Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 31

May 4, 2015

515º Aniversário do Achamento do Brasil

Foi precisamente há 15 anos que escrevi o meu primeiro romance, "Uraçá. o Índio Branco", para as comemorações do 5º centenário do descobrimento ou achamento do Brasil. Fascinada por este país, cuja Literatura e Cultura estudei durante anos, com paixão, o desafio não podia ser mais gratificante.

Este livro foi também o primeiro de uma colecção de sete romances de viagens e aventuras, com navegadores e exploradores portugueses - a Colecção Cruzeiro do Sul, publicada pela editora Livros Horizonte -,  uma saga de personagens históricas eu pretendia dar a conhecer a um público jovem, de preferência universitário e dos últimos anos do ensino secundário.

Os nossos críticos pouca atenção lhes prestaram, ao contrário dos "lá de fora", de França, Itália, Estados Unidos da América e Canadá, que lhes deram o relevo de páginas centrais nos jornais mais lidos pelos portugueses da 1ª e 2ª gerações de emigrantes, e cujos professores os usaram nas aulas de Português das suas universidades.

Essa falta de interesse foi o "empurrão" que me levou a escrever para um público mais alargado, a partir do imenso material de pesquisa que tinha armazenado naqueles cinco anos de trabalho.

Tendo saído agora a nova edição de "O Espião de D. João II - Pêro da Covilhã", recordo aqui essa minha aventura de uma saga, à maneira do Emilio Salgari, com esta cuidadosa análise da crítica literária e grande senhora de cultura que é Maria Fernanda Pinto.

 


Deana Barroqueiro, ou a Arte de Contar por Maria Fernanda Pinto, para o Jornal Encontro, Paris


A arte de contar, não se aprende. É um dom natural, nasce com a pessoa. Como no velho Oriente, onde “contador de histórias” era uma profissão das mais respeitadas, à volta do qual se reuniam todos aqueles que queriam saber como foi o início das eras, como tal coisa deu origem a uma outra, e o porquê dos usos e costumes que eles maquinalmente efectuavam de geração em geraçãosem saber porquê.
Pela voz, pela escrita, à medida que vão contando, conseguem seduzir-nos a imaginação levando-nos até nossa adolescência, infância, e mesmo a latitudes reais ou imaginárias onde nunca pusemos os pés. Deana Barroqueiro possui uma força de expressão e uma elegância de estilo dignos de nota, ao mesmo tempo que mantém uma linguagem compreensível a todos.
A sua escrita é perfeita e colorida, descritiva de uma maneira que nos transporta para a época em questão, ficando sempre com vontade de saber mais. Já era tempo que se falasse da expansão dos portugueses para além dos mares, desta maneira. Já não sonhávamos, desde a época de Stephan Zweig, Jules Vernes ou Emílio Salgari que fizeram as delícias das nossas infâncias.
Claro que justamente as pessoas possuindo este dom raro, porque é raro, são sempre olhadas um pouco de esguelha pelos “puros literatas”, que chamam ao seu estilo, romance histórico. Nem todos! Nós continuamos admiradores incondicionaisde Júlio Dinis, Almeida Garrett, Deana Barroqueiro e dos outros!  (...)
Deana Barroqueiro afirma-nos com muita convicção “o que pretendo fazer é escrever romances de aventuras com fundo histórico e nunca biografias históricas, se fosse isso, estes meus livros tinham de ser vistos como uma caricatura do romance histórico, transformando os nossos aventureiros em heróis de ficção. E foi exactamente isso que interessou as editoras por este projecto. Foi no fundo a sua “originalidade”, pegar nas figuras intocáveis do nosso passado histórico e transformá-las em Indiana Jones ou James Bond portugueses, contando ao mesmo tempo o melhor possível a sua história”.
Mas é necessário especificar aqui, que os mestres principais da autora, são os próprios cronistas da época dos Descobrimentos e que nesse campo, ela tem 15 anos de estudo e leu quase tudo o que tem sido publicado, na sua maioria deportugueses, entre os Séculos XV-XVII, mas também de estrangeiros como António Pigafetta, cujos textosprocura dar a conhecer, como pano de fundo dos seus romances.

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Published on May 04, 2015 11:00

May 3, 2015

MÃEZINHA, António Gedeão - Vitor D' Andrade

Para todas as minhas Amigas/Leitoras que foram, são e estão para ser Mães, desejando-lhes um dia muito feliz, cheio de ternura e festa.



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Published on May 03, 2015 03:06

April 29, 2015

"O Espião de D. João II" já está nas livrarias

A nova edição, revista e aumentada, de O Espião de D. João II , com a chancela da Casa das Letras/Leya, já se encontra nas livrarias.



Será «O ESPIÃO DE D. JOÃO II» um romance histórico ou um livro de viagens exploratórias de mundos reais há muito desaparecidos?

Creio que é ambas as coisas. Tem como suporte, além da historiografia contemporânea, crónicas, diários e itinerários escritos pelos padres, cronistas, cientistas e aventureiros do século XV ao XVII.

São históricos os indivíduos, os factos e as datas, como são históricos os costumes dos povos e os lugares que me servem para criar a intriga e pôr o herói em acção, pois «O Espião de D. João II» é, sobretudo, uma obra de ficção que permite a efabulação e a transformação da realidade em mito.

- por DEANA BARROQUEIRO
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Published on April 29, 2015 08:33

April 1, 2015

Crítica de Guilherme de Oliveira Martins a "O Espião de D. João II"

Esgotadas as três primeiras edições, A Casa das Letras , publica, em Abril 2015, uma nova edição, revista e aumentada de «O Espião de D. João II», o segundo romance da sua trilogia dos Descobrimentos Portugueses.



A VIDA DOS LIVROS (CNC)
 

"O Espião de D. João II" de Deana Barroqueiro (Casa das Letras/Leya, Abril 2015) é um romance baseado em factos reais, que nos permite acompanhar a viagem de Pêro da Covilhã até às terras do Preste João. Transpondo para os dias de hoje a imagem de um “agente secreto”, travestido de James Bond ou de Indiana Jones, a autora não comete o erro do anacronismo e procura, com uma experiência já ganha noutras obras (“O Navegador da Passagem”, “D. Sebastião e o Vidente”), transmitir ao público em geral, e em especial aos mais jovens (dada a sua longa e rica experiência pedagógica), o ambiente geral do final do século XV, com uma evidente vivacidade.


UMA ESTRATÉGIA INTELIGENTE

Em 1487, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, escudeiros de D. João II, o Príncipe Perfeito, foram enviados de Portugal para a costa oriental de África, ao mesmo tempo que Bartolomeu Dias partia para o Cabo da Boa Esperança. Tratava-se de descobrir por terra, aquilo que os navegadores iam procurar por via marítima – a rota das especiarias da Índia e notícias do “encoberto Preste João”. E deste modo acompanhamos uma longa peregrinação de cerca de seis anos pelo Mar Roxo, primeiro na companhia de Afonso de Paiva e depois solitariamente pelas costas do Índico até Calecute, mas também, pela Pérsia, África Oriental, Arábia e Etiópia, descobrindo povos e culturas completamente estranhos. Mas, para fazer essas andanças, Pêro da Covilhã teve de ocultar a sua verdadeira identidade e origem (como verdadeiro agente secreto, que de facto era), aparecendo como um enigmático mercador do Al-Andalus.

Para compreendermos, contudo, a génese do romance temos de ir à obra anterior de Deana Barroqueiro – “O Navegador da Passagem”, onde o tema é a missão de Bartolomeu Dias de preparação do caminho marítimo para a Índia. A autora, naturalmente, entendeu que a chave do enigma do Príncipe Perfeito só estaria plenamente desvendada (ou a caminho disso) se se tentasse perceber o que se passou com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, na sua complexa e misteriosa viagem terrestre ao encontro do Presbítero João, o mítico Imperador Cristão do Oriente, há muito referenciado mas nunca descoberto.

Afinal, o que era o mito do Preste João? Fala-se muito do tema, mas raramente com o rigor indispensável, e a nossa autora coloca com cuidado e correcção os termos em que essa referência deve ser feita. Depois do Concílio de Éfeso (431) e após a condenação dos Nestorianos, que defendiam ter Cristo uma dupla natureza, humana e divina, os partidários dessa heresia espalharam-se pela Pérsia, Arábia, Índia, Tartária, Mongólia e China. Daí as referências a comunidades de influência cristã espalhadas pelo continente asiático. Por outro lado, o apóstolo Tomé teria chegado à Índia e fundado núcleos cristãos no sul, de que temos notícia desde muito cedo (cerca do século IV). Lembrámo-nos bem dessas referências quando visitamos Cochim.

Estas duas primeiras alusões põem-nos perante a existência de bolsas de influência cristã na Ásia, que podem ter estado na origem da lenda do desejado Preste João, a que faz referência o veneziano Marco Pólo no seu célebre Livro. A alusão a esse Presbítero pode ter ainda a ver com o mito de que o Apóstolo João não teria morrido, à espera da segunda vinda de Jesus Cristo, daí o nome adoptado. O célebre viajante veneziano situa, aliás, o reino do Preste João algures no centro da Ásia.

Acresce que, dentro do espírito das Cruzadas, foi dirigida no final século XII ao Papa Alexandre III, bem como aos Imperadores do Oriente (Manuel Comeno) e do Ocidente (Frederico Barba Roxa), uma Carta apócrifa assinada pelo Preste João das Índias, descrevendo o seu reino maravilhoso e pedindo apoio. Sabemos, ainda, que Gomes Eanes de Azurara aludia à busca de uma aliança com um Imperador cristão das Índias entre as cinco razões do Infante D. Henrique para iniciar a Expansão.

D. João II, a partir destas referências díspares, tinha, assim, uma informação suficientemente precisa de que havia um rei cristão na costa oriental de África, para lá do Cairo, na zona de influência copta. Com efeito, no Alto Egipto e na Etiópia havia cristãos, fruto da evangelização que a tradição atribuía a S. Mateus. Fácil é de compreender, por tudo o que fica dito, a importância desta missão confiada a Pêro da Covilhã. O plano da Índia exigia uma definição clara de uma acção política e diplomática que desse consistência à criação de um novo Império dos portugueses.

UMA PEREGRINAÇÃO HERÓICA 

Seguimos, a partir de todos estes ingredientes, com entusiasmo, esta peregrinação. Há vivacidade na narrativa, o que permite ao leitor acompanhar o relato sem perder a atenção bem desperta. Santarém, Lisboa, Valência, Barcelona, Nápoles, Rodes, Alexandria, Cairo. Na cidade egípcia define-se a missão, Pêro da Covilhã irá para a Índia, para a Costa do Malabar, enquanto Afonso de Paiva destinar-se-á à Etiópia.

A autora procura, assim, dar-nos o colorido dessa cidade que é uma encruzilhada de influências, o centro nevrálgico do comércio do Levante do Mediterrâneo. Com base nos testemunhos tradições e documentos coevos, a autora faz uma descrição minuciosa e rigorosa da viagem (em termos que pôde verificar com os seus olhos quando visitámos juntos a cidade e o Golfo Pérsico, com o CNC, em Setembro último). Depois do Cairo, ruma a Adem, no Mar Roxo, onde se separa de Afonso de Paiva, atravessa o Mar Arábico e chega a Cananor, segue para Calecute, passa por Goa, e regressa ao Golfo Pérsico e a Ormuz, o porto donde partiam as caravanas da Rota da Seda, que Marco Pólo visitou por duas vezes… Depois, segue para sul na costa ocidental de África, zona crucial para a descoberta do caminho marítimo para a Índia, até Sofala, retornando ao Mar Vermelho e ao Cairo.

Deana Barroqueiro não se limita, porém, à descrição fria dos acontecimentos, concede densidade dramática a alguns dos momentos mais marcantes da narrativa. A personalidade de Rute, que surge com um destaque especial, não pode deixar de ser referida pela sua intensidade e pelo modo como nos dá um exemplo do modo como os portugueses se relacionavam com os povos desconhecidos que encontravam. De facto, a miscigenação não surge de um momento para o outro, por mera decisão política circunstancial. E este romance prenuncia-a.

DIPLOMACIA E AVENTURA

A um tempo, estamos perante os exemplos vivos quer do participante activo na empresa dos descobrimentos portugueses (no lado, algo inesperado, da preparação das navegações e da espionagem terrestre, bem diferente das histórias trágico-marítimas), quer da aventura em estado puro, que a autora inteligentemente explora com conhecimento e verosimilhança. Trata-se, no fundo, para usar uma metáfora medieval, quase de uma demanda mística que só pode ter paralelo na busca do Graal. É o prolongamento do espírito das cruzadas. Sente-se isso claramente, como depois veremos, Afonso de Albuquerque ao lançar uma ofensiva político-militar na região que pressupõe o conhecimento e a preparação, que Pêro da Covilhã conseguiu, mesmo que, em parte, fossem decepcionantes as conclusões…

O Padre Francisco Álvares encontraria o agente português graças à embaixada de Rodrigo Lima (que demandou a corte do negus da Etiópia, sendo representado na frontispício da obra de Álvares). Aí pôde confirmar as excepcionais qualidades de Pêro da Covilhã – com uma espantosa memória, onde nada se perdia, a capacidade de aprender qualquer língua e, em pouco tempo, falá-la como um natural, além da apurada arte para criar os mais extraordinários disfarces, assumindo diferentes identidades e a extrema facilidade da improvisação.

Estamos, assim, perante um romance histórico que é, a um tempo, livro de viagens e relato de aventuras. E como diria o Padre Álvares: “todas as cousas a que o mandaram soube, e de todas deu conta”. Quem melhor poderia sublinhar esta preocupação? Esta é a melhor homenagem que pode ser feita a Pêro da Covilhã, cuja memória parece ir-se desvanecendo, apesar da sua importância fundamental...
Guilherme d'Oliveira Martins
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Published on April 01, 2015 09:09

March 30, 2015

Bloguer morto à facada no Bangladesh

Um bloguer foi morto à facada em Dacca, capital do Bangladesh, um mês depois de outro escritor, um ateísta norte-americano, ter sido assassinado com uma catana, num ataque similar.


Washikur Rahman, que escrevia sob o pseudónimo "Kucchit Hasher Channa" (Patinho Feio, na tradução para português), tinha 27 anos e era bastante crítico do fundamentalismo religioso. Foi abordado, esta manhã, a 500 metros de casa, na área de Begunbari.
Segundo relata a polícia, Rahman foi "brutalmente esfaqueado até à morte" por dois estudantes de um seminário islâmico, detidos pela polícia local depois de serem apanhados a tentar fugir do local do crime.

O mês passado, o norte-americano Avijit Roy, conhecido por criticar a intolerância religiosa, morreu quando visitava Dacca, espoletando uma investigação por parte do FBI.

Um homem, tido como um bloguer fundamentalista com ligações ao grupo islâmico Hizb ut-Tahrir (banido no Bangladesh), é o principal suspeito deste caso, depois de ter ameaçado, nas redes sociais, que ia matar o escritor.

A esposa de Roy também ficou gravemente ferida durante o ataque.

O incidente provocou diversos protestos no país e além-fronteiras, especialmente por parte de estudantes e ativistas, que acusam as autoridades de não protegerem convenientemente as vítimas. 
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Published on March 30, 2015 05:28

Herberto Hélder: "E já nenhum poder destrói o poema"

SAPO24 de Março de 2015, às 12:23No adeus àquele que era o maior poeta português vivo, lembramos quatro poemas do último livro de Helberto Hélder, A Morte sem Mestre null  a última bilha de gás durou dois meses e três dias
a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse nazi,
já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer que a habita e move,
não me queixo de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
- e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo!
 queria fechar-se inteiro num poema
queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena
poema enfim onde coubessem os dez dedos
desde a roca ao fuso
para lá dentro ficar escrito direito e esquerdo
quero eu dizer: todo
vivo moribundo morto
a sombra dos elementos por cima

Herberto Helder lido por Herberto Helder (Renascença)
 tão fortes eram que sobreviveram à língua morta
tão fortes eram que sobreviveram à língua morta,
esses poucos poemas acerca do que hoje me atormenta,
décadas, séculos, milénios,
e eles vibram,
e entre os objectos técnicos no apartamento,
rádio, tv, telemóvel,
relógios de pulso,
esmagam-me por assim dizer com a sua verdade última
sobre a morte do corpo,
dizem apenas: igual ao pó da terra que não respira,
o que é falso, pois eu é que deixarei de respirar
sobre o pó da terra que respira,
entre o poema sumério e este poema de curto fôlego,
mas que talvez respire um dia,
ou dois, ou três dias mais:
quanto às coisas sumérias: as mãos da rapariga,
o cabelo da estreita rapariga,
a luz que estremecia nela,
tudo isso perdura em mim pelos milénios fora,
disso, oh sim, é que eu estou vivo e estremeço ainda
 que um nó de sangue na garganta
que um nó de sangue na garganta,
um nó de ar no coração,
que a mão fechada sobre uma pouca de água,
e eu não possa dizer nada,
e o resto seja só perder de vista a vastidão da terra,
sem mais saber de sítio e hora,
e baixo passar a brisa
pelo cabelo e a camisa e a boca toda tapada ao mundo,
por cada vez mais frios
o dia, a noite, o inferno, o inverno,
sem números para contar os dedos muito abertos
cortados das pontas dos braços,
sem sangue à vista:
só uma onda, só uma espuma entre pés e cabeça,
para sequer um jogo ou uma razão,
oh bela morte num dia seguro em qualquer parte
de gente em volta atenta à espera de nada,
um nó de sangue na garganta,
um nó apenas duro

(in A Morte sem Mestre; ed. Porto Editora, 2014)
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Published on March 30, 2015 05:08

March 27, 2015

Mudança da Hora - 29 de Março

E lá vamos outra vez adiantar os relógios. Será que ainda é para "poupar cera"? http://www.cri.pt/wp-content/uploads/2014/03/horario-de-verao.jpg  Mais uma vez chega aquela altura do ano em que as pessoas confundem se hão de mover os ponteiros do relógio para frente ou para trás, se dormem mais ou menos uma hora, o que faz alguns andar rabugentos. Mas nada que não se compense com a mais longa duração dos dias, que proporciona momentos extra de lazer e descontração. O Expresso conta-lhe a história por trás do fenómeno.
Março está a chegar ao fim, e apesar de a primavera andar mascarada é tempo de mudar a hora no relógio, mais uma vez. Todos os anos a pergunta é a mesma, é uma hora para lá ou uma hora para cá nos ponteiros do relógio?, dormimos mais ou dormimos menos?

Pois bem, cá vai a cábula: na madrugada deste sábado para domingo, 29 de março, em Portugal continental e na Madeira, à 1h00 deste domingo, 29 de março, adiante o relógio 60 minutos, passando para as 2h00. Nos Açores, a mudança é feita à meia-noite. Ou seja, teremos um dia com apenas 23 horas de duração, e a hora agora "comida" será recuperada lá mais para diante, em outubro, na mudança para o horário de inverno.

Para aqueles que gostam de dormir não é fácil passar a "acordar mais cedo", mas o facto de "os dias parecerem maiores" compensará o esforço.

Os pais agradecem

Anoitece mais tarde e os dias parecem proporcionar todo um conjunto interminável de atividades de lazer. Dá para ficar até mais tarde na rua, com os amigos a beber uma cerveja, passear e ver as vistas, correr e andar de bicicleta. Enfim, até os pais parecem mais descansados.

É essa opinião de Manuela Subtil, professora de matemática do ensino básico, que diz ficar mais descansada quando a sua filha "sai da explicação quando ainda é de dia". De acordo com a sua experiência, "os miúdos" preferem este tipo de horário, pois têm "mais tempo para brincadeiras."

As opiniões são igualmente positivas entre os "miúdos" mais velhos. Sérgio Santos, estudante universitário de 23 anos, diz que apesar de se tratar de um efeito ilusório, o dia "passa a ter mais horas, e com a chegada do verão isso é muito importante, porque dá para estar mais tempo na praia."

 Para Inês Rodrigues, médica de 29 anos, o "desaparecimento" de uma hora na madrugada de sábado para domingo é positiva, não acarretando quaisquer consequências físicas para as pessoas, a não ser "a preguiça de acordar cedo nos primeiros dias após a alteração do horário".

Benjamin Franklin, o autor da ideia que queria "poupar cera" 
É sabido que o horário de verão estica a luz diurna, pelo menos até à entrada da época mais quente do ano. Mas saberá o leitor a história que está por trás desta ideia?

 A primeira vez que se falou na hipótese de alteração da hora foi nos Estados Unidos da América, e logo pela boca de um dos nomes incontornáveis da História deste pais: Benjamin Franklin. O antigo político propôs esta ideia ao seu governo como uma medida de poupança de "cera das velas", chamando-a de "Daylight Savings Time" (DST).

Mas apesar de vários artigos publicados um pouco por todo o mundo, a ideia só foi adotada cerca de 130 anos depois, durante a I Guerra Mundial, pela mão do último kaiser alemão, para poupar carvão. A mudança da hora começou por ser, nessa altura, uma necessidade, para permitir reajustar os horários de trabalho de forma a poupar combustível, fortemente racionado no período de guerra.

Depois da Alemanha seguiram-se a Rússia e os Estados Unidos, todos em busca de uma poupança energética. O mesmo aconteceu durante a II Grande Guerra. Contudo, após os conflitos, a maioria dos países deixou de "dar voltas às cordas do relógio", ignorando as mudanças da hora.

Então, como é que chegámos à prática dos últimos anos? Com a crise energética de 1973, os países árabes aumentaram os preços do petróleo em 400% e provocaram um pânico mundial. A partir dessa altura, a mudança de hora duas vezes por ano começou a generalizar-se, uma vez mais tendo em vista a poupança de recursos com a maior longevidade da luz diurna.

União Europeia muda a hora em uníssono

Não se sabe ao certo se a alteração dos horários ainda se justifica com a "poupança de energia". Não há dados suficientes que permitam tirar conclusões concretas, e isso confirma-se com o último relatório sobre o tema emitido pela Comissão Europeia (CE), em 2007, onde se lê que: "A hora de verão contribui para uma poupança de energia pelo facto de se utilizar menos eletricidade em iluminação ao fim do dia, visto haver mais luz natural. No entanto, desta poupança é necessário deduzir o maior consumo de energia devido à necessidade de aquecimento de manhã, quando da mudança horária, e o consumo de combustível suplementar gerado pelo possível aumento do tráfego ao fim do dia quando há mais luz natural."

 Os países membros da União Europeia partilham uma diretiva respeitante à mudança da hora desde 2001, e no mesmo relatório da CE lê-se: "A maioria dos Estados-membros sublinha a importância da harmonização do calendário da hora de verão na UE, nomeadamente em relação aos transportes." E isso é um fator muito positivo, todos mudam a hora.

Expresso
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Published on March 27, 2015 06:27

March 25, 2015

Mia Couto entre os finalistas do Man Booker International Prize

Mário Lopes  Público 24/03/2015É a primeira vez que um escritor moçambicano surge entre os finalistas do prémio, emanado do Man Booker e atribuído bienalmente numa escolha aberta a autores de todo o mundo. O júri destacou o carácter "preciso" e "profundo" das "histórias de civilização e barbárie" de Mia Couto Rui Gaudêncio Mia Couto está entre os finalistas do Man Booker International Prize. A lista de 10 escritores foi anunciada esta terça-feira na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, e inclui também o argentino César Aira, a libanesa Hoda Barakat, Maryse Condé, de Guadalupe, a americana Fanny Howe, o líbio Ibrahim Al-Koni, o húngaro László Krasznahorkai, o congolês Alain Mabanckou, a sul-africana Marlene van Niekerk e o indiano Amitav Gosh.

Atribuído bienalmente, o prémio emana do Booker Prize, um dos mais prestigiados prémios literários britânicos. Está aberto a escritores de todo o mundo, desde que traduzidos para inglês, e premeia um corpo de obra e não um título específico. O vencedor da edição de 2015 será anunciado em Londres dia 19 de Maio.
O júri destaca o carácter “preciso” e “profundo” com que a língua é utilizada nas “histórias de civilização e barbárie” de Mia Couto, o primeiro moçambicano a figurar na lista final do Booker International. “Ele tece em conjunto a tradição viva da lenda, poesia e canção. As suas páginas estão cravejadas de imagens surpreendentes”, referiu o júri, que destaca entre a sua obra livros traduzidos para inglês como Terra Sonâmbula, O Último Voo do Flamingo ou Jesusalém.
Este ano, oito dos dez finalistas são autores traduzidos para inglês, algo inédito na história do prémio. Marina Warner, a presidente do júri, destacou precisamente a abrangência geográfica e diversidade cultural formada pelos finalistas. “A ficção pode aumentar o mundo para todos nós e expandir a nossa compreensão e compaixão”, comenta no comunicado emitido pela organização.

Edwin Frank, editor chefe da New York Review Classics, referiu, citado pelo Guardian, ter sido intenção do júri ter em atenção “o mundo vasto da literatura”, destacando a presença da literatura árabe, representada pelas histórias do deserto de Ibrahim Al-Koni, bem como os restantes autores africanos "escrevendo em línguas e tradições literárias muito diferentes”.

Segundo Marina Warner, escritora e académica londrina, a literatura dos finalistas é prova de que o romance está actualmente em “boa forma” enquanto “campo para questionamento, tribunal da história, mapa do coração, antena da psique, estímulo do pensamento, fonte de prazer e laboratório de linguagem”. Nenhum dos finalistas tinha surgido anteriormente entre os finalistas do prémio.

Nas suas três últimas edições o Man Booker International Prize foi atribuído a autores do norte do continente americano. A contista Lydia Davis foi distinguida em 2013, Philip Roth foi o vencedor de 2011, e a contista canadiana Alice Munro, que seria nobelizada quatro anos depois, em 2009.

Atribuído pela primeira vez em 2005 (o albanês Ismail Kadare foi o distinguido), o Man Booker International atribui um prémio monetário de 60 mil libras (cerca de 82 mil euros) ao vencedor. Caso este seja um autor traduzido, pode escolher um tradutor para inglês da sua obra a quem é atribuído em paralelo um prémio de 15 mil libras (cerca de 20 mil euros).
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Published on March 25, 2015 05:34

Orpheu: “O primeiro grito moderno que se deu em Portugal”

Luís Miguel Queirós 24/03/2015  
Comemora-se hoje o centenário de Orpheu, cujo primeiro número terá saído da gráfica no dia 24 de Março de 1915. Como um grupo de rapazes de vinte e poucos anos, liderado por Pessoa e Sá-Carneiro, lançou o modernismo em Portugal e mudou para sempre a paisagem cultural e literária do país. 

 Retrato de Fernando Pessoa de Almada Negreiros, com a revista Orpheu Enric Vives-Rubio
“Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!// Hup lá, hup lá, hup-la-hô, hup-lá!/ Hé-há! Hé-hô! Ho-o-o-o-o!/ Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!// Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!”. Estes versos finais dum poema intitulado Ode Triunfal, assinado por um tal Álvaro de Campos, fechavam o primeiro número da revista Orpheu, que há exactamente cem anos, no dia 24 de Março de 1915, saía dos prelos para escandalizar os meios culturais portugueses. 

Todos sabemos hoje que Orpheu foi o primeiro grande momento de afirmação das vanguardas modernistas em Portugal e não é exagero afirmar que as réplicas desse já longínquo terramoto de 1915 se fazem sentir até aos nossos dias. Mas quando a revista saiu, se não passou de todo despercebida, também não se pode dizer que tenha sido propriamente saudada como o decisivo marco literário e cultural que efectivamente foi. “Literatura de manicómio”, chamou-lhe A Capital no título de um dos muitos artigos de crítica mais ou menos galhofeira que assinalaram na imprensa o nascimento de Orpheu.
Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, sem os quais Orpheu não teria passado de uma curiosidade cujo centenário ninguém se lembraria hoje de comemorar, teriam de esperar uma dúzia de anos até que a geração de autores reunida em torno da revista presença reconhecesse o seu génio e procurasse divulgar o contributo decisivo dessa primeira geração modernista.

Tendo sido a mais icónica revista literária portuguesa de todo o século XX, e seguramente a que exerceu uma influência mais duradoura, Orpheu foi também uma publicação efémera, com apenas dois números publicados no primeiro semestre de 1915. O terceiro, já em provas tipográficas, não saiu por falta de financiamento – tornou-se inviável continuar a recorrer ao mecenato bastante involuntário do pai de Mário de Sá-Carneiro –, e só veio a ser publicado em meados dos anos 80, num fac-símile da prova tipográfica, com a chancela da Nova Renascença, e numa edição organizada por Arnaldo Saraiva para a Ática.

Segundo informa José Barreto num artigo publicado no recém-lançado volume colectivo 1915 – O Ano de Orpheu, organizado por Steffen Dix e editado pela Tinta da China, a primeira das várias notícias que assinalaram o lançamento do número inaugural de Orpheu terá saído no dia 27 de Março, no jornal O Mundo. Até ao final da tarde do dia anterior, diz ainda Barreto, tinham-se vendido apenas 17 exemplares. Apesar deste arranque pouco auspicioso, duas ou três semanas depois a edição estava praticamente esgotada. Tudo indica, pois, que a insistência dos jornais em sugerir que os autores de Orpheu não destoariam entre os loucos internados no manicómio de Rilhafoles terá dado uma ajuda preciosa às vendas, confirmando a cínica máxima de que publicidade negativa é uma contradição nos termos.



Doidos com pedigree

O escândalo provocado por Orpheu não surpreende. Basta dar uma vista de olhos pela poesia que se publicava ao tempo em Portugal para se perceber que, pese embora a qualidade de poetas como Teixeira de Pascoaes ou Afonso Duarte, para citar apenas dois, os meios literários da época, submersos no saudosismo ou no lusitanismo, não estavam preparados para algo tão cataclísmico como a Ode Triunfal.

Nem sequer os poucos livros já então publicados por alguns dos colaboradores de Orpheu, como Distância (1914), de Alfredo Guisado, Luz Gloriosa (1913), do co-director brasileiro do primeiro número, Ronald de Carvalho, ou, no limite, mesmo Dispersão (1914), de Mário de Sá-Carneiro, prenunciavam o frenesi vanguardista de Álvaro de Campos: “(…) Ó tramways, funiculares, metropolitanos,/ Roçai-vos por mim até ao espasmo!/ Hilla! hilla! hilla-hô!/ Dai-me gargalhadas em plena cara,/ Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas (…)”.

No já referido artigo d’A Capital, lia-se: “O que se conclui da leitura dos chamados poemas subscritos por Mário de Sá-Carneiro, Ronald de Carvalho, Álvaro de Campos e outros é que eles pertencem a uma categoria de indivíduos que a ciência definiu e classificou dentro dos manicómios, mas que podem sem maior perigo andar fora deles”. Talvez o jornalista estivesse a ser um pouco injusto ao irmanar os três autores no mesmo insulto, já que em matéria de sinais exteriores de vanguardismo (mas em Pessoa e Sá-Carneiro o próprio vanguardismo foi sempre sinal exterior de rupturas de outra ordem, mais fundas e irremediáveis), nada neste primeiro número de Orpheu é rigorosamente comparável à Ode Triunfal. Nem mesmo alguns versos mais alucinados de Sá-Carneiro, como os que fecham o notável poema 16: “As mesas do Café endoideceram feitas ar.../ Caiu-me agora um braço... Olha, lá vai ele a valsar/ Vestido de casaca, nos salões do Vice-Rei...// (Subo por mim acima como por uma escada de corda,/ E a minha Ânsia é um trapézio escangalhado...)”.
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Published on March 25, 2015 05:19

March 21, 2015

Chuva e trovoada marcaram ontem o início da primavera, com o dia do eclipse.

 Desejo a todos os meus queridos amigos e amigas uma Primavera regeneradora de energias, com muitas sensações de prazer oferecidas pelos cinco sentidos (e também pelo sexto sentido, de quem for afortunado bastante para o possuir).   Foto Akintunde Akinleye / Reuters
De acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa, o Equinócio da Primavera começou ontem, dia 21 de Março, às 22:45.
"As temperaturas vão ter alguma oscilação. Sábado, dia 21,  já temos uma descida da máxima. No domingo não haverá grandes alterações", disse Ricardo Tavares do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), salientando que as temperaturas máximas vão rondar os 20 graus Celsius na região norte.
"Este instante [22:45] marca o início da primavera no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se por 92,75 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de junho às 17:38", indica ainda o Observatório Astronómico de Lisboa.
O dia de hoje é também marcado por um eclipse parcial do Sol, com a Lua a tapá-lo durante duas horas, um fenómeno que será total na região do Ártico e no extremo norte do Atlântico e que em Portugal tem início pelas 08:00 (hora de Lisboa) e termina pelas 10:00, com o pico a ocorrer pelas 09:00.
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Published on March 21, 2015 03:00