Igor Marcondes's Blog, page 3
March 16, 2020
Lentes
Seus olhos não me veem
me exploram
tiram de mim o que querem
e depois me ignoram
só se abrem na luz
que você mesmo emite
para apagar a minha
e o que em mim existe
mas as pupilas logo se cansam
e a retina começa a secar
seu defeito é congênito
a realidade não pode te alcançar
March 14, 2020
Eros
O meu desejo está no não descobrir
no alcançar teórico do querer
está acima das nuvens
condensado, querendo chover
e nunca cai
porque sua queda em mim
seria também a queda do ser
que se deitaria molhado, enfim
extasiado pela realização
do que era apenas pra se ver
February 29, 2020
Vulnerável
Não acredito no que quero
mas sim no que me acontece
pois caminhei muito
e não cheguei a lugar algum
Agora, decidi parar
e contemplar a frustração
Tenho sentido tanta culpa
que minhas mãos chegam a tremer
elas não seguram nada
estão fracas e ásperas
Não sei quando falarei nomes
sem me emocionar
e se ainda estou dolorido
porque meus olhos recusam a luz
Querem de mim o que desaprendi
e a razão é indiscreta
torce meus pensamentos
exigindo espaço desocupado
Deixei de tentar
pois a insistência é ataque
pra quem precisa de defesa
e só se defende o que está vulnerável
February 23, 2020
Noturno
Enquanto eu segurava o livro com firmeza
um vento úmido e morno entrou pela janela
era noite e a garoa deveria cair pela madrugada
ao me atingir, o vento me tirou tímidas lágrimas dos olhos
sentimentos que estavam esperando o momento certo
e se sentiram impelidos pela frescor noturno
fechei os olhos em busca de nomes pra eles
e não encontrei nada
nada fiz além de apertá-los entre as pálpebras e os cílios
senti que empapavam ligeiramente a pele e os pelos
acabaram ali
e o vento continuou entrando pela janela
enquanto eu abria os olhos
e sentia um alívio
dos menores, devo dizer
mas ainda assim, um alívio
o livro permanecia aberto
e minhas mãos o seguravam com menos poder
mais gentileza
porém me percebi como alguém falho
que precisa do exterior
para controlar o que traz dentro
fechei o livro
e com ele minha alma
February 22, 2020
Ateu
Ontem à noite
me deu vontade
de acreditar em deus,
na existência com sentido,
na vida como passagem de ida,
na morte como caminho de volta,
e na minha tristeza como prova de amor
eu quero acreditar,
mas nem sei por onde começar,
e talvez esse seja o início
do que eu não sei como terminar:
haverá lugar em mim para uma alma
ou estou preenchido demais pela humanidade?
February 9, 2020
Tortuoso
No caminho,
há mais que uma pedra…
também estão ali os buracos,
no quais eu caio;
também estão ali os penhascos,
dos quais quero me atirar;
também estão os atalhos,
que não me levam a lugar algum;
também estão os morros,
que forçam minhas pernas;
e também estão os desejos,
que iniciam o caminho
sem saber o que ele guarda no fim
February 3, 2020
Um sopro
O vento gelado da manhã de verão
arrepia minhas pernas cruzadas:
um sinal da vida dizendo que,
tal qual o vento,
ela esquenta e esfria e voa e arrepia
mas, principalmente, passa;
é um momento e logo se esvai…
a escolha é minha:
me deixo arrepiar
ou fecho a janela?
January 30, 2020
Madrugada
acordo assustado durante a noite
sem saber onde fica a janela
perdido nos meus sonhos
entre a vigília e a espera
as pernas entrelaçadas no lençol
preso à noite escura e quente
pingando o suor no vazio
não ocupado pelo corpo ausente
o travesseiro afundado denuncia
o peso que minha mente carrega
ainda que ela possa descansar
à ilusão do sonho não se entrega
me deito questionando a hora
ainda é madrugada no coração
ele pede pra amanhecer e se levantar
mas o corpo ainda quer o colchão
January 23, 2020
Mente e corpo
Minha mente e meu corpo estão em tempos diferentes. Enquanto meu corpo está no presente, minha mente vive no passado, no presente e no futuro simultaneamente. É por isso que minha mente envelhece antes do meu corpo, pois exijo mais dela. O processo é necessário, porque ensina meu corpo a envelhecer, posto que, assim como a maioria, também eu me olho no espelho e muitas vezes questiono aquele reflexo. Um fio branco aqui, uma ruga ali, por que meus olhos têm essa expressão e não aquela de dois anos atrás? Minha mente vai explicando, o corpo oxida, se desfaz no tempo, está tudo bem, conhecerei meu outro eu, aquele que está nascendo diariamente. O corpo vai aprendendo, escutando a si próprio, estudando suas diferenças, comparando suas características, reconhecendo a beleza em cada mudança que exige uma compreensão temporal educada, honesta e humilde, porque somos objetos do tempo, mesmo quando não queremos. A mente e o corpo vão entrando em consonância, mas o caminho é longo, e sei que terei sorte se eles andarem lado a lado na estrada, mas que, do contrário, o destino dos dois já está selado no sono que os aguarda indubitavelmente.
January 21, 2020
Quiromancia
Olhei bem de perto
as linhas das minhas mãos:
entrecruzadas,
curtas e longas,
e não entendi nada
Se é com elas, as mãos,
que seguro minha vida,
então faz sentido
que nada seja claro,
mas de certa forma
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