Igor Marcondes's Blog, page 6

Proibição

No olhar dos brutos

tem uma razão

um medo escondido

um abraço perdido

implorando perdão

diante do reflexo

que fazem do outro

querendo arrancar

de dentro de si

o que não podem amar

Estudo poético

Já escrevi inúmeros poemas

sem ter papel à mão

por isso não posso

deixar de amar

mesmo sem ter a quem

já rimei tantas palavras

sem ter falado

por isso não temo

expressar coisas

que não entendo

Já fiz estrofes tão pequenas

sem medo de ser superficial

que não me cabe o medo

do tamanho da dor

já fui tão hermético

ao falar da vida

que já não consigo

complicar a morte

Nunca é muito tempo

Do pouco tempo que tivemos

[nunca] ainda é muito tempo

pra considerarmos nosso

seria melhor um [até agora]

para que fiquemos satisfeitos

de termos falado por hora

Nunca é muito tempo

Do pouco tempo que tivemos

[nunca] ainda é muito tempo

pra considerarmos nosso

seria melhor um [até agora]

para que fiquemos satisfeitos

de termos falado por hora

Nosso último dia

Como será o nosso último encontro?

O que falaremos

na última vez em que nos vermos?

Será doloroso

ou das nossas piadas riremos?

Como será?

Eu terei dito que te amo

ou terei me esquecido de dizer?

Será que comeremos juntos,

será mais um dia trivial

ou um de nós verá o outro ceder?

Como será nosso fim?

Como serei ao chegar lá?

Como você, que amo, será?

O que nos espera lá na frente:

o adeus óbvio, de olhos abertos,

ou a despedida silenciosa,

de olhos cerrados?

O que nos restará depois…

depois que um de nós tiver ido,

e o que ficará de quem se foi

pra que o outro não seja vencido?

Adeus, diremos a-deus

que o arranjo que nos foi feito

para viver

foi bem vivido

Meia-noite, meia-vida

Quando aquele dia vem

a noite se demora a ir

dói de novo o que tinha curado

chora de novo o que tinha secado

e eu na cama

esperando passar

porque sempre passa

e me deixa

como aquele dia fiquei

deixado pra trás

pelo que mais prezei em mim

e ficou com quem não merecia

porque me tomou sem pedir

e foi embora sem se despedir

um adeus

pra essa noite passar de novo

como aquele dia passou

eu ficar diferente

de como quando o dia acabou

e ser um novo homem

que despertou

Eu já me esqueci

Eu já me esqueci

como se faz pra amar

o que tenho que despertar

dentro de mim

pra aquecer a vontade

aumentar a saudade

e querer ficar

eu já me esqueci

como se faz pra amar

me esqueci dos olhares

e de como transformar

o significado dos lugares

pro um novo amor repousar

Vocabulário

O que eu tenho na minha cabeça

que você não pode levar

Como um segredo guardado

no fundo do ser, sem revelar

Quase uma mentira,

por ninguém vê-la,

pode se questionar

Será que é um motivo,

quem sabe uma história

daquelas que não pode acabar

ou seria apenas uma palavra,

nova, inventada, curiosa

que não se pode rimar

e fica gritando em mim

constante, sem parar

Cegueira seletiva

Todos os olhos veem

o que nos torna iguais

mas só reconhecem

as similaridades

quando a individualidade

se encontra em risco

do contrário

preferem ser exclusivos

porque ser igual

sem necessidade

é algo anormal

Nomes próprios

Olhe a sua volta

e dê nome aos sentimentos,

nada de amor, medo ou covardia,

dê nomes: joão, josé e maria;

identificação exclusiva;

crie seu universo sentimental

e talvez surja uma joana,

quem sabe uma aparecida

e até um marioval

invente e memorize,

pois toda vez que eles vierem,

personificados e com nomes reais,

ficará mais fácil dizer que entrem

ou que devem ir embora e não voltar jamais