, província de Henan, e vai a casa duas vezes por ano. Foi aí que o marido e os dois filhos – de onze e nove anos – ficaram quando, há sete anos, se aventurou pela grande cidade.Em Pequim, o que interessa é o trabalho, mais nada. Tem amigas, “mas não são bem amigas, são só colegas de trabalho”. A passagem de ano foi sozinha. “Com quem mais? Comprei ‘jiaozi’ (dumplings), fruta fresca, e fiquei presa ao telemóvel a enviar mensagens para a família”.Li ainda espreitou a gala da CCTV, que chega às televisões chinesas desde 1983 e já se tornou numa tradição da noite de ano novo. Mas nem as acrobacias, nem os truques de magia entretiveram a esteticista. “Não gostei do ambiente, pus-me a jogar ao telemóvel.”Agora resta esperar mais um pouco. Quando Li voltar a casa, estão milhões de chineses a regressar a Pequim.A agência funeráriaLiu Bingchen não gosta de carne e só cozinha ‘jiaozi’ vegetarianos. “Na China, na passagem de ano, sejas pobre ou sejas rico, vais comer ‘jiaozi’”. Os dumplings são uma tradição milenar com origem no norte do país. Comem-se entre a última hora do ano e a primeira hora do novo calendário lunar. Uma moeda lá dentro pode significar sorte e fortuna na vida, assegura a tradição.Liu tem 59 anos e diz que não precisa de fortuna, nem de sorte, diz que está contente com o governo, com a pensão que recebe, e com a pequena agência funerária que abriu há doze anos (começava então o ano do cavalo). “Abri o negócio para ter uma ocupação.”Vai passeando de um lado da loja para o outro, passa a tarde a bebericar um chá Longjing, a brincar com duas nozes na mão esquerda. “Faz bem à circulação”, garante. E depois senta-se, e volta ao chá, e dá tempo à caligrafia chinesa. “A caligrafia educa uma pessoa, pode torná-la mais culta, obriga a treinar o cérebro”, explica.Durante a Festa da Primavera, a agência não fechou as portas. Porque a morte também sai à rua num dia assim, de festa. “Alguém tem de fazer este trabalho, eu trato de tudo, compro a roupa, o caixão, vendo dinheiro falso para queimar. No Ocidente é a igreja que faz este serviço, aqui sou eu”, nota Liu, oriundo de Pequim.O ano novo é feliz, porque “fui lançar fogos e depois fui dormir”, mas solitário, “a minha mulher está no céu, os meus filhos já são crescidos e têm a sua vida”.E o que espera do ano do cavalo? “Saúde é o mais importante. Há pessoas que querem enriquecer, mas a verdadeira riqueza está aqui”. E leva o indicador à cabeça.TRADIÇÕES DO ANO NOVO LUNARDança do DragãoTradição antiga, que se tem desenvolvido ao longo dos anos e que é mais comum entre as comunidades rurais da China. Segundo a crença chinesa, a dança atrai prosperidade, sorte e renovação.Fogo-de-artifícioOs chineses lançam fogo-de-artifício e rebentam bombinhas para espantar os maus espíritos. Acredita-se que todos aqueles que o fazem vão ter sorte ao longo do ano.Hong Bao/ Lai SiEnvelopes vermelhos com dinheiro lá dentro. Tradicionalmente é oferecido por adultos aos mais jovens. Acredita-se que o dinheiro vai proteger as crianças dos maus espíritos, trazer saúde e longa vida.Jiaozi (dumplings)Diz-se que os jiaozi foram cozinhados pela primeira vez há 1600 anos e são obrigatórios à mesa dos chineses na noite de passagem de ano. Em certas áreas adiciona-se um pouco de açúcar, o que pode simbolizar uma vida mais doce. Também podem ser colocadas moedas no interior. Quem comer este dumpling, pode contar com fortuna e sorte.LimpezaUns dias antes das celebrações do Ano Novo Lunar, é feita uma limpeza às casas para eliminar as energias velhas e renová-las. A limpeza deve ter início antes do nascer-do-sol e terminar antes do pôr-do-sol.DecoraçãoDepois da limpeza, as casas são decoradas com lanternas vermelhas, desenhos recortados em papel e enfeites à porta de entrada como forma de dar as boas-vindas ao novo ano.FeirasDurante estes dias, feiras vão abrir as portas para vender tudo o que é necessário para o Ano Novo Lunar. Fogo-de-artifício, enfeites, comida e artesanato são alguns dos produtos disponíveis. Os mercados são também palco de actuações e costumam estar decorados com grandes lanternas vermelhas.Shou SuiShou Sui significa ‘ficar acordado até tarde na passagem de ano’. Diz a lenda que um monstro mítico chamado ‘Nian’ (Ano) saía à rua para caçar animais e pessoas. Por ser sensível a ruídos e à cor vermelha, os chineses começaram a decorar as casas de vermelho e a lançar fogo-de-artifício. As pessoas ficam acordadas até tarde para fazer frente ao ‘Nian’.
Published on February 06, 2014 17:31
February 5, 2014
A ignorância dos nossos universitários
A SÁBADO fez um teste básico a 100 alunos em Lisboa
(NOVA VERSÃO ALARGADA, 18-11-2011 )
Por André Barbosa e Tânia Pereirinha e imagem de Joana Mouta e Bruno Vaz
VER O VÍDEO AQUI: http://www.sabado.pt//Multimedia/Vide...
Enquanto Portugal se ri da auxiliar de acção médica concorrente da 'Casa dos Segredos', que julga que África é um país da América do Sul, a SÁBADO fez um teste básico a 100 alunos de universidades de Lisboa. Veja o vídeo do Vox Pop com as respostas mais curiosas.
Ana Amaro, de 18 anos, que frequenta a licenciatura com o mestrado integrado em Psicologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), está a fumar à porta da faculdade, em Alfama. Aceita participar no teste de cultura geral da SÁBADO (20 perguntas, divididas por dois questionários de 10, ambos com um grau de dificuldade mínimo), mas está mais preocupada em acabar o cigarro. À quinta questão (qual é a capital dos Estados Unidos?), começa a atrapalhar-se. “Estados Unidos...? A esta hora é muita mau”, queixa-se. Não são 7h, são 13h30, e os colegas começam a sair para o almoço. Mas Ana parece ter acordado há 10 minutos, suspeita que a própria confirma. A partir daí, é sempre a cair.
Não sabe quem escreveu 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo', quem fundou a Microsoft, quem é Maria João Pires nem que instrumento toca. E não parece preocupada. Afinal, acabou de acordar.
“Não dei isso no 12.º ano”, “Cinema não é comigo”, “Não me dou bem com a literatura” – na arte de justificar a ignorância, os estudantes universitários inquiridos pela SÁBADO têm nota máxima. “Se perguntasse alguma coisa de psicologia, agora cultura geral...”, diz Janine Pinto, optando pela desculpa número um.
– Quem pintou o tecto da Capela Sistina?
– Ai, agora... Tudo o que tem a ver com capelas e igrejas não sei (desculpa número dois dos universitários).
– E quem escreveu 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo'?
– Eh pá! Coisas com Jesus Cristo?! Sou fraca em religião ... (desculpa número três).
E se é que isto serve de desculpa, aqui vai a número quatro: Janine, tal como muitos outros inquiridos, não está num curso de Teologia, nem de Artes.
Mas Bruno Marques, 18 anos, no 1.º ano de Ciências da Cultura na Faculdade de Letras, escorrega num tema que deveria dominar.
– Quem é Manoel de Oliveira?
– Já ouvi falar, mas não sei quem é.
– Estás em Ciências da Cultura. Dás Cinema?
– Sim, algumas coisinhas, mas não sei...
Pedro Besugo, 18 anos, estreante no curso de Turismo da Lusófona, admite não saber qual é a capital de Itália. Perante a insistência da SÁBADO (“Então estás a tirar Turismo e não sabes?”), responde: “Será Florença?” Não é. Como também não é Veneza, nem Milão ou Nápoles, como outros responderam.
Não saber quem pintou a Capela Sistina ou Mona Lisa (um aluno responde Miguel Arcanjo; outro Leonardo DiCaprio) é igualmente grave. Talvez não tanto como pensar que África é um país da América do Sul ou não fazer ideia do que é um alpendre. Mas Cátia Palhinhas, do reality show 'Casa dos Segredos 2', autora destas e de outras respostas, que põem o público a rir, não frequenta o ensino superior – é auxiliar de acção médica e está a tirar o 12.º ano à noite no programa Novas Oportunidades.
Aos 22 anos, sonha tornar-se “conhecida e vencer na televisão”. Por isso, não está nada preocupada em saber qual o maior mamífero do mundo – “É o dinossauro!”, disse há umas semanas.
Há universitários que respondem “mamute” à mesma questão. Catarina, 20 anos, aluna de Psicologia do ISPA, fica na dúvida: “É o elefante. É o mamute. É o elefante. Acho que é o elefante. O elefante é de África e o mamute da Antárctida”.
Tal como Cátia, da 'Casa dos Segredos 2', Daniela Rosário, de 20 anos, a frequentar o 1.º ano de Geografia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, entusiasma-se quando sabe que há uma câmara de filmar (pode ver algumas das respostas no site da SÁBADO). É a única em 100 entrevistados que não teme ver registados os seus disparates. Mas as coisas começam a correr mal assim que se fala em Capela Sistina: “É melhor nem pensar, nunca me dei bem com História.” Cinema também não é o seu forte. Questionada sobre quem protagonizou o filme 'O Padrinho', só se lembra de John. Já seria mau. Mas agrava-se: “É John qualquer coisa. John... Johnny English!”, diz, a rir-se.
Se Francis Ford Coppola tivesse convidado Rowan Atkinson, o famoso Mr. Bean e protagonista de Johnny English, para interpretar Don Vito Corleone na sua obra--prima de 1972, teria hoje um filme sobre a máfia italiana representado em mímica e com os diálogos resumidos a grunhidos. Ou uma película de acção descontrolada com Keanu Reeves ou Tom Cruise, como respondeu Soraia Correia, 19 anos, do 1.º ano de Psicologia do ISPA.
Ao longo de 100 entrevistas, conclui-se que as aparências iludem e as ideias preconcebidas também: as miúdas de óculos não são mais cultas do que os rapazes de aspecto alternativo, e a cultura geral de futuros engenheiros ou médicos não é mais escassa do que a de potenciais advogados, linguistas ou psicólogos. No fundo, os conhecimentos são idênticos.
Uma aluna do 2.º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, carregada de dossiês, não hesita em responder. Mas, minutos depois de ter terminado o questionário, volta atrás e exige que o seu nome não apareça na SÁBADO e que as suas fotografias sejam apagadas. Tem motivos para isso: não sabe o que é “a Capela Sistina nem o tecto”, nem quem é Maria João Pires; acha que Nova Iorque é a capital dos Estados Unidos; e dá um apelido alentejano à chanceler alemã: “Ai! Eu sei essa, eu sei essa. É qualquer coisa Mércola, Mértola, Mércola. O primeiro nome não sei.”
À porta desta faculdade, no Campo Mártires da Pátria, passa Alexander Weber, estudante alemão de Erasmus na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Depois de vários alunos terem respondido à pergunta “Quando se deu a revolução do 25 de Abril?” com os anos de 1973 e 1975, arriscamos perguntar o mesmo a um estrangeiro, que acerta logo nesta pergunta e em mais cinco.
Esta questão teve aquela que poderia receber o prémio da desculpa mais esfarrapada. António Lopes, no 2.º ano de Economia e Gestão da Universidade Católica, diz logo que não sabe em que ano foi o 25 de Abril. E justifica: “Estudei 15 anos numa escola inglesa.” Mas o facto é que vive em Portugal há 19 anos e não tem sequer ideia da década em que se registou um dos acontecimentos mais marcantes da História recente do país.
Pedro João, 30 anos, aluno do curso de Contabilidade e Auditoria, o mais velho a ser inquirido, alcança o recorde de respostas erradas: oito em 10. Só sabe o símbolo químico da água e quem é o Presidente dos Estados Unidos. Para este estudante, LOL, a sigla de laughing out loud, ou laugh out loud, que todos usam em conversas de mensagens instantâneas ou em SMS, significa “brincadeira”. Mas dá respostas piores:
– Quem é o presidente da Comissão Europeia?
– A francesa? Penso que é belga, a senhora...
Joana Costa, no 4.º ano de Psicologia Social, tem 25 anos. Responde a tudo com simpatia. Mas o inquérito corre-lhe pior do que a muitos alunos de 18 anos. Sobre quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo: “Gabriel García? Não... Tem a ver com a Bíblia. Eu não sou católica, sou ateia.” Quando informada sobre a resposta correcta, revela surpresa total: “Não foi o Saramago! Não foi, pois não?”
Já outra entrevista decorre e ainda Joana continua perto da equipa da SÁBADO a justificar-se: “Eh pá! Que horror! E eu que li quase tudo do Saramago. Li o Ricardo Reis... Pronto, pá, foi terrível.” Corada, continua a tentar explicar porque é que, no nome da chanceler alemã, não conseguiu passar de uma marca de chocolate: “Mars... Mars... Mars qualquer coisa.”
Só por uma vez a SÁBADO conseguiu antecipar que o teste ia correr bem: Miguel Borges, 21 anos, estudante de Psicologia, foi o único que questionou por que raio andava a SÁBADO a testar universitários. “Qual é o objectivo? É para dizerem que os estudantes são todos burros?”
Acertou em todas as perguntas e ainda indagou, com ar de entendido, não fosse haver rasteira: “Quem pintou a Mona Lisa? Ou quem pintou a Gioconda?” É a mesma coisa. Pena não haver pontos para premiar conhecimentos extra.
Igualmente bom foi o desempenho de Luís Pestana, 20 anos, no 2.º ano do mestrado de Relações Internacionais da Universidade Católica. As respostas fluíram--lhe com rapidez e em segundos passou com distinção no teste. Ele e Miguel fazem parte de um grupo de cinco alunos que acertaram em todas as respostas.
Depois, há aquelas questões que se acreditou que todos iriam responder correctamente, mas apareceu alguém que arruinou a percentagem. Miguel, 25 anos, no 3.º ano de Design, quando questionado sobre o nome do homem mais poderoso do mundo, foi peremptório: “É o Bush!”
Aos estudantes, nunca faltaram pistas. Ainda sobre Marlon Brando (a quem alguns chamaram Orlando e Al Capone), a SÁBADO chegou a propor um sinónimo para o apelido: “Ameno.” Não adiantou.
Nenhuma pergunta obteve respostas tão divertidas como a que tenta encontrar o autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. “Ui, perguntas religiosas é que não dá, embora eu tenha estudado no Sagrado Coração de Maria e no São João de Brito”, tentou Francisco Neto, 19 anos, no 2.º ano de Economia da Universidade Católica.
Teresa Pereira, aluna do 3.º ano de Direito da mesma universidade, responde: “Calma, então temos o São João, São Marcos, São Lucas e São Mateus, agora dos quatro… Foi o São João!”
Inesperada foi também a resposta de Rita Silva, 21 anos, aluna do 3.º ano de Direito da Universidade Católica quando inquirida sobre “quem é o fundador da Microsoft”.
– É o senhor que morreu há pouco tempo... o Gill Bates.
(NOVA VERSÃO ALARGADA, 18-11-2011 )
Por André Barbosa e Tânia Pereirinha e imagem de Joana Mouta e Bruno Vaz
VER O VÍDEO AQUI: http://www.sabado.pt//Multimedia/Vide...Enquanto Portugal se ri da auxiliar de acção médica concorrente da 'Casa dos Segredos', que julga que África é um país da América do Sul, a SÁBADO fez um teste básico a 100 alunos de universidades de Lisboa. Veja o vídeo do Vox Pop com as respostas mais curiosas.
Ana Amaro, de 18 anos, que frequenta a licenciatura com o mestrado integrado em Psicologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), está a fumar à porta da faculdade, em Alfama. Aceita participar no teste de cultura geral da SÁBADO (20 perguntas, divididas por dois questionários de 10, ambos com um grau de dificuldade mínimo), mas está mais preocupada em acabar o cigarro. À quinta questão (qual é a capital dos Estados Unidos?), começa a atrapalhar-se. “Estados Unidos...? A esta hora é muita mau”, queixa-se. Não são 7h, são 13h30, e os colegas começam a sair para o almoço. Mas Ana parece ter acordado há 10 minutos, suspeita que a própria confirma. A partir daí, é sempre a cair.
Não sabe quem escreveu 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo', quem fundou a Microsoft, quem é Maria João Pires nem que instrumento toca. E não parece preocupada. Afinal, acabou de acordar.
“Não dei isso no 12.º ano”, “Cinema não é comigo”, “Não me dou bem com a literatura” – na arte de justificar a ignorância, os estudantes universitários inquiridos pela SÁBADO têm nota máxima. “Se perguntasse alguma coisa de psicologia, agora cultura geral...”, diz Janine Pinto, optando pela desculpa número um.
– Quem pintou o tecto da Capela Sistina?
– Ai, agora... Tudo o que tem a ver com capelas e igrejas não sei (desculpa número dois dos universitários).
– E quem escreveu 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo'?
– Eh pá! Coisas com Jesus Cristo?! Sou fraca em religião ... (desculpa número três).
E se é que isto serve de desculpa, aqui vai a número quatro: Janine, tal como muitos outros inquiridos, não está num curso de Teologia, nem de Artes.
Mas Bruno Marques, 18 anos, no 1.º ano de Ciências da Cultura na Faculdade de Letras, escorrega num tema que deveria dominar.
– Quem é Manoel de Oliveira?
– Já ouvi falar, mas não sei quem é.
– Estás em Ciências da Cultura. Dás Cinema?
– Sim, algumas coisinhas, mas não sei...
Pedro Besugo, 18 anos, estreante no curso de Turismo da Lusófona, admite não saber qual é a capital de Itália. Perante a insistência da SÁBADO (“Então estás a tirar Turismo e não sabes?”), responde: “Será Florença?” Não é. Como também não é Veneza, nem Milão ou Nápoles, como outros responderam.
Não saber quem pintou a Capela Sistina ou Mona Lisa (um aluno responde Miguel Arcanjo; outro Leonardo DiCaprio) é igualmente grave. Talvez não tanto como pensar que África é um país da América do Sul ou não fazer ideia do que é um alpendre. Mas Cátia Palhinhas, do reality show 'Casa dos Segredos 2', autora destas e de outras respostas, que põem o público a rir, não frequenta o ensino superior – é auxiliar de acção médica e está a tirar o 12.º ano à noite no programa Novas Oportunidades.
Aos 22 anos, sonha tornar-se “conhecida e vencer na televisão”. Por isso, não está nada preocupada em saber qual o maior mamífero do mundo – “É o dinossauro!”, disse há umas semanas.
Há universitários que respondem “mamute” à mesma questão. Catarina, 20 anos, aluna de Psicologia do ISPA, fica na dúvida: “É o elefante. É o mamute. É o elefante. Acho que é o elefante. O elefante é de África e o mamute da Antárctida”.
Tal como Cátia, da 'Casa dos Segredos 2', Daniela Rosário, de 20 anos, a frequentar o 1.º ano de Geografia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, entusiasma-se quando sabe que há uma câmara de filmar (pode ver algumas das respostas no site da SÁBADO). É a única em 100 entrevistados que não teme ver registados os seus disparates. Mas as coisas começam a correr mal assim que se fala em Capela Sistina: “É melhor nem pensar, nunca me dei bem com História.” Cinema também não é o seu forte. Questionada sobre quem protagonizou o filme 'O Padrinho', só se lembra de John. Já seria mau. Mas agrava-se: “É John qualquer coisa. John... Johnny English!”, diz, a rir-se.
Se Francis Ford Coppola tivesse convidado Rowan Atkinson, o famoso Mr. Bean e protagonista de Johnny English, para interpretar Don Vito Corleone na sua obra--prima de 1972, teria hoje um filme sobre a máfia italiana representado em mímica e com os diálogos resumidos a grunhidos. Ou uma película de acção descontrolada com Keanu Reeves ou Tom Cruise, como respondeu Soraia Correia, 19 anos, do 1.º ano de Psicologia do ISPA.
Ao longo de 100 entrevistas, conclui-se que as aparências iludem e as ideias preconcebidas também: as miúdas de óculos não são mais cultas do que os rapazes de aspecto alternativo, e a cultura geral de futuros engenheiros ou médicos não é mais escassa do que a de potenciais advogados, linguistas ou psicólogos. No fundo, os conhecimentos são idênticos.
Uma aluna do 2.º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, carregada de dossiês, não hesita em responder. Mas, minutos depois de ter terminado o questionário, volta atrás e exige que o seu nome não apareça na SÁBADO e que as suas fotografias sejam apagadas. Tem motivos para isso: não sabe o que é “a Capela Sistina nem o tecto”, nem quem é Maria João Pires; acha que Nova Iorque é a capital dos Estados Unidos; e dá um apelido alentejano à chanceler alemã: “Ai! Eu sei essa, eu sei essa. É qualquer coisa Mércola, Mértola, Mércola. O primeiro nome não sei.”
À porta desta faculdade, no Campo Mártires da Pátria, passa Alexander Weber, estudante alemão de Erasmus na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Depois de vários alunos terem respondido à pergunta “Quando se deu a revolução do 25 de Abril?” com os anos de 1973 e 1975, arriscamos perguntar o mesmo a um estrangeiro, que acerta logo nesta pergunta e em mais cinco.
Esta questão teve aquela que poderia receber o prémio da desculpa mais esfarrapada. António Lopes, no 2.º ano de Economia e Gestão da Universidade Católica, diz logo que não sabe em que ano foi o 25 de Abril. E justifica: “Estudei 15 anos numa escola inglesa.” Mas o facto é que vive em Portugal há 19 anos e não tem sequer ideia da década em que se registou um dos acontecimentos mais marcantes da História recente do país.
Pedro João, 30 anos, aluno do curso de Contabilidade e Auditoria, o mais velho a ser inquirido, alcança o recorde de respostas erradas: oito em 10. Só sabe o símbolo químico da água e quem é o Presidente dos Estados Unidos. Para este estudante, LOL, a sigla de laughing out loud, ou laugh out loud, que todos usam em conversas de mensagens instantâneas ou em SMS, significa “brincadeira”. Mas dá respostas piores:
– Quem é o presidente da Comissão Europeia?
– A francesa? Penso que é belga, a senhora...
Joana Costa, no 4.º ano de Psicologia Social, tem 25 anos. Responde a tudo com simpatia. Mas o inquérito corre-lhe pior do que a muitos alunos de 18 anos. Sobre quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo: “Gabriel García? Não... Tem a ver com a Bíblia. Eu não sou católica, sou ateia.” Quando informada sobre a resposta correcta, revela surpresa total: “Não foi o Saramago! Não foi, pois não?”
Já outra entrevista decorre e ainda Joana continua perto da equipa da SÁBADO a justificar-se: “Eh pá! Que horror! E eu que li quase tudo do Saramago. Li o Ricardo Reis... Pronto, pá, foi terrível.” Corada, continua a tentar explicar porque é que, no nome da chanceler alemã, não conseguiu passar de uma marca de chocolate: “Mars... Mars... Mars qualquer coisa.”
Só por uma vez a SÁBADO conseguiu antecipar que o teste ia correr bem: Miguel Borges, 21 anos, estudante de Psicologia, foi o único que questionou por que raio andava a SÁBADO a testar universitários. “Qual é o objectivo? É para dizerem que os estudantes são todos burros?”
Acertou em todas as perguntas e ainda indagou, com ar de entendido, não fosse haver rasteira: “Quem pintou a Mona Lisa? Ou quem pintou a Gioconda?” É a mesma coisa. Pena não haver pontos para premiar conhecimentos extra.
Igualmente bom foi o desempenho de Luís Pestana, 20 anos, no 2.º ano do mestrado de Relações Internacionais da Universidade Católica. As respostas fluíram--lhe com rapidez e em segundos passou com distinção no teste. Ele e Miguel fazem parte de um grupo de cinco alunos que acertaram em todas as respostas.
Depois, há aquelas questões que se acreditou que todos iriam responder correctamente, mas apareceu alguém que arruinou a percentagem. Miguel, 25 anos, no 3.º ano de Design, quando questionado sobre o nome do homem mais poderoso do mundo, foi peremptório: “É o Bush!”
Aos estudantes, nunca faltaram pistas. Ainda sobre Marlon Brando (a quem alguns chamaram Orlando e Al Capone), a SÁBADO chegou a propor um sinónimo para o apelido: “Ameno.” Não adiantou.
Nenhuma pergunta obteve respostas tão divertidas como a que tenta encontrar o autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. “Ui, perguntas religiosas é que não dá, embora eu tenha estudado no Sagrado Coração de Maria e no São João de Brito”, tentou Francisco Neto, 19 anos, no 2.º ano de Economia da Universidade Católica.
Teresa Pereira, aluna do 3.º ano de Direito da mesma universidade, responde: “Calma, então temos o São João, São Marcos, São Lucas e São Mateus, agora dos quatro… Foi o São João!”
Inesperada foi também a resposta de Rita Silva, 21 anos, aluna do 3.º ano de Direito da Universidade Católica quando inquirida sobre “quem é o fundador da Microsoft”.
– É o senhor que morreu há pouco tempo... o Gill Bates.
Published on February 05, 2014 12:34
February 4, 2014
Christie's cancela leilão da colecção Miró
Cláudia Carvalho, Público, 04/02/2014 - 16:28
A leiloeira Christie's anunciou esta tarde em comunicado que retirou as 85 obras de Joan Miró da colecção do Banco Português de Negócios do leilão que estava marcado para se iniciar esta noite.
"A venda da colecção dos 85 trabalhos de Joan Miró foi cancelada como resultado da disputa no tribunal português, do qual a Christie’s não é parte interessada”, escreve Matthew Paton, director de comunicação da leiloeira, no comunicado enviado ao PÚBLICO, explicando que, apesar de o tribunal não ter impedido a venda desta noite, “as incertezas legais criadas por esta disputada significam que não somos capazes de oferecer com segurança estes trabalhos para venda”.
Na mesma nota, Matthew Paton explica que a Christie’s “tem a responsabilidade” de oferecer aos seus clientes as condições máximas de segurança nas transacções, o que significa que tanto a leiloeira como os interessados em comprar as obras “têm de ter a certeza legal que as podem transferir sem problema”.
“Uma vez que a decisão do tribunal questiona isto nesta altura, a Christie’s é obrigada a retirar as obras da venda”, escreve ainda o responsável da leiloeira, esperando que “as partes nesta disputa consigam resolver as suas diferenças no devido tempo”.
O Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa decidiu esta terça-feira de manhã que o leilão, marcado desde Novembro de 2013, se poderia realizar, admitindo no entanto que parte dos procedimentos legais a que a Lei de Bases do Património Cultural obriga não tinham sido cumpridos. As obras viajaram inclusive ilegalmente para Londres, onde estão expostas, não tendo nunca a Direcção-Geral do Património Cultural autorizado a sua saída. São estas as questões legais levantas nestes últimos dois dias que levaram a que a leiloeira retirasse as obras.
Lê-se no acórdão do tribunal que a “expedição das obras é manifestamente ilegal”, não sendo “necessário argumentação sofisticada para concluir que a realização do leilão pela leiloeira Christie's das obras de Joan Miró comprometeria gravemente o cumprimento dos deveres impostos" pela Lei de Bases do Património "e reduziria a nada a concretização dos deveres de protecção do património cultural".
O que o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, retira deste acordão é que "a venda foi considerada aceitável", escusando-se a responder aos jornalistas que convocou ao Palácio da Ajuda, sobre a "ilicititude" do despacho assinado por si, de 31/01/2014 e que "declara extintos os procedimentos administrativos de autorização de expedição das obras". "Não consigo perceber bem o que é o tribunal quer dizer quando aquilo que fiz em termos de decisão foi, considerando que poderia de facto haver ilegalidades no modo como decorreu a expedição das obras, pedir à Direcção-Geral do Património Cultural para avançarem com um procedimento contra-ordenacional em relação às entidades que o fizeram", explicou Barreto Xavier. "É poder ou competência do secretário de Estado da Cultura determinar sobre um assunto que não é da sua competência?".
O Estado esperava arrecadar com esta venda cerca de 35 milhões de euros, segundo a avaliação da leiloeira. No entanto, como é habitual nestas situações, no contrato celebrado entre a Christie’s e a Parvalorem e Parups, sociedades criadas no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN e que são proprietárias das obras, existe uma cláusula que pressupõe o pagamento de uma indemnização caso o leilão não aconteça. Não sendo conhecido este contrato, lê-se no acórdão do tribunal que neste caso "a Parvalorem, S.A. por força do contrato celebrado, constituir-se-á na obrigação de indemnizar a Christie’s em montante cujo valor se situará entre os 4,7 milhões e os 5 milhões de euros”. Uma vez que foi a própria leiloeira a cancelar o leilão não se sabe se esta cláusula se aplicará.
Depois de conhecida esta decisão da leiloeira, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, voltou a reiterar que manter a colecção Miró em Portugal "não é uma prioridade", sendo mais importante "minorar a dívida do BPN". Aos jornalistas, no Palácio da Ajuda, Barreto Xavier explicou ainda que se estas obras não forem alienadas, como incialmente previsto, "no contexto dos problemas" que nacionalização [do BPN] trouxe, será preciso que "o dinheiro venha de mais algum sítio". "Eu calculo que os portugueses não queiram que vamos buscar 35/40 milhões de euros a um outro sítio. À saúde? À educação?", acrescentou o secretário de Estado, não afastando a hipótese de um novo leilão. A decisão, no entanto, terá de ser tomada pela Parvalorem, que até agora não respondeu às perguntas do PÚBLICO.
A leiloeira Christie's anunciou esta tarde em comunicado que retirou as 85 obras de Joan Miró da colecção do Banco Português de Negócios do leilão que estava marcado para se iniciar esta noite."A venda da colecção dos 85 trabalhos de Joan Miró foi cancelada como resultado da disputa no tribunal português, do qual a Christie’s não é parte interessada”, escreve Matthew Paton, director de comunicação da leiloeira, no comunicado enviado ao PÚBLICO, explicando que, apesar de o tribunal não ter impedido a venda desta noite, “as incertezas legais criadas por esta disputada significam que não somos capazes de oferecer com segurança estes trabalhos para venda”.
Na mesma nota, Matthew Paton explica que a Christie’s “tem a responsabilidade” de oferecer aos seus clientes as condições máximas de segurança nas transacções, o que significa que tanto a leiloeira como os interessados em comprar as obras “têm de ter a certeza legal que as podem transferir sem problema”.
“Uma vez que a decisão do tribunal questiona isto nesta altura, a Christie’s é obrigada a retirar as obras da venda”, escreve ainda o responsável da leiloeira, esperando que “as partes nesta disputa consigam resolver as suas diferenças no devido tempo”.
O Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa decidiu esta terça-feira de manhã que o leilão, marcado desde Novembro de 2013, se poderia realizar, admitindo no entanto que parte dos procedimentos legais a que a Lei de Bases do Património Cultural obriga não tinham sido cumpridos. As obras viajaram inclusive ilegalmente para Londres, onde estão expostas, não tendo nunca a Direcção-Geral do Património Cultural autorizado a sua saída. São estas as questões legais levantas nestes últimos dois dias que levaram a que a leiloeira retirasse as obras.
Lê-se no acórdão do tribunal que a “expedição das obras é manifestamente ilegal”, não sendo “necessário argumentação sofisticada para concluir que a realização do leilão pela leiloeira Christie's das obras de Joan Miró comprometeria gravemente o cumprimento dos deveres impostos" pela Lei de Bases do Património "e reduziria a nada a concretização dos deveres de protecção do património cultural".
O que o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, retira deste acordão é que "a venda foi considerada aceitável", escusando-se a responder aos jornalistas que convocou ao Palácio da Ajuda, sobre a "ilicititude" do despacho assinado por si, de 31/01/2014 e que "declara extintos os procedimentos administrativos de autorização de expedição das obras". "Não consigo perceber bem o que é o tribunal quer dizer quando aquilo que fiz em termos de decisão foi, considerando que poderia de facto haver ilegalidades no modo como decorreu a expedição das obras, pedir à Direcção-Geral do Património Cultural para avançarem com um procedimento contra-ordenacional em relação às entidades que o fizeram", explicou Barreto Xavier. "É poder ou competência do secretário de Estado da Cultura determinar sobre um assunto que não é da sua competência?".
O Estado esperava arrecadar com esta venda cerca de 35 milhões de euros, segundo a avaliação da leiloeira. No entanto, como é habitual nestas situações, no contrato celebrado entre a Christie’s e a Parvalorem e Parups, sociedades criadas no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN e que são proprietárias das obras, existe uma cláusula que pressupõe o pagamento de uma indemnização caso o leilão não aconteça. Não sendo conhecido este contrato, lê-se no acórdão do tribunal que neste caso "a Parvalorem, S.A. por força do contrato celebrado, constituir-se-á na obrigação de indemnizar a Christie’s em montante cujo valor se situará entre os 4,7 milhões e os 5 milhões de euros”. Uma vez que foi a própria leiloeira a cancelar o leilão não se sabe se esta cláusula se aplicará.
Depois de conhecida esta decisão da leiloeira, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, voltou a reiterar que manter a colecção Miró em Portugal "não é uma prioridade", sendo mais importante "minorar a dívida do BPN". Aos jornalistas, no Palácio da Ajuda, Barreto Xavier explicou ainda que se estas obras não forem alienadas, como incialmente previsto, "no contexto dos problemas" que nacionalização [do BPN] trouxe, será preciso que "o dinheiro venha de mais algum sítio". "Eu calculo que os portugueses não queiram que vamos buscar 35/40 milhões de euros a um outro sítio. À saúde? À educação?", acrescentou o secretário de Estado, não afastando a hipótese de um novo leilão. A decisão, no entanto, terá de ser tomada pela Parvalorem, que até agora não respondeu às perguntas do PÚBLICO.
Published on February 04, 2014 17:22
February 2, 2014
Berardo está interessado em comprar os "Miró"
por Dinheiro Vivo30 janeiro 2014
20 comentáriosJoe Berardo garantiu hoje ao Dinheiro Vivo que está interessado em adquirir os quadros de Miró que o Estado português quer levar a leilão.
O dono da maior coleção de arte privada em Portugal adianta que vai tentar adquirir apenas parte da coleção, "porque toda é impossível, já que os preços em leilão serão astronómicos".
Isto, partindo do princípio que as obras vão mesmo a leilão. O leilão da Christie's está marcado para os dias 4 e 5 de fevereiro e o Estado vai tentar vender os 85 quadros de Juan Miró que faziam parte do acervo do BPN. Mas a intenção de vender as obras está a gerar polémica e há já uma petição para manter os quadros em Portugal, que já conta com quase 9 mil assinaturas.
20 comentáriosJoe Berardo garantiu hoje ao Dinheiro Vivo que está interessado em adquirir os quadros de Miró que o Estado português quer levar a leilão.O dono da maior coleção de arte privada em Portugal adianta que vai tentar adquirir apenas parte da coleção, "porque toda é impossível, já que os preços em leilão serão astronómicos".
Isto, partindo do princípio que as obras vão mesmo a leilão. O leilão da Christie's está marcado para os dias 4 e 5 de fevereiro e o Estado vai tentar vender os 85 quadros de Juan Miró que faziam parte do acervo do BPN. Mas a intenção de vender as obras está a gerar polémica e há já uma petição para manter os quadros em Portugal, que já conta com quase 9 mil assinaturas.
Published on February 02, 2014 14:13
Christie's explica que venda de 'Mirós' "causa estrondo"
Vender ao mesmo tempo as 85 obras de Joan Miró, que pertenceram ao banco BPN, "causa um grande estrondo" no mundo da arte e atrai mais interesse mundial, garantiu um diretor da leiloeira Christie's à agência Lusa.Olivier Camu, diretor internacional e vice-presidente do departamento de Arte Moderna e Impressionista, disse que esta é a melhor estratégia para valorizar a coleção, cujas receitas vão reverter para o Estado português, proprietário dos quadros desde a nacionalização do antigo Banco Português de Negócios (BPN), em 2008."É possível ver Mirós em leilão com regularidade. Neste caso, as 85 obras causam um grande estrondo no mercado. Chamou a atenção de muitas pessoas por causa disso. Se tivesse sido repartido em pequenas partes perder-se-ia a magia da história e o fôlego da coleção", afirmou.O perito está também convencido de que o número de obras em leilão criará um efeito de "embalo" para as obras menos valiosas e conhecidas: "Algumas pessoas que não conseguirem comprar as mais caras farão consequentemente licitações nas mais pequenas".A estrela do lote é "Femmes et oiseaux" ("Mulheres e Pássaros"), de 1968, um óleo sobre tela avaliado entre quatro e sete milhões de libras (cerca de 4,8 milhões a 8,5 milhões de euros), no qual se observam as influências que Miró trouxe de um período que passou no Japão.Olivier Camu valoriza, no entanto, igualmente, "obras menos importantes, que se destinarão a coleções particulares de pessoas com menos posses, que são as obras de papel dos anos 1960 e 1970, muito minimalistas de caligrafia asiática".
Published on February 02, 2014 14:07
Providência cautelar contra venda de "Miró" foi entregue
por Lusa, publicado por Ricardo Simões Ferreira30 janeiro 2014
Uma providência cautelar para impedir que o Governo venda em leilão a coleção de 85 obras de Joan Miró foi hoje entregue no Tribunal Administrativo de Lisboa, indicou hoje fonte do Grupo Parlamentar do PS. Em declarações à agência Lusa, a deputada Gabriela Canavilhas confirmou o envio da providência cautelar, anunciado na quarta-feira, no parlamento, para o Tribunal, para "evitar a venda lesiva para o Estado" da coleção proveniente da nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN)."Esgotámos toda a nossa capacidade de alertar para o cumprimento da lei. Restou-nos recorrer ao tribunal", apontou Gabriela Canavilhas sobre esta nova iniciativa para tentar suspender o processo, depois de o PS ter apresentado no parlamento um projeto de resolução contra a venda, chumbado pela maioria, tal como outro, no mesmo sentido, apresentado pelo PCP."Estamos certos de que há irregularidades no processo", disse, convicta, a deputada socialista e ex-ministra da Cultura, sobre as expectativas do resultado da providência cautelar.O PS alerta para o facto de a coleção de 85 quadros de Miró, provenientes do ex-BPN, ter passado a "constituir propriedade definitiva do Estado a partir de 2012", tendo o pintor uma importância "absolutamente inquestionável, não havendo em Portugal nenhum acervo deste pintor - ou de qualquer outro deste período com esta magnitude e grandeza -- que se lhe compare em valor".Lembra ainda que a Lei de Bases do Património Cultural estabelece "responsabilidades inequívocas" ao Estado, como "a inventariação, classificação e ainda normas específicas quanto à exportação, expedição, importação, admissão e comércio de obras de arte", "requisitos legais" que entende não terem sido salvaguardados.
Uma providência cautelar para impedir que o Governo venda em leilão a coleção de 85 obras de Joan Miró foi hoje entregue no Tribunal Administrativo de Lisboa, indicou hoje fonte do Grupo Parlamentar do PS. Em declarações à agência Lusa, a deputada Gabriela Canavilhas confirmou o envio da providência cautelar, anunciado na quarta-feira, no parlamento, para o Tribunal, para "evitar a venda lesiva para o Estado" da coleção proveniente da nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN)."Esgotámos toda a nossa capacidade de alertar para o cumprimento da lei. Restou-nos recorrer ao tribunal", apontou Gabriela Canavilhas sobre esta nova iniciativa para tentar suspender o processo, depois de o PS ter apresentado no parlamento um projeto de resolução contra a venda, chumbado pela maioria, tal como outro, no mesmo sentido, apresentado pelo PCP."Estamos certos de que há irregularidades no processo", disse, convicta, a deputada socialista e ex-ministra da Cultura, sobre as expectativas do resultado da providência cautelar.O PS alerta para o facto de a coleção de 85 quadros de Miró, provenientes do ex-BPN, ter passado a "constituir propriedade definitiva do Estado a partir de 2012", tendo o pintor uma importância "absolutamente inquestionável, não havendo em Portugal nenhum acervo deste pintor - ou de qualquer outro deste período com esta magnitude e grandeza -- que se lhe compare em valor".Lembra ainda que a Lei de Bases do Património Cultural estabelece "responsabilidades inequívocas" ao Estado, como "a inventariação, classificação e ainda normas específicas quanto à exportação, expedição, importação, admissão e comércio de obras de arte", "requisitos legais" que entende não terem sido salvaguardados.
Published on February 02, 2014 14:04
Romance inédito de Saramago editado antes do verão
por Lusa, publicado por Ana Meireles29 janeiro 2014
Fotografia © Orlando Almeida/Global ImagensO romance inédito de José Saramago "Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas" será editado "antes do verão" pela Porto Editora (PE), que passa a publicar as obras do Nobel da Literatura, disse hoje à Lusa fonte editorial.O editor Manuel Alberto Valente, da PE, que passa a ser o editor de Saramago, disse à Lusa que "se chegou hoje a acordo e parte-se hoje" para o que será a publicação da obra de José Saramago, na Porto Editora, "conforme caduquem os contratos de cada um dos seus títulos".O editor salientou que "é necessário debater com as herdeiras -- a filha Violante Saramago de Matos e a viúva, Pilar del Río --, e também com a Fundação Saramago, a calendarização dos livros."Há que estudar um grafismo próprio e ver a fixação muito cuidada do texto", disse à Lusa Manuel Alberto Valente, que vaticinou a saída de três ou quatro títulos, com a nova chancela editorial do escritor, "por alturas da Feira do Livro de Lisboa", em finais de maio.A obra de José Saramago passa agora a ser tratada pelo editor Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, depois de mais de 30 anos de relação com o editor Zeferino Coelho, da Editorial Caminho, atualmente no grupo LeYa.Hoje, um comunicado difundido pela Fundação José Saramago, informou que "as herdeiras de José Saramago escolheram a Porto Editora para editar e distribuir a obra literária de José Saramago, em Portugal e nos demais países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à exceção do Brasil".
Fotografia © Orlando Almeida/Global ImagensO romance inédito de José Saramago "Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas" será editado "antes do verão" pela Porto Editora (PE), que passa a publicar as obras do Nobel da Literatura, disse hoje à Lusa fonte editorial.O editor Manuel Alberto Valente, da PE, que passa a ser o editor de Saramago, disse à Lusa que "se chegou hoje a acordo e parte-se hoje" para o que será a publicação da obra de José Saramago, na Porto Editora, "conforme caduquem os contratos de cada um dos seus títulos".O editor salientou que "é necessário debater com as herdeiras -- a filha Violante Saramago de Matos e a viúva, Pilar del Río --, e também com a Fundação Saramago, a calendarização dos livros."Há que estudar um grafismo próprio e ver a fixação muito cuidada do texto", disse à Lusa Manuel Alberto Valente, que vaticinou a saída de três ou quatro títulos, com a nova chancela editorial do escritor, "por alturas da Feira do Livro de Lisboa", em finais de maio.A obra de José Saramago passa agora a ser tratada pelo editor Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, depois de mais de 30 anos de relação com o editor Zeferino Coelho, da Editorial Caminho, atualmente no grupo LeYa.Hoje, um comunicado difundido pela Fundação José Saramago, informou que "as herdeiras de José Saramago escolheram a Porto Editora para editar e distribuir a obra literária de José Saramago, em Portugal e nos demais países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à exceção do Brasil".
Published on February 02, 2014 13:57
Os Jotas e o "Discurso geracional" e guerra aos "velhos"
JOSÉ PACHECO PEREIRA
01/02/2014 - 09:52 Estes antigos “jotas” do “discurso geracional” que hoje estão no poder são a encarnação viva da partidocracia. (Excertos)
A moção de Passos Coelho ao Congresso do PSD nada tem que ver com a matriz social-democrata do partido, nem com o seu programa genético definido pelos fundadores, em particular Sá Carneiro, mas já tem mais que ver com a história concreta dos partidos portugueses nos últimos anos, em particular nas “jotas” e o seu papel na ascensão de políticos profissionais dentro dos partidos.
(...) Mas, na sua moção, há um interessante ponto que, embora formulado na actual vulgata ideológica, remete para outras “histórias”. Refiro-me à afirmação de que existe uma “apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações”. Ou seja, o ataque a reformas e pensões, aos direitos adquiridos e a outros aspectos daquilo que consideram o statu quo, não é uma consequência conjuntural das imposições da troika, mas uma revolução estrutural destinada a impor uma justiça “geracional” entre “gerações actuais” e “futuras”, ou seja, uma luta social assente na idade.
A formação do actual discurso governamental sobre os “jovens” e os “velhos” vem de bastante atrás. Veio das “jotas” nos anos oitenta e noventa do século passado e chamava-se “discurso geracional”. Tratava-se de um discurso reivindicativo de mais lugares, mais funções, mais poderes, e funcionava como legitimação política para assegurar a autonomia das juventudes partidárias e dar-lhes um espírito de corpo. (...)
Foi preciso passar alguns anos e assistir à ascensão destes grupos através da política profissionalizada, que foi e é a sua impressão digital, para que os partidos adultos lhes caíssem nas mãos. Primeiro, as secções, depois as distritais ou as federações, e por fim as direcções partidárias. Pelo caminho, este processo de controlo político crescente dos partidos pelas “jotas” implicava a sua ocupação cada vez mais significativa dos cargos a que os partidos políticos tinham acesso por via eleitoral ou, mais comummente, por via da partidarização das estruturas do Estado.
O fenómeno dos boys institucionalizava essa ocupação do Estado (...). Os lugares nas autarquias, nas empresas municipalizadas, nas assessorias, nos sectores regionalizados da saúde e da educação, em certas áreas governamentais consideradas propriedade das “jotas”, como o Instituto da Juventude, o desporto, nas múltiplas nomeações governamentais em que as “jotas” tinham uma quota, nos grupos parlamentares, no Parlamento, no Parlamento Europeu, nos gabinetes ministeriais, faziam parte do currículo desse novo tipo de carreiras profissionais a que se acedia pelas “jotas” dentro dos partidos. Este processo ia a par com a ausência de estudos, a falta de uma experiência verdadeira no mundo do trabalho, nenhuma carreira profissional, ou mesmo profissão fora da política, e muitas vezes cursos desqualificados ou apenas “frequência” de cursos, e profissões ambíguas nos registos biográficos como “consultor”. Foi esta a escola de Passos Coelho e Miguel Relvas, mas também de Seguro e de muita da sua equipa. (...) O “discurso geracional” era um discurso muitas vezes horizontal, em que os responsáveis da JSD e da JS diziam substancialmente o mesmo e muitas vezes se entendiam, sempre numa afirmação de comunidade geracional alheia a qualquer consideração política e ideológica. Era a idade que os unia, (...) e o seu plano de vida era fazer carreira nos partidos políticos e foi nisso que se especializaram e foi aí que tiveram sucesso.
Faziam muitas vezes a rábula dos “jovens irreverentes”, mas isso, com o tempo, tornou-se apenas o modo como se tornavam disponíveis para fazer o“trabalho sujo” dos partidos políticos, que eram encomendados pelas direcções partidárias às suas “jotas” e que estas faziam com agrado. (...)
Na verdade, a única identidade política que unia os autores do “discurso geracional” era a defesa das suas carreiras dentro dos partidos e através dos partidos o acesso ao poder económico, social e político. Hoje, um governo de antigos “jotas” é um maná para as “jotas” actuais que estão por todo o lado no governo e à sua volta. O mesmo se passa na oposição do PS, com a esperança de ocupação do estado com peso idêntico ou maior do que a outra “jota”.
Embora sejam hoje homens de meia-idade, já velhos para o mercado de trabalho se quisessem entrar nele, estes antigos “jotas” do “discurso geracional” que hoje estão no poder moldaram a política partidária nos últimos anos e são a encarnação viva de um dos grandes problemas da democracia portuguesa, a partidocracia. Numa altura de gravíssima crise política e social, eles são a única “oferta” que os partidos políticos têm para dar aos seus eleitores e essa oferta é má e a milhas do que era preciso. Mas a hegemonia dos partidos da vida pública, defendida com unhas e dentes, garante a sua manutenção.
(...) A frase da moção de Passos Coelho sobre a “apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações” é prenhe de significado político e ideológico, mas deve ser combatida sem transigências. É má no plano político e falsa no seu conteúdo. Quem define o que é “excessivo”? Como se pode arrogar de “defender” os “jovens” quem degrada as suas condições de vida actual, inclusive ao atirar os seus pais e avós para a pobreza, e quem empurrando-os para o desemprego, a emigração ou para a precariedade, lhes estraga o presente e o futuro? E que “futuro” vão ter, sendo menos qualificados e com salários mais baixos, “ajustados”? É retórica que usa a juventude para garantir uma nova hierarquia social de poder, mas nada mais do que isso.
Mas não é só isso. A frase também é má no plano da moralidade social, gera gente má e indiferente aos estragos que faz na vida alheia, gente que perante qualquer problema tende a de imediato culpabilizar sempre os mais fracos, e assenta no uso do poder do Estado para atacar quem tem pouca defesa e nenhum recuo no meio ou no fim da vida. Até porque a juventude defende sempre os mais jovens, dá-lhes mais mobilidade e oportunidades, por poucas e difíceis que sejam, e a idade adulta, que é a do “desemprego de longa duração” e a da velhice, que é a dos cortes nas reformas e pensões, essas não dão oportunidade nenhuma. Para eles, não há “impulso” nenhum, são aqueles para quem existe apenas uma sanção moral pelo seu “culto da gratificação imediata e da consideração de curto prazo em desfavor da reflexão prospectiva”. Este é o produto de gente mal formada, como se dizia antigamente. Linguagem do passado, bem sei, sem “reflexão prospectiva”.
A moção de Passos Coelho ao Congresso do PSD nada tem que ver com a matriz social-democrata do partido, nem com o seu programa genético definido pelos fundadores, em particular Sá Carneiro, mas já tem mais que ver com a história concreta dos partidos portugueses nos últimos anos, em particular nas “jotas” e o seu papel na ascensão de políticos profissionais dentro dos partidos.(...) Mas, na sua moção, há um interessante ponto que, embora formulado na actual vulgata ideológica, remete para outras “histórias”. Refiro-me à afirmação de que existe uma “apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações”. Ou seja, o ataque a reformas e pensões, aos direitos adquiridos e a outros aspectos daquilo que consideram o statu quo, não é uma consequência conjuntural das imposições da troika, mas uma revolução estrutural destinada a impor uma justiça “geracional” entre “gerações actuais” e “futuras”, ou seja, uma luta social assente na idade.
A formação do actual discurso governamental sobre os “jovens” e os “velhos” vem de bastante atrás. Veio das “jotas” nos anos oitenta e noventa do século passado e chamava-se “discurso geracional”. Tratava-se de um discurso reivindicativo de mais lugares, mais funções, mais poderes, e funcionava como legitimação política para assegurar a autonomia das juventudes partidárias e dar-lhes um espírito de corpo. (...)
Foi preciso passar alguns anos e assistir à ascensão destes grupos através da política profissionalizada, que foi e é a sua impressão digital, para que os partidos adultos lhes caíssem nas mãos. Primeiro, as secções, depois as distritais ou as federações, e por fim as direcções partidárias. Pelo caminho, este processo de controlo político crescente dos partidos pelas “jotas” implicava a sua ocupação cada vez mais significativa dos cargos a que os partidos políticos tinham acesso por via eleitoral ou, mais comummente, por via da partidarização das estruturas do Estado.
O fenómeno dos boys institucionalizava essa ocupação do Estado (...). Os lugares nas autarquias, nas empresas municipalizadas, nas assessorias, nos sectores regionalizados da saúde e da educação, em certas áreas governamentais consideradas propriedade das “jotas”, como o Instituto da Juventude, o desporto, nas múltiplas nomeações governamentais em que as “jotas” tinham uma quota, nos grupos parlamentares, no Parlamento, no Parlamento Europeu, nos gabinetes ministeriais, faziam parte do currículo desse novo tipo de carreiras profissionais a que se acedia pelas “jotas” dentro dos partidos. Este processo ia a par com a ausência de estudos, a falta de uma experiência verdadeira no mundo do trabalho, nenhuma carreira profissional, ou mesmo profissão fora da política, e muitas vezes cursos desqualificados ou apenas “frequência” de cursos, e profissões ambíguas nos registos biográficos como “consultor”. Foi esta a escola de Passos Coelho e Miguel Relvas, mas também de Seguro e de muita da sua equipa. (...) O “discurso geracional” era um discurso muitas vezes horizontal, em que os responsáveis da JSD e da JS diziam substancialmente o mesmo e muitas vezes se entendiam, sempre numa afirmação de comunidade geracional alheia a qualquer consideração política e ideológica. Era a idade que os unia, (...) e o seu plano de vida era fazer carreira nos partidos políticos e foi nisso que se especializaram e foi aí que tiveram sucesso.
Faziam muitas vezes a rábula dos “jovens irreverentes”, mas isso, com o tempo, tornou-se apenas o modo como se tornavam disponíveis para fazer o“trabalho sujo” dos partidos políticos, que eram encomendados pelas direcções partidárias às suas “jotas” e que estas faziam com agrado. (...)
Na verdade, a única identidade política que unia os autores do “discurso geracional” era a defesa das suas carreiras dentro dos partidos e através dos partidos o acesso ao poder económico, social e político. Hoje, um governo de antigos “jotas” é um maná para as “jotas” actuais que estão por todo o lado no governo e à sua volta. O mesmo se passa na oposição do PS, com a esperança de ocupação do estado com peso idêntico ou maior do que a outra “jota”.
Embora sejam hoje homens de meia-idade, já velhos para o mercado de trabalho se quisessem entrar nele, estes antigos “jotas” do “discurso geracional” que hoje estão no poder moldaram a política partidária nos últimos anos e são a encarnação viva de um dos grandes problemas da democracia portuguesa, a partidocracia. Numa altura de gravíssima crise política e social, eles são a única “oferta” que os partidos políticos têm para dar aos seus eleitores e essa oferta é má e a milhas do que era preciso. Mas a hegemonia dos partidos da vida pública, defendida com unhas e dentes, garante a sua manutenção.
(...) A frase da moção de Passos Coelho sobre a “apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações” é prenhe de significado político e ideológico, mas deve ser combatida sem transigências. É má no plano político e falsa no seu conteúdo. Quem define o que é “excessivo”? Como se pode arrogar de “defender” os “jovens” quem degrada as suas condições de vida actual, inclusive ao atirar os seus pais e avós para a pobreza, e quem empurrando-os para o desemprego, a emigração ou para a precariedade, lhes estraga o presente e o futuro? E que “futuro” vão ter, sendo menos qualificados e com salários mais baixos, “ajustados”? É retórica que usa a juventude para garantir uma nova hierarquia social de poder, mas nada mais do que isso.
Mas não é só isso. A frase também é má no plano da moralidade social, gera gente má e indiferente aos estragos que faz na vida alheia, gente que perante qualquer problema tende a de imediato culpabilizar sempre os mais fracos, e assenta no uso do poder do Estado para atacar quem tem pouca defesa e nenhum recuo no meio ou no fim da vida. Até porque a juventude defende sempre os mais jovens, dá-lhes mais mobilidade e oportunidades, por poucas e difíceis que sejam, e a idade adulta, que é a do “desemprego de longa duração” e a da velhice, que é a dos cortes nas reformas e pensões, essas não dão oportunidade nenhuma. Para eles, não há “impulso” nenhum, são aqueles para quem existe apenas uma sanção moral pelo seu “culto da gratificação imediata e da consideração de curto prazo em desfavor da reflexão prospectiva”. Este é o produto de gente mal formada, como se dizia antigamente. Linguagem do passado, bem sei, sem “reflexão prospectiva”.
Published on February 02, 2014 11:55
January 30, 2014
A Cultura da Crise
Assistir à Apresentação do Manifesto Contra a Crise: COMPROMISSO com a CIÊNCIA, a CULTURA e as ARTES em PORTUGAL foi um privilégio e com todo o meu coração desejo que prossiga nos seus objectivos. Horas antes saíra no Diário de Notícias a crónica de Viriato Soromenho-Marques, um dos seus mentores, que aqui vos deixo, para esclarecimento e rogando-vos que participem na luta contra o descalabro de destruição dos valores da nossa civilização que grassa não só em Portugal como no resto da Europa. Este movimento pretende ultrapassar fronteiras e apelar à formação de movimentos similares de cidadania, não vinculados a partidos políticos.
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, DN 29-01-2014
É apresentado hoje (foi apresentado ontem, 29-01-2014) em Lisboa um breve mas esclarecedor Manifesto contra a Crise, assinado por mais de uma centena de subscritores, provenientes dos mais diversos campos da ciência, da cultura e das artes.
O texto foi escrito ainda antes de se saber a decisão expedita seguida pelo Governo para resolver a desproporção entre o número de investigadores e a escassez orçamental: efectuando o corte mais brutal de bolsas da história da política de ciência em Portugal.
O mais interessante neste Manifesto consiste em mostrar que só existe hoje uma crise na cultura (do cinema ao teatro, das artes plásticas à pesquisa de ponta) porque existe uma cultura da crise. Os actuais decisores políticos reiteram, noutras roupagens, escolhas que lesaram gravemente o País.
Tal como no tempo da Inquisição, quando a nossa elite intelectual e comercial foi expulsa por um catolicismo fundamentalista, sem cuidar dos danos para os interesses do País e do império que tal hemorragia iria causar, temos hoje um Governo que saúda a emigração forçada de dezenas de milhares de jovens licenciados, sem avaliar o que significa regredir décadas na criação de uma massa crítica capaz de imaginar e construir novas saídas para a crise nacional.
O analfabetismo crónico da população portuguesa sempre foi um factor de desvantagem, tanto em relação aos países protestantes como aos católicos. Quarenta anos de democracia quase venceram esse estigma.
O que não foi possível foi derrubar a iliteracia funcional de uma falsa elite, que dentro do Estado manda sem mérito para tal. Há um relógio invisível que todos os dias avança em direção ao futuro. E sem atrasos. Cada vez nos aproximamos mais do dia em que os que apelam ao êxodo, serão obrigados, também eles, a sair da sua "zona de conforto".
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, DN 29-01-2014 É apresentado hoje (foi apresentado ontem, 29-01-2014) em Lisboa um breve mas esclarecedor Manifesto contra a Crise, assinado por mais de uma centena de subscritores, provenientes dos mais diversos campos da ciência, da cultura e das artes.
O texto foi escrito ainda antes de se saber a decisão expedita seguida pelo Governo para resolver a desproporção entre o número de investigadores e a escassez orçamental: efectuando o corte mais brutal de bolsas da história da política de ciência em Portugal.
O mais interessante neste Manifesto consiste em mostrar que só existe hoje uma crise na cultura (do cinema ao teatro, das artes plásticas à pesquisa de ponta) porque existe uma cultura da crise. Os actuais decisores políticos reiteram, noutras roupagens, escolhas que lesaram gravemente o País.
Tal como no tempo da Inquisição, quando a nossa elite intelectual e comercial foi expulsa por um catolicismo fundamentalista, sem cuidar dos danos para os interesses do País e do império que tal hemorragia iria causar, temos hoje um Governo que saúda a emigração forçada de dezenas de milhares de jovens licenciados, sem avaliar o que significa regredir décadas na criação de uma massa crítica capaz de imaginar e construir novas saídas para a crise nacional.
O analfabetismo crónico da população portuguesa sempre foi um factor de desvantagem, tanto em relação aos países protestantes como aos católicos. Quarenta anos de democracia quase venceram esse estigma.
O que não foi possível foi derrubar a iliteracia funcional de uma falsa elite, que dentro do Estado manda sem mérito para tal. Há um relógio invisível que todos os dias avança em direção ao futuro. E sem atrasos. Cada vez nos aproximamos mais do dia em que os que apelam ao êxodo, serão obrigados, também eles, a sair da sua "zona de conforto".
Published on January 30, 2014 03:04
January 28, 2014
O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo
Jornal Ponto Final 28-01-2014
Arquitecto de profissão, o delegado da Fundação Oriente em Goa encontrou aqui um espólio cultural “fantástico”. Depois de 15 anos no Japão, onde a eficiência era a palavra de ordem, Eduardo Kol de Carvalho fala agora de “uma Ásia completamente diferente”. Da preservação do património à promoção da língua portuguesa, a delegação não tem mãos a medir.Inês Santinhos Gonçalves, em Goa- Qual é o maior desafio da Fundação Oriente em Goa?Eduardo Kol de Carvalho – Estamos de porta aberta desde 1995. Ao longo dos anos a situação mudou, tanto a da Fundação como a da própria Índia. Temos tido diferentes tipos de preocupações, embora algumas permaneçam desde a primeira hora, como é o caso da promoção da língua portuguesa. No início fizemos muita recuperação de património, até porque a Índia não tinha meios e equipas técnicas. Não é o caso hoje em dia, porque eles já têm as suas equipas e presentemente damos mais apoio técnico e tentamos fomentar. Quais são as principais preocupações? É manter este intercâmbio entre Portugal e a Índia, fomentar as relações culturais, trazer artistas portugueses à Índia, apoiar muito as populações locais na área cultural e promover a língua portuguesa.- Quais são as maiores dificuldades?E.K.C. – Para já, dificuldades orçamentais. A Índia deu um grande salto e o custo de vida já não é como era no passado, em que o investimento aqui era fácil, qualquer verba se traduzia em resultados palpáveis. Hoje já não é tanto assim. E a Fundação Oriente tem outros projectos, como o Museu do Oriente, e tem de prestar atenção à manutenção e promoção desse instrumento, tendo menos verbas disponíveis para a Índia. Depois, temos de ver que a Índia, e Goa, se move noutro ritmo e eventualmente é isso que nos perturba mais.- É a Fundação Oriente quem lidera as acções de promoção da língua portuguesa?E.K.C. – Não. A língua portuguesa está contemplada no programa escolar goês, é uma língua de opção a partir do 8º ano de escolaridade, é a terceira língua de opção, com o francês e o hindi. Depois, no superior, também há português. A Fundação Oriente não tem o monopólio do português no secundário, que tem os seus próprios professores, mas apoiamos muitas das outras escolas que não têm condições para manter um professor de português. Hoje em dia estamos a apoiar 848 estudantes, do 8º ao 12º ano. Temos um trabalho de cooperação muito profícuo com o Instituto Camões. Desde 2010 existe uma associação goesa de professores de português, de que também somos sócios e a quem damos apoio.- A Fundação Oriente organiza um concurso muito popular em Goa, o “Vem Cantar”.E.K.C. – Vamos para a 16ª edição, mas não foi uma iniciativa nossa, foi de um college [instituto superior] nos arredores de Margão. Era um bocadinho insipiente mas um dos meus antecessores trouxe-a para o seio da Fundação, sempre em colaboração com este college. Começámos a participar a partir da quarta edição e hoje é uma manifestação cultural em Goa, em torno da língua portuguesa. Porque realmente move a juventude e não só. Tem duas eliminatórias, uma em Pangim, outra em Margão e uma final. Inicialmente havia apenas uma prova, o que quer dizer que o número de participantes aumentou imenso. É um concurso de canção em português, com divisão entre grupos etários, dos mais miúdos até aos adultos, e também entre grupos e solos. No início ainda estavam muito presos às canções que tínhamos deixado aqui em 1961, os temas até se repetiam muito, como ‘Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora’. Entretanto, começámos a organizar workshops de preparação, para apresentar a canção contemporânea em português. Hoje em dia cantam Mariza, por exemplo. O fado está presente mas nem é o prato principal, há músicas de todos os tipos. No ano passado tivemos 52 solos e 33 grupos, o que é um número já fantástico. Na final conseguimos ter uma sala com mais de mil lugares cheia, durante quase cinco horas. É super popular.- Os participantes dominam todos os português?E.K.C. – Não, nem todos falam português e alguns dominam mal. Já estive em quatro concursos e já notei uma presença em palco muito diferente, estão muito mais sofisticados e estão a tomar muita atenção à forma como se apresentam.- É, então, um bom instrumento de promoção da língua?E.K.C. – Fantástico. Confesso que quando estava a preparar-me para vir para Goa, estava a ler os dossiers da delegação e vi aquilo, “Concurso da canção portuguesa ‘Vem Cantar’”, e pensei “É a primeira coisa com que vou acabar”. Parecia uma coisa muito tosca. Mas realmente é uma acção fantástica, que move imensa gente – são os participantes, os familiares, os amigos, as escolas. Não precisamos de fazer muita promoção.- Há cooperação entre a delegação da Fundação Oriente em Goa e a delegação em Macau?E.K.C. – Há diálogo mas não há muita cooperação, o ambiente de trabalho é muito diferente. Temos uma iniciativa, que vai ser agora a 7, 8 e 9 de Fevereiro, que é o Festival de Música do Monte. Tentei trazer grupos de Macau ao festival, a minha colega [Ana Paula Cleto] tentou mover mundos junto das instituições culturais em Macau, mas não se conseguiu.- Em que consiste o festival?E.K.C. – Como disse, uma das preocupações da Fundação foi a recuperação de património. O ex-libris desse trabalho foi a recuperação da Capela do Monte, que tem uma posição fantástica, uma vista linda sobre Velha Goa. É um edifício muito interessante histórica e arquitectonicamente, localizado num sítio maravilhoso. Após a conclusão da reparação, um dos meus antecessores teve a excelente ideia de instituir um festival de música. É a uma sexta, sábado e domingo à noite, com música do Oriente e do Ocidente. Trazemos sempre alguém da Europa – acabou de chegar a soprano portuguesa, de um coro italiano, que vem participar. Há vários palcos: a igreja não permite que se cante outra música que não seja música sacra, mas no exterior montamos outros palcos. Montamos o palco das seis da tarde, para se assistir ao pôr-do-sol. Portanto, temos em frente de nós o artista – normalmente é música ou dança indiana –, a paisagem de velha Goa com as suas igrejas a despontar na floresta de coqueiros e o pôr-do-sol. É realmente um espectáculo lindíssimo, que chama imenso público. Às vezes temos também um terceiro palco, o da noite. E terminamos sempre na capela, com música sacra e coros.- Faria sentido uma maior aproximação entre Macau e Goa?E.K.C. – Claro, sem dúvida.- Nalgum projecto em particular?E.K.C. – Acho que na área da música, sobretudo. Já houve artistas de Goa que foram cantar a Macau. Até em termos das relações entre a Índia e a China, seria muito recomendável. Mas infelizmente, quer o Governo de Macau, quero o Governo de Goa, se calhar não se aperceberam disso. As relações são um bocadinho frias e ter-nos a nós como interlocutores seria muito útil.- Como avalia o estado do património em Goa?E.K.C. – O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo. Ao longo dos 451 anos que estivemos aqui, construímos muito. Tem um património de arquitectura militar, civil, religiosa, tem um património ao nível de altares e púlpitos, de mobiliário de igreja, fantástico. As peças ligadas à arquitectura civil também são fantásticas. Todo o património indo-português é realmente fabuloso. Depois tem uma monção anual devastadora. Não é por acaso que Goa é muito verde e tem água por todos os lados. Durante quatro meses chove 48 horas por dia, como costumo dizer, e com uma intensidade absolutamente inacreditável. Para o património é muito mau, a arquitectura não gosta. Tem de haver um trabalho contínuo de conservação. [E há algum] desleixo em relação ao património arquitectónico, em Portugal isso [também] aconteceu durante algumas décadas.- Falamos apenas do património cristão?E.K.C. – Sobretudo. Diz-se que os portugueses destruíram muitos templos e é natural que sim, mas presumo que também não houvesse templos de grande envergadura em Goa.- Mas quando se fala em trabalhos de preservação, são para todo o património?E.K.C. – Para todo. Na região de Ponda há uns templos hindus de grande interesse arquitectónico e artístico, existem algumas mesquitas e edifícios históricos classificados e aí não há distinção. Mas, realmente, ressalta o valor da arquitectura militar, religiosa e civil indo-portuguesa. E aí não temos mãos a medir, os recursos são escassos para o valor do património. As populações, com a globalização, perderam um pouco esse instinto de conservação, como aconteceu em Portugal na década de 1960 e 1970. Em Macau, a arquitectura civil não teve a mesma expressão [que em Goa], embora tivesse coisas muito interessantes, quer da arquitectura chinesa, quer da ocidental.- Esteve 15 anos no Japão como professor e conselheiro cultural da Embaixada de Portugal. Porquê esse interesse pela Ásia?E.K.C. – Já tenho quase 21 anos de Ásia. Estive um ano no Golfo, um ano na Tailândia, 12 em Tóquio, três em Quioto e três e meio em Goa. Calhou. Sou arquitecto, neste momento não estou a executar arquitectura, mas na arquitectura uma área que sempre me foi cara foi a do património e foi isso que me trouxe à Ásia. Do património à cultura foi um pulo. A experiência no Japão foi muito rica, um bocadinho contrária à da Índia. As coisas funcionam a uma velocidade fantástica, idealiza-se um projecto e amanhã já está concretizado. Há recursos humanos, há recursos materiais. Tive a felicidade de conseguir realizar projectos interessantes e importantes, com a colaboração da área empresarial japonesa e dos municípios. Aqui é uma Ásia completamente diferente, são outros desafios. “Importante para Goa, para a lusofonia e para a língua portuguesa” - Como olha para os Jogos da Lusofonia?E.K.C. – A Fundação não colaborou, estou a ver como espectador. Acho que é desafio grande para Goa. Nunca aconteceu nada desta dimensão e estão obviamente orgulhosos disso. Devia ter acontecido em Novembro, as coisas atrasaram-se muito e foi pena, porque teríamos tido mais participações de outros países. Mas acho que é importante para Goa, para a lusofonia e para a promoção da língua portuguesa. Estes acontecimentos são sempre importantes para os países organizadores e vai ser importante para a lusofonia, não pode deixar de o ser. Tenho esperança de que, para já, elimine alguns preconceitos da Administração em relação a Portugal e à língua portuguesa, e depois é a adesão popular.- Como comenta a posição do chefe de missão de Portugal, que se recusou a falar inglês com os jornalistas indianos?E.K.C. – Respeito. Eu talvez não o tivesse feito porque haverá jornalistas que não serão sequer de Goa. Percebo que a organização não tenha capacidade para ter intérpretes disponíveis.- Seria realista esperar que os Jogos tivessem o português como língua de trabalho?E.K.C. – Deviam ter, mas são só os terceiros Jogos, num país que não é lusófono.
Arquitecto de profissão, o delegado da Fundação Oriente em Goa encontrou aqui um espólio cultural “fantástico”. Depois de 15 anos no Japão, onde a eficiência era a palavra de ordem, Eduardo Kol de Carvalho fala agora de “uma Ásia completamente diferente”. Da preservação do património à promoção da língua portuguesa, a delegação não tem mãos a medir.Inês Santinhos Gonçalves, em Goa- Qual é o maior desafio da Fundação Oriente em Goa?Eduardo Kol de Carvalho – Estamos de porta aberta desde 1995. Ao longo dos anos a situação mudou, tanto a da Fundação como a da própria Índia. Temos tido diferentes tipos de preocupações, embora algumas permaneçam desde a primeira hora, como é o caso da promoção da língua portuguesa. No início fizemos muita recuperação de património, até porque a Índia não tinha meios e equipas técnicas. Não é o caso hoje em dia, porque eles já têm as suas equipas e presentemente damos mais apoio técnico e tentamos fomentar. Quais são as principais preocupações? É manter este intercâmbio entre Portugal e a Índia, fomentar as relações culturais, trazer artistas portugueses à Índia, apoiar muito as populações locais na área cultural e promover a língua portuguesa.- Quais são as maiores dificuldades?E.K.C. – Para já, dificuldades orçamentais. A Índia deu um grande salto e o custo de vida já não é como era no passado, em que o investimento aqui era fácil, qualquer verba se traduzia em resultados palpáveis. Hoje já não é tanto assim. E a Fundação Oriente tem outros projectos, como o Museu do Oriente, e tem de prestar atenção à manutenção e promoção desse instrumento, tendo menos verbas disponíveis para a Índia. Depois, temos de ver que a Índia, e Goa, se move noutro ritmo e eventualmente é isso que nos perturba mais.- É a Fundação Oriente quem lidera as acções de promoção da língua portuguesa?E.K.C. – Não. A língua portuguesa está contemplada no programa escolar goês, é uma língua de opção a partir do 8º ano de escolaridade, é a terceira língua de opção, com o francês e o hindi. Depois, no superior, também há português. A Fundação Oriente não tem o monopólio do português no secundário, que tem os seus próprios professores, mas apoiamos muitas das outras escolas que não têm condições para manter um professor de português. Hoje em dia estamos a apoiar 848 estudantes, do 8º ao 12º ano. Temos um trabalho de cooperação muito profícuo com o Instituto Camões. Desde 2010 existe uma associação goesa de professores de português, de que também somos sócios e a quem damos apoio.- A Fundação Oriente organiza um concurso muito popular em Goa, o “Vem Cantar”.E.K.C. – Vamos para a 16ª edição, mas não foi uma iniciativa nossa, foi de um college [instituto superior] nos arredores de Margão. Era um bocadinho insipiente mas um dos meus antecessores trouxe-a para o seio da Fundação, sempre em colaboração com este college. Começámos a participar a partir da quarta edição e hoje é uma manifestação cultural em Goa, em torno da língua portuguesa. Porque realmente move a juventude e não só. Tem duas eliminatórias, uma em Pangim, outra em Margão e uma final. Inicialmente havia apenas uma prova, o que quer dizer que o número de participantes aumentou imenso. É um concurso de canção em português, com divisão entre grupos etários, dos mais miúdos até aos adultos, e também entre grupos e solos. No início ainda estavam muito presos às canções que tínhamos deixado aqui em 1961, os temas até se repetiam muito, como ‘Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora’. Entretanto, começámos a organizar workshops de preparação, para apresentar a canção contemporânea em português. Hoje em dia cantam Mariza, por exemplo. O fado está presente mas nem é o prato principal, há músicas de todos os tipos. No ano passado tivemos 52 solos e 33 grupos, o que é um número já fantástico. Na final conseguimos ter uma sala com mais de mil lugares cheia, durante quase cinco horas. É super popular.- Os participantes dominam todos os português?E.K.C. – Não, nem todos falam português e alguns dominam mal. Já estive em quatro concursos e já notei uma presença em palco muito diferente, estão muito mais sofisticados e estão a tomar muita atenção à forma como se apresentam.- É, então, um bom instrumento de promoção da língua?E.K.C. – Fantástico. Confesso que quando estava a preparar-me para vir para Goa, estava a ler os dossiers da delegação e vi aquilo, “Concurso da canção portuguesa ‘Vem Cantar’”, e pensei “É a primeira coisa com que vou acabar”. Parecia uma coisa muito tosca. Mas realmente é uma acção fantástica, que move imensa gente – são os participantes, os familiares, os amigos, as escolas. Não precisamos de fazer muita promoção.- Há cooperação entre a delegação da Fundação Oriente em Goa e a delegação em Macau?E.K.C. – Há diálogo mas não há muita cooperação, o ambiente de trabalho é muito diferente. Temos uma iniciativa, que vai ser agora a 7, 8 e 9 de Fevereiro, que é o Festival de Música do Monte. Tentei trazer grupos de Macau ao festival, a minha colega [Ana Paula Cleto] tentou mover mundos junto das instituições culturais em Macau, mas não se conseguiu.- Em que consiste o festival?E.K.C. – Como disse, uma das preocupações da Fundação foi a recuperação de património. O ex-libris desse trabalho foi a recuperação da Capela do Monte, que tem uma posição fantástica, uma vista linda sobre Velha Goa. É um edifício muito interessante histórica e arquitectonicamente, localizado num sítio maravilhoso. Após a conclusão da reparação, um dos meus antecessores teve a excelente ideia de instituir um festival de música. É a uma sexta, sábado e domingo à noite, com música do Oriente e do Ocidente. Trazemos sempre alguém da Europa – acabou de chegar a soprano portuguesa, de um coro italiano, que vem participar. Há vários palcos: a igreja não permite que se cante outra música que não seja música sacra, mas no exterior montamos outros palcos. Montamos o palco das seis da tarde, para se assistir ao pôr-do-sol. Portanto, temos em frente de nós o artista – normalmente é música ou dança indiana –, a paisagem de velha Goa com as suas igrejas a despontar na floresta de coqueiros e o pôr-do-sol. É realmente um espectáculo lindíssimo, que chama imenso público. Às vezes temos também um terceiro palco, o da noite. E terminamos sempre na capela, com música sacra e coros.- Faria sentido uma maior aproximação entre Macau e Goa?E.K.C. – Claro, sem dúvida.- Nalgum projecto em particular?E.K.C. – Acho que na área da música, sobretudo. Já houve artistas de Goa que foram cantar a Macau. Até em termos das relações entre a Índia e a China, seria muito recomendável. Mas infelizmente, quer o Governo de Macau, quero o Governo de Goa, se calhar não se aperceberam disso. As relações são um bocadinho frias e ter-nos a nós como interlocutores seria muito útil.- Como avalia o estado do património em Goa?E.K.C. – O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo. Ao longo dos 451 anos que estivemos aqui, construímos muito. Tem um património de arquitectura militar, civil, religiosa, tem um património ao nível de altares e púlpitos, de mobiliário de igreja, fantástico. As peças ligadas à arquitectura civil também são fantásticas. Todo o património indo-português é realmente fabuloso. Depois tem uma monção anual devastadora. Não é por acaso que Goa é muito verde e tem água por todos os lados. Durante quatro meses chove 48 horas por dia, como costumo dizer, e com uma intensidade absolutamente inacreditável. Para o património é muito mau, a arquitectura não gosta. Tem de haver um trabalho contínuo de conservação. [E há algum] desleixo em relação ao património arquitectónico, em Portugal isso [também] aconteceu durante algumas décadas.- Falamos apenas do património cristão?E.K.C. – Sobretudo. Diz-se que os portugueses destruíram muitos templos e é natural que sim, mas presumo que também não houvesse templos de grande envergadura em Goa.- Mas quando se fala em trabalhos de preservação, são para todo o património?E.K.C. – Para todo. Na região de Ponda há uns templos hindus de grande interesse arquitectónico e artístico, existem algumas mesquitas e edifícios históricos classificados e aí não há distinção. Mas, realmente, ressalta o valor da arquitectura militar, religiosa e civil indo-portuguesa. E aí não temos mãos a medir, os recursos são escassos para o valor do património. As populações, com a globalização, perderam um pouco esse instinto de conservação, como aconteceu em Portugal na década de 1960 e 1970. Em Macau, a arquitectura civil não teve a mesma expressão [que em Goa], embora tivesse coisas muito interessantes, quer da arquitectura chinesa, quer da ocidental.- Esteve 15 anos no Japão como professor e conselheiro cultural da Embaixada de Portugal. Porquê esse interesse pela Ásia?E.K.C. – Já tenho quase 21 anos de Ásia. Estive um ano no Golfo, um ano na Tailândia, 12 em Tóquio, três em Quioto e três e meio em Goa. Calhou. Sou arquitecto, neste momento não estou a executar arquitectura, mas na arquitectura uma área que sempre me foi cara foi a do património e foi isso que me trouxe à Ásia. Do património à cultura foi um pulo. A experiência no Japão foi muito rica, um bocadinho contrária à da Índia. As coisas funcionam a uma velocidade fantástica, idealiza-se um projecto e amanhã já está concretizado. Há recursos humanos, há recursos materiais. Tive a felicidade de conseguir realizar projectos interessantes e importantes, com a colaboração da área empresarial japonesa e dos municípios. Aqui é uma Ásia completamente diferente, são outros desafios. “Importante para Goa, para a lusofonia e para a língua portuguesa” - Como olha para os Jogos da Lusofonia?E.K.C. – A Fundação não colaborou, estou a ver como espectador. Acho que é desafio grande para Goa. Nunca aconteceu nada desta dimensão e estão obviamente orgulhosos disso. Devia ter acontecido em Novembro, as coisas atrasaram-se muito e foi pena, porque teríamos tido mais participações de outros países. Mas acho que é importante para Goa, para a lusofonia e para a promoção da língua portuguesa. Estes acontecimentos são sempre importantes para os países organizadores e vai ser importante para a lusofonia, não pode deixar de o ser. Tenho esperança de que, para já, elimine alguns preconceitos da Administração em relação a Portugal e à língua portuguesa, e depois é a adesão popular.- Como comenta a posição do chefe de missão de Portugal, que se recusou a falar inglês com os jornalistas indianos?E.K.C. – Respeito. Eu talvez não o tivesse feito porque haverá jornalistas que não serão sequer de Goa. Percebo que a organização não tenha capacidade para ter intérpretes disponíveis.- Seria realista esperar que os Jogos tivessem o português como língua de trabalho?E.K.C. – Deviam ter, mas são só os terceiros Jogos, num país que não é lusófono.
Published on January 28, 2014 16:57
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