Nuno Camarneiro's Blog, page 2
December 3, 2014
Diante
O fito de um poema é o silêncio que o termina,sabem-no os poetas, os leitores, e assim fingemler, pensar, julgar, interpretar antes do vazio.A poesia como o teatro, ou a missa, ou alegrias,montanhas que subimos para podermos descer,e tudo o que fazemos, que nos deixa ficar feitos.Antes de morrer havíamos de viver um bocadinho,cansarmo-nos, saltar, tirar palavras de uma boca.Que venha a noite, tremenda, e ainda seja linda.
Published on December 03, 2014 15:19
November 24, 2014
Ret��rica
Estou cansado como uma met��foraCoitadas das pedras, da lua e dosolhosGastos de serem duros, um amor,outro amorSe falassem diriam os nossosnomes��s o Jo��o que me acende as horasUm fogo a outro fogoacendidoE tudo caiu como um Pedro, ou umaRitaAs fal��sias lendo poemas que s��delasFrescas como essas mulheres t��olindasExaustas como homens que ru��ssem
Published on November 24, 2014 17:18
Retórica
Estou cansado como uma metáforaCoitadas das pedras, da lua e dos olhosGastos de serem duros, um amor, outro amorSe falassem diriam os nossos nomesÉs o João que me acende as horasDiria um fogo a outro fogo acendidoE tudo caiu como um Pedro, ou uma RitaAs falésias lendo poemas que só delasFrescas como essas mulheres tão lindasExaustas como homens que ruíssem
Published on November 24, 2014 17:18
November 10, 2014
1:39 a.m.
Algumas noites não passam nunca, nuncaEstou ainda numa quarta-feira, Janeiro 2002Acordado e doente de Maio de um ano sinistroNoites cicatrizes, manchas, traumatismosNoites que são falta de ar no peito, no corpoescuro a crescer, comendo, correndo a sangueNoites em que se morre de todas as vezes as muitas madrugadas que não viram o solEspera, delírio, amores que não cumpriram(são nocturnos os amores que não se cumprem)É raro dormir, como é raro estar despertoLeio, mexo em mim, grito, (não, não grito)E sobra-me sempre tanto do que é escuroE tenho muitas mais noites do que dias
Published on November 10, 2014 17:44
October 30, 2014
manuscrita
a mão é uma forma de poesia com dedosque nasce às vezes na ponta de um braçoé muito difícil escrever uma mão do nadafalta sempre sangue, carne ou algum ossosobram ideias, começos e meias noiteshá mãos abertas, fechadas e assim-assime servem para comer, fumar e dizer adeus (há quem as leia por não ter mais que ler)os poetas têm quase todos duas mãosuma que mostra o que a outra esconde
Published on October 30, 2014 11:47
October 28, 2014
Padecência
Um morto grave, dos que morrem e continuam a morrerTenho amigos que morrem todos os dias, e mais, e sempre maisAmigos que têm cancros nas ideias, e nas falangetas, e nos propósitosCancros que nem a quimio, nem o caralho que foda os meus amigosUm que era cancro antes de ser amigo, tão doença antes de serOutro que fala cancro, que pensa cancro, que se propaga Amputo, transplanto, irradio, e os amigos metástases de mimSou parte de tanta coisa mortal, um caroço na cabeça da genteAcordo por sonhos de fazer mal, acordo, morro, e vou matandoFuma, bebe, come, mas não me fales, ri-te mas não me chamesSou como tu, hei-de queimar e passar como um sorriso de pétalas
Published on October 28, 2014 17:52
October 15, 2014
regresso
és fome que deu em farturauma ilha que pede naufrágiose erros, e erros, e errosés o caminho mais longo entre mimsem um mapa sem pés nem chãosó a cegueira depois do gritotenho vergonha das minhas palavrasde tão gastas, inúteis, tão ditasmas beija-me os dias que ficarame guardo os versos todos para ti
Published on October 15, 2014 13:51
September 27, 2014
The Words of Others
Writing and living, as I do, as many of us do, as days upon days, is all about one’s own words. It is.Or is it not?I’ve been myself for a while now, not proud, not too keen, but a force of habit, like a reasonable thing to do. Being as the most elementary way of enduring without dying. Writing and living, as they say.The body I carry, with all its hmms and ahhs, a body so frail, breathing tenderly like roses may sip or sinners might whisper, a body given, ill-treated, with all kinds of laments and cries. My body has fears, it hurts, it thrills, it savours and shivers, and my body also thinks, but only when it stumbles.
Of love we shall talk another time.
There’s always some violence in the act of hearing, like a target meeting its bullets, or wood encountering fire. Words can only burn inside the heads of others, conquering and then soothing, loving and then leaving.But we all yearn to be conquered, don’t we? We all feel empty and sad when the night falls and there is nothing to be there for. No God in our hands, no meaning in those hours. And then the voices, and then you, and you, and people pouring meaning to what life could be… Life, as I should live it, God of all the proses. My life, so much better, so much…. More, through the meanings of others. I’d be happy if I was you. I’d be wholesome if only I could try.
Of love we shall talk another time.
The deer keep jumping, despite us, the leaves keep falling, despite ….Don’t we? Don’t we all deserve so much better? Don’t we all know so much more?People can be very intelligent. I had this girl… I did. She said the sweetest things, she touched me where I am not. And kisses, and words, and… still… I mean, we all have fucked, and it can be pleasant, but not like that, I kept telling her, not like that.Writing and living, like we did, was all about our own words. And we fucked each other’s phrases, and we fucked each other’s worlds. With all our hmms, and ahhs.
Of love we shall talk another time.
(Texto escrito originalmente em inglês para uma leitura na Ledig House)
Published on September 27, 2014 08:21
July 16, 2014
Europa
Andam tão sérias as pedras Tão calados os pés no chãoFingem-se homens os homensE repetem a voz e as mãosÉ muito tarde para nascerOutra vez um outro mundoNão há lugar para tantas sombrasNem dias para todas as horasSe alguém sonhar que me leveE separe este peso dos ossosPergunte à chuva como caiE ao sopro como faz vento
Published on July 16, 2014 13:59
June 4, 2014
Poema Escrito Sem a Ajuda de Dor
O rasto de um corpo nos meus lençóisUm instante que cheira a noite e a caféAlgumas palavras soltas que nem importamO ar que vem de ti, os dedos, os teus pésTudo tão simples, tão só isto, afinalUma música linda a tocar na genteUma queda sem gritos nem chãoAfinal o tempo és tu, e sorrir és tu tambémAfinal algumas flores e um fumo lentoNão abras a janela, não digas o teu nomeQue pode o mundo romper por nós
Published on June 04, 2014 14:26


