Joel Neto's Blog, page 61

July 4, 2013

Terra Chã, 5 de Julho de 2013

A retórica e a inteligência podem ser inimigas. Talvez até seja essa, nesta fase, a aprendizagem mais importante de todas.




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Published on July 04, 2013 07:34

Terra Chã, 4 de Julho de 2013


Assiste-se pela televisão ao desfile de análises em torno da demissão de dois ministros, feitas por profissionais do jornalismo, da economia e da política – e, de repente, faz-se luz. As análises são apressadas, disparam em todas as direcções, arriscam à procura do argumento que distingue este analista daquele. E, porém, não é essa a luz: são sempre assim as análises ao momento, que é preciso fazer na mesma. A luz que se faz é perceber, a dada altura, que eles são quase todos jovens. Jovens como nós: homens de trinta e de quarenta anos, já com alguma experiência de vida e ainda com algum vigor físico, mas em todo o caso longe de poderem reclamar-se estadistas. Eles são os analistas, são os deputados, são os próprios ministros. Contra mim falo, se quiserem. E das três uma: ou são jovens, ou são jogadores, ou são simplesmente medíocres. Há dez anos, se me tivessem dito que teríamos como primeiros-ministros consecutivos Passos Coelho e Tozé Seguro, ter-me-ia rido. Em 2011, eu próprio votei em Passos Coelho. E, agora, basta uma noite televisiva como a de terça-feira para reconfirmá-lo: a causa pública, a coisa pública, a opinião pública – está tudo na mão de gente nova. Demasiado nova – e, pior, em demasiados casos agarotada. Há os senadores, sim, mas têm a vida feita. Pronunciam-se no interesse das empresas de que são proprietários, e tudo o resto é vaidade. Os homens consolidados, na idade de serem estadistas, estão nos conselhos de administração. A garotada está disponível e ávida. É dela que se alimenta o país. É sobre ela que assentam os partidos. E é dela que dependem os tipos que não acrescentavam nada aos conselhos de administração e se refugiaram nas lideranças políticas.

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Published on July 04, 2013 03:18

July 3, 2013

Terra Chã, 3 de Julho de 2013

Aprender a respirar debaixo de água. Ou aprendemos a fazê-lo ou já não tornaremos a respirar. Todos nós. Toda esta geração. Aprender a respirar debaixo de água.




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Published on July 03, 2013 05:18

Terra Chã, 2 de Julho de 2013

O ministro das Finanças caiu ontem, o que suportava a coligação governamental demitiu-se hoje. O Executivo está por um fio, a bancarrota torna a drapejar no horizonte, um novo resgate financeiro parece inevitável – e, no geral, é um conforto estar aqui, a viver com metade do dinheiro com que se vive em Lisboa e, já agora, com uma horta à porta de casa. Um pouco menos de medo e já parece tanto.




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Published on July 03, 2013 05:14

June 30, 2013

Terra Chã, 30 de Junho de 2013


E, para encerrar as férias, dois dias à volta da horta. As cebolas continuam a bradar por sacho, mas de resto ficou tudo feito. Repus a rede sobre as alfaces, que os melros andam verdadeiramente endiabrados; capei (com a ajuda do velho pai), atei e sulfatei os tomateiros, onde já começam a aparecer frutos pequeninos; colhi as últimas cenouras, os últimos rabanetes e os primeiros feijões; apanhei e piquei dois braçados de couves e acelgas, para inaugurar a arca congeladora com que (digamos assim) reforcei as alfaias agrícolas; plantei três pés de beldroegas silvestres que a minha mãe encontrou no quintal e semeei (tarde, mas a ver se ainda tenho sorte) beterraba, alho francês e courgettes; mondei em barda, reguei como diabo e espalhei veneno para os caracóis em todos os carreiros e recantos. Em suma, e como diriam os meus antepassados, consolei-me. Fazer uma horta, neste tempo que vivemos, também responde a um impulso filosófico: o da liberdade. E nada melhor, ao fim de uma semana de paragem para férias, festas e amigos, do que recomeçar a rotina com um grito de liberdade.

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Published on June 30, 2013 15:08

Terra Chã, 29 de Junho de 2013

Tudo o que eu procurei ao longo do meu percurso profissional, criativo e intelectual, até aqui, foi ser incómodo usando em exclusivo a ironia (plano A) ou o bom senso (plano B). Hoje, tudo o que procuro é ser incómodo usando em exclusivo o bom senso (plano A) ou a ironia (plano B). E, se um dia chegar à maturidade plena, estou convicto de que tudo o que procurarei será ser incómodo usando em exclusivo o bom senso.




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Published on June 30, 2013 14:47

June 27, 2013

Terra Chã, 27 de Junho de 2013

Não é por conservadorismo, não é por filosofia, e seguramente não é também por bem-aventurança. É simplesmente tempo de encará-lo: não consigo concentrar-me num livro lido através do iPad. E bastante jeito me dava consegui-lo.



 


*** 


 



“Madiba.”, “Madiba!”, “Madiba…” Bem lá no fundo, andam todos doidos por que morra o Mandela, de modo a poderem brincar aos RIPs com algum ânimo. O Santo António já se acabou, o São João está-se a acabar e o São Pedro já não é o que era.




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Published on June 27, 2013 04:22

June 26, 2013

Terra Chã, 26 de Junho de 2013


Dias perfeitos com os continentais. Vieram declaradamente para ver a minha Terceira (a Pipa para rever), de modo que me dispensaram de cerimónias e esforços – e, ademais, o Martim é um miúdo dulcíssimo, o que facilitou a gestão dos confortos. De qualquer maneira, são vinte e um anos de amizade. É suposto entendermo-nos por silêncios. Uma certa melancolia, esta manhã, ao regressar a casa, depois de deixar os últimos no aeroporto. Teremos saudades.



 


***


 



Resto da manhã dedicada ao velho pai, incluindo ajuda na preparação e na montagem de uma burrinha para os tomateiros dele (há muitos anos os melhores dos Dois Caminhos, dizem as vizinhas, rindo). Parecemos o cego e o coxo da fábula, ele com o seu síndrome vertiginoso, eu com o cotovelo nas últimas. Oxalá possamos ajudar-nos ainda vinte anos. Para já, vamos recuperando todo o tempo perdido que podemos. E esta noite assistimos juntos, com a velha mãe, ao desfile de filarmónicas das Sanjoaninas.

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Published on June 26, 2013 12:41

Terra Chã, 24 de Junho de 2013

A noite das marchas é a minha noite preferida no ano inteiro. Condensa a Terceira toda (e, portanto, quase toda a minha identidade) num momento só – e ainda lhe junta os copos. Trezentos e sessenta e três dias agora pela frente. Normalmente, parecer-me-iam uma eternidade. Esta manhã em particular, parecem-me um deserto.




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Published on June 26, 2013 12:37

Terra Chã, 23 de Junho de 2013


A produção da horta entra, enfim, em velocidade de cruzeiro. Tudo está bem quando acaba bem. Tenho de comprar uma arca congeladora – e com urgência.



 


***


 



A Pipa declarou a inconstitucionalidade do nosso balde de lixo único e decidiu converter-nos à separação doméstica pormenorizada, apesar dos tantos estudos científicos que comprovam a irrelevância do esforço na defesa dos recursos do planeta. De maneira que, agora, em vez de um balde de lixo temos seis ou sete: espalhados pelo chão, dentro da despensa, parece-me que até pelos armários e pelas gavetas. Duvido que dure. Temo que, no fundo, sejamos uns brutos.

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Published on June 26, 2013 12:30