Nuno Camarneiro's Blog, page 4

February 3, 2014

 Os poemas são céus para onde morrem as coisas ...

 Os poemas são céus para onde morrem as coisas  
1 like ·   •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on February 03, 2014 14:01

January 25, 2014

Wounded and Naked



the sort one would find while looking for nothingslightly aggressive, wounded, wilder than neededand still, and still life, isn’t it? one says to oneself, isn’t it?it all happens among desires and painit’s all about being there, naked and ready, it’s all thereis all that one will ever know
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on January 25, 2014 18:21

January 19, 2014

Doente

Regresso às mãos, a isto, a mimEscrevo lentamente, antigo das ideiasCansado de sentir coisas absurdasÉ sempre absurda a coisa que se senteImaginada por nenhuma mãoAndamos todos a amar para dentroA fazer dos ventres coraçãoA comer dos dias, a comer os diasDe vez em quando alguém morreDe vez em quando música ou ventoE brota uma flor negra no peitoApenas flor, doente flor do peito

2 likes ·   •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on January 19, 2014 15:33

December 13, 2013

Lugar

de noite ficas mais perto e eu sei por exemplo o teu corpo inteirocomo as mãos e os pés e respirascomo te voltas e me procuras e sei também de um tempoque nós criámos e que crescepara a frente e para trás de tudode como me enches memóriasde nós antes de sermos, de tiantes de ti, os beijos certos quedemos e não demos, mas somosbem capazes disso, não somos?nenhum mal nos cerca, pois não?nem um lugar sem nós se veja
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 13, 2013 08:40

November 12, 2013

O Lábio Cego

Pediram-me que preparasse um texto sobre literatura e erotismo. E eu aceitei o desafio, apesar de não ter qualquer ideia sobre o que haveria de escrever, apesar de sempre ter praticado as duas artes em separado.Já comi enquanto escrevia, já me ri enquanto escrevia, mas nunca… enquanto escrevia. Do ponto de vista prático, não há para mim qualquer relação entre uma coisa e a outra. Mas tem de haver uma outra relação, porque a literatura mexe com tudo, e o sexo mexe com tudo, sobretudo quando é bem feito.Todos os autores falam de amor, alguns do ponto de vista do crente, outros do ponto de vista do ateu ou do agnóstico. O amor está presente mesmo quando está ausente, é uma espécie de crença que se aceita ou se renega, mas que é difícil contornar.E o erotismo, o que raio é isso? Um amor vertido em corpo? É o sexo teorizado? É simplesmente a descrição do que se fez ou se gostaria de fazer em vez de estar a escrever?O dicionário diz que o erotismo é um estado de excitação sexual, ou então a tendência para se ocupar com ou de exaltar o sexo em literatura, arte ou doutrina. E eu fico meio desconfiado, e parece-me que o erotismo é o sexo sem o sexo.A par da definição de erotismo vem sempre a definição de pornografia, e é difícil, se não impossível de estabelecer a fronteira. Será que depende do carácter mais ou menos explícito das actividades descritas? Será uma medida da beleza do texto? Ou, simplesmente, o erotismo é o que gostamos de ler em público e a pornografia o que gostamos de ler quando estamos sozinhos?Lembro-me de quando uma amiga minha me aconselhou um livro erótico, ela disse erótico. Era a Casa dos Budas Ditosos, do João Ubaldo Ribeiro, e eu comprei o livro, li o livro, e quando a encontrei de novo disse que tinha gostado muito, que era muito erótico, muito erótico mesmo. E talvez lhe tenha piscado o olho. Ela sorriu e foi à vida dela, mas eu tinha quase a certeza que o livro era pornográfico. Pelo menos era bom, e até o aconselhei a muitas outras amigas. Sempre com a mesma frase: É um livro de um erotismo único, libertário, transgressor. E talvez lhes tenha piscado o olho.Ao escrever os meus dois romances deparei-me com um problema clássico - como descrever uma relação sexual? Deveria pormenorizar tudo quanto era feito? Ou usar a elipse e fazer como um autor francês que fala de “meia hora de um agradável silêncio”? Usar terminologia científica como “falo”, “vagina” e “períneo” ou usar metáforas rebuscadas como “o animoso ariete”, “a mofosa gruta” ou o “virgíneo botão”? Descobri por mim que, em prosa, um acto sexual só é bem descrito se na realidade estivermos a falar de outras coisas – a relação de poder entre os intervenientes, as expectativas de ambos com o relacionamento, o desejo que sentem por outras pessoas, o medo de que a mulher ou o marido entrem subitamente no quarto. Tudo o resto parece artificial e abusivo, afinal as personagens sabem melhor do que nós o que fazer com os seus arietes e os seus botões.Mas se a prosa teve sempre uma relação de conflito com o sexo, já a poesia é um terreno fértil propenso a qualquer devaneio. Pode dizer-se tudo com pouco, sugerindo, intuindo, pode fazer-se música com os dedos e o desejo de um (ou de mais) corpos.E eu, que da poesia pouco sei mas muito leio, eu não entendo o porquê. Porque o mesmo se encontra nos decassílabos quinhentistas de Camões:
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta, 
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta, 
Que Vénus com prazeres inflamava, 
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.

Como se encontra também nos versos cariocas de Vinicius de Moraes:
Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Mas afinal o que é isso? O que procuramos e o que encontramos pela poesia, que é sexo sem ser sexo? Pode um texto ser corpo? Pode um seio ter a forma da palavra seio? É difícil o amor letrado e é difícil acrescentar versos ao silêncio. Para escrever o desejo é preciso inventar um lábio cego e deixar a língua arder.Afinal, talvez o erotismo seja o único sinónimo que a poesia aceita - o sexo na ponta no verbo, a sílaba doida, o som de um corpo que colapsa. Na Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera afirma que a sensualidade é a mobilização total dos sentidos. Inspirado nessa frase eu tive uma ideia, afinal, talvez o erotismo não seja mais do que o desejo físico pela palavra.
(Texto lido no Encontro de Escritores de Língua Portuguesa em Natal, Brasil)
1 like ·   •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 12, 2013 12:39

October 6, 2013

Quedas

Dou ao gato o que ninguém quer Uma festa, uma palavra e sorrisosConversamos por algumas horasE o gato entende, o gato aceita, o gato é mudo de tudo o que, afinal, me dóiAdormecemos os dois pelo sofáe sonhamos com quedas estupendasEle de uma janela e eu de um verbotransitivo da primeira conjugaçãoMas ele de pé de qualquer andare eu acordo pretérito, imperfeitoSem um chão, sem qualquer sujeito E, o que é pior, sem sequer um gato
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on October 06, 2013 15:02

September 30, 2013

Ponto de Fuga

Fazias croché encostada ao muro, era cedo e cheguei-me a ti.A casa tinha um jardim maltratado, portas de madeira ressequida e paredes antigas cheias de verde. Falei-te das minhas coisas e era uma hora estranha; porque a luz, porque a rua vazia, porque a noite em claro e um poema incompleto.Não me lembro do teu nome, eras o que ali me faltava e não me lembro do teu nome. A cabeça baixa nas mãos a puxar linhas e eu a medo nas palavras. O meu passado, o que fazia, as artes que praticava. Não sei já o que disse, atento ao tom mais do que ao sentido, para que soubesses, para que olhasses para mim e adivinhasses o buraco fundo que era eu.Um poema escuro de fim de amor, embrulhado em anos, atado em versos que nunca mais hão-de rimar.Os teus amigos passavam e olhavam. Eu não era dali e a sombra que deitava mudava-te o rosto, a minha sombra de ser buraco.Sorrias nas perguntas, a lã vermelha pendurada das mãos e os pés para dentro como se tivesses crescido ontem e ainda te sobrasse o corpo. Mas era eu que sobrava, tu fazias croché e arrumavas a linha no desenho dos olhos. Atravessou-nos um silêncio de nuvem, encolhi-me num livro e fiquei a esperar calado.Convidaram-nos para comer e eu trazia fome e um poema incompleto. Quis dizer que sim, mas esperei que falasses e ouvi-te recusar, que tinhas alguém à espera; alguém, disseste alguém.O meu poema espalhado num caderno de linhas que abri. As frases muito sujas, pardas de cor, tão daltónico andava de todo o coração.
Depois de ti tive de limpar as palavras
Fui lendo em voz alta, como se estivesse sozinho mas fixo no mexer dos teus dedos. Os versos enroscavam-se na linha e faziam malha, ajeitados por ti, com as tuas certezas todas, de estares ali e alguém à tua espera. Como eu não tinha, nem certezas nem ninguém.
Levaste contigo a ideia de nós
Fez-se tarde e levantaste o olhar. Tenho de ir, disseste, beijaste-me e foste. Desceste as escadas com a malha inacabada, o que restava da manhã e a melhor parte do meu poema.
Sei hoje, porque perguntei, que caminhávamos por ruas contrárias do amor. Por isso correste e eu fiquei onde estava, a ver fugir o vermelho do meu poema. 
(Conto escrito em 2011 para uma revista que nunca chegou a ser feita)
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 30, 2013 15:49

September 26, 2013

Mal ao Longe

Não sei por onde andas agoralembro-te cada vez mais longeem dias assim, de chuva, de noitefechado nisto que não mudouVejo-te às vezes por essas ruasse por acaso chega o Outonoou dores antigas e maiores vejo-te às vezes por essas ruasE digo adeus, sincero, míopeas sílabas todas do teu nomeo único poema que sei de core grito cada vez mais longe
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 26, 2013 14:58

September 24, 2013

Falhar mais, falhar pior

Cada poema é um falhanço, a medida entre o que quis e o que obtive, a distância entre onde me propus chegar e onde as forças me deixaram. Já para não falar de amor, mas falamos sempre, sobretudo quando não dizemos nada, calados como um fósforo por arder. A poesia é também esse silêncio incompetente, onde não acontece por palavras o que não pôde acontecer por outros meios.Quantos mais poemas foram escritos, mais longe ficámos, mais quisemos, mais loucos, mais sentimos acima das nossas possibilidades. Páginas e páginas como um cemitério de intenções, uma biografia que nos desautorizaram, um diário de noites mal dormidas.E fica a inveja humilde mas sincera desses outros que nem sei se existem, os infames cabrões felizes e ágrafos, sem uma linha que se possa consultar. 
1 like ·   •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 24, 2013 10:24

September 19, 2013

Equinócio

Árvores são máquinas de caírem folhascomo nós somos de doer e fim e noitesE quando choramos não fazemos mais
do que a nossa mui íntima obrigação
Se amamos tão úteis quanto uma flor
pétala a pétala até chegar o Outono
é porque não assinámos o tempo
E clandestinamente vamos caindo
amparando as mortes com beijosà espera de um fim para começar
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 19, 2013 14:41