Denise Bottmann's Blog, page 93

November 9, 2011

livro do professor



ontem fui encomendar um exemplar de assim falava zaratustra, de nietzsche, publicado pela editora escala, com tradução em nome de ciro mioranza, para tirar a limpo a dúvida que apresentei no post anterior, aqui. costumo comprar pela estante virtual, e lá encontrei várias edições de anos diferentes:



2006

2007

Clique para ampliar a capa2008

2009

dei uma checada no acervo da biblioteca nacional, encontrei a edição de 2006. como se pode ver na ficha catalográfica, o exemplar no acervo é o "LIVRO DO PROFESSOR", o que parece indicar que essa obra foi adotada nas escolas como material didático.

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bom, agora é aguardar a entrega do livro que encomendei (escolhi a edição de 2006 mesmo), torcendo para que essa pulga atrás da orelha seja apenas um falso alarme.

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Published on November 09, 2011 18:39

November 8, 2011

editora escala educacional

gosto muito do trabalho de teotônio simões no ebooksbrasil. lá encontrei nietzsche, assim falava zaratustra  (link aqui),  numa antiga tradução que tinha saído pela edições e publicações do brasil em 1950, em nome de josé mendes de souza, e depois foi para o catálogo da ediouro, pelo menos desde 1967, lá ficando em sucessivas reedições pelo menos até 1995.



Clique para ampliar a capacapa da sexta edição, 1965



na verdade, encontrei referências mencionando "tradução atualizada e revista por josé mendes de souza", o que me parece muito plausível: pois o texto é de lavra visivelmente lusitana, a começar pela adaptação do nome "friedrich nietzsche" para "frederico nietzsche", e de dicção bastante antiga. aliás, a tradução portuguesa de araújo pereira, que saíra em 1913 com o nome de como falava zaratustra, a partir de 1945 passou a portar o exato título de assim falava zaratustra (livro para toda a gente e para ninguém), que foi adotado na edição brasileira. 



que seja: já comentei algumas vezes esse costume editorial brasileiro de utilizar traduções portuguesas sem referir os créditos de origem. então não sei com certeza quem é o autor da tradução inicial - o que sei é que assim falava zaratustra (livro para toda a gente e para ninguém), em tradução feita ou revista por josé mendes de souza, circula faz mais de 60 anos entre nós, amplamente disponível em sebos e em vários sites para download.

eis a abertura da obra:

Aos trinta anos apartou-se Zaratustra da sua pátria e do lago da sua pátria, e foi-se até a montanha. Durante dez anos gozou por lá do seu espírito e da sua soledade sem se cansar. Variaram, porém, os seus sentimentos, e uma manhã, erguendo-se com a aurora, pôs-se em frente do sol e falou-lhe deste modo: "Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste caminho. Nós, porém, esperávamos-te todas as manhãs, tomávamos-te o supérfluo e bemdizíamos-te. Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel. Necessito mãos que se estendam para mim. Quisera dar e repartir até que os sábios tornassem a gozar da sua loucura e os pobres da sua riqueza. Por isso devo descer às profundidades, como tu pela noite, astro exuberante de riqueza quando transpões o mar para levar a tua luz ao mundo inferior. Eu devo descer, como tu, segundo dizem os homens a quem me quero dirigir. Abençoa-me, pois, olho afável, que podes ver sem inveja até uma felicidade demasiado grande! Abençoa a taça que quer transbordar, para que dela manem as douradas águas,  levando a todos os lábios o reflexo da tua alegria! Olha! Esta taça quer de novo esvaziar-se, e Zaratustra quer tornar a ser homem".
todo esse prolegômeno para situar e poder transmitir meu espanto ao encontrar a seguinte referência:



[image error]fonte aqui e screenshot aqui

fiquei estarrecida. vou entrar em contato com a editora, vou comprar um exemplar para ver com meus próprios olhos, num cotejo detalhado entre os dois textos, e voltarei a dar notícias..
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Published on November 08, 2011 18:35

o caso dos "nomes de conveniência"

concluindo minha breve tentativa de uma tipologia dos créditos de tradução, que apresentei aqui, há aquilo que erico veríssimo chamou de "nome" ou "personalidade de conveniência", prática na qual, como editor da globo, foi useiro e vezeiro. trata-se de uma figura totalmente inventada, que não designa nem corresponde a ninguém em particular, mas tampouco é uma casca vazia: aplica-se a um trabalho meio anônimo, meio coletivo, de uma equipe variada e variável traduzindo mais ou menos à balda o livro daquele momento. a "personalidade de conveniência" criada por veríssimo na globo foi "gilberto miranda".



à diferença do que alguns parecem pensar, "gilberto miranda" não era um pseudônimo que veríssimo teria usado em algumas de suas traduções para a editora. como bem descreve ele, aqui citado a partir de em busca de um tempo perdido, estudo de sônia maria de amorim que já indiquei repetidas vezes:

trata-se duma "personalidade de conveniência" que inventei, uma espécie de factótum literário. Se uma equipe anônima organiza ou livro ou escreve um ensaio e precisamos de um nome para aparecer como autor dessas tarefas, convocamos gilberto miranda que, assim, tem sido, além de tradutor, especialista em crítica literária, modas femininas e masculinas, trabalhos manuais, política internacional, história natural, psicologia etc., etc.  gilberto miranda não tem idade. nestes últimos quarenta anos, henrique e eu temos ficado mais velhos, mas o infernal miranda continua jovem: tem sempre trinta anos, a mesma cara, a mesma disposição para o trabalho e continua a ser suficientemente cínico (ou prático) para emprestar seu nome a qualquer empreendimento literário, por mais medíocre que seja. (p. 81)
erico veríssimo nunca teve o esnobismo de usar pseudônimo em suas traduções de obras mais populares, de entretenimento ou de pulp fiction: de bom grado assinava-as de nome próprio, com a mesma naturalidade com que assinava suas traduções de obras  de maior peso intelectual, digamos assim. ao lado dessa sua cristalina explicação de quem era "gilberto miranda" - e da qual não vejo qualquer razão em duvidar - , fica mais do que evidente que essas traduções publicadas pela globo (e reeditadas em várias outras editoras) são produções de coautoria apócrifa.



algumas traduções de "gilberto miranda":

1931

1934

1936

1937

também de 1937

1951, 2a. ed., em bizarra parceriacom homero de castro jobim

1951

1952, aqui capa de 1960em bizarra parceria com stella altenbernd

por outro lado, note-se que as traduções anônimas coletivas com o nome dessa "personalidade de conveniência" se concentram em textos ditos ligeiros. "gilberto miranda" não comparece em obras de mais densidade, tirando uma bizarra parceria com juvenal jacinto num volume da coleção nobel, vinte e nove histórias, de somerset maugham, do qual não encontrei ilustrações de capa.



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Published on November 08, 2011 09:22

November 7, 2011

uma breve tipologia dos créditos de tradução

é importante distinguir entre tradução anônima, tradução sob pseudônimo, tradução de "bagrinhos" assinada por outrem que recebe os créditos em seu nome, pretensa tradução (na verdade plágio ou contrafação) assinada com nome real de um ser verdadeiro, assinada com nome de fantasia de um ser verdadeiro ou assinada com um nome qualquer que não designa ser nenhum. as duas primeiras práticas são lícitas, as demais são ilícitas. os graus de ilicitude - e decência, digamos - variam, dependendo das responsabilidades envolvidas e das lesões de direito.



segue-se uma tentativa de classificação:



traduções anônimas, sobretudo entre o século XIX até meados do século XX, abundavam. aqui cabe uma distinção entre responsabilidades: o autor tem direito a permanecer anônimo, caso queira - assim, é lícito que traduza uma obra e não lhe aponha o nome. mas as editoras, em princípio e por lei, não podem impor o anonimato aos tradutores (caso que ainda hoje ocorre, por exemplo, na editora fundamento). se o anonimato for "forçado", naturalmente é ilícito.
o uso de pseudônimo é plenamente lícito e legítimo, e essa escolha é de responsabilidade do indivíduo, não da empresa. as razões para a escolha podem ser as mais variadas possíveis, e nem cabe examiná-las.
ilícito evidente, de responsabilidade pessoal: pietro nassetti e vários outros são nomes verdadeiros de seres de carne e osso, que se presta(va)m conscientemente ao papel de saqueadores de traduções alheias, a pedido, por ordem ou em conivência com as editoras de suas relações;* 
outro ilícito evidente, também de responsabilidade pessoal: enrico corvisieri e outros são nomes de fantasia de seres verdadeiros que se presta(va)m ao papel acima descrito;  
ilícito evidente, de responsabilidade empresarial: alex marins, pedro h. berwick e outros são cascas vazias, nomes inventados que não designam ninguém, usados pelas editoras apenas para encobrir a apropriação de traduções alheias; 
outro tipo de caso, a meu ver ilícito ou pelo menos imoral, que talvez seja ainda bastante frequente e de difícil identificação: por exemplo, nelson rodrigues (sim, nelson rodrigues, aquele mesmo do vestido de noiva, do "óbvio ululante" e de frases tipo "toda unanimidade é burra" e que tais) apenas assinava traduções feitas por "bagrinhos" - comenta-se à boca pequena que o mesmo fez ocasionalmente rachel de queiroz e frequentemente oscar mendes e monteiro lobato: sobre estes três, não sei nem disponho de provas ou indícios concretos, e aqui registro apenas como boato ou maledicência.
* note-se que aqui nem comento o caso do tradutor individual que, por iniciativa própria e enganando a editora, apresenta como sua uma tradução copiada de outrem. isso é pura bandidagem, e nem merece entrar nessa tipologia: recai diretamente na categoria de estelionato.



existem mais dois casos típicos: a "tradução revista por xxx" e o que érico veríssimo chamava de "nome de conveniência". 

comecemos pela "tradução revista por xxx", um subtipo da tradução anônima (aqui um anonimato provavelmente involuntário e indesejado), que pode ser encaixada em duas modalidades e uma bizarra variante: uma tradução de origem estrangeira, geralmente portuguesa, que passa por uma revisão abrasileirando a linguagem, sem dar os créditos de origem - um exemplo é uma coletânea de contos de poe em "tradução portuguesa revista por faria e sousa" ou a obra de gabriel deville em "tradução revista por gesner de wilton morgado"; 
uma tradução brasileira mal feita que foi exaustivamente corrigida e reelaborada a ponto de ser a identidade de quem a "salvou" mais pertinente do que a identidade de quem fez o serviço atamancado inicial - exemplos são vários títulos da cia. editora nacional com "tradução revista por monteiro lobato" ou "tradução revista por godofredo rangel". 
temos uma variante mais escusa nos fartos exemplos da editora cultrix entre 1957 e 1959, em sua coleção "maravilhas do conto xxx", com dezenas de volumes indicando apenas "revisão da tradução por booker t. washington": digo mais escusa, pois nas duas modalidades acima citadas as pessoas (faria e sousa, godofredo rangel, monteiro lobato) existiam; já "booker t. washington" é um evidente nome de fantasia que encobre sabe-se lá quem e o quê.
já a curiosa modalidade definida por érico veríssimo, a tradução sob um "nome de conveniência", merecerá um post próprio.



imagem: máscaras.
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Published on November 07, 2011 16:41

November 6, 2011

essa foi rápida!

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consultando a internet em busca de referências a traduções assinadas por josé maria machado pelo clube do livro, encontrei um curto texto de ofir b. de aguiar, aqui, com um dado que eu desconhecia por completo: a tradução d'os miseráveis de victor hugo começou a ser publicada

no brasil antes que saísse o original francês!



a história é a seguinte: victor hugo não queria de maneira nenhuma um roman-feuilleton, isto é, a publicação da obra em capítulos num jornal, como muito se fazia na época. ficou decidido com seu editor belga (pois naquela época ele estava exilado na bélgica) que les misérables seria lançado diretamente em formato de livro, em vários volumes. então ficou programado o lançamento para o dia 3 de abril de 1862, em várias cidades em simultâneo: paris, leipzig, bruxelas, budapeste, milão, roterdã, varsóvia e rio de janeiro.



mas, no contrato que victor hugo tinha assinado com o editor, havia uma cláusula que autorizava este último a licenciar o direito de tradução em folhetim para jornais de língua estrangeira. em vista disso, o editor pôde negociar com o proprietário do jornal do comércio a publicação serializada d'os miseráveis. o jornal se antecipou 24 dias ao lançamento do livro e assim foi que, em 10 de março, os brasileiros já puderam começar a ler os capítulos iniciais em português. o jornal do comércio não citava o nome do tradutor, mas, segundo alguns estudiosos, teria sido justiniano josé da rocha - o qual, porém, morreu antes de terminar a tradução, que então teria sido concluída por antônio josé fernandes dos reis.

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Published on November 06, 2011 18:23

as traduções especiais do clube do livro II

o autor mais assíduo das chamadas "traduções especiais" do clube do livro parece ter sido josé maria machado. já comentei algumas vezes, por exemplo aqui e aqui, que essas traduções especiais muitas vezes não passam de meras adaptações de traduções portuguesas ao português brasileiro.



apenas para registro, segue uma rápida lista de "traduções especiais" de josé maria machado, que talvez fosse interessante analisar dentro de um painel geral da história da tradução no brasil.

1944 (1987), gustave flaubert, madame bovary1945 (1988), edgar allan poe, histórias extraordinárias 1946, oscar wilde, o retrato de dorian gray ("j. machado")1951, robert louis stevenson, o médico e o monstro1953, walter scott, ivanhoé1954, mark twain, as aventuras de tom sawyer 1955, cyrano de bergerac, viagem aos impérios do sol e da lua1955, flavia steno, apaixonadamente1956, alexandre dumas, o colar de veludo 1956, charles dickens, uma aventura de natal  (com tito marcondes)1956, jacques futrelle, a máquina pensante1956, jonathan swift, as viagens de gulliver1956, théophile de gautier, a paixão de militona1957, herman melville, moby dick1958, charlotte brontë, o professor 1958, victor hugo, os miseráveis (condensada, 516 pp.)1961, alexandre dumas, a loura huberta 1961, françois rabelais, o gigante gargântua1961, mark twain, as aventuras de huckleberry finn1962, fenimore cooper, o último dos moicanos1963, e. p. oppenheim, a torre 1963, ivã turgueniev, o passaporte1963, oscar wilde, o jovem rei1965, prosper mérimée, a serpente1968, sumer lincoln, a cicatriz1969, charles dickens, tempos difíceis1969, leon tolstoi, o diabo branco1974, alexandre dumas, homem de guadalupe1976, honoré de balzac, uma paixão no deserto (com augusto dantas)1977, anne brontë, a preceptora1983, honoré de balzac, o renegado
obs.: os dois primeiros títulos saíram como tradução anônima - apenas em data posterior, assinalada entre parênteses, surge o nome de josé maria machado. já o retrato de dorian gray foi a primeira obra trazendo a menção "traduzido especialmente para o clube do livro", que depois se tornaria habitual. interessante notar que, nesta primeira aparição, consta apenas "j. machado".







por outro lado, e mais na linha do pulp fiction, os livrinhos de futrelle e oppenheimer já tinham saído bem antes, na "coleção vampiro" da editora coluna, respectivamente em 1951 e 1952, na tradução do próprio josé maria machado. isso parece indicar que ele existia, fosse este seu nome ou pseudônimo, não sendo um fantasma criado pela editora para acobertar seus plágios e contrafações (como nos casos da nova cultural e da martin claret).

Clique para ampliar a capa

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Published on November 06, 2011 16:46

as traduções especiais do clube do livro

o nome de josé maria machado aparece frequentemente nas publicações do extinto clube do livro, como responsável pela tradução.



não sei se era pseudônimo, se foi simples invenção do clube do livro ou se josé maria machado de fato existiu e se prestou ao papel. o que sei é que suas "traduções especiais" ou "feitas especialmente" para o clube do livro costumavam ser meras adaptações ao português brasileiro de traduções publicadas em portugal.



parecia ser um colaborador constante - e, pensava eu, exclusivo - da casa. por isso achei interessantíssima a notícia publicada em leituras brontëanas, aqui, assinalando uma tradução de josé maria machado pela livraria martins, na coleção excelsior. reproduzo a foto:





a edição não traz data, mas a coleção excelsior existiu entre meados dos anos 40 e anos 50. por outro lado, encontrei uma edição d' o morro dos ventos uivantes pelo clube do livro, de 1948, com sua famigerada tradução especial:



minha briga contra plágios de tradução é mais voltada para décadas recentes e edições ainda em circulação, ludibriando os leitores contemporâneos. mas algumas vezes a gente acaba encontrando a fonte usada nos surripios atuais em traduções antigas, elas também, por sua vez, surripiadas de outras ainda mais antigas. nestes casos mais vetustos, nem sempre me disponho a deslindar as origens remotas da bandalheira, mas me parece aconselhável deixar pelo menos registrada a pulga atrás da orelha.  

neste caso d'o morro dos ventos uivantes, o meticuloso post das leituras brontëanas, que citei acima, traz dois trechos ilustrativos dessa tradução publicada na coleção excelsior, que parecem sugerir uma provável origem lusitana da tradução. reproduzo-os também:







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Published on November 06, 2011 15:26

a mulher de trinta anos

alguém me consulta sobre as traduções válidas, digamos assim, de a mulher de trinta anos, de balzac. esse breve romance tem sofrido bastante no brasil, no quesito de tradução.









a primeira edição saiu em 1938, pela antiga civilização brasileira:

não descobri quem foi o autor da tradução.

















em 1943, sai pela irmãos pongetti uma tradução anônima revista por marques rebello, com várias reedições (aqui, a imagem é da ed. 1945).



quando essa tradução vai para o catálogo da ediouro, curiosamente marques rebello passa a constar na fbn como autor da tradução.













em 1946 sai a monumental comédia humana pela globo, em três volumes.

a mulher de trinta anos, em tradução de casimiro fernandes e wilson lousada, está no vol. III (aqui, imagem da ed. 1948)

















em 1947, pelo clube do livro, sai mais uma tradução anônima.























em 1948, sai a tradução de rachel de queiroz, pela josé olympio.

























em 1973, o círculo do livro publica a tradução de casimiro fernandes e wilson lousada.





















em 1984, a l&pm publica a tradução de paulo neves, com várias reedições até o presente.











em 1988, o clube do livro relança sua tradução, agora atribuindo-a a "josé maria machado", que hoje em dia tenho considerado uma espécie de ancestral de "pietro nassetti" no referido clube do livro.



















em 1995, a nova cultural lança pelo círculo do livro uma tradução em nome de "enrico corvisieri", cópia atamancada da tradução em nome de "josé maria machado" (clube do livro, 1988).

















em 1998, a editora martin claret lança uma tradução em nome de "pietro nassetti", cópia atamancada da tradução de casimiro fernandes e wilson lousada. aqui numa rara capa de época, depois substituída pela capa de estilo "evanescente" que perdura até a edição mais recente (2010).

















em 2000, sai a tradução de marina appenzeller pela editora estação liberdade.





















em 2003, a nova cultural mais uma vez sua tradução espúria, agora na coleção "obras-primas", modificando os créditos em nome de "enrico corvisieri" para "gisele donat soares".















assim eu responderia que, entre as traduções atualmente em circulação, eu ficaria apenas com duas: a de paulo neves, pela l&pm, e a de marina appenzeller, pela estação liberdade, abaixo em suas capas atuais:





e

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a título de curiosidade, seria interessante descobrir a verdadeira autoria das traduções atribuídas a "josé maria machado" e, a partir dos anos 80, a marques rebello. sobre os casos da editora martin claret e da editora nova cultural, veja os cotejos: "pietro nassetti", aqui; "enrico corvisieri" e "gisele donat soares", aqui.

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Published on November 06, 2011 10:51

November 4, 2011

a ilha do tesouro



Existe uma tradução portuguesa d' A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson, feita por Alsácia Fontes Machado, publicada em Lisboa pelo Círculo de Leitores em 1970. Essa tradução foi publicada no Brasil pelo Círculo do Livro em 1973, com várias reedições.





À guisa de prefácio, Stevenson faz um apelo ao leitor, ou melhor, "ao comprador hesitante".





TO THE HESITATING PURCHASER





               If sailor tales to sailor tunes,

                  Storm and adventure, heat and cold,

               If schooners, islands, and maroons,

                  And buccaneers, and buried gold,

               And all the old romance, retold

                  Exactly in the ancient way,

               Can please, as me they pleased of old,

                  The wiser youngsters of today:





               —So be it, and fall on!  If not,

                  If studious youth no longer crave,

               His ancient appetites forgot,

                  Kingston, or Ballantyne the brave,

               Or Cooper of the wood and wave:

                  So be it, also!  And may I

               And all my pirates share the grave

                  Where these and their creations lie!



Não deve ter sido fácil traduzir. A tradutora Alsácia alongou versos, retirou algumas frases, substituiu por outras, adaptou um pouco o conteúdo, manteve fielmente o esquema das rimas em ABAB-BCBC e chegou ao seguinte resultado:



AO COMPRADOR HESITANTE



Se histórias do mar, em toada marina,

Tufões, aventuras, males suportados,

Se escunas e ilhas, navios à bolina,

Piratas e ouro, homens desterrados,

Os velhos romances, de novo contados

À moda de antanho, podem como outrora

- Tanto eles me encantaram...- ser apreciados

P'los mais progressivos dos jovens de agora,



Comecem, então; seja assim! Mas se não,

Se o jovem que estuda já hoje esqueceu

O que antes amava no seu coração

- Ballantyne, o bravo, e outros mais, que sei eu?

Se heróis e façanhas o olvido escondeu,

Também seja assim! E os heróis que inda ousam,

Meus piratas e eu, como um sol que desceu,

Baixemos à campa onde todos repousam!



Nada nem ninguém me fará crer que essa coisa abaixo, afastando-se do original como Alsácia, mas sem qualquer justificativa literária a justificar esse afastamento - muito pelo contrário, estropiando impiedosamente a calculada métrica e rima da tradução portuguesa -, apresenta a mais remota possibilidade de ser uma tradução de direito próprio:



AO COMPRADOR HESITANTE



Se histórias do mar, em toada marina,

Tufões e aventuras, males suportados,

Se escunas e ilhas, navios à bolina,

Ouro e piratas, homens desterrados,

Os velhos romances, novamente narrados

À moda de outrora, podem, tal como antes

- Tanto me encantaram...- ser apreciados

Pelos jovens mais dinâmicos de nosso tempo,



Comecem, pois; que assim seja! Mas se não,

Se o jovem que estuda já hoje esqueceu

O que antes amava de todo o coração

- Ballantyne, o bravo, e outros mais, que sei eu? -

Se heróis e façanhas foram tragados pelo esquecimento,

Também assim seja! E os heróis que ainda ousam,

Meus piratas e eu, como um sol poente,

Baixemos à campa onde todos repousam!



Essa coisa horrorosa, evidente cópia atamancada e disfarçada para ocultar o surripio, vem atribuída a um tal "Alex Marins", provavelmente mero espectro, um nome de fantasia que aparece como responsável por dezenas de outras traduções espúrias publicadas pela editora Martin Claret.





Meu exemplar, com uma daquelas capas que, além das traduções, tanto contribuem para celebrizar a editora, é de 2008. Mas na página de créditos consta que a referida editora é detentora do "copyright desta tradução" desde 2002. Só para se ter uma ideia da extensão da brincadeira, no site da Estante Virtual constam exemplares d' A ilha do tesouro pela Martin Claret em edições de 2002, 2004, 2006, 2007, 2008 e 2010.

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Published on November 04, 2011 18:38

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Denise Bottmann
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